domingo, 30 de outubro de 2011

Quantos Doutores são necessários para fazer um BC&T funcionar?

Uma sincera homenagem a piada da lâmpada



O terceiro quadrimestre deste ano já está bem encaminhado, o que nos dá tempo para pensar sobre o que virá para o próximo ano.  Na busca de uma melhor consolidação da UFABC,  há um esforço para definir a alocação da carga didática não apenas para o primeiro quadrimestre, mas para todo o próximo ano (e com sorte, definições que serão um padrão de 2012 em diante).  Pessoalmente, já considero isso um grande progresso que traz muitos benefícios, acima de tudo, se houver o comprometimento sincero por parte de todos. Obviamente, para tais definições fica evidente a pergunta: Quantos créditos um professor da UFABC deve lecionar por ano?

Poderia se pensar que isso é uma matemática simples: Número total de créditos divido pelo de docentes e temos o valor mágico. Nem é tão simples assim, é preciso levar em conta especializações dos professores, responsabilidades de cada centro, cargas dos Bacharelados Interdisciplinares, Cursos Pós-BIs, Programas de Pós-Graduação, trabalhos burocráticos, etc. Além disso tudo, que ainda sobre algum tempo para dedicar à pesquisa; afinal, se pretendemos ser uma entre as 100 melhores, não será através do recorde de maior número de créditos por professor que o conseguiremos.

A situação é complexa ao ponto de ter sido o foco de um Grupo de Trabalho (GT) [ Se quiser ver o relatório: http://migre.me/61E9m ].  Esperamos que a sugestões deste grupo nos leve a uma distribuição de créditos mais racional e compatível com uma Universidade que realmente deseja ser um novo paradigma em Ensino, Pesquisa e Extensão.  Por enquanto, tudo isso ainda são conversas em diversas esferas 'burocráticas' que em algum momento eclodirão como novas normas no boletim de serviço.

Atualmente, ouvimos pelos corredores números que vão de 16 a 28 créditos por ano. Pois é, uma barra de incerteza que parece mais um grande erro grosseiro. Obviamente, professores, nada felizes sobre isso, vociferam discussões por listas de e-mails e afins. Os pontos de vistas são os mais distintos possíveis, acho que a única coisa que todos concordam é que ninguém pode dar tantas aulas... Não pense que isto é a lei do menor esforço, mas sim o instinto de sobrevivência de pesquisador gritando: se não tivermos tempo de qualidade para a pesquisa, haverá um fracasso muito grande da proposta da UFABC e uma generalizada frustação dos professores. Nada pior do que pessoas frustradas fazendo algo que não queriam fazer, não acha?

As causas para tantos créditos são muitas: o crescente número de estudantes a cada ano (por pressões políticas) sem o crescimento proporcional de número de professores e infraestrutura adequada; o gigantesco número de matérias a serem oferecidas (muitas delas que sobrepõe conteúdo desnecessariamente, repetindo temas já abordados em outras disciplinas similares); oferecimento exagerado de vagas em diversas disciplinas que não refletem as reais necessidades da instituição para o dado quadrimestre; uma politica irresponsável de trancamentos por parte dos discentes que gera, ao fim de cada quadrimestre, um grande número de turmas quase vazias. Por fim, chegamos ao cenário de professores sobrecarregados e alunos desanimados. Se nenhuma atitude mais séria for tomada, a situação apenas seguirá por um vertiginoso caminho em direção ao caos.

Por isso, medidas de todos os lados estão sendo realizadas. Estudos sobre a real demanda de créditos por professor, novas regras sobre trancamentos e limite de créditos por discente, uma reestruturação dos horários de oferecimento das disciplinas.  Ainda precisamos de um estudo mais profundo das ementas e disciplinas na busca de um oferecimento mais racional e extinção daquelas que foram erroneamente criadas e já possuem equivalentes no catálogo da UFABC. Definitivamente, existe muito trabalho a ser realizado, mas é um esforço valido se trouxer uma estrutura mais coesa e coerente à nossa Universidade.

Uma questão curiosa sobre as discussões é que independente do assunto com o qual se começa, elas sempre passam pelo dilema “semestre versus quadrimestre”. Muitos acreditam que a mudança de regime de oferecimento para o semestral resolveria muitos de nossos problemas. Pessoalmente,  não vejo desta forma: Apenas me parece uma discussão sobre dividir a pizza em 4 ou 8 pedaços e com qual divisão nossa fome seria melhor saciada. Não entrarei no mérito dessa questão, principalmente porque sou razoavelmente indiferente e, talvez, alienado sobre ela. Não considero forte o argumento que deve ser semestral porque é assim que as outras são, do mesmo modo que acho fraco dizer que deve ser quadrimestral porque é assim que está no projeto pedagógico.

Porém, o que acho fundamental em todas as questões seja sobre número de créditos, ou quadrimestres, ou quaisquer outros assuntos que envolvem o futuro de nossa Universidade é uma ampla discussão envolvendo docentes, funcionários e discentes e que suas opiniões sejam realmente ouvidas.  Dos inúmeros e-mails que vi na discussão, alguns me pareceram bastante pertinentes, mas um em especial me chamou a atenção por ser um apelo num tom confessional e até, de certo modo, poético.  Estou tomando a liberdade de reproduzir um trecho aqui:

“Quando aqui entrei (...), pensava estar numa Universidade, mas creio que me enganei, acho que ingressei numa igreja em que dogmas são invioláveis e inquestionáveis. É triste constatar que estamos vivendo o ciclo dialético dos 3 Ds (Deslumbre, Desilusão e Desespero). Eu pessoalmente já vivo o segundo D, e pelo jeito no próximo ano, se nada mudar atinjo o terceiro.” 

Prefiro não citar nomes, mas considero uma lástima que estejamos criando um sistema na UFABC que gera este tipo de sentimento em um professor-pesquisador, que se esforçou para entrar em um concurso e depositou todas as esperanças de sua carreira em uma instituição que aparenta não levar em conta todos os seus esforços. Não podemos deixar que UFABCianos percam o que é mais importante neste trabalho: o COMPROMETIMENTO com a instituição. Não se pode permitir que esmaeça a busca em realizar um trabalho de excelência devido ao amargor de se sentir esquecido e/ou menosprezado pela instituição pela qual se dedica tanto.  

Eu sei que muitas medidas estão sendo tomadas, mas muitas outras são necessárias. É  preciso uma grande dose de bom senso e humildade para que façamos da UFABC a melhor Universidade que pudermos, mas sem exigir em troca o sacrifício e a morte de nossos espíritos inquietos de pesquisadores. Enquanto isso não acontece, nós vamos nos equilibrando como podemos a cada dia com criatividade e muito esforço (quase sempre mais do que seria necessário) para dar uma luz de esperança de que num futuro (espero que próximo) teremos a Universidade com a qual sonhamos no dia em que fomos aprovados em nossos concursos.

8 comentários:

  1. +1

    "Muitos acreditam que a mudança de regime de oferecimento para o semestral resolveria muitos de nossos problemas. Pessoalmente, não vejo desta forma: Apenas me parece uma discussão sobre dividir a pizza em 4 ou 8 pedaços e com qual divisão nossa fome seria melhor saciada."

    ResponderExcluir
  2. Ao contrário da analogia, somos os produtores da pizza. Talvez seja mais fácil preparar 2 grandes do que 3 médias. E como o forno só assa uma por vez, dá mais trabalho administrativo: 3 matriculas, provas etc.

    ResponderExcluir
  3. "uma politica irresponsável de trancamentos por parte dos discentes que gera, ao fim de cada quadrimestre, um grande número de turmas quase vazias. "
    (você ainda não entendeu o que tem acontecido).

    Na grande maioria das vezes que um aluno tranca uma disciplina, atrasando seus planos de se formar a tempo, ou recuperar um possível atraso, tem-se um motivo sensato para tal. De forma responsável.

    O que é irresponsavel é determinados professores induzirem um trancamento chegando a 90./. todo quadrimestre, independente da disciplina que lecionam.Visando sempre minimizar ao máximo o tempo com os alunos.

    ResponderExcluir
  4. Alguns "terroristas" que não entendem a miscigenação do BC&T, (onde existem alunos que escolheram áreas opostas, e dentre estes, maior ainda é a diferença de nível), na mesma sala, e querem dar cursos específico de nível avançado.
    situação esta que já foi vivida por muitos, onde as opções são ruins: trancar ou nadar e morrer perto da praia.

    ResponderExcluir
  5. Não é o seu caso professor, mas temos muitos desses na UFABC.
    http://farm7.static.flickr.com/6038/6275833747_579564a037.jpg

    ResponderExcluir
  6. Há um país onde existem cerca de 67 pizzarias e apenas 1 pizzaria, inovadora, faz pizza redonda de três pedaços enquanto todas as outras fazem pizzas quadradas de dois pedaços.

    Todos os anos cerca de mais 12.000 clientes escolhem comprar uma pizza redonda de três pedaços nesta pizzaria! A procura é tanta que ela apenas consegue atender pouco mais de 1.500 clientes.

    Mas nos últimos tempos algo vem preocupando muito os clientes da casa: dentre os cerca de 430 pizzaiolos do lugar, alguns juram ser mais espertos que os dezenas de milhares de clientes que escolhem a pizza redonda e, querem por que querem, fabricar somente a pizza quadrada de dois pedaços, como o resto das pizzarias do país.

    Parece até irônico imaginar que alguns dos pizzaiolos da pizzaria mais procurada do país se achem com mais razão do que os dezenas de milhares de clientes que escolhem querer comer da pizza redonda de três pedaços todos os anos.

    Se esquecem estes pizzaiolos de que, se eles não estão satisfeitos com o cardápio da casa, é só pedir as contas e ir para alguma das outras dezenas de pizzarias que fazem pizza quadrada no país.

    Se esquecem até que eles não são os únicos pizzaiolos que poderiam trabalhar na pizzaria inovadora. Não são sequer os melhores.

    ResponderExcluir
  7. "Quando aqui entrei (...), pensava estar numa Universidade, mas creio que me enganei, acho que ingressei numa igreja em que dogmas são invioláveis e
    inquestionáveis. É triste constatar que estamos vivendo o ciclo dialético dos 3 Ds (Deslumbre, Desilusão e Desespero). Eu pessoalmente já vivo o segundo D,
    e pelo jeito no próximo ano, se nada mudar atinjo o terceiro.”

    Infelizmente essa visão não está acontecendo somente com docentes, os discentes também estão vivendo este ciclo. Mas o que sempre penso é como conciliar a formação dos alunos com as pesquisas da Universidade, gostaria que os docentes não se esquececem que antes da pesquisa (seja ela qual for) existem 5 mil alunos querendo aulas produtivas. Em tantas disciplinas feitas a pergunta que mais fiz a mim mesma foi: "O que estou fazendo nessa aula? (Ou porque esse professor quis virar professor?/ Como não avaliaram a didática dele na contratação?) Não se pode esquecer que antes de mais nada a UFABC, mesmo sendo nova é uma instituição de ENSINO, e não um feudo para pesquisa. Pesquisa é importante (talvez um dos fatores com mais peso) mas universidades em que alunos não conseguem se formar, não me parece estar correto.

    ResponderExcluir
  8. A cada ano entram 1500 alunos. Quantos se formarão nos anos seguintes? Mesmo os que conseguem se formar apenas no BC&T viram lendas. E o que os alunos ganham com isso? Terminar um curso que não é nem um pouco reconhecido e efetivamente útil mundão afora no mesmo tempo em que em outras universidades se conclui um curso de engenharia, por exemplo? Só quem é da UFABC reconhece o que esse aluno teve que passar para se formar no BC&T. E todos os outros? Sou aluna e amanhã mesmo estou indo trancar definitivamente minha matrícula. Estou indo para um curso tradicional, a beleza teórica do projeto pedagógico me cansou. Apesar de apreciar todo o conhecimento que nos é apresentado, coisas que não teríamos acesso em outro curso, ele não me foi útil na vida real e sim, penoso. Professores de matérias de humanas, por exemplo, em pleno BC&T exigindo trabalhos cansativos e que demandavam um tempo que não condizia com as propostas e com o nosso dia-a-dia. Sem contar com provas mirabolantes de assuntos como sociologia ou filosofia que reprovam 90% da sala. Isso não é normal. A UFABC não precisa abrir mão de sua proposta inovadora ou qualquer coisa assim, mas é urgente a tomada de providências que otimizem o tempo de formação entre outras coisas. Pois infelizmente eu, assim como vários outros alunos, entram com a ilusão de que o BC&T tem a duração de 3 anos e passam seus dias aflitos, sem uma previsão de quando vão ingressar em um curso específico. Enquanto isso, lá se vão milhões investidos num futuro incerto. A universidade tem quase tudo para prosperar grandemente. Só precisa reestruturar seu projeto pedagógico com urgência, ou será tarde demais. Paremos de lindas utopias! Praticamente todos os alunos com quem converso concordam com essa triste ladainha. É só entrar no ônibus que se ouve sempre as mesmas coisas: "Tranquei tal e tal matéria.", "Na minha sala a nota máxima foi 4", "De 60 alunos somente 3 passaram, com D" "Já reprovei 7." Os alunos sempre estão fazendo uma ou mais matérias de quadrimestres passados. O atraso se prorroga sem fim. Ninguém merece ter seus sonhos de universidades corroídos com o tempo. Há alunos e principalmente professores brilhantes que com certeza, com um melhor direcionamento, fariam desta universidade, efetivamente de ponta.

    ResponderExcluir