“All Science is either physics or stamp collecting.” Estas foram palavras do grande cientista do
século passado, Ernest Rutheford, que demonstravam graciosamente sua típica arrogância de Físico
e também uma mente, que apesar de visionária, ainda se fazia fortemente
arraigada em seu tempo. Ironicamente, o descobridor do núcleo atômico foi
agraciado com o prêmio Nobel de Química. Ele mesmo sorriu com a piada de ser
transmutado em Químico pelas suas contribuições em Física (ou melhor, o que ele
queria entender como Física). Talvez, essa tenha sido uma nada sutil
demonstração, ao nobre laureado, que a Natureza não gosta de ser fragmentada e
colocada nestes compartimentos que insistimos tanto: Ciências Naturais e
Não-Naturais (aquelas que ainda não conseguimos domar e eternizar em nossos
livros textos).
Quando se fala de ciências,
o velho provérbio romano: ‘Dividir para conquistar’ não traz tanta força ao
conquistador, mas o cega na busca de compreender a Natureza. Quando se
fala de Universo, o Todo é muito mais do que a simples soma de suas partes. Em
nosso tempo, vivemos uma nova pretensão de valorizar a interface e a interação das
diferentes ciências mais que as ciências ditas ‘tradicionais' em si. De fato, vivemos um tempo ainda indeciso de
muitas versões (algumas até distorcidas) das multi-, inter-, trans- e outros prefixos para as disciplinaridades. Muito se diz sobre um
jeito novo de fazer ciência com menos preconceito e mais diálogo entre as suas
diferentes ‘abordagens’. Contudo, fica o alerta de que é preciso mais que um
discurso bonito para agradar agências de formento e fazer políticos vencerem
eleições. Precisamos de uma atitude coerente e ações eficazes para nos levar a
uma real implementação desse modo de executar ciência.
Obviamente, este é apenas
um preâmbulo para falar de meu local de trabalho, a UFABC, uma universidade do século XXI, que desde seus
momentos iniciais foi moldada para ser diferente e interdisciplinar (ou um outro daqueles
prefixos acima citados que mais te agrade). Todos que entram na UFABC são convidados a apreciar este
jeito ainda não comum (mas tão exaustivamente panfletado por nós) de fazer o
ensino, a pesquisa e a extensão. Para nos manter fiéis a esta proposta ousada,
nós temos o nosso Projeto Pedagógico (PP), que imbuído do ‘espírito de uma nova
ciência’ tenta nos nortear. Este texto de vital importância e sempre tão citado
quando se considera que alguém quer ‘Matar o Projeto Pedagógico’ possui
inúmeras interpretações e cisões internas de como deveria ser seguido. Gosto de
pensar em nosso PP como um daqueles Faróis, cuja função primordial é permitir
que se tenha uma melhor visão dos caminhos e perigos das turbulentas águas em
que se navega. Todavia, o caminho exato que o navio traça será sempre decisão
daqueles que estão a bordo e não do que os ilumina.
Neste ponto, vivemos um
momento de suma importância: a definição de nosso Plano de Desenvolvimento
Institucional (PDI), que não apresenta apenas o ‘espirito’ da Universidade, mas define o plano, linha a linha, a ser executado para alcançar o que desejamos ser daqui a
10 anos. Se o projeto pedagógico é um Farol, o nosso PDI é a Carta de Navegação
que explicita exatamente a rota a se seguir. Participar da elaboração de tal
documento é um grande privilégio e, ao mesmo tempo, uma grande
responsabilidade.
Por meio do PDI é que garantiremos que não seremos desviados e atraídos para uma inexorável ‘tradicionalização’
de nossos Centros, mas permaneceremos na trilha por uma Nova Universidade que
alcançará este estilo único de formar bons profissionais e, quem sabe, também
melhores humanos. Ainda dentro de nossas analogias
luminosas, comparo o PDI aos faróis de um carro quando se dirige a noite: com certeza, não nos mostra todo
o caminho que precisamos seguir; porém, com o pouco que vemos da estrada, já temos o suficiente para nos levar em segurança, mesmo nos trechos mais obscuros, ao nosso desejado destino: a Excelência Universitária consolidada no trabalho
duro e visão de muitos.
Luciano,
ResponderExcluirNa minha opinião, quem melhor definiu nossa situação foi o Salinas, ainda em 2007: há uma dilema entre a UFABC ser um "big college" ou uma universidade de pesquisa. A gente luta pela segunda opção, mas os políticos e a população da região quer a primeira.
Kinouchi.