quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Primeiro exercício literário: 'Paredes de Multidão'


Estou fazendo uma Oficina Literária On-line. Um dos pontos divertidos é 'escrever sob encomenda'. A cada semana uma missão e dela surge um texto. O desafio sempre é um caminho adequado para desenvolver habilidades. Tento domar a minha criatividade; o curioso é que até funciona. Nesta atividade, eu deveria usar uma música para me inspirar. Estou compartilhando aqui em meu blog o que produzi na última semana (já apresento com algumas correções sugeridas) e a música que me inspirou. Exercício curioso é ler o texto enquanto a música toca... É intrigante como 'trilha sonora' dá um sabor extra ao que foi escrito. 



Boulevard Of Broken Dreams - Green Day



Paredes de Multidão


Após um longo dia de trabalho, sigo o meu caminho para casa. Dentro de um ônibus cheio, vou à estação Butantã. Tantas pessoas a minha volta: sons, cheiros e impaciência. Eu vou silencioso e insipido, enquanto a viagem atiça a minha peçonha e aumenta ainda mais o meu mal humor.

Finalmente, chego à linha amarela, mas é só o começo do meu caminho de metrô.  Aguardo ansioso para ir à Paulista; esta é a parte fácil do trajeto. Árduo, de fato, é alcançar o Paraíso. (Pior, nem é a minha última parada!) No caminho entre deixar a amarela e estar na verde há uma imensa galeria de corredores. Tubulações, paredes e sinalizações pintadas em cores fortes e berrantes; tentando minimizar o pálido cinza das faces das pessoas: todos tão impassíveis quanto eu ao colorido à nossa volta. Não preciso me preocupar com o caminho que devo seguir, pequenas faixas restringem nosso andar e os muros feitos de pessoas me levam sem qualquer outra opção além do marchar sincronizado. Chegar ao Paraíso não é para quem tem escolhas a fazer, mas sim para aqueles que aceitam se submeter ao caminho imposto.

Sinto-me tão só naquela multidão; imensamente perdido e vazio. Quando estou sozinho em minha casa, sou o único que há e, portanto, tão vasto quanto tudo ao meu redor. Contudo, nos corredores do metrô, certado e limitado por tantos desconhecidos, perco até mesmo quem eu sou: torno-me bando. Arrebanhado por regras de movimento: ‘mantenha-se a direita; siga a seta verde para o próximo trem’. São tantos com (talvez, sem) vidas tão iguais a minha, que mal consigo distinguir-me em meio aos outros.

Além do destino que busco, não conheço nada ao meu redor e ninguém para conversar. Porém, isso não cessa o ruído; todos a minha volta falam: os fragmentos desconexos de suas conversas estilhaçam em meus ouvidos. Ecoam na ausência de significado que tantas vozes indistintas têm para mim. Não há sofrer em minha solidão efetiva, apenas desconcerto. Seria um sinal de que estou quebrado de alguma forma?

Cheguei ao Paraíso, mas ainda estou longe da minha casa. Todavia, devo parar por aqui. Estou a passos de exceder o meu limite (de linhas). Não termino a história, só o texto; entretanto, nem me frustro. Apenas, mais uma regra me limitando, dizendo onde meu caminho começa e termina, seja na linha do metrô ou na entrelinha do texto; a única coisa que permanece real é o meu sentimento de solidão aprisionado entre paredes de multidão.



Um comentário:

  1. Sei bem como é este sentimento... :/
    Sempre me pergunto 'o que eu estou fazendo aqui' no metrô de SP...

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