segunda-feira, 16 de julho de 2012

Uma proposta que soa como ofensa.


- A greve na UFABC - 



No inicio foi a euforia das mãos erguidas: a Greve chegava, depois de tantas conversas de corredores e opiniões dispersas em e-mails e redes sociais; era dia 05 de Junho de 2012. Os primeiros dias foram passando, enquanto docentes alunos e funcionários vislumbravam o que era a greve: quais atividades paralisar, como e o que ser em tempos de Universidade Parada. Muitos acreditaram que a entrada da UFABC no movimento traria outra energia ao processo. Afinal, esta era uma universidade símbolo deste governo, que se beneficiou tanto da propaganda da expansão universitária. Quantas vezes não recebemos o senhor Luiz Inácio (LULA) da Silva em nossos câmpus com seu discurso inflamado sobre a importância desta universidade para a região e o país. Talvez, o governo sucessor não compartilhe desta animação Lulistica toda: passamos de cinquenta instituições federais em greve com a entrada da UFABC e, mesmo assim, nada parecia ter mudado na estratégia de nosso governo. Provavelmente, deveríamos ter feito mais perguntas ao nosso “mentor” Lula, em especial, como ser bem sucedidos em greves, com a vasta experiência dele, possivelmente não teríamos chegado à marca de quarenta e dois dias de greve na UFABC e mais de dois meses na contagem das outras federais.

O tempo passou veloz na espera de alguma sensibilização de nosso governo, que ainda deveria ter alguma lembrança do que é uma luta pelos direitos de uma classe; aparentemente, foram mensalões e esquemas escusos demais para restar este tipo de pudor ou consciência.   Fomos taxados de precipitados, fomos largados em um canto escuro da quase total apatia de nossa PresidentA, seus ministros e uma mídia com assuntos de maior popularidade a relatar. Não somos metroviários, médicos ou alguma outra classe de trabalhadores que, ao parar, cause o Caos na cidade. Apenas o conhecimento ficou estancado e alunos tendo que vivenciar um período de ausência de aulas forçado.  O que poderíamos fazer? Houve protestos, houve barulho e quase sempre isso pouco efeito fez em um governo que parece preferir que a Educação não seja mesmo uma prioridade: mentes vazias são sempre mais fáceis de moldar às conveniências politicas! Nem o período de eleições para as prefeituras parecia impor qualquer urgência ao governo, mesmo com um candidato, que foi ex-ministro da Educação, pleiteando o governo de uma das maiores cidades do país.  Creio que consternação é  o que todos nós sentimos ao perceber que nada parecia acontecer e ninguém se importava com isso... Triste realidade de um país anestesiado com tantas barbaridades para prestar atenção ao que tínhamos a dizer.

Até agora a resposta do governo se resumia a um inconveniente silêncio típico daqueles que parecem não ter nada a perder...  Contudo, na sexta feira 13, veio uma proposta de nosso governo (que resisto em chamar de nefasto, apesar de o adjetivo soar bem conveniente para data e ocasião).  A proposta deve ter sido cunhada por publicitários em vez de economistas ou profissionais especializados em educação.  Ela surge com aumentos em letras garrafais que estampam muito bem jornais como Estadão e Folha e parecem ser a solução generosa do governo em sites como G1 e outros.  Contudo, há muitas letras miúdas nesta proposta, que podem passar desapercebidas aos mais desavisados. A NOVA proposta do governo nada mais é que o parafrasear de uma antiga proposta ruim, com algumas pioras. Nem de longe atende as reivindicações da classe, mas é um contrato de escravidão e requisição de nosso silêncio por um período de mais TRÊS ANOS, quando o aumento que prometem não terá nem mesmo ressarcido as nossas perdas com a inflação no período... Ainda pior, é o plano de carreira em que disfarçam o rebaixamento gradual daqueles que se dedicaram ao ensino-pesquisa.  Criaram classes inferiores com salários muito mais baixos, dificultam ainda mais a ascensão do profissional em sua carreira. Se a UFABC já sofre com 35% de concursos para novos professores terminando sem candidatos aprovados, prevejo que isto aumentará muito mais com o tipo de condição que o governo quer impor àqueles que tentarem entrar nas instituições federais.

Igualmente preocupantes são os novos “detalhes” das exigências para progressão na carreira, mesmo daqueles que já fazem parte das Universidades. Além das atividades de extensão e pesquisa, seria necessário um total de 12 horas semanais de aula para requisitar a progressão, ou seja, um bom aumento da carga didática de todos os professores.  Lembro que uma boa aula, não se resume ao tempo que o professor gasta em sala perante os alunos. Existe todo um processo de estudo e preparação que, em geral, leva muito mais tempo que a aula em si.  Tal exigência é um severo sobrepeso à carreira dos professores-pesquisadores, que terão uma redução ainda maior de seu tempo hábil para dedicar a pesquisa.  Obviamente, se os professores tiverem que acatar uma exigência como está, teremos profissionais que além de sobrecarregados, ainda estarão mais frustrados diante dessa jornada de trabalho, o que fatalmente repercutirá na qualidade de suas aulas, bem como de todas as outras atividades universitárias.  

Em especial, na UFABC, com seu peculiar projeto pedagógico e divisão anual distinta, tais exigências tomam ares ainda mais pesados: Uma conta simples, diria que um professor da UFABC em seu trabalho anual deveria arcar com 36 créditos. Atualmente, as contas são feitas com algo em torno de 18 créditos anuais e já não é fácil lidar com a carga didática que temos e nos dedicarmos às atividades de pesquisa e a uma enorme carga de trabalho burocrático a cumprir para colocar nossa Universidade, que ainda está em consolidação, em condições de funcionar adequadamente.  Imagine como ficaremos se a nossa carga didática simplesmente DOBRAR! Se progredir em uma Universidade Federal se tornar algo complicado, na UFABC estaria beirando o impossível; provavelmente, uma anulação quase completa como pesquisador para obter a progressão. Tal preço valeria a pena ser pago? Creio que a grande maioria dos professores diria que não.   Se a proposta do governo for aceita, a UFABC terá que estudar muito bem como seguirá com seu projeto pedagógico e seu cronograma quadrimestral. Muito deverá ser pensado e adaptado para que possamos continuar ou a UFABC  verá um “êxodo de professores, como nunca houve na história deste país” (como diria o já mencionado “mentor” Lula).

Amanhã (17/7), haverá uma assembleia de professores: será discutida a proposta do governo e, provavelmente, votaremos se somos a favor de aceitá-la ou não. Sinceramente, não tenho muita esperança sobre a resposta: Se dissermos NÂO, estaremos caminhando para a continuidade de uma greve sem qualquer previsão de fim contra um governo que, se essa é a melhor proposta que pode produzir: a) não tem qualquer competência para fazê-lo ou b) não tem o menor interesse em evitar o caos no sistema universitário federal. Caso a resposta seja SIM, estaremos assumindo a nossa submissão a um governo que não demostra qualquer respeito para com os professores e nos comprometeremos a ficarmos silenciosos até 2015, o que permitirá a uma relapsa Dilma sua tentativa de reeleição sem resistência de nossa classe. Por fim, o nosso SIM será a anuência que nos contentamos com umas poucas migalhas oferecidas esporadicamente ao longo de três anos, com um rebaixamento de nossa classe e com a criação de um sistema de cruel ironia para o professor-pesquisador tenha qualquer progressão na carreira.   

          Sinceramente, termino este texto com uma amarga frustação ao ver um governo que tão pouco nos valoriza e oferece um acordo cheio de artimanhas e falhas como se fosse obra de divina abnegação.  Começo a pensar que vale a pena atualizar o currículo e refletir sobre uma carreira em outras universidades, até mesmo, particulares, que ao menos não escondem seu jogo com falsas promessas e podem oferecer acordos mais rentáveis. Se este governo mantiver as atuais premissas ao lidar com os professores, o sucateamento do sistema federal universitário é iminente e inexorável.  Os esperançosos e idealistas que me perdoem, mas se continuar assim, eu desejo aos que resistirem boa sorte e que o último ao sair, apague a luz.