domingo, 27 de novembro de 2011

Multicâmpus não há uma só opção


Três câmpus para a UFABC fundar e construir,
Nas Sete cidades que formam as terras em que deve inovar,
Cada câmpus com seu bacharelado interdisciplinar,
E algumas áreas de afinidade que ainda se deve decidir,
Pelos Centros responsáveis pelos conhecimentos a ensinar
E o Um Reitor que a todos deve governar.  
Contudo, ainda muita discussão para modelo multicâmpus se definir...

Há algum tempo atrás dei algumas opiniões sobre a questão multicâmpus na UFABC (http://migre.me/6fYEj).  Contudo, obviamente, este é um tema para muitos textos. Algumas vezes,  acho que já foram usadas palavras demais sobre o assunto. De qualquer modo, houve uma reunião conjunta de CONSUNI e CONSEPE (nossos conselhos superiores), no dia 22/11, para mais uma vez se abordar o assunto.

A Universidade é uma organização bastante complexa e na tentativa de se ter uma visão mais racional sobre os temas a se decidir, a reitoria tem usado a tática de Grupos de Trabalho (GTs): os conselhos escolhem representantes docentes e funcionários para estudar e produzir um relatório sobre o tema requisitado. Com base nisto, espera-se que os conselhos possam tomar decisões mais solidamente embasadas para tais questões. Tal abordagem parece ainda mais razoável ao se considerar questões de grande influência e, consequentemente, polêmicas.

Como reaprendi naquela reunião conjunta, a UFABC já nasceu multicâmpus nos documentos de sua criação. Contudo, convenhamos que era muito fácil ser uma Universidade Multicâmpus, quando só havia UM câmpus (de Santo André) a se construir e cuidar. A partir da criação do câmpus de São Bernardo do Campo e o inicio dos trabalhos no Bloco Sigma (o antigo Colégio Salete reformado), juntamente com a criação do segundo bacharelado interdisciplinar: Bacharelado em Ciências e Humanidades (BC&H), percebeu-se que a dinâmica era bem mais complicada e, portanto, era urgente que se decidisse como seria a forma da Universidade ser Multicâmpus de verdade e não apenas em promessas documentais feita ao governo Federal.

Antes de tomar decisões é preciso saber sobre o que se deve decidir, o que nos leva ao proposto Grupo de Trabalho Multicâmpus que resultou em um relatório elencando algumas possibilidades e sugestões (http://migre.me/6fVNw) no inicio do ano de 2011. Apesar de tal texto já estar entre nós a algum tempo e ter ocorrido algumas apresentações sobre os resultados (com os vertiginosos números de participação de 9 e 13 pessoas em cada uma delas), a discussão chega a um momento critico e acalorado no qual os Conselhos Superiores devem tomar uma decisão clara (e, talvez, definitiva) sobre que tipo de Multi-câmpus a UFABC deve ser.

No relatório são criados alguns cenários. Pessoalmente, não os vejo como alternativas numa questão multi-escolha (como alguns comentaram):  Não bastar dizer que se quer algo entre A e F; tudo é bem mais difícil que isso... De fato, os cenários são mais análogos a casos limites imaginados, similar ao que fazemos ao  obter uma solução geral de uma equação muito complicada, nós paramos para analisar alguns casos particulares na esperança disto nos dar a intuição necessária para uma compreensão mais profunda da solução encontrada. Neste relatório, em especial, observe o cenário F, que na verdade é apenas a descrição do que vivenciamos atualmente e do cenário B, que é aquele que reitoria considera mais adequado a perseguirmos e que estabeleceríamos algo assim por volta de 2020. Neste cenário final, haveria todos os BIs em todos os câmpus e os cursos pós-BI divididos entre os diferentes três campus por afinidade.

Na reunião que presenciei,  as posições são as mais conflituosas. Percebe-se, que o CECS (Centro de Engenharias, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas) apoia a posição multicâmpus da Reitoria e já faz as primeiras medidas para isto com o envio de três engenharias para São Bernardo do Campo: Biomédica, Gestão e Aeroespacial. Eles são pragmáticos: não há espaço suficiente para todas as engenharias em Santo André, portanto, é preciso expandir e instalar engenharias em outros câmpus. Do outro lado da questão, o CMCC (Centro de Matemática e Ciências Cognitivas) se posiciona por permanecer em Santo André. De fato, propõe que cada câmpus tenha um único BI (BC&T para SA, BC&H para SBC e um novo BI para Mauá) e os pós-BIs nos câmpus adequados por afinidade.  Creio que muitos no CCNH (Centro de Ciências Naturais e Humanas), centro ao qual pertenço, estão alinhados à proposta do CMCC. Contudo, não foi tomada uma decisão oficial como CCNH ainda... Cada Centro com sua posição tem argumentos bastante validos. De fato, em todas as equações manter os BIs é o mais custoso a universidade e demandaria uma grande mobilidade de Docentes e TAs, que poderia acarretar em um grande prejuízo ao tempo efetivo de trabalho de todos e, consequentemente, tempo para dedicar a pesquisa. Isto entre tantas outras implicações que nem menciono aqui na esperança de ser 'um pouco menos' prolixo.  

Ao fim da reunião, foi decidido que ainda era preciso se discutir bem mais antes de decidir algo. E, portanto, novas reuniões virão... Independente, de qual seja a posição que a Universidade tome em relação a sua natureza multicâmpus, esta necessariamente precisará estar explicita em nosso PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional) que descreverá nossos planos de 2012 a 2020. Creio que é obrigação de todos os estudantes, funcionários e professores se envolverem em tais discussões e levar uma opinião clara aos seus representantes. O modelo multicâmpus da UFABC é um tema que afeta a todos nós e o pior pecado que poderia se cometer neste momento seria a omissão. 

A cada dia que passa, sinto que mesmo a Universidade sendo construída de concreto é, na verdade, moldada pelas vontades daqueles que a governam. Isto faz com que vivamos em Torres feitas de paredes fluidas e propensas a continua modificação.  Nada mais justo para uma instituição que tem seus centros criados sobre as palavras de ordem: Descoberta, Sistematização e Invenção. 


domingo, 20 de novembro de 2011

Entre caminhos indistinguíveis ou coisa que o valha...



Sempre que leio algo sobre Feynman, lembro-me que ele considerava o fenômeno de interferência como o misterioso coração da Mecânica Quântica. A interferência fala sobre o que acontece quando uma partícula e/ou onda tem dois ou mais caminhos indistinguíveis para seguir. Sob tal situação, algo inusitado acontece: é como se tal ente físico percorresse ambos os caminhos ao mesmo tempo, dede que não haja realmente como distinguir entre eles. Estas partículas abusam de sua ‘liberdade de escolha’ e não optam por nenhum caminho em específico, apenas seguem por todos os possíveis e pronto.  Como Feynman afirmaria: um grande mistério!

Na vida moderna, nossas escolhas se reduzem ao clássico (no sentido de não quântico),  também temos muitos caminhos a escolher. Porém, eles nos parecem quase sempre bem traçados, mas nem por isso chegamos onde acreditávamos que deveríamos. Em geral, ir de A até B sempre é mais complicado do que imaginávamos... De certo modo, isso deve ser o coração misterioso de ser Humano. Diferente das partículas, temos uma consciência para sempre nos questionar: "Realmente por aqui que eu gostaria de ir?" , "Era mesmo essa paisagem que queria a minha volta?" ou "Se quisesse deixar este caminho, por onde seguiria?" Muitas perguntas, quase nenhuma com uma resposta satisfatória. Para nosso infortúnio (ou não), somos bem diferentes dos entes quânticos: A nós só é dado o direito de trilhar um caminho (de cada vez). Dito SIM para um caminho, você automaticamente diz NÃO para todos os outros. Apenas UM pode ser seguido. Então, está com inveja das partículas quânticas? Não fique, nem contei a história toda: a interferência sempre acaba entre algo destrutivo e construtivo (quase uma loteria). Sem falar de tantas outras implicações. Como você pode perceber, não necessariamente é uma boa coisa ser quântico.  

Pessoalmente, há dias que estou me sentindo confiante e caminho de cabeça erguida, olhos focados a minha frente, porque é o que acredito que eu quero. Outros dias, já não tão certo, olho para os lados e vejo se existe alguma trilha alternativa ou um retorno. Porém, continuo (quase sempre) no mesmo caminho, mais por medo de me perder por completo do que por não enxergar outros destinos possíveis. Também, há dias loucos em que não me importo com qual direção eu vou. Nestes dias, posso andar para qualquer lado, pois um caminho parece tão bom quanto qualquer outro. No fim, percebo que não fui a lugar algum... Apenas andando em círculos, pelo menos, nestes dias aprecio a vista a minha volta ;-)

Hoje foi um dia desses de não ir a lugar algum.  Cansei, sentei-me e, por fim, resolvi escrever no blog, esperando que a minha bússola inspiradora indique para onde devo ir. Infelizmente, para você que me lê, eu estava tão vazio de direção que não pude pensar em nenhum tema para o blog além dessa falta de caminho. Amanhã, sei que volto a minha marcha, pois sempre estamos nos movendo no tempo e espaço, mesmo que nem percebamos bem isso. Isso me lembra que, talvez, a única certeza na vida seja essa grande Dúvida. Porém, isso é tema para outro dia, outra conversa neste blog sobre o senhor Heisenberg e minhas Alusões Quânticas da Vida. 

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Crescer não é para fracos




Está semana ocorreu um evento muito especial na UFABC: a colação de grau. Não foi a primeira de nossa Universidade, mas todas sempre tem algo de especial. Nesta, tínhamos os primeiros engenheiros formados; ainda um número tímido: apenas três (biomédica, informação e materiais).  Porém, um claro sinal que a UFABC começa a mostrar para que veio e a produzir os tão esperados engenheiros de uma nova estirpe: cultivados no ambiente interdisciplinar do Bacharelado em Ciência e Tecnologia e refinados através das engenharias, como curso pós-BC&T, com um especial foco em inovação e flexibilidade.

Além disso, na semana passada tivemos a participação de nossos estudantes no ENADE.  Opiniões diversas sobre a validade destas provas, mas definitivamente serão mais dados para as estatística de olhos externos sobre que tipo de estudantes estamos formando.  Antes de mais nada, devemos congratular os estudantes formados (e os muito próximos disso) que, mesmo com tantas atribulações e limitações da infra-estrutura ainda em consolidação, conseguiram obter todos os créditos e conhecimentos para se formar na UFABC. Suas responsabilidades são imensas, eles carregam o nome de uma nova Universidade com um novo Projeto e, lá fora, se espera que sejam um Novo Profissional. De qual tipo? Bem, essa é a parte realmente difícil: cabe a cada um deles descobrir enfrentando os desafios que o mundo os apresentará. Nunca foi dito que ser a quebra de um paradigma seria uma missão fácil. Crescer em um mundo como este, não é para os fracos.

A Universidade também precisa se repensar, já que é atualmente bem diferente do modelo com o qual começou. Os pioneiros de 2006 tiveram muitos problemas e dilemas a solucionar para direcionar a Universidade através das premissas estipuladas por seus fundadores. O seu sucesso nos trouxe ao que somos hoje: dois câmpus de muita infra-estrutura e concreto, mais de quatrocentos docentes, um número que não sei estimar de funcionários, pelo menos cinco mil alunos já matriculados e mais dois mil para 2012 (e muitos mais para entrar nos próximos anos).  Mesmo que resolvidos muitos dos problemas desde 2006, agora temos toda uma série de novos problemas. A nova evolução fez com que fossemos imunes a alguns problemas que tínhamos no início. Porém, nossas mutações também nos fizeram sofrer de outras mazelas, as quais não podemos sanar apenas seguindo o que foi feito antes. Novas resoluções, algumas drásticas,  precisam ser tomadas para se evitar problemas ainda maiores.

Crescer não é fácil para ninguém, envolve pele esticando, ossos rangendo, por vezes, cascas rachadas. Em um organismo como a Universidade, este crescimento consegue ser ainda pior e mais descontrolado. Pois cada parte cresce como considera mais adequado e o todo tenta se manter coeso. Para evitar ainda mais dor é preciso racionalizar e tentar fazer este crescimento ocorrer de forma planejada. Temos recursos limitados e, portanto, é preciso usá-los com parcimônia. O modelo artesanal de se formar estudantes que parecia tão propício no inicio da Universidade, agora se mostra dispendioso. Devemos aprender a fazer as coisas de forma mais eficiente para que possamos fazer mais com os recursos que temos. Precisamos garantir que os quase dois mil alunos que entrarão todos os anos tenham direito a mesma formação interdisciplinar. Aluno da turma A precisa receber os mesmos conhecimentos da B ou C e ter a mesma avaliação. Isto parece bem simples ao se dizer, mas não é tão fácil de se garantir.  Para tanto, talvez, seja necessário um sacrifico de certo nível de Liberdade em prol de uma maior Justiça.

De fato, os próprios conceitos de liberdade e flexibilidade tão reverenciados na Universidade, bem como o projeto pedagógico, precisam ser melhor discutidos e, principalmente, definidos seus significados (e limites) na prática (não peço mudanças, mas afirmo que uma melhor interpretação oficial da instituição é necessária). Por vezes, as pessoas acreditam que só porque deram o nome a algo, já o compreendem perfeitamente. Isto é uma grande falácia, conceitos são muito mais do que o simples nome que lhes são dados ou um significado idealizado, completamente ausente de sentido real, que alguns usam para reforçar os interesses de seu próprio discurso.

Atualmente, sinto uma divisão crescente entre aqueles que se apegam as palavras dos idealizadores (que realmente são belas e inspiradoras) e os que buscam dar um sentido prático a elas. É bom lembrar que ideias apenas ditas sem qualquer planejamento para o nosso dia a dia, nada mais são que um discurso vazio. É muito bom sonhar, mas para construir algo é preciso estar bem acordado e de mãos ativas. Os sonhos podem ser uma boa inspiração, mas não são o suficiente para definir metas. É preciso ser realista, considerar todas as limitações no caminho e criar uma imagem viável do sonho. Na ausência deste pragmatismo, tudo que se consegue é ficar preso no limbo entre a decepção do sonho não alcançado e de uma realidade nem mesmo criada.  

Nossa Universidade cresce de forma vertiginosa e não podemos apenas assistir a isso mantendo maneiras artesanais de fazer as coisas ou “apagando pequenos incêndios a cada vez que aparecem”. Precisamos amadurecer a nossa maneira de gerir deveres e direitos e encontrar o equilíbrio que utilize nossos recursos (técnicos e humanos) da forma que favoreça o melhor possível a todos: discentes, funcionários e docentes.

Na colação de grau do dia 10 de Novembro, tivemos algo como uma centena de formandos. O que por si é um ótimo começo. Contudo, isto ainda é muito pouco comparado aos quase dois mil alunos (ou mais) que entraram todo ano, fica claro que temos muito para otimizar e crescer. Acima de tudo, devemos honrar o nosso maior compromisso com a Sociedade e  oferecer todos os anos um grande número de profissionais com excelente formação interdisciplinar e específica que supra as deficiências existentes atualmente nos mais diferentes setores. Além disso, dentre estes estudantes devem surgir as lideranças que devem conduzir o nosso país a novos patamares de desenvolvimento científico, tecnológico e social. 

domingo, 6 de novembro de 2011

Avaliar é descobrir onde estamos



Para saber por onde ir são necessárias duas informações básicas: onde se quer chegar e onde se está no momento.  Isso é muito simples, quando você pensa no seu trajeto de sua casa para o trabalho ou mesmo em busca de alguma diversão.  Contudo, a questão não é tão simples quando se pretende pensar os caminhos de uma grande instituição como a UFABC.

O ‘para onde ir’ comentei aqui antes está fortemente associado ao Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), quanto ao ‘onde estamos’ é sempre uma questão muito complicada que depende fortemente de a quem se pergunta.  A resposta deve surgir dos diversos órgãos e pró-reitorias que formam a UFABC, bem como dos docentes, funcionários e discentes. Obviamente, é difícil ouvir tantas vozes assim, principalmente quando muitas delas são tão contraditórias.  

Costumamos acreditar que estatísticas nos ajudam a ter uma melhor visão de qual o cenário de nossa Universidade. Por isso, o processo de avaliação, que ocorrerá de 7 a 21  de Novembro, é de suma importância ( http://migre.me/651x7 ). Desta vez, serão avaliadas as disciplinas do segundo quadrimestre de 2011 (assim os calouros tem a oportunidade de comentar o início de suas experiências universitárias) e também diversos aspectos dos Bacharelados Interdisciplinares (BI) e dos pós-BIs.  Momento oportuno para opinarmos sobre os caminhos que os diversos cursos estão seguindo e apontar algumas das falhas que, como instituição,  talvez nem tenhamos notado ainda. 

A avaliação, para muitos também pode soar como um momento de desforra, ainda mais com o ‘anonimato’ que o processo costuma requerer.  As pessoas se sentem mais livres e corajosas quando consideram que não podem ser repreendidas. Contudo, não devemos nos ausentar de nossa responsabilidade: escrever algo apenas por que não se gosta de fulano ou beltrano, em nada nos ajudará a corrigir nossos erros. Deve-se fazer uma analise crítica do papel de cada um e apresentar um panorama claro da situação da UFABC. De preferência, apresentar opiniões que possibilitem correções práticas para um aprimoramento de nossa Universidade.

O que quero dizer é que o anonimato pode ter suas características boas para apresentar uma opinião franca em uma avaliação conduzida pela Comissão Própria de Avaliação (CPA). Contudo, também tem um lado bastante negativo em muitas outras situações. Por exemplo, propagar informações e acusações através de e-mails anônimos nunca parece algo correto, independente da veracidade do que for relatado. Se, realmente, é verdade o que foi escrito por que se esconder atrás de algum codinome? Não vivemos em um mundo de heróis dos quadrinhos: em nosso mundo, quando heróis surgem, eles tem um rosto e um nome. Esconder-se atrás de uma máscara, mesmo que seja uma virtual, para dizer algo sempre deixará um ar de intriga e covardia que atenua em boa parte a validade do que for dito.  Afinal, quando se ouve da floresta alguém gritando ‘É o lobo, é o lobo’ com uma voz disfarça, quantos iriam ao seu socorro?

Por isso,  ao realizar este tipo de avaliação, é sempre bom avaliar também o grau de comprometimento de suas respostas: o que é respondido é algo para satisfazer a si mesmo (deixar um sentimento de ‘alma lavada’) ou realmente são fatos observados por você que possam ser utilizados para desenhar uma imagem clara de nossa Universidade. A avaliação é fundamental para nos apontar o que estamos fazendo de certo e de errado e, principalmente, onde é que devemos nos corrigir. Nem é preciso dizer que a participação de todos, discentes e docentes,  é imprescindível para que tenhamos estatísticas sólidas e bem fundamentadas. Acima de tudo, devemos ter em mente a busca em tornar a nossa UFABC mais próxima do que acreditamos que ela deveria ser.

domingo, 30 de outubro de 2011

Quantos Doutores são necessários para fazer um BC&T funcionar?

Uma sincera homenagem a piada da lâmpada



O terceiro quadrimestre deste ano já está bem encaminhado, o que nos dá tempo para pensar sobre o que virá para o próximo ano.  Na busca de uma melhor consolidação da UFABC,  há um esforço para definir a alocação da carga didática não apenas para o primeiro quadrimestre, mas para todo o próximo ano (e com sorte, definições que serão um padrão de 2012 em diante).  Pessoalmente, já considero isso um grande progresso que traz muitos benefícios, acima de tudo, se houver o comprometimento sincero por parte de todos. Obviamente, para tais definições fica evidente a pergunta: Quantos créditos um professor da UFABC deve lecionar por ano?

Poderia se pensar que isso é uma matemática simples: Número total de créditos divido pelo de docentes e temos o valor mágico. Nem é tão simples assim, é preciso levar em conta especializações dos professores, responsabilidades de cada centro, cargas dos Bacharelados Interdisciplinares, Cursos Pós-BIs, Programas de Pós-Graduação, trabalhos burocráticos, etc. Além disso tudo, que ainda sobre algum tempo para dedicar à pesquisa; afinal, se pretendemos ser uma entre as 100 melhores, não será através do recorde de maior número de créditos por professor que o conseguiremos.

A situação é complexa ao ponto de ter sido o foco de um Grupo de Trabalho (GT) [ Se quiser ver o relatório: http://migre.me/61E9m ].  Esperamos que a sugestões deste grupo nos leve a uma distribuição de créditos mais racional e compatível com uma Universidade que realmente deseja ser um novo paradigma em Ensino, Pesquisa e Extensão.  Por enquanto, tudo isso ainda são conversas em diversas esferas 'burocráticas' que em algum momento eclodirão como novas normas no boletim de serviço.

Atualmente, ouvimos pelos corredores números que vão de 16 a 28 créditos por ano. Pois é, uma barra de incerteza que parece mais um grande erro grosseiro. Obviamente, professores, nada felizes sobre isso, vociferam discussões por listas de e-mails e afins. Os pontos de vistas são os mais distintos possíveis, acho que a única coisa que todos concordam é que ninguém pode dar tantas aulas... Não pense que isto é a lei do menor esforço, mas sim o instinto de sobrevivência de pesquisador gritando: se não tivermos tempo de qualidade para a pesquisa, haverá um fracasso muito grande da proposta da UFABC e uma generalizada frustação dos professores. Nada pior do que pessoas frustradas fazendo algo que não queriam fazer, não acha?

As causas para tantos créditos são muitas: o crescente número de estudantes a cada ano (por pressões políticas) sem o crescimento proporcional de número de professores e infraestrutura adequada; o gigantesco número de matérias a serem oferecidas (muitas delas que sobrepõe conteúdo desnecessariamente, repetindo temas já abordados em outras disciplinas similares); oferecimento exagerado de vagas em diversas disciplinas que não refletem as reais necessidades da instituição para o dado quadrimestre; uma politica irresponsável de trancamentos por parte dos discentes que gera, ao fim de cada quadrimestre, um grande número de turmas quase vazias. Por fim, chegamos ao cenário de professores sobrecarregados e alunos desanimados. Se nenhuma atitude mais séria for tomada, a situação apenas seguirá por um vertiginoso caminho em direção ao caos.

Por isso, medidas de todos os lados estão sendo realizadas. Estudos sobre a real demanda de créditos por professor, novas regras sobre trancamentos e limite de créditos por discente, uma reestruturação dos horários de oferecimento das disciplinas.  Ainda precisamos de um estudo mais profundo das ementas e disciplinas na busca de um oferecimento mais racional e extinção daquelas que foram erroneamente criadas e já possuem equivalentes no catálogo da UFABC. Definitivamente, existe muito trabalho a ser realizado, mas é um esforço valido se trouxer uma estrutura mais coesa e coerente à nossa Universidade.

Uma questão curiosa sobre as discussões é que independente do assunto com o qual se começa, elas sempre passam pelo dilema “semestre versus quadrimestre”. Muitos acreditam que a mudança de regime de oferecimento para o semestral resolveria muitos de nossos problemas. Pessoalmente,  não vejo desta forma: Apenas me parece uma discussão sobre dividir a pizza em 4 ou 8 pedaços e com qual divisão nossa fome seria melhor saciada. Não entrarei no mérito dessa questão, principalmente porque sou razoavelmente indiferente e, talvez, alienado sobre ela. Não considero forte o argumento que deve ser semestral porque é assim que as outras são, do mesmo modo que acho fraco dizer que deve ser quadrimestral porque é assim que está no projeto pedagógico.

Porém, o que acho fundamental em todas as questões seja sobre número de créditos, ou quadrimestres, ou quaisquer outros assuntos que envolvem o futuro de nossa Universidade é uma ampla discussão envolvendo docentes, funcionários e discentes e que suas opiniões sejam realmente ouvidas.  Dos inúmeros e-mails que vi na discussão, alguns me pareceram bastante pertinentes, mas um em especial me chamou a atenção por ser um apelo num tom confessional e até, de certo modo, poético.  Estou tomando a liberdade de reproduzir um trecho aqui:

“Quando aqui entrei (...), pensava estar numa Universidade, mas creio que me enganei, acho que ingressei numa igreja em que dogmas são invioláveis e inquestionáveis. É triste constatar que estamos vivendo o ciclo dialético dos 3 Ds (Deslumbre, Desilusão e Desespero). Eu pessoalmente já vivo o segundo D, e pelo jeito no próximo ano, se nada mudar atinjo o terceiro.” 

Prefiro não citar nomes, mas considero uma lástima que estejamos criando um sistema na UFABC que gera este tipo de sentimento em um professor-pesquisador, que se esforçou para entrar em um concurso e depositou todas as esperanças de sua carreira em uma instituição que aparenta não levar em conta todos os seus esforços. Não podemos deixar que UFABCianos percam o que é mais importante neste trabalho: o COMPROMETIMENTO com a instituição. Não se pode permitir que esmaeça a busca em realizar um trabalho de excelência devido ao amargor de se sentir esquecido e/ou menosprezado pela instituição pela qual se dedica tanto.  

Eu sei que muitas medidas estão sendo tomadas, mas muitas outras são necessárias. É  preciso uma grande dose de bom senso e humildade para que façamos da UFABC a melhor Universidade que pudermos, mas sem exigir em troca o sacrifício e a morte de nossos espíritos inquietos de pesquisadores. Enquanto isso não acontece, nós vamos nos equilibrando como podemos a cada dia com criatividade e muito esforço (quase sempre mais do que seria necessário) para dar uma luz de esperança de que num futuro (espero que próximo) teremos a Universidade com a qual sonhamos no dia em que fomos aprovados em nossos concursos.

domingo, 23 de outubro de 2011

Questão de escolha



Para todos é vendida uma imagem dominante de que o essencial é fazer a diferença. Estamos aqui por algum motivo, não? É esperado que cada pessoa tenha seu talento, algo que o torne único (mesmo sendo um em sete bilhões...). Passamos nossa vida seguindo caminhos e decidindo sobre escolhas que fazem (ou deveriam fazer) de cada um de nós uma história única em cada nuance. Mesmo assim, sentimos que compartilhamos algo em comum com qualquer outro humano, chamamos isso de valores universais. Afinal, o que um homem sente, pensa ou valoriza é o seu universo, não?  Entretanto, eu imagino, com o receio que os "valores universais" nos tornem iguais demais definimos nossa fé: numa religião, numa posição politica, numa pátria, numa língua, numa escolha sexual, numa insígnia de alguma equipe de algum esporte. Defendemos, amamos e algumas vezes matamos (uns aos outros ou a nós mesmos) por essas coisas. Uma definitiva reafirmação de nossa individualidade! (Com boa dose de intolerância e estupidez generalizada, que também devem ser valores universais; ao menos, parece ser algo espalhado por toda parte...).
A cada nova escolha nos tornamos um pouco mais diferentes ou, talvez, nos tornamos mais e mais iguais ao que realmente somos. Complicado.... Sim, eu também acho complicado.... E, olha, que nem entrei na questão de livre arbitrio e/ou determinismo que tornaria isso tudo longo demais rsrs. Outro dia, ouvi que a liberdade é formada por dois fatores: escolha e controle. Precisamos acreditar que possuímos ambas para nos sentimos livres. Pense um pouco, isso até que faz sentido.
Acima de tudo, precisamos acreditar que temos o controle sobre nossas escolhas e também a esperança em ter algum controle sobre as consequências daquilo que decidimos. A grande angústia do processo de escolha é que elas nos limitam a enxergar apenas o mundo constituído por aquelas que foram feitas. Todas os outros caminhos que seriam possíveis são perdidos em algum lugar que nos parece inacessível. Engraçado, que este dilema também aparece, de certo modo, em ciência: mais especificamente em física quântica e a questão do colapso na medida... Não entrarei em detalhes técnicos sobre isso, mas tal questão impressionou tanto os cientistas que Hugh Everett surgiu com uma ideia curiosa que, se não teve tanto impacto na ciência em si, incitou muito a imaginação da ficção científica e da indústria dos filmes: a interpretação de muitos mundos (ou multiversos, se preferir).  Nesta interpretação não ocorreria o colapso da função de onda para estado medido, mas para cada uma das possibilidades surgiria um universo para cada um dos possíveis resultados. 
Ainda há físicos ‘simpatizantes’ da interpretação de muitos mundos e eles até a usam com algum sucesso para explicar fenômenos quânticos, até mesmo, a viabilidade de viagem no tempo. Para o dia-a-dia e o homem comum resta o fascínio por imaginar que todos os possíveis caminhos ocorrerem em sequencias infinitas de universos paralelos. Contudo, isto não possibilitaria o acesso a nenhum destes outros mundos ou o seu conhecimento; aparentemente, estamos fadados apenas ao nosso Universo e a contemplarmos apenas o mundo específico que criarmos com as escolhas que fazemos. O que, pessoalmente, já considero bastante responsabilidade e muito o que entender. E a cada escolha que fazemos vamos nos distanciando daqueles que éramos antes da escolha ser feita e nos fazemos únicos entre sete bilhões ou algo assim. 

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Sem tempo.


from: http://freelanceswitch.com/freelance-freedom/freelance-freedom-13

Em nossos dias, um dos fins apocalípticos mais populares dos filmes é o ataque de um vírus terrível (ou algo assim) que dissemine a praga Zombie por toda parte. Criaturas sedentas vagando com um único propósito: saciar sua fome. Tal mal se espalharia sem precedentes até levar a vida como conhecida ao derradeiro FIM. Todos concordam que estamos bem longe deste mundo comentado. Contudo, temos sinais claros de criaturas sem vida entre nós. Vagam também ativadas unicamente pelos sua fome extrema: quase sempre o trabalho. 

Os nossos dias passam em uma sequência aborrecida e preenchida por todo tipo de  atividades (poucas que realmente nos agradem). Vivemos num mundo de tarefas a cumprir, reuniões a comparecer e prazos, sempre muitos prazos a satisfazer…

Independente de quanta dedicação tenhamos a tudo o que façamos: sempre estamos em falta. Sentimos culpa por não dedicar o tempo necessário a nossa família, aos estudos, às nossas paixões. Nem mesmo para nós mesmos permitimos a reserva de algum tempo. Temos prioridades e urgências. Tudo urge a nossa volta e acanhados de falhar em nossas tarefas acolhemos passivos a nossa sagrada agenda. Temos tantas obrigações com tantas pessoas e tudo a nossa volta, que é impossível não estar em falta com algum deles. Simplesmente, não há tempo suficiente.

Da criança que fomos, apenas a lembrança de que o dia era a oportunidade para nos deliciarmos com o que havia para descobrir. Além disso, só ficou mesmo o rastro do Coelho de Alice e seu mantra obsessivo: ‘Estou atrasado, estou atrasado, estou atrasado'.

Em todos as áreas da vida a pressa torna-se a regra básica. Por exemplo, no trânsito (templo supremo da impaciência) até as cores do semáforo ganham novos tons: Verde: ‘Ainda bem, não posso parar’; Vermelho: ‘por que não anda logo?’ e o Amarelo: ‘Acelera, acelera antes que fique encarnado’.  Dos hábitos alimentares, um tipo de comida daquelas famosas lanchonetes torna-se o nosso guia espiritual. Agora, Tudo é FAST! Que seja o FastFood, o FastSleep, o FastFun, o FastLove… Só nos resta um FastLive!

Uma grande pena, me disseram que há um lindo mundo aí fora para se ver, se você tiver tempo para apreciá-lo. Talvez, ainda não estejamos cercados pelos Walking Deads. Todavia, amargamos um fim ainda mais melancólico e lacônico: estamos todos nos tornando Running Liveless.

domingo, 9 de outubro de 2011

Para Iluminar novos caminhos




“All Science is either physics or stamp collecting.”  Estas foram palavras do grande cientista do século passado, Ernest Rutheford, que demonstravam graciosamente sua típica arrogância de Físico e também uma mente, que apesar de visionária, ainda se fazia fortemente arraigada em seu tempo. Ironicamente, o descobridor do núcleo atômico foi agraciado com o prêmio Nobel de Química. Ele mesmo sorriu com a piada de ser transmutado em Químico pelas suas contribuições em Física (ou melhor, o que ele queria entender como Física). Talvez, essa tenha sido uma nada sutil demonstração, ao nobre laureado, que a Natureza não gosta de ser fragmentada e colocada nestes compartimentos que insistimos tanto: Ciências Naturais e Não-Naturais (aquelas que ainda não conseguimos domar e eternizar em nossos livros textos).

Quando se fala de ciências, o velho provérbio romano: ‘Dividir para conquistar’ não traz tanta força ao conquistador, mas o cega na busca de compreender a Natureza. Quando se fala de Universo, o Todo é muito mais do que a simples soma de suas partes. Em nosso tempo, vivemos uma nova pretensão de valorizar a interface e a interação das diferentes ciências mais que as ciências ditas ‘tradicionais' em si.  De fato, vivemos um tempo ainda indeciso de muitas versões (algumas até distorcidas) das multi-, inter-, trans- e outros prefixos para as disciplinaridades. Muito se diz sobre um jeito novo de fazer ciência com menos preconceito e mais diálogo entre as suas diferentes ‘abordagens’. Contudo, fica o alerta de que é preciso mais que um discurso bonito para agradar agências de formento e fazer políticos vencerem eleições. Precisamos de uma atitude coerente e ações eficazes para nos levar a uma real implementação desse modo de executar ciência.

Obviamente, este é apenas um preâmbulo para falar de meu local de trabalho, a UFABC, uma  universidade do século XXI, que desde seus momentos iniciais foi moldada para ser diferente e interdisciplinar (ou um outro daqueles prefixos acima citados que mais te agrade). Todos que entram na UFABC são convidados a apreciar este jeito ainda não comum (mas tão exaustivamente panfletado por nós) de fazer o ensino, a pesquisa e a extensão. Para nos manter fiéis a esta proposta ousada, nós temos o nosso Projeto Pedagógico (PP), que imbuído do ‘espírito de uma nova ciência’ tenta nos nortear. Este texto de vital importância e sempre tão citado quando se considera que alguém quer ‘Matar o Projeto Pedagógico’ possui inúmeras interpretações e cisões internas de como deveria ser seguido. Gosto de pensar em nosso PP como um daqueles Faróis, cuja função primordial é permitir que se tenha uma melhor visão dos caminhos e perigos das turbulentas águas em que se navega. Todavia, o caminho exato que o navio traça será sempre decisão daqueles que estão a bordo e não do que os ilumina.

Neste ponto, vivemos um momento de suma importância: a definição de nosso Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), que não apresenta apenas o ‘espirito’ da Universidade, mas define o plano, linha a linha, a ser executado para alcançar o que desejamos ser daqui a 10 anos. Se o projeto pedagógico é um Farol, o nosso PDI é a Carta de Navegação que explicita exatamente a rota a se seguir. Participar da elaboração de tal documento é um grande privilégio e, ao mesmo tempo, uma grande responsabilidade. 


Por meio do PDI é que garantiremos que não seremos desviados e atraídos para uma inexorável ‘tradicionalização’ de nossos Centros, mas permaneceremos na trilha por uma Nova Universidade que alcançará este estilo único de formar bons profissionais e, quem sabe, também melhores humanos. Ainda dentro de nossas analogias luminosas, comparo o PDI aos faróis de um carro quando se dirige a noite: com certeza, não nos mostra todo o caminho que precisamos seguir; porém, com o pouco que vemos da  estrada, já temos o suficiente para nos levar em segurança, mesmo nos trechos mais obscuros, ao nosso desejado destino: a Excelência Universitária consolidada no trabalho duro e visão de muitos.

sábado, 27 de agosto de 2011

Um amigo irá casar.

Dedicado a um grande amigo.



Tenho um amigo que irá casar. Óbvio, que isto me trouxe lembranças, mas não falarei de altos e baixos de um relacionamento finado... Hoje, não é o dia para eu me iluminar ou obscurecer. Os holofotes devem ser para meu bom amigo.

Quero escrever uma homenagem (reflexão) ao meu amigo e seu casamento.  Gostaria de ser original ao falar de amor, mas sei que estou fadado ao clichê. Tudo já foi dito e esmiuçado sobre amor, até mesmo, as ideias mais controversas ou inusitadas.

Meu amigo já passou pelo casamento civil e sua estranheza jurídica.  Os ditos direitos e as devidas penalidades, caso ocorra a quebra de ‘contrato’ (modos de separação de bens).  O que eu tanto estranho nisto? A antecipação do que fazer, caso não der certo. É como ir a um grande banquete com deliciosas iguarias, mas no caminho repassar os procedimentos para o possível tratamento de azia. Talvez, eu seja ingênuo, mas neste ponto respeito os ritos religiosos: Amor tem que ser absoluto em esperança, passo desenfreado e otimista rumo a eternidade. Todo relacionamento deve ter o direito de nascer com intuito de ser “para sempre” (independente, de quanto o para sempre dure).

Os preceitos religiosos são bem diferentes (não que eu apoie qualquer sitematica em específico). Na igreja tudo é beleza e a Noiva surge como manifestação de infinitude. Em tom baixo (sussurro só para si), o Noivo convoca que ela apresse o passo. Alcance logo a sua mão e a cerimonia termine em um piscar. Afinal, ao vê-la tão especial, percebe que a eternidade é um tempo curto demais para tudo o que precisa ser vivido; viver é verbo efetivamente transitivo e exige objetos (e objetivos) diretos e indiretos para se manifestar plenamente: amor e casamento são alguns deles.

Nem sei se tenho o direito de dar conselhos sobre casamento. Afinal, sou divorciado e, atualmente, estou só (exercito a tarefa da busca).  Mas, meu amigo, encare isso como uma opinião técnica de um ‘empresário não tão bem sucedido’, daqueles que se não conhecem a receita definitiva do sucesso, mas ao menos já trilhou um dos caminhos do não bem sucedido rsrs Meu único conselho é: Não permita que seu amor sufoque pela doçura. O Amar deve ser como o Chocolate Amargo! A doçura em excesso entorpece e enjoa o paladar dos sentimentos levando qualquer sensação à infindável mesmice. O Amargo traz o equilíbrio e abriga a ação dos opostos para sanar o tédio.

A doçura pode até parecer perfeita, mas toda perfeição carece de sabor. O Amargo empata os contrários e traz desapego ao que deveria ser ideal. Ele prepara os espíritos para saborear as surpresas da realidade e, por vezes, o apimentado das adversidades. O Amargo concede que o amor (dos deuses) seja verossímil ao paladar dos humanos.

É no desequilíbrio das expectativas que surge a harmonia do bem conviver e o trampolim para um viver mais pleno. Porém, tudo isso é apenas teoria, na prática, não se esqueça das palavras do poeta dos outonos: “Amar se aprende amando”. 

domingo, 14 de agosto de 2011

INTERdisciplinaridade em MULTIcâmpus: Que mal há?


Nas ultimas semanas muito foi dito sobre o futuro câmpus Mauá da UFABC. Entre outras coisas, a celeuma foi reavivada pela autorização de vagas de bacharelados interdisciplinares pelo ministro da Educação. Como muitos sabem, nem mesmo um terreno, onde haverá a UFABC, já foi definido; então, imagine a surpresa. Depois da publicação no diário oficial, tivemos uma dança meio desengonçada de declarações, negações e insistências: de um lado a reitoria dizendo que UFABC planeja o novo de Mauá apenas para 2015 (ou adiante); do outro, políticos e abaixo-assinados de Mauá que gostariam de ‘algo’ de UFABC na cidade já em 2012. (Um milagre a ser anotado: um político realmente empenhado em realizar uma promessa de campanha! Duvido que isso esteja correlacionado ao fato de haver reeleições em 2012; pura coincidência, não?)


Não há dúvida que a UFABC é uma Universidade em plena expansão e está definindo com determinação o seu espaço no cenário do ensino superior de nosso país. Porém, é preciso crescer com responsabilidade e sensatez. Insistir em mais um câmpus provisório, enquanto ainda tentamos resolver os diversos problemas dos improvisos anteriores não parece uma atitude de quem aprende com os próprios erros. O improviso sempre foi uma força impulsionadora para soluções criativas. Porém, quando improviso não é impulso, mas modo operante tudo ao que nos leva é na formação de profissionais igualmente improvisados. Não acho que isso seja o que buscamos na UFABC, não é?


Para os que insistem ainda no câmpus improvisado, sugiro, então, que criemos o bacharelado interdisciplinar BC&P: Bacharelado em Circo e Pão. Assim, nos basta uma grande tenda, com pomposa placa de ‘câmpus provisório’. Obviamente, professores e funcionários teriam que se fazerem de mágicos para colocarem, simultaneamente, três câmpus precários (ops, digo provisórios) para funcionar.  Fica a questão: Qual o papel dos estudantes, fadados ao ‘dá-se um jeito’, nesta grande tenda? Prefiro nem mencionar...  Pessoalmente, espero que aqueles que insistem neste cenário prematuro e não planejado, nossos bons políticos e suas ambições, definam logo qual será seu real papel neste grande picadeiro.


Sinceramente, não me preocupo com o câmpus Mauá. Sou do tipo otimista e acredito que seremos guiados pela sensatez e bom senso. De fato, temos questões muito mais sérias e alarmantes a definir: Para ser MULTIcâmpus, basta que existam dois, o que já temos e com isso todos os problemas associados. Nossos recursos (humanos, financeiros, equipamentos, etc) são limitados e precisam ser distribuídos entre os diferentes locais. A grande pergunta é como faremos isso: Teremos câmpus em que ‘replicaremos’ nossos cursos, cada qual uma cópia quase idêntica do anterior? Criaremos espaços temáticos (o que soa mais coerente na prática) com cada câmpus tendo sua própria estrutura definida, principalmente, pelos cursos pós-BI que lá serão oferecidos e as pós-graduações associadas.


Essa discussão não é simples, nada simples mesmo. Devemos definir que curso deverá ir para qual câmpus. Com o curso, deverão ser deslocados os professores, os funcionários, os novos alunos, os laboratórios didáticos e, até mesmo, a estrutura de pesquisa. Não se move apenas graduação, mas pós-graduação também. Além disso, como ficariam os alunos atuais dos dois câmpus e suas escolhas de curso? Conseguiremos oferecer a eles o que desejam no seu campus de origem, ou acabaremos dizendo: “Desculpe-me, mas o curso X só é oferecido no câmpus Y, você terá que fazer as matérias lá mesmo.” Aos futuros alunos, muito provavelmente, o alerta já será dado no SISU: ao entrar para a escolha do BI e do câmpus, o aluno já será alertado quais as escolhas pós-BI que poderá fazer se quiser permanecer naquele específico câmpus. Isso poderá limitar, na prática, o ‘leque’ de escolhas de cursos que os alunos poderão fazer em suas carreiras. Quantas coisas a se pensar, quantos meios e regras a definir para fazer com que a UFABC siga este caminho de se dividir em dois câmpus da melhor forma possível. Estas escolhas afetarão a todos nós e, portanto, deveremos participar das discussões e decisões: definir nosso futuro é questão urgente de agora.  Acredito que você concorde comigo que com dois câmpus a questão já é complicada o suficiente, ao inserir um terceiro antes de solucionar a questão de dois, estaríamos sendo apenas imaturos e irresponsáveis.  


Uma questão ainda mais importante e que atinge o cerne de nosso projeto pedagógico: como lidar com a INTERdisciplinaridade em múltiplos câmpus? Estaremos dividindo os nossos mais importantes recursos em diferentes espaços, estaremos fragmentando nossas torres do conhecimento (literalmente). Será que mesmo assim conseguiremos manter o nosso espirito de unir diferentes áreas e propor novas soluções, se estas áreas estão (fisicamente) dispostas tão à parte.  Interdisciplinaridade não nasce em hora marcada, não aparece porque colocaram uma resolução exigindo-a no Boletim de Serviço. Ela vem espontaneamente de uma discussão entre professores de diferentes áreas no cafezinho,  alunos comentando questões no final de um seminário, diálogos com técnicos sobre diferentes instrumentos e conversas nas mais diversas reuniões burocráticas que terminam com professores falando sobre pesquisa: “O que você faz mesmo? Interessante, acho que poderíamos trabalhar em algo juntos...” . Então,  se percebe que não é mais uma conversa de amigos apenas, mas uma discussão cientifica com novas possibilidades de pesquisa. O que quero deixar claro é que múltiplos câmpus podem afetar negativamente a pesquisa interdisciplinar com a natural segmentação das áreas e uma eventual ‘departamentalização’, que na UFABC é tão combatida. É preciso discutir isto e definir maneiras de evitar que percamos um das características mais belas de nossa Universidade.  


Não quero alarmar ninguém com meus comentários, apenas mostrar que há muito para ser discutido e que devemos encarar tudo isso com coragem e determinação. Para finalizar, creio que a UFABC terá um campus Mauá, mas que isso seja feito num momento em que a nossa Universidade esteja consolidada com seus dois câmpus atuais.  Queremos uma Mauá construída de forma sensata e bem planejada: sem atropelos desnecessários ou cursos precários para os nossos estudantes.  Para a alegria dos políticos haverá um campus pronto (no dia adequado) a ser inaugurado com o corte de faixa vermelha festiva por tesoura cerimonial (quem sabe, até um subir a rampa), discursos eloquentes e muitas poses para fotos e notas para o jornal. Se não vai ser no mandato de uns ou outros. Bem,  paciência, certo? Não é melhor escolher o caminho que beneficie a sociedade como um todo do que as ambições pessoais de alguns eleitos (ou futuramente elegíveis)? Eu sei que sensatez e fazer o melhor para todos nem sempre trazem votos; mas, você pode acreditar,  que contrõem seres humanos bem melhores: basta tentar.  

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Primeiro exercício literário: 'Paredes de Multidão'


Estou fazendo uma Oficina Literária On-line. Um dos pontos divertidos é 'escrever sob encomenda'. A cada semana uma missão e dela surge um texto. O desafio sempre é um caminho adequado para desenvolver habilidades. Tento domar a minha criatividade; o curioso é que até funciona. Nesta atividade, eu deveria usar uma música para me inspirar. Estou compartilhando aqui em meu blog o que produzi na última semana (já apresento com algumas correções sugeridas) e a música que me inspirou. Exercício curioso é ler o texto enquanto a música toca... É intrigante como 'trilha sonora' dá um sabor extra ao que foi escrito. 



Boulevard Of Broken Dreams - Green Day



Paredes de Multidão


Após um longo dia de trabalho, sigo o meu caminho para casa. Dentro de um ônibus cheio, vou à estação Butantã. Tantas pessoas a minha volta: sons, cheiros e impaciência. Eu vou silencioso e insipido, enquanto a viagem atiça a minha peçonha e aumenta ainda mais o meu mal humor.

Finalmente, chego à linha amarela, mas é só o começo do meu caminho de metrô.  Aguardo ansioso para ir à Paulista; esta é a parte fácil do trajeto. Árduo, de fato, é alcançar o Paraíso. (Pior, nem é a minha última parada!) No caminho entre deixar a amarela e estar na verde há uma imensa galeria de corredores. Tubulações, paredes e sinalizações pintadas em cores fortes e berrantes; tentando minimizar o pálido cinza das faces das pessoas: todos tão impassíveis quanto eu ao colorido à nossa volta. Não preciso me preocupar com o caminho que devo seguir, pequenas faixas restringem nosso andar e os muros feitos de pessoas me levam sem qualquer outra opção além do marchar sincronizado. Chegar ao Paraíso não é para quem tem escolhas a fazer, mas sim para aqueles que aceitam se submeter ao caminho imposto.

Sinto-me tão só naquela multidão; imensamente perdido e vazio. Quando estou sozinho em minha casa, sou o único que há e, portanto, tão vasto quanto tudo ao meu redor. Contudo, nos corredores do metrô, certado e limitado por tantos desconhecidos, perco até mesmo quem eu sou: torno-me bando. Arrebanhado por regras de movimento: ‘mantenha-se a direita; siga a seta verde para o próximo trem’. São tantos com (talvez, sem) vidas tão iguais a minha, que mal consigo distinguir-me em meio aos outros.

Além do destino que busco, não conheço nada ao meu redor e ninguém para conversar. Porém, isso não cessa o ruído; todos a minha volta falam: os fragmentos desconexos de suas conversas estilhaçam em meus ouvidos. Ecoam na ausência de significado que tantas vozes indistintas têm para mim. Não há sofrer em minha solidão efetiva, apenas desconcerto. Seria um sinal de que estou quebrado de alguma forma?

Cheguei ao Paraíso, mas ainda estou longe da minha casa. Todavia, devo parar por aqui. Estou a passos de exceder o meu limite (de linhas). Não termino a história, só o texto; entretanto, nem me frustro. Apenas, mais uma regra me limitando, dizendo onde meu caminho começa e termina, seja na linha do metrô ou na entrelinha do texto; a única coisa que permanece real é o meu sentimento de solidão aprisionado entre paredes de multidão.



sábado, 23 de julho de 2011

Quanto vale um D?





Esta semana, um item do boletim de serviço da UFABC (Sim, eu leio o boletim... rsrs) me chamou bastante a atenção. Era uma discussão no CECS sobre o conceito D em cursos específicos.  Para maior clareza, vou reproduzir o trecho do  texto aqui:

Impacto do conceito "D" nas disciplinas específicas.

Professor Luiz Henrique Bonani posicionou-se contrário à forma pela qual o conceito "D" é aplicado na universidade. Segundo o professor, há incoerência entre o projeto pedagógico e a forma de avaliação adotada. Outro ponto destacado pelo docente é a questão da responsabilidade da UFABC, pois o aluno poderá deixar a universidade com alguma deficiência, que poderá ter impacto em sua vida profissional. O Conselho corroborou as idéias apresentadas pelo professor Bonani e apresentou algumas sugestões. Findo os comentários, professor Gilberto sugeriu o encaminhamento de uma Moção do Conselho à CG para tratar a questão.[Extraído do boletim de serviço- número 173 – ConCECS]

Eu compreendo bem a apreensão dos professores do CECS.  Imagine que você está num avião prestes a decolar e descobre que aquele que o projetou teve um conceito D em Aerodinâmica (ou outra disciplina crucial aos projetistas de aviões); não seria o suficiente para pedir para descer? Se considerarmos que os cursos específicos são o núcleo duro da formação de nossos profissionais, esperamos que eles realmente tenham sido aprovados nestas disciplinas.  Amplio ainda mais a reflexão: não foi mencionado o uso do conceito D nos bacharelados interdisciplinares, mas fica a pergunta: Não seria igualmente perigoso um D nestes cursos?  Afinal, projetar aviões sem compreender o mais básico das leis de Newton não seria igualmente problemático?

O ‘argumento’ para a existência do ‘D’ na UFABC (até onde entendo) é para atenuar o efeito do amplo espectro de ‘especialidades’ que exigimos de nossos estudantes.  Por vezes, um estudante poderia ter um deslize em uma matéria ou outra, que esteja muito longe das habilidades naturais dele e poderia ‘sobreviver’ a tal inconveniência com o conceito D; uma espécie de falha condicional de menor dano.

Contudo, o que fizemos do D? De fato, o que mais me impressiona não é a sua existência, mas uma total falta de coerência sobre seu significado e, ainda mais, sobre seu valor. Pergunta recorrente entre docentes: Quanto vale o seu D? Cada um cria uma tabela em que o D tem um valor médio e um intervalo de validade que pode ser de um pouco mais de um ponto até a largura de um Delta de Dirac rsrs (piadinha de físico, né?). Eu mesmo, escolhi uma tabela de conversão que apresento sempre no primeiro dia de aula aos meus alunos. Gosto de deixar claras todas as regras do jogo antes de iniciar a partida ;-) 

Alguns dizem que o uso da tabela de conversão não é correto e que deveríamos avaliar usando apenas os conceitos: A,B,C,D e F. Há quem diga que faz isso, mas, de fato, tenho certeza que tem uma tabela interna que ele usa, mas não a revela. Afinal, se você faz uma prova e diz:  se acertar todas é A, se errar uma é B... e assim por diante. Isso é uma contagem baseada em quantidades, não é? Portanto, poderia ser facilmente associada a uma escala numérica. Fica a minha pergunta: Como realizar uma avaliação de mérito baseada apenas em qualidade sem utilizar nenhuma validação auxiliar quantitativa de qualquer espécie?  (Aguardo a resposta).  

Mesmo assim, se permanecer a insistência de alguns que o conceito é mais adequado. Então, questiono o porquê da Universidade utiliza CRs e CAs para avaliar e ‘rankear’ os estudantes. Não é uma simples conversão numérica? Afinal, o que o CR tem de mais pedagógico que notas de 0 a 10? Pessoalmente, acho isso bastante incoerente e prejudicial ao aluno: ele obtém uma nota numérica que é convertida em conceito que por sua vez é convertido novamente em número. Só eu enxergo perda de muitos décimos nesta prática? É como receber o sálario em reais, comprar dólares para guardar em casa e vender para ter reais para fazer as compras... Isto não parece um bom negócio para mim.

Concordo que se o aluno não obteve o mínimo de aprendizado requisitado no curso, ele deve ser reprovado. Todavia, questiono o que consideramos ser “o mínimo requerido”.  Vejo muita discrepância nisso, muitos dizem que deve ser assim e docentes devem ter a liberdade de preparar e avaliar os estudantes como consideram mais adequado. Porém, quando se quer fazer 1500 alunos, com os mais variados preparos antecedentes e as mais diferentes expectativas, serem submetidos ao mesmo ensino, deveria dar a eles a chance de receber realmente à mesma ementa de curso e serem medidos pela mesma régua. 

Acho que é preciso uma certa dose de humildade e admitir que não sabemos tudo.  Não é simples concordar, nunca é fácil aceitar que talvez você não vai lecionar exatamente tudo o que gostaria ou vai avaliar exatamente como considera mais adequado, mas é preciso criar ‘uma só moeda e uma só medida’ quando se leciona nestas matérias do BC&T com tantas turmas.  Se você vai lecionar uma matéria de sua escolha, já sabe qual a ementa e deve sim cumprir o que está lá. Se a ementa é considera inadequada, então isto deve ser levado à coordenação do curso e ao CONSEPE e devidamente discutidas as modificações com todos os envolvidos e interessados. Do mesmo modo, se é definida uma forma de avaliar e dito qual o conteúdo médio que o aluno deve aprender (isso sempre deveria ser explicitamente discutido), então todos os professores deveriam aceitar e seguir isso.   Obviamente, isto tira muita gente de sua ‘região de conforto’, mas faz parte de estar construindo algo novo e trabalhando com uma proposta pedagógica como a da UFABC.

Na minha opinião, mais importante que discutir se deve ou não existir um ‘D’ é definir muito bem meios de garantir igualdade de avaliação... Não importa se você cria um sistema baseado em conceito, número, cor ou sabor (não ria: quarks tem sabor! Por que não um sistema quark de notas: top, botton, up, down, strange, charm rsrsrs). O importante é que cada aluno receba a nota justa pelo que aprendeu independente de quaisquer outros fatores. Caso, ele não tenha aprendido o suficiente, que refaça a disciplina até aprender. Acima de tudo, nossos primeiros estudantes irão para o mercado de trabalho com a difícil missão de definir o que é um aluno da UFABC para o mundo.   Precisamos preparar todos os alunos do mesmo modo para que mostrem seu próprio valor como profissionais competentes, independente do nome que damos aos conceitos de avaliação que usamos. 

Todos nós percebemos os ventos de grandes mudanças em um futuro próximo.  Os novos representantes que estão sendo eleitos para coordenações dos cursos, conselhos de centro e conselhos superiores irão apresentar e discutir muitas modificações na forma como as coisas tem sido feitas: ementas de disciplinas, conceitos de avaliação, trancamentos, número máximo de créditos e tantos outros assuntos estarão em pauta em breve. Isto é ótimo, o nosso modelo de Universidade necessita de continua transformação e as devidas correções para funcionar melhor. Devemos estar conscientes das discussões que estão ocorrendo e exigir que elas sempre sejam guiadas para nos levar a um modelo coerente e que priorize a excelência na formação de nossos alunos e, por que não, dos professores (sim, nós também estamos aprendendo neste processo).  A UFABC é uma Universidade em consolidação e como tal precisa de muita atenção para que não nos percamos em discussões infrutíferas ou decisões que lamentaremos no futuro. Trabalhamos duro para criar não apenas mais UMA universidade, mas sim A universidade que deverá ser um modelo de um novo modo de formar profissionais.  

domingo, 10 de julho de 2011

Um cubo de SETE faces




Na Universidade há diversas épocas críticas e tensas. Um dos períodos mais complicado é o da matrícula, que sempre trás mal-estar a todos. Os sintomas surgem nos docentes, discentes e funcionários (principalmente, os da PROGRAD tão ‘lembrados’ neste período): irritabilidade, preocupação com o futuro, tentativa de adequar novos horários a velhas rotinas, questionamento de regras e formas de atribuição. Poderíamos até mesmo nomear, com toda a razão, de Tensão Pré Matricula (TPM).  No caso da UFABC, isso é ainda mais crítico porque temos três períodos destes por ano, efeito natural de nosso sistema quadrimestral.


De certo modo, o problema é similar às enchentes do nosso caro Tamaduateí: todos nós sabemos que no verão haverá chuvas e, possivelmente, enchentes. A prefeitura deveria cuidar para que o aumento do nível do rio não trouxesse tantos problemas. Contudo, sempre há problemas... Nossa tendência é considerar que a incompetência do governo é a responsável, o que em parte é bem verdade. Mas quando você passeia perto as margens do rio e observa muito lixo, pneus e, até mesmo, um sofá inteiro?!?  Começa a questionar: Mas precisava mesmo jogar o sofá no rio?  De fato, a prefeitura é a responsável, mas não faz mal cada pessoa evitar tornar o problema ainda mais complicado, não acha?


O paragrafo anterior era apenas para construir o paralelo com o que acontece na UFABC durante a matrícula. O processo de matrícula envolve praticamente todas as pessoas da UFABC e não é nada simples...  Apenas para colocar alguns números, no quadrimestre passado foram oferecidas 813 turmas (apenas na graduação). O número de disciplinas e turmas por quadrimestre tem crescido assustadoramente e de forma muito mais acentuada do que a contratação de novos docentes!


Todo o processo de matrícula começa com PROGRAD e Coordenações dos cursos apresentando as matérias que serão oferecidas, que são decididas seguindo o projeto pedagógico de cada curso, demandas reprimidas de certas disciplinas e requisições dos estudantes. Nós docentes, recebemos uma lista prévia das disciplinas, da qual escolhemos 5 delas (3 do BI e 2 de cursos pós-BI) ainda sem definir horário, para que o coordenador do curso, depois a direção do centro e, por fim, a PROGRAD definam as disciplinas e número de créditos de cada professor. Em paralelo a isso, também é definido o horários de cada disciplina e, principalmente, sala ou laboratório em que será ministrada. Algo crucial porque ainda estamos em construção e o espaço para lecionar é limitado. Isto faz importante a possibilidade de ocupar todos os horários, inclusive sextas à noite e sábados durante o dia...  Em que ninguém gosta muito de lecionar ou estudar, mas não fecharíamos a atribuição de créditos (em especial, para cursos do noturno) sem essa opção.


Ouvi muitas vezes dos alunos da UFABC que fazer a grade do quadrimestre é como “brincar com um cubo mágico: quando você acerta um lado, acaba desarranjando o outro”. Saiba que a atribuição é um CUBO DE SETE FACES para todos nós!  Neste aspecto, os alunos recebem uma lista que consta de centenas de turmas das mais diversas disciplinas obrigatórias, opção limitada ou livres e que devem se acertar em sua semana. Lembro ainda que muitas vezes os alunos tentam seguir mais de um curso (pelas regras, um aluno pode se matricular em até três cursos pós-BI) que muito possivelmente tem conflitos de grade, uma vez que cada coordenação define seus horários independentemente e fica bem difícil prever exatamente que disciplinas não deveriam conflitar. A UFABC permite uma grande liberdade de escolha, mas não somos capazes de prever todos os anseios dos estudantes, mesmo porque alguns nem seguem um plano bem claro de disciplinas a cursar. 


Uma complicação ainda maior em questão aos alunos é o trancamento, muitos alunos tem consciência disso como percebi num texto que li no Facebook outro dia e que me inspirou a escrever este texto. Pelas regras um aluno pode trancar até duas matérias. Isso faz com que o aluno considere que ele deve se matricular em N+2 disciplinas, ou seja, ele inflaciona a demanda que chega a PROGRAD em 2 turmas... Parece pouco, mas se os  mais de 3000 alunos fazem isso, o que teremos são turmas que começam com 30 alunos e terminam com apenas 6 (eu já vi isso algumas vezes). Podemos considerar que a Universidade está tendo um prejuízo de 24 vagas abertas não utilizadas. Além disso, foi necessário atribuir um número muito maior de turmas para o docente lecionar.  Nem é preciso dizer que, com o aumento da quantidade é bem comum uma queda de qualidade. Outro ponto é o valor de N, que alguns alunos consideram que o importante é preencher o máximo possível sua grade. De fato, acredito que cada aluno deve avaliar seu ritmo e capacidade e se matricular num N que permita a ele cumprir bem com as disciplinas e ainda ter uma vida saudável. Antes fazer 4 matérias e obter As e Bs, que 8 matérias com Ds e Fs, o seu CR vai agradecer e você bem sabe como o CR é importante na dinâmica de ICs, monitorias e outros direitos UFABCianos.


Os professores também tem sua parcela de culpa. Obviamente, ninguém gosta de dar aulas aos sábados e muitos têm problemas com aulas noturnas. Porém ao ser contratados pela Universidade, aceitamos a dedicação exclusiva e com ela a possibilidade de lecionar de segunda a sábado em qualquer horário (e até mesmo mais de um câmpus). Mesmo que haja questões ligadas à vida pessoal, isso não deve interferir com o trabalho. Todos os professores tem a obrigação de cumprir com sua carga didática nos horários que são precisos, não naqueles que eles preferem. Afinal, os que não têm ‘tantos problemas pessoais’ não devem ser obrigados a se encarregarem sempre dos ‘horários ditos ruins’. Claro, que sempre que possível, os horários de aula devem ser ajustados de forma que não afetem tanto a pesquisa e assuntos de outras obrigações. Porém, nem sempre é possível fazer o melhor para todos... Acima de tudo, devemos assumir certas soluções de compromisso, algo que não seja tão ruim para alunos e professores.


As coordenações dos cursos também devem ter o cuidado de primeiramente oferecer as disciplinas designadas em seus quadrimestres ideais. Os alunos que seguem “religiosamente” a grade sugerida devem ser privilegiados. Além disso, ouvir o que os alunos querem fazer (principalmente, para disciplinas livres) é algo importante. Não faz sentido algum abrir uma disciplina que nenhum aluno está interessado em cursar.  As novas coordenações eleitas tem, em muitos casos, a presença de discentes, o que deve tornar o processo de ‘ouvir o estudante’ mais eficiente.  Mesmo naquelas que não há discentes, os alunos precisam apresentar suas necessidades específicas ao coordenador, desde que as reinvindicações sejam razoáveis e apoiadas por um bom número de estudantes, não há como o coordenador não ouví-las.


A PROGRAD tem o papel de ser JUÍZ e EXECUTOR, o que não é nada fácil. Acima de tudo, naquela mesa é que devem ser gerenciados os conflitos entre Direções dos três Centros, docentes e discentes. Acima de tudo, deve ser lembrado que a oferta de disciplinas não é uma disputa entre professores e estudantes. Não é uma batalha em que deverá haver um ganhador e um perdedor. Muito pelo contrário, é um acordo de parceria entre professores e alunos na busca de construir um ambiente de harmonia em que todos possam buscar sua excelência e alcançar seus objetivos de forma mais eficiente.


Para terminar, eu ainda aguardo para saber qual disciplina irei lecionar no próximo quadrimestre, também não faço ideia de quantos créditos terei ou quais serão meus horários de aula, sei que isso é desgastante e me deixa cheio de incertezas, principalmente, quando lembro que devo acertar o ‘cubo de horários’ com todas as minhas obrigações de pesquisa, extensão e as outras esferas de minha vida.  Contudo, devemos agir e decidir sempre com discernimento e maturidade. É claro, que a PROGRAD tem suas obrigações e muita responsabilidade no processo, mas nós, docentes, discentes e funcionários, podemos ajudar muito apenas evitando ‘jogar sofás no rio’ quando realizamos nossas escolhas.