domingo, 23 de outubro de 2011

Questão de escolha



Para todos é vendida uma imagem dominante de que o essencial é fazer a diferença. Estamos aqui por algum motivo, não? É esperado que cada pessoa tenha seu talento, algo que o torne único (mesmo sendo um em sete bilhões...). Passamos nossa vida seguindo caminhos e decidindo sobre escolhas que fazem (ou deveriam fazer) de cada um de nós uma história única em cada nuance. Mesmo assim, sentimos que compartilhamos algo em comum com qualquer outro humano, chamamos isso de valores universais. Afinal, o que um homem sente, pensa ou valoriza é o seu universo, não?  Entretanto, eu imagino, com o receio que os "valores universais" nos tornem iguais demais definimos nossa fé: numa religião, numa posição politica, numa pátria, numa língua, numa escolha sexual, numa insígnia de alguma equipe de algum esporte. Defendemos, amamos e algumas vezes matamos (uns aos outros ou a nós mesmos) por essas coisas. Uma definitiva reafirmação de nossa individualidade! (Com boa dose de intolerância e estupidez generalizada, que também devem ser valores universais; ao menos, parece ser algo espalhado por toda parte...).
A cada nova escolha nos tornamos um pouco mais diferentes ou, talvez, nos tornamos mais e mais iguais ao que realmente somos. Complicado.... Sim, eu também acho complicado.... E, olha, que nem entrei na questão de livre arbitrio e/ou determinismo que tornaria isso tudo longo demais rsrs. Outro dia, ouvi que a liberdade é formada por dois fatores: escolha e controle. Precisamos acreditar que possuímos ambas para nos sentimos livres. Pense um pouco, isso até que faz sentido.
Acima de tudo, precisamos acreditar que temos o controle sobre nossas escolhas e também a esperança em ter algum controle sobre as consequências daquilo que decidimos. A grande angústia do processo de escolha é que elas nos limitam a enxergar apenas o mundo constituído por aquelas que foram feitas. Todas os outros caminhos que seriam possíveis são perdidos em algum lugar que nos parece inacessível. Engraçado, que este dilema também aparece, de certo modo, em ciência: mais especificamente em física quântica e a questão do colapso na medida... Não entrarei em detalhes técnicos sobre isso, mas tal questão impressionou tanto os cientistas que Hugh Everett surgiu com uma ideia curiosa que, se não teve tanto impacto na ciência em si, incitou muito a imaginação da ficção científica e da indústria dos filmes: a interpretação de muitos mundos (ou multiversos, se preferir).  Nesta interpretação não ocorreria o colapso da função de onda para estado medido, mas para cada uma das possibilidades surgiria um universo para cada um dos possíveis resultados. 
Ainda há físicos ‘simpatizantes’ da interpretação de muitos mundos e eles até a usam com algum sucesso para explicar fenômenos quânticos, até mesmo, a viabilidade de viagem no tempo. Para o dia-a-dia e o homem comum resta o fascínio por imaginar que todos os possíveis caminhos ocorrerem em sequencias infinitas de universos paralelos. Contudo, isto não possibilitaria o acesso a nenhum destes outros mundos ou o seu conhecimento; aparentemente, estamos fadados apenas ao nosso Universo e a contemplarmos apenas o mundo específico que criarmos com as escolhas que fazemos. O que, pessoalmente, já considero bastante responsabilidade e muito o que entender. E a cada escolha que fazemos vamos nos distanciando daqueles que éramos antes da escolha ser feita e nos fazemos únicos entre sete bilhões ou algo assim. 

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