Uma sincera homenagem a piada da lâmpada
O terceiro quadrimestre deste ano já está bem encaminhado, o
que nos dá tempo para pensar sobre o que virá para o próximo ano. Na busca de uma melhor consolidação da
UFABC, há um esforço para definir a alocação
da carga didática não apenas para o primeiro quadrimestre, mas para todo o
próximo ano (e com sorte, definições que serão um padrão de 2012 em
diante). Pessoalmente, já considero isso
um grande progresso que traz muitos benefícios, acima de tudo, se houver o
comprometimento sincero por parte de todos. Obviamente, para tais definições
fica evidente a pergunta: Quantos créditos um professor da UFABC deve lecionar
por ano?
Poderia se pensar que isso é uma matemática simples: Número
total de créditos divido pelo de docentes e temos o valor mágico. Nem é tão
simples assim, é preciso levar em conta especializações dos professores,
responsabilidades de cada centro, cargas dos Bacharelados Interdisciplinares,
Cursos Pós-BIs, Programas de Pós-Graduação, trabalhos burocráticos, etc. Além
disso tudo, que ainda sobre algum tempo para dedicar à pesquisa; afinal, se
pretendemos ser uma entre as 100 melhores, não será através do recorde de maior
número de créditos por professor que o conseguiremos.
A situação é complexa ao ponto de ter sido o foco de um
Grupo de Trabalho (GT) [ Se quiser ver o relatório: http://migre.me/61E9m
]. Esperamos que a sugestões deste grupo
nos leve a uma distribuição de créditos mais racional e compatível com uma
Universidade que realmente deseja ser um novo paradigma em Ensino, Pesquisa e
Extensão. Por enquanto, tudo isso ainda
são conversas em diversas esferas 'burocráticas' que em algum momento eclodirão
como novas normas no boletim de serviço.
Atualmente, ouvimos pelos corredores números que vão de 16 a
28 créditos por ano. Pois é, uma barra de incerteza que parece mais um grande
erro grosseiro. Obviamente, professores, nada felizes sobre isso, vociferam
discussões por listas de e-mails e afins. Os pontos de vistas são os mais
distintos possíveis, acho que a única coisa que todos concordam é que ninguém
pode dar tantas aulas... Não pense que isto é a lei do menor esforço, mas sim o
instinto de sobrevivência de pesquisador gritando: se não tivermos tempo de
qualidade para a pesquisa, haverá um fracasso muito grande da proposta da UFABC
e uma generalizada frustação dos professores. Nada pior do que pessoas
frustradas fazendo algo que não queriam fazer, não acha?
As causas para tantos créditos são muitas: o crescente número
de estudantes a cada ano (por pressões políticas) sem o crescimento
proporcional de número de professores e infraestrutura adequada; o gigantesco
número de matérias a serem oferecidas (muitas delas que sobrepõe conteúdo
desnecessariamente, repetindo temas já abordados em outras disciplinas
similares); oferecimento exagerado de vagas em diversas disciplinas que não
refletem as reais necessidades da instituição para o dado quadrimestre; uma
politica irresponsável de trancamentos por parte dos discentes que gera, ao fim
de cada quadrimestre, um grande número de turmas quase vazias. Por fim,
chegamos ao cenário de professores sobrecarregados e alunos desanimados. Se
nenhuma atitude mais séria for tomada, a situação apenas seguirá por um
vertiginoso caminho em direção ao caos.
Por isso, medidas de todos os lados estão sendo realizadas.
Estudos sobre a real demanda de créditos por professor, novas regras sobre
trancamentos e limite de créditos por discente, uma reestruturação dos horários
de oferecimento das disciplinas. Ainda
precisamos de um estudo mais profundo das ementas e disciplinas na busca de um
oferecimento mais racional e extinção daquelas que foram erroneamente criadas e
já possuem equivalentes no catálogo da UFABC. Definitivamente, existe muito
trabalho a ser realizado, mas é um esforço valido se trouxer uma estrutura mais
coesa e coerente à nossa Universidade.
Uma questão curiosa sobre as discussões é que independente
do assunto com o qual se começa, elas sempre passam pelo dilema “semestre
versus quadrimestre”. Muitos acreditam que a mudança de regime de oferecimento
para o semestral resolveria muitos de nossos problemas. Pessoalmente, não vejo desta forma: Apenas me parece uma
discussão sobre dividir a pizza em 4 ou 8 pedaços e com qual divisão nossa fome
seria melhor saciada. Não entrarei no mérito dessa questão, principalmente
porque sou razoavelmente indiferente e, talvez, alienado sobre ela. Não
considero forte o argumento que deve ser semestral porque é assim que as outras
são, do mesmo modo que acho fraco dizer que deve ser quadrimestral porque é
assim que está no projeto pedagógico.
Porém, o que acho fundamental em todas as questões seja
sobre número de créditos, ou quadrimestres, ou quaisquer outros assuntos que
envolvem o futuro de nossa Universidade é uma ampla discussão envolvendo
docentes, funcionários e discentes e que suas opiniões sejam realmente
ouvidas. Dos inúmeros e-mails que vi na
discussão, alguns me pareceram bastante pertinentes, mas um em especial me
chamou a atenção por ser um apelo num tom confessional e até, de certo modo,
poético. Estou tomando a liberdade de
reproduzir um trecho aqui:
“Quando aqui entrei (...), pensava estar numa Universidade,
mas creio que me enganei, acho que ingressei numa igreja em que dogmas são invioláveis
e inquestionáveis. É triste constatar que estamos vivendo o ciclo dialético dos
3 Ds (Deslumbre, Desilusão e Desespero). Eu pessoalmente já vivo o segundo D, e
pelo jeito no próximo ano, se nada mudar atinjo o terceiro.”
Prefiro não citar nomes, mas considero uma lástima que
estejamos criando um sistema na UFABC que gera este tipo de sentimento em um
professor-pesquisador, que se esforçou para entrar em um concurso e depositou
todas as esperanças de sua carreira em uma instituição que aparenta não levar
em conta todos os seus esforços. Não podemos deixar que UFABCianos percam o que
é mais importante neste trabalho: o COMPROMETIMENTO com a instituição. Não se pode permitir que esmaeça a busca
em realizar um trabalho de excelência devido ao amargor de se sentir esquecido
e/ou menosprezado pela instituição pela qual se dedica tanto.
Eu sei que muitas medidas estão sendo tomadas, mas muitas
outras são necessárias. É preciso uma
grande dose de bom senso e humildade para que façamos da UFABC a melhor
Universidade que pudermos, mas sem exigir em troca o sacrifício e a morte de
nossos espíritos inquietos de pesquisadores. Enquanto isso não acontece, nós
vamos nos equilibrando como podemos a cada dia com criatividade e muito esforço
(quase sempre mais do que seria necessário) para dar uma luz de esperança de
que num futuro (espero que próximo) teremos a Universidade com a qual sonhamos
no dia em que fomos aprovados em nossos concursos.