sexta-feira, 17 de maio de 2013

Mesmo a menor das pedras...




Um velho joalheiro trabalhava com bastante empenho em lapidar uma pequena pedra. Mesmo tendo adquirido grande conhecimento na arte de lapidar tais pedras preciosas, a avançada idade retirou-lhe parte de sua perícia e visão. Assim, suas mãos já não correspondiam tão bem aos seus anseios. Desse modo, o velho senhor realizava o trabalho com certa dificuldade, mas não se mostrava abalado com isso. Apenas realizava seu ofício com afinco e calma para lapidar aquela pequena pedra. 

Na outra mesa da oficina, o filho e também aprendiz nesta arte, observava o pai com certa frustração e impaciência. Não conseguindo mais conter a sua indignação, disse ao pai: 

- Por que o senhor perde tanto tempo e energia com essa minúscula pedra? Temos pedras maiores para lapidar, que o senhor poderia fazer com mais facilidade e rapidez e nos dariam muito mais lucro. Por que desperdiças seus esforços com uma pedra tão pequena?

O pai olhou o filho com benevolência e percebeu que para apaziguar o coração de seu afoito aprendiz o melhor seria uma explicação mais detalhada. Estas foram as suas palavras do ancião:

- Meu filho, é verdade que precisamos vender as jóias para colocar o alimento na mesa, mas esse não deve ser o objetivo principal do que fazemos. Nenhuma pedra é pequena demais para que possamos negligenciar o nosso trabalho, que é extrair de cada pedra o brilho que, de fato, ela possui quando exposta a luz. Todas as pedras tem as suas histórias: as pressões,  percalços e condições de suas formações, em geral, as embrutecem e as condicionam a uma imagem feia, rugosa e, por vezes, sem qualquer valor aparente. Cabe ao joalheiro reconhecer a essência de cada pedra e, com a retirada do excesso, alcançar o diamante que há nela. Ao se negar a isso, mesmo para a menor das pedras, o joalheiro nega a si mesmo. Você ainda é jovem para entender, mas da mesma forma que esta pequena pedra precisa do mim para escavar a sua essência, também eu preciso de cada uma das pedras em que trabalho, mesmo as menores, para encontrar a minha própria essência e refletir adequadamente a luz que provem de todos os lugares. 

Ao terminar o seu comentário, o velho homem sorriu ao filho, colocou o pequeno diamante, que agora brilhava de forma delicada e bela, sobre a mesa e, em silêncio, pegou a próxima pedra bruta para lapidar.