- A greve na UFABC -
No inicio foi a
euforia das mãos erguidas: a Greve chegava, depois de tantas conversas
de corredores e opiniões dispersas em e-mails e redes sociais; era dia 05 de
Junho de 2012. Os primeiros dias foram passando, enquanto docentes alunos e
funcionários vislumbravam o que era a greve: quais atividades paralisar, como e
o que ser em tempos de Universidade Parada. Muitos acreditaram que a entrada da
UFABC no movimento traria outra energia ao processo. Afinal, esta era uma
universidade símbolo deste governo, que se beneficiou tanto da propaganda da
expansão universitária. Quantas vezes não recebemos o senhor Luiz Inácio (LULA)
da Silva em nossos câmpus com seu discurso inflamado sobre a importância desta
universidade para a região e o país. Talvez, o governo sucessor não compartilhe
desta animação Lulistica toda: passamos de cinquenta instituições federais em
greve com a entrada da UFABC e, mesmo assim, nada parecia ter mudado na
estratégia de nosso governo. Provavelmente, deveríamos ter feito mais perguntas
ao nosso “mentor” Lula, em especial, como ser bem sucedidos em greves, com a
vasta experiência dele, possivelmente não teríamos chegado à marca de quarenta e dois dias de greve na UFABC
e mais de dois meses na contagem das
outras federais.
O tempo passou
veloz na espera de alguma sensibilização de nosso governo, que ainda deveria
ter alguma lembrança do que é uma luta pelos direitos de uma classe;
aparentemente, foram mensalões e esquemas escusos demais para restar este tipo de pudor
ou consciência. Fomos taxados de precipitados, fomos largados
em um canto escuro da quase total apatia de nossa PresidentA, seus ministros e
uma mídia com assuntos de maior popularidade a relatar. Não somos metroviários,
médicos ou alguma outra classe de trabalhadores que, ao parar, cause o Caos na
cidade. Apenas o conhecimento ficou estancado e alunos tendo que vivenciar um
período de ausência de aulas forçado. O que
poderíamos fazer? Houve protestos, houve barulho e quase sempre isso pouco efeito
fez em um governo que parece preferir que a Educação não seja mesmo uma
prioridade: mentes vazias são sempre mais fáceis de moldar às conveniências politicas!
Nem o período de eleições para as prefeituras parecia impor qualquer urgência ao
governo, mesmo com um candidato, que foi ex-ministro da Educação, pleiteando o
governo de uma das maiores cidades do país.
Creio que consternação é o que
todos nós sentimos ao perceber que nada parecia acontecer e ninguém se
importava com isso... Triste realidade de um país anestesiado com tantas
barbaridades para prestar atenção ao que tínhamos a dizer.
Até agora a
resposta do governo se resumia a um inconveniente silêncio típico daqueles que parecem
não ter nada a perder... Contudo, na
sexta feira 13, veio uma proposta de nosso governo (que resisto em chamar de
nefasto, apesar de o adjetivo soar bem conveniente para data e ocasião). A proposta deve ter sido cunhada por publicitários
em vez de economistas ou profissionais especializados em educação. Ela surge com aumentos em letras garrafais que
estampam muito bem jornais como Estadão e Folha e parecem ser a solução generosa
do governo em sites como G1 e outros.
Contudo, há muitas letras miúdas nesta proposta, que podem passar desapercebidas
aos mais desavisados. A NOVA proposta do governo nada mais é que o parafrasear
de uma antiga proposta ruim, com algumas pioras. Nem de
longe atende as reivindicações da classe, mas é um contrato de escravidão e requisição de nosso silêncio por um período de mais TRÊS ANOS, quando o aumento que
prometem não terá nem mesmo ressarcido as nossas perdas com a inflação no
período... Ainda pior, é o plano de carreira em que disfarçam o rebaixamento gradual
daqueles que se dedicaram ao ensino-pesquisa. Criaram classes inferiores com salários muito
mais baixos, dificultam ainda mais a ascensão do profissional em sua carreira.
Se a UFABC já sofre com 35% de concursos para novos professores terminando sem
candidatos aprovados, prevejo que isto aumentará muito mais com o tipo de
condição que o governo quer impor àqueles que tentarem entrar nas instituições
federais.
Igualmente
preocupantes são os novos “detalhes” das exigências para progressão na carreira,
mesmo daqueles que já fazem parte das Universidades. Além das atividades de
extensão e pesquisa, seria necessário um total de 12 horas semanais de aula para requisitar a progressão, ou seja, um
bom aumento da carga didática de todos os professores. Lembro que uma boa aula, não se resume ao
tempo que o professor gasta em sala perante os alunos. Existe todo um processo
de estudo e preparação que, em geral, leva muito mais tempo que a aula em si. Tal exigência é um severo sobrepeso à
carreira dos professores-pesquisadores, que terão uma redução ainda maior de seu
tempo hábil para dedicar a pesquisa. Obviamente, se os professores tiverem que
acatar uma exigência como está, teremos profissionais que além de
sobrecarregados, ainda estarão mais frustrados diante dessa jornada de
trabalho, o que fatalmente repercutirá na qualidade de suas aulas, bem como de todas
as outras atividades universitárias.
Em especial,
na UFABC, com seu peculiar projeto pedagógico e divisão anual distinta, tais
exigências tomam ares ainda mais pesados: Uma conta simples, diria que um
professor da UFABC em seu trabalho anual deveria arcar com 36 créditos. Atualmente,
as contas são feitas com algo em torno de 18 créditos anuais e já não é fácil lidar
com a carga didática que temos e nos dedicarmos às atividades de pesquisa e a
uma enorme carga de trabalho burocrático a cumprir para colocar nossa Universidade,
que ainda está em consolidação, em condições de funcionar adequadamente. Imagine como ficaremos se a nossa carga didática
simplesmente DOBRAR! Se progredir em uma Universidade Federal se
tornar algo complicado, na UFABC estaria beirando o impossível; provavelmente,
uma anulação quase completa como pesquisador para obter a progressão. Tal preço
valeria a pena ser pago? Creio que a grande maioria dos professores diria que não. Se a
proposta do governo for aceita, a UFABC terá que estudar muito bem como seguirá
com seu projeto pedagógico e seu cronograma quadrimestral. Muito deverá ser
pensado e adaptado para que possamos continuar ou a UFABC verá um “êxodo de professores, como nunca
houve na história deste país” (como diria o já mencionado “mentor” Lula).
Amanhã (17/7), haverá
uma assembleia de professores: será discutida a proposta do governo e,
provavelmente, votaremos se somos a favor de aceitá-la ou não. Sinceramente,
não tenho muita esperança sobre a resposta: Se dissermos NÂO, estaremos
caminhando para a continuidade de uma greve sem qualquer previsão de fim contra
um governo que, se essa é a melhor proposta que pode produzir: a) não tem
qualquer competência para fazê-lo ou b) não tem o menor interesse em evitar o
caos no sistema universitário federal. Caso a resposta seja SIM, estaremos
assumindo a nossa submissão a um governo que não demostra qualquer respeito
para com os professores e nos comprometeremos a ficarmos silenciosos até 2015,
o que permitirá a uma relapsa Dilma sua tentativa de reeleição sem resistência
de nossa classe. Por fim, o nosso SIM será a anuência que nos contentamos com
umas poucas migalhas oferecidas esporadicamente ao longo de três anos, com um
rebaixamento de nossa classe e com a criação de um sistema de cruel ironia para o
professor-pesquisador tenha qualquer progressão na carreira.
Sinceramente,
termino este texto com uma amarga frustação ao ver um governo que tão pouco nos
valoriza e oferece um acordo cheio de artimanhas e falhas como se fosse obra de
divina abnegação. Começo a pensar que vale
a pena atualizar o currículo e refletir sobre uma carreira em outras
universidades, até mesmo, particulares, que ao menos não escondem seu jogo com
falsas promessas e podem oferecer acordos mais rentáveis. Se este governo mantiver
as atuais premissas ao lidar com os professores, o sucateamento do sistema
federal universitário é iminente e inexorável.
Os esperançosos e idealistas que me perdoem, mas se continuar assim, eu
desejo aos que resistirem boa sorte e que o último ao sair, apague a luz.