sábado, 27 de agosto de 2011

Um amigo irá casar.

Dedicado a um grande amigo.



Tenho um amigo que irá casar. Óbvio, que isto me trouxe lembranças, mas não falarei de altos e baixos de um relacionamento finado... Hoje, não é o dia para eu me iluminar ou obscurecer. Os holofotes devem ser para meu bom amigo.

Quero escrever uma homenagem (reflexão) ao meu amigo e seu casamento.  Gostaria de ser original ao falar de amor, mas sei que estou fadado ao clichê. Tudo já foi dito e esmiuçado sobre amor, até mesmo, as ideias mais controversas ou inusitadas.

Meu amigo já passou pelo casamento civil e sua estranheza jurídica.  Os ditos direitos e as devidas penalidades, caso ocorra a quebra de ‘contrato’ (modos de separação de bens).  O que eu tanto estranho nisto? A antecipação do que fazer, caso não der certo. É como ir a um grande banquete com deliciosas iguarias, mas no caminho repassar os procedimentos para o possível tratamento de azia. Talvez, eu seja ingênuo, mas neste ponto respeito os ritos religiosos: Amor tem que ser absoluto em esperança, passo desenfreado e otimista rumo a eternidade. Todo relacionamento deve ter o direito de nascer com intuito de ser “para sempre” (independente, de quanto o para sempre dure).

Os preceitos religiosos são bem diferentes (não que eu apoie qualquer sitematica em específico). Na igreja tudo é beleza e a Noiva surge como manifestação de infinitude. Em tom baixo (sussurro só para si), o Noivo convoca que ela apresse o passo. Alcance logo a sua mão e a cerimonia termine em um piscar. Afinal, ao vê-la tão especial, percebe que a eternidade é um tempo curto demais para tudo o que precisa ser vivido; viver é verbo efetivamente transitivo e exige objetos (e objetivos) diretos e indiretos para se manifestar plenamente: amor e casamento são alguns deles.

Nem sei se tenho o direito de dar conselhos sobre casamento. Afinal, sou divorciado e, atualmente, estou só (exercito a tarefa da busca).  Mas, meu amigo, encare isso como uma opinião técnica de um ‘empresário não tão bem sucedido’, daqueles que se não conhecem a receita definitiva do sucesso, mas ao menos já trilhou um dos caminhos do não bem sucedido rsrs Meu único conselho é: Não permita que seu amor sufoque pela doçura. O Amar deve ser como o Chocolate Amargo! A doçura em excesso entorpece e enjoa o paladar dos sentimentos levando qualquer sensação à infindável mesmice. O Amargo traz o equilíbrio e abriga a ação dos opostos para sanar o tédio.

A doçura pode até parecer perfeita, mas toda perfeição carece de sabor. O Amargo empata os contrários e traz desapego ao que deveria ser ideal. Ele prepara os espíritos para saborear as surpresas da realidade e, por vezes, o apimentado das adversidades. O Amargo concede que o amor (dos deuses) seja verossímil ao paladar dos humanos.

É no desequilíbrio das expectativas que surge a harmonia do bem conviver e o trampolim para um viver mais pleno. Porém, tudo isso é apenas teoria, na prática, não se esqueça das palavras do poeta dos outonos: “Amar se aprende amando”. 

domingo, 14 de agosto de 2011

INTERdisciplinaridade em MULTIcâmpus: Que mal há?


Nas ultimas semanas muito foi dito sobre o futuro câmpus Mauá da UFABC. Entre outras coisas, a celeuma foi reavivada pela autorização de vagas de bacharelados interdisciplinares pelo ministro da Educação. Como muitos sabem, nem mesmo um terreno, onde haverá a UFABC, já foi definido; então, imagine a surpresa. Depois da publicação no diário oficial, tivemos uma dança meio desengonçada de declarações, negações e insistências: de um lado a reitoria dizendo que UFABC planeja o novo de Mauá apenas para 2015 (ou adiante); do outro, políticos e abaixo-assinados de Mauá que gostariam de ‘algo’ de UFABC na cidade já em 2012. (Um milagre a ser anotado: um político realmente empenhado em realizar uma promessa de campanha! Duvido que isso esteja correlacionado ao fato de haver reeleições em 2012; pura coincidência, não?)


Não há dúvida que a UFABC é uma Universidade em plena expansão e está definindo com determinação o seu espaço no cenário do ensino superior de nosso país. Porém, é preciso crescer com responsabilidade e sensatez. Insistir em mais um câmpus provisório, enquanto ainda tentamos resolver os diversos problemas dos improvisos anteriores não parece uma atitude de quem aprende com os próprios erros. O improviso sempre foi uma força impulsionadora para soluções criativas. Porém, quando improviso não é impulso, mas modo operante tudo ao que nos leva é na formação de profissionais igualmente improvisados. Não acho que isso seja o que buscamos na UFABC, não é?


Para os que insistem ainda no câmpus improvisado, sugiro, então, que criemos o bacharelado interdisciplinar BC&P: Bacharelado em Circo e Pão. Assim, nos basta uma grande tenda, com pomposa placa de ‘câmpus provisório’. Obviamente, professores e funcionários teriam que se fazerem de mágicos para colocarem, simultaneamente, três câmpus precários (ops, digo provisórios) para funcionar.  Fica a questão: Qual o papel dos estudantes, fadados ao ‘dá-se um jeito’, nesta grande tenda? Prefiro nem mencionar...  Pessoalmente, espero que aqueles que insistem neste cenário prematuro e não planejado, nossos bons políticos e suas ambições, definam logo qual será seu real papel neste grande picadeiro.


Sinceramente, não me preocupo com o câmpus Mauá. Sou do tipo otimista e acredito que seremos guiados pela sensatez e bom senso. De fato, temos questões muito mais sérias e alarmantes a definir: Para ser MULTIcâmpus, basta que existam dois, o que já temos e com isso todos os problemas associados. Nossos recursos (humanos, financeiros, equipamentos, etc) são limitados e precisam ser distribuídos entre os diferentes locais. A grande pergunta é como faremos isso: Teremos câmpus em que ‘replicaremos’ nossos cursos, cada qual uma cópia quase idêntica do anterior? Criaremos espaços temáticos (o que soa mais coerente na prática) com cada câmpus tendo sua própria estrutura definida, principalmente, pelos cursos pós-BI que lá serão oferecidos e as pós-graduações associadas.


Essa discussão não é simples, nada simples mesmo. Devemos definir que curso deverá ir para qual câmpus. Com o curso, deverão ser deslocados os professores, os funcionários, os novos alunos, os laboratórios didáticos e, até mesmo, a estrutura de pesquisa. Não se move apenas graduação, mas pós-graduação também. Além disso, como ficariam os alunos atuais dos dois câmpus e suas escolhas de curso? Conseguiremos oferecer a eles o que desejam no seu campus de origem, ou acabaremos dizendo: “Desculpe-me, mas o curso X só é oferecido no câmpus Y, você terá que fazer as matérias lá mesmo.” Aos futuros alunos, muito provavelmente, o alerta já será dado no SISU: ao entrar para a escolha do BI e do câmpus, o aluno já será alertado quais as escolhas pós-BI que poderá fazer se quiser permanecer naquele específico câmpus. Isso poderá limitar, na prática, o ‘leque’ de escolhas de cursos que os alunos poderão fazer em suas carreiras. Quantas coisas a se pensar, quantos meios e regras a definir para fazer com que a UFABC siga este caminho de se dividir em dois câmpus da melhor forma possível. Estas escolhas afetarão a todos nós e, portanto, deveremos participar das discussões e decisões: definir nosso futuro é questão urgente de agora.  Acredito que você concorde comigo que com dois câmpus a questão já é complicada o suficiente, ao inserir um terceiro antes de solucionar a questão de dois, estaríamos sendo apenas imaturos e irresponsáveis.  


Uma questão ainda mais importante e que atinge o cerne de nosso projeto pedagógico: como lidar com a INTERdisciplinaridade em múltiplos câmpus? Estaremos dividindo os nossos mais importantes recursos em diferentes espaços, estaremos fragmentando nossas torres do conhecimento (literalmente). Será que mesmo assim conseguiremos manter o nosso espirito de unir diferentes áreas e propor novas soluções, se estas áreas estão (fisicamente) dispostas tão à parte.  Interdisciplinaridade não nasce em hora marcada, não aparece porque colocaram uma resolução exigindo-a no Boletim de Serviço. Ela vem espontaneamente de uma discussão entre professores de diferentes áreas no cafezinho,  alunos comentando questões no final de um seminário, diálogos com técnicos sobre diferentes instrumentos e conversas nas mais diversas reuniões burocráticas que terminam com professores falando sobre pesquisa: “O que você faz mesmo? Interessante, acho que poderíamos trabalhar em algo juntos...” . Então,  se percebe que não é mais uma conversa de amigos apenas, mas uma discussão cientifica com novas possibilidades de pesquisa. O que quero deixar claro é que múltiplos câmpus podem afetar negativamente a pesquisa interdisciplinar com a natural segmentação das áreas e uma eventual ‘departamentalização’, que na UFABC é tão combatida. É preciso discutir isto e definir maneiras de evitar que percamos um das características mais belas de nossa Universidade.  


Não quero alarmar ninguém com meus comentários, apenas mostrar que há muito para ser discutido e que devemos encarar tudo isso com coragem e determinação. Para finalizar, creio que a UFABC terá um campus Mauá, mas que isso seja feito num momento em que a nossa Universidade esteja consolidada com seus dois câmpus atuais.  Queremos uma Mauá construída de forma sensata e bem planejada: sem atropelos desnecessários ou cursos precários para os nossos estudantes.  Para a alegria dos políticos haverá um campus pronto (no dia adequado) a ser inaugurado com o corte de faixa vermelha festiva por tesoura cerimonial (quem sabe, até um subir a rampa), discursos eloquentes e muitas poses para fotos e notas para o jornal. Se não vai ser no mandato de uns ou outros. Bem,  paciência, certo? Não é melhor escolher o caminho que beneficie a sociedade como um todo do que as ambições pessoais de alguns eleitos (ou futuramente elegíveis)? Eu sei que sensatez e fazer o melhor para todos nem sempre trazem votos; mas, você pode acreditar,  que contrõem seres humanos bem melhores: basta tentar.  

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Primeiro exercício literário: 'Paredes de Multidão'


Estou fazendo uma Oficina Literária On-line. Um dos pontos divertidos é 'escrever sob encomenda'. A cada semana uma missão e dela surge um texto. O desafio sempre é um caminho adequado para desenvolver habilidades. Tento domar a minha criatividade; o curioso é que até funciona. Nesta atividade, eu deveria usar uma música para me inspirar. Estou compartilhando aqui em meu blog o que produzi na última semana (já apresento com algumas correções sugeridas) e a música que me inspirou. Exercício curioso é ler o texto enquanto a música toca... É intrigante como 'trilha sonora' dá um sabor extra ao que foi escrito. 



Boulevard Of Broken Dreams - Green Day



Paredes de Multidão


Após um longo dia de trabalho, sigo o meu caminho para casa. Dentro de um ônibus cheio, vou à estação Butantã. Tantas pessoas a minha volta: sons, cheiros e impaciência. Eu vou silencioso e insipido, enquanto a viagem atiça a minha peçonha e aumenta ainda mais o meu mal humor.

Finalmente, chego à linha amarela, mas é só o começo do meu caminho de metrô.  Aguardo ansioso para ir à Paulista; esta é a parte fácil do trajeto. Árduo, de fato, é alcançar o Paraíso. (Pior, nem é a minha última parada!) No caminho entre deixar a amarela e estar na verde há uma imensa galeria de corredores. Tubulações, paredes e sinalizações pintadas em cores fortes e berrantes; tentando minimizar o pálido cinza das faces das pessoas: todos tão impassíveis quanto eu ao colorido à nossa volta. Não preciso me preocupar com o caminho que devo seguir, pequenas faixas restringem nosso andar e os muros feitos de pessoas me levam sem qualquer outra opção além do marchar sincronizado. Chegar ao Paraíso não é para quem tem escolhas a fazer, mas sim para aqueles que aceitam se submeter ao caminho imposto.

Sinto-me tão só naquela multidão; imensamente perdido e vazio. Quando estou sozinho em minha casa, sou o único que há e, portanto, tão vasto quanto tudo ao meu redor. Contudo, nos corredores do metrô, certado e limitado por tantos desconhecidos, perco até mesmo quem eu sou: torno-me bando. Arrebanhado por regras de movimento: ‘mantenha-se a direita; siga a seta verde para o próximo trem’. São tantos com (talvez, sem) vidas tão iguais a minha, que mal consigo distinguir-me em meio aos outros.

Além do destino que busco, não conheço nada ao meu redor e ninguém para conversar. Porém, isso não cessa o ruído; todos a minha volta falam: os fragmentos desconexos de suas conversas estilhaçam em meus ouvidos. Ecoam na ausência de significado que tantas vozes indistintas têm para mim. Não há sofrer em minha solidão efetiva, apenas desconcerto. Seria um sinal de que estou quebrado de alguma forma?

Cheguei ao Paraíso, mas ainda estou longe da minha casa. Todavia, devo parar por aqui. Estou a passos de exceder o meu limite (de linhas). Não termino a história, só o texto; entretanto, nem me frustro. Apenas, mais uma regra me limitando, dizendo onde meu caminho começa e termina, seja na linha do metrô ou na entrelinha do texto; a única coisa que permanece real é o meu sentimento de solidão aprisionado entre paredes de multidão.