quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Não há outro Magnifico, senão o Reitor





Tempos de celebração democrática é o que se comenta pelos corredores da Universidade Federal do ABC. Passamos pelo processo de escolha do novo reitor para os próximos 4 anos. Obviamente, ele é muito mais do que o grande gestor desta comunidade, ele é o arauto que nos representa em todos os diferentes fóruns e o responsável por nos guiar através dos diversos caminhos de Universidades que poderíamos trilhar. 


Pessoalmente, já escolhi o candidato em que votarei, baseado na minha visão da UFABC e no gestor que acredito poder moldá-la nesta imagem. O nome deste candidato ou os detalhes do meu pensamento para esta decisão são razoavelmente irrelevantes (para qualquer um que não seja eu). Caso eu escrevesse aqui, no melhor dos casos, teríamos algum tipo de depoimento que poderia até ficar bem em fórum digitais e/ou redes sociais e nada mais... Bem escrito, talvez; inútil, com certeza. Cada qual deve tomar essa decisão por seus próprios princípios e a opinião alheia deveria ter pouca influencia nisso. Independente do candidato que vença, a maior fé que tenho é que a UFABC já é uma universidade solida o suficiente para que, seja eleito o candidato seis ou o candidato meia dúzia, ela continuará em sua busca de se firmar como um bom local de ensino, pesquisa e extensão. 



Contudo, muitos estão propagandeando e trabalhando duramente para este ou aquele candidato, muitos são os “argumentos” para tão apaixonada labuta de convencimento. Sinceramente, sempre acho melhor do que só ouvir as palavras de um homem, observar suas ações; ir além e estudar as intenções de suas ações, se possível ainda, refletir sobre as intenções de suas intenções. Então, talvez,seja possível ter um vislumbre do que há de verdade em suas palavras. Por isso, deve-se sempre ser cauteloso com palavras faladas ou no papel. Afinal, a maioria das grandes e mais fascinantes histórias se encontram imortalizadas no papel e nem por isso deixam de ser apenas excelentes fantasias. Tudo que podemos eleger é a possibilidade de um caminho com quase nenhuma garantia de sua veracidade



Nestes tempos de angariar votos, muitos são lisonjeiros e gentis. Afinal, querem nosso voto, mas como serão depois de conseguir o que desejam? Neste ponto, sempre é válido um exercício de memória. Durante este tipo de campanha muitos usam mascaras convenientes. Porém, se conhece muito mais destas pessoas no dia-a dia: quando os observamos nos tablados durante suas aulas, quando procuramos alguma ajuda deles em suas salas, quando discutimos nos diversos fóruns universitários ou quando observamos a sua maneira de interagir com os outros. Nestes momentos, estas pessoas mostram bem mais de perto sua verdadeira natureza. O grande problema dessa diferença é que se usa a Mascara para obter os votos, mas se governar com a verdadeira Natureza, com tudo o que há de mau e bom dela. Nos piores casos, existem os  “mágicos de Oz” que prometem coragem, mas tudo que podem oferecer é uma tigela de vinho barato, na tentativa de te embriagar e te fazer acreditar que te deram a coragem, que nem eles mesmos possuem.  



Independente do discurso usado, além das boas intenções, pode estar certo que sempre existirá alguma sede de poder e a chama da vaidade, em especial, naqueles que cercam os candidatos e aguardam a "merecida" recompensa por sua lealdade, muitas vezes representada por uma pró-reitoria ou algo assim. Deve se tomar muito cuidado com a escolha que se faz, pois pode não haver outro Magnífico, senão o Reitor, mas, com toda certeza, haverão muitos pro-reitores  que serão os seus mensageiros e os executores do plano. 

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Em busca de novas Direções



Dizem que "sempre achamos a grama do vizinho mais verde". Na UFABC, isso parece não corresponder a verdade. De fato, por aqui parece que nos orgulhamos de ter tingido a nossa grama de "vermelho". Temos uma obsessão pelo novo, diferente e nada comum, por vezes, isso é até danoso. Uma das coisas que mais surpreendem na UFABC é a inexistência de institutos, faculdades, departamentos... Em um anseio holístico (ou algo assim), a Universidade busca se manter sempre como um todo e, até mesmo, muitos acreditam que é assim que funcionamos. A única divisão que foi permitida foi a da criação de Três Centros: CCNH, CECS e CMCC que, segundo as "Palavras Bevilacquianas", representariam a busca incessante da Descoberta dos segredos da natureza, da Invenção de novas tecnologias e da Crítica racional rigorosa (http://migre.me/fVqeg). Desse modo, essa fragmentação pôde ser aceita, uma vez que foi apenas a manifestação natural destas "divindades guias", quiçá os "padroeiros" de cada centro. Obviamente, os centro operam  (ao seu modo) como instituto, faculdade, departamento… ou alguma outra denominação fragmentaria e tradicional, da qual o uso é desaconselhável e não será mais mencionado neste texto. 

Cada Centro tem a sua autonomia e esta desenvolvendo personalidade própria, oriunda daqueles que o constituem e, em especial, das figuras do Diretor e do Vice-Diretor. Muito além de cargos administrativos, a Direção tem um papel político e moral muito forte dentro da UFABC. Portanto, a escolha daqueles que ocupam estes cargos vai muito além da analise de habilidades e competências para executá-lo: o Diretor seria o "Avatar" da própria manifestação da Natureza do Centro. Portanto, não devemos menosprezar este momento eleitoral em que os candidatos a estes cargos pelos próximos quatro anos se manifestam. Os centros CCNH e CMCC terão eleições para chapas conjuntas de diretor/vice-diretor, enquanto que o CECS terá a eleição apenas para diretor, permanecendo no cargo o atual vice. 

Nestas eleições, cada docente e técnico administrativo vota para a direção do centro ao qual pertence e os alunos votam para as direções dos três centros.  De certo modo, apesar de não ser a primeira vez que diretores serão eleitos, essa é a primeira em diversos outros aspectos: Esta eleição será a primeira da Universidade a usar a nova equação de pesos aprovada pelo Consuni: 0,5*(votos docentes) + 0,25*(votos T.A.) + 0,25*(votos alunos). São tempos de uma universidade mais vivenciada, menos eufórica e traumatizada com o seu "parto institucional" e, acima de tudo, mais consciente das conseqüências de seus atos, desmandos e decisões. Em breve, todos seremos convidados às urnas, em um primeiro momento para escolher os Diretores (e vices) e em um segundo a Reitoria. Não devemos menosprezar o impacto das direções dos Centros em nossa dinâmica diária. Se o Reitor representa a cabeça da Universidade, os Diretores são os braços e pernas e, portanto, os responsáveis diretos pelo movimento efetivo do caminhar da universidade para a direção que ela optar seguir.  Assim, se cobiçamos sermos o tão difundido lema:  "Universidade de Ponta para o Século XXI" é necessário, no mínimo, sermos ágeis e vigorosos. Afinal, o caminho é sempre tortuoso e acidentado se o objetivo é chegar ao topo...



segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Coordenar Ações


Desde meu primeiro post neste blog, estive sempre comentando sobre pensamentos e sentimentos relacionados à minha vida e ao trabalho. Em especial, sobre o meu "enfrentamento" em relação à peculiar cultura da UFABC, fortemente arraigada nas suas origens e premissas. Minhas posições oscilam desde um extremo fascínio e orgulho até um desespero e desalento de tempos em tempos. Não que a proposta seja tão difícil de entender, mas que as incoerências, muitas vezes vendidas como 'bom senso', realmente me assombram.


Desde a minha entrada nesta universidade me envolvi com as atividades do "núcleo duro" do Bacharelado em Física. Estive envolvido profundamente na montagem dos laboratórios didáticos da física e mesmo nos caminhos que os "famosos" fenômenos seguiram nestes últimos anos. Não diria que este envolvimento foi intencional, mas na UFABC sempre há trabalho e se você não é alguém que cultivou adequadamente a arte de dizer 'NÃO', acaba sobrando muito deste trabalho para você. Mais perigoso ainda é deixar que este trabalho ocupe mais tempo do que a pesquisa (atividade efetivamente muito mais valorizada que qualquer investimento em ensino). 

Nestes últimos meses, tenho sido vice-coordenador do Bacharelado em Física e, hoje, inicio meu trabalho como Coordenador. Apesar de ser um cargo eleito, não tenho número de votos a comemorar. Como chapa única apresentada para o cargo (e isto não é um caso isolado da física), a eleição nem precisou ser realizada e a "posse" como  coordenador não passou de um processo burocrático. De certo modo, isso me entristece, pois não houve espaço para discussão de propostas, confronto de ideias e assim "A Situação" permaneceu no cargo sem qualquer esforço. E fica claro o status de trabalho ingrato e não cobiçado. 

Até Agosto de 2015 estarei Coordenador e, além das tarefas básicas: oferecimento de disciplinas, alocação de professores, representação do curso na C.G. e outros fóruns, etc, fica a pergunta: o que deve ser feito neste período? O meu maior anseio é trabalhar para  definir o 'perfil do Bacharel em Física na UFABC'. A Universidade já tem "idade" suficiente para que tenhamos um tipo de 'profissional' bem definido dentro de suas variabilidades que ser físico permite. Em especial, espero conduzir a discussão, elaboração e aprovação do "Projeto Pedagógico do Bacharelado em Física - versão 2014". Neste projeto, além do que efetivamente temos feito, também seria bom deixar claro as direções para o nosso curso. Obviamente, isto não é uma atividade para um homem só e o melhor é que não estou só mesmo. Além do vice-coordenador, Adriano Benvenho, que acima de tudo é um grande amigo e com quem discuto bastante sobre essa universidade, temos excelentes professores formando a representação da coordenação, em especial, o Eduardo Novais (ex-coordenador) faz parte desta equipe e assim sei que estarei muito bem acompanhado para todo o trabalho que temos. Também existe o NDE - Núcleo Docente Estruturante - cujo papel será fundamental neste momento de rever o que foi feito, manter aquilo que é bom e sugerir modificações no que poderá ser melhor. 

Não imagino ou espero que a tarefa seja fácil e, no fundo, nem sinto que ser coordenador é algo que eu deseje. De fato, é mais algo que eu necessito. Sei que cumprir este papel poderá refinar varias das minhas características e me possibilitar ser ainda mais quem devo ser. A medida que você muda o que está a sua volta com o seu trabalho, este trabalho também te muda. E isso, quase sempre, é bom.  Assim, a partir desta semana, ESTOU coordenador do Bacharelado em Física até Setembro de 2015. Vejamos o que o futuro nos reserva. ;-)

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Entre Relações Atômicas e Moleculares



Mais um quadrimeste acaba na UFABC. Entre muitos Ônus e Bônus da Greve do último ano, pela primeira vez me encontro em férias/recesso em meio de Julho, assim nos juntando a boa parte das universidades, ditas tradicionais, com seus cronogramas semestrais. Obviamente, férias é um jeito suave de falar de um período curto entre quadrimestres já tomado pela pressa em colocar a pesquisa em dia e preparar aulas das próximas disciplinas. 

Neste último quadrimestre lecionei a "inglória" Interações Atômicas e Moleculares (IAM). Uma disciplina que permeia entre a física e a química… Inicia-se com o átomo de Hidrogênio e segue compondo moléculas e outros aglomerados até os diferentes sólidos e as suas propriedades. Um curso recheado de física quântica e formalismo matemático ao gosto do professor. Confesso, que no "ensopado molecular" que ofereci aos estudantes havia porções generosas de física, algumas histórias e quando possível até um pouco de poesia (que sempre está em todo lugar, mesmo que nem sempre aceitemos isso) e, claro, uma dose respeitável de equações diferenciais, derivadas e integrais. Afinal, um Bacharel em Ciência e Tecnologia tem que saber cálculo, ainda mais se ele é pretendente a ser Engenheiro ou alguma carreira de Pesquisa ou Ensino em Exatas.

É interessante apresentar uma matéria considerada por muitos como avançada para um publico amplo, basicamente, qualquer aluno da UFABC (exceto alunos do BC&H) são obrigados a fazê-la. Também é uma disciplina que em seu primeiro oferecimento teve índice de reprovação superior a 70%. Atualmente, os números são mais brandos, algo entre 40% entre reprovação e abandono, o que leva a um número de demanda reprimida (alunos que já deveriam ter cursado a disciplina, mas não o fizeram) em torno de 3000 alunos. Coloco estes números apenas para dar uma ideia de que o desafio é grande para os que estudam, mas também não é tarefa fácil para os que ensinam. 

A primeira questão que surge é: quem é seu publico alvo. Ao perguntar aos alunos de que cursos eles são é comum ouvir: Gestão, Ambiental, Biologia, Biomedica, Materiais, Física, Química, etc.. raramente se ouve "BC&T". Como todos já escolheram o que serão e farão depois, IAM é a última disciplina obrigatória que é necessária para se finalizar o BCT e ter direito a reserva de vaga e matrícula no curso desejado. Para muitos, IAM é um largo muro a ser ultrapassado para chegar a terras mais agradáveis do curso tão almejado. Portanto, é preciso começar com a busca de um fator comum de interesse e mostrar que a quântica não é tão difícil assim. Além do conteúdo obrigatório do ementa, eu sempre buscava conexões inesperadas e, até mesmo, aparentemente esdrúxulas. Por vezes, um choque em um momento inesperado é exatamente o que é necessário para se dar um salto na compreensão e criar um impacto positivo no estudante. 

Creio que construi um curso satisfatório, porém acho que ainda estamos longe de ter um bloco de matérias obrigatórias do BC&T que realmente criem um profissional com um conteúdo harmonioso e coerente. Ainda não consigo imaginar bem como exatamente é este Bacharel em Ciência e Tecnologia que estamos colocando no mundo... Confesso, que sempre que penso no BC&T, o curso me soa como uma orquestra tocando com cada instrumento afinado de uma forma diferente. Que se produz um som, sem dúvida, não há falta de som (e bem alto), infelizmente, bastante ruído também. Entretanto, falta ainda a beleza que revelaria uma profunda fluidez e clareza do curso ser aquilo que ele deveria ser; algo que pudesse transparecer uma coerência própria da intenção que se manifesta em melodia. 

No fim do meu curso de Interações Atômicas e Moleculares, acredito que toquei um chorinho (talvez um pouco fora do tom), com seu jeito simples em primeiro momento, mas com acordes rebuscados no dedilhar dos mestres Schrodinger, Heinsenberg, Pauli, Pauling, Lewis e tantos outros. Uma música com aquela  beleza meio triste dos que não são completamente entendidos. Afinal, o som de IAM, por vezes, desagrada ouvidos desatentos e acostumado a sons mais Clássicos e que se intimidam diante do choque necessário.  Como diria Bohr "Se você não ficar chocado é porque não entendeu." ;-)

De qualquer modo, continuamos nota a nota tentando compor a melodia completa do BC&T, mesmo que cada grupo em seu eixo pense que deve tocar um estilo diferente de música. 

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Mesmo a menor das pedras...




Um velho joalheiro trabalhava com bastante empenho em lapidar uma pequena pedra. Mesmo tendo adquirido grande conhecimento na arte de lapidar tais pedras preciosas, a avançada idade retirou-lhe parte de sua perícia e visão. Assim, suas mãos já não correspondiam tão bem aos seus anseios. Desse modo, o velho senhor realizava o trabalho com certa dificuldade, mas não se mostrava abalado com isso. Apenas realizava seu ofício com afinco e calma para lapidar aquela pequena pedra. 

Na outra mesa da oficina, o filho e também aprendiz nesta arte, observava o pai com certa frustração e impaciência. Não conseguindo mais conter a sua indignação, disse ao pai: 

- Por que o senhor perde tanto tempo e energia com essa minúscula pedra? Temos pedras maiores para lapidar, que o senhor poderia fazer com mais facilidade e rapidez e nos dariam muito mais lucro. Por que desperdiças seus esforços com uma pedra tão pequena?

O pai olhou o filho com benevolência e percebeu que para apaziguar o coração de seu afoito aprendiz o melhor seria uma explicação mais detalhada. Estas foram as suas palavras do ancião:

- Meu filho, é verdade que precisamos vender as jóias para colocar o alimento na mesa, mas esse não deve ser o objetivo principal do que fazemos. Nenhuma pedra é pequena demais para que possamos negligenciar o nosso trabalho, que é extrair de cada pedra o brilho que, de fato, ela possui quando exposta a luz. Todas as pedras tem as suas histórias: as pressões,  percalços e condições de suas formações, em geral, as embrutecem e as condicionam a uma imagem feia, rugosa e, por vezes, sem qualquer valor aparente. Cabe ao joalheiro reconhecer a essência de cada pedra e, com a retirada do excesso, alcançar o diamante que há nela. Ao se negar a isso, mesmo para a menor das pedras, o joalheiro nega a si mesmo. Você ainda é jovem para entender, mas da mesma forma que esta pequena pedra precisa do mim para escavar a sua essência, também eu preciso de cada uma das pedras em que trabalho, mesmo as menores, para encontrar a minha própria essência e refletir adequadamente a luz que provem de todos os lugares. 

Ao terminar o seu comentário, o velho homem sorriu ao filho, colocou o pequeno diamante, que agora brilhava de forma delicada e bela, sobre a mesa e, em silêncio, pegou a próxima pedra bruta para lapidar. 

domingo, 21 de abril de 2013

Comentários de um marinheiro mais experimentado


(imagem obtida na comunidade da UFABC no Facebook) 

Amanhã, as aulas da UFABC serão retomadas. Devido a greve, iniciamos o ano letivo de 2013 só no dia 22 de Abril.  Em um domingo parecido com o de hoje, há uns 2 anos atrás, eu escrevia um texto endereçado aos ingressantes: “Aviso aos jovens navegantes” (http://fisicoemcubos.blogspot.com.br/2011/05/aviso-aos-jovens-navegantes.html). Naquela época, eu tinha apenas um ano de UFABC. Hoje, conto com mais de 3 anos de vivência nesta Universidade. Pode parecer pouco ainda, mas para uma universidade com apenas seis anos, isso já significa bastante história. Eu poderia até dizer que já sou um marinheiro experimentado no navegar desta Universidade em Consolidação.  Ainda há muito o que aprender, como qualquer marinheiro, eu já sei que só se para de aprender quando se alcança a última viagem e, com a benção de Poseidon, o bom marinheiro deixa de guiar e aceita embarcar aos cuidados de Caronte para os Elísios.

Em boa parte, acho que ainda me mantenho fiel ao ponto de vista que eu tinha naqueles dias. Sinceramente, ainda acredito nos três conselhos que dei: i) Aproveite tudo o que a UFABC te oferece; ii) Aprecie a estrutura da UFABC que é mais familiar que institucional; iii) Seja aberto ao novo, mas tenha foco. Entretanto, aviso que todos estão diferentes hoje em dia. Os professores, de um modo ou de outro, se aclimatando ao desafio diário de “carregar, afinar e tocar o piano ao mesmo tempo”. Os alunos já se depararão com uma Universidade um pouco mais construída e, portanto, com relações já não tão familiares, até temos dois câmpus e, talvez, mais um vindo.  Todos tiveram seus desalentos, em especial, com a greve que deixou mais claro que não somos tão diferentes das outras universidades federais. Designos de uma Universidade que nasceu com espírito grande, quando nem corpo tinha e que, agora, ainda se estranha com o corpo que esta sendo consolidado para confinar tal espírito.

Além dos conselhos do texto anteriore, eu gostaria de acrescentar mais dois que ficaram mais importantes ao longo destes três anos:

Aceite que a liberdade está sempre atrelada a responsabilidade: A UFABC encanta aos mais jovens com sua promessa de liberdade ilimitada, ainda mais nesta fase da vida, que para muitos é tempo de deixar os pais e alçar voos mais elevados. Entretanto, não esqueça do trágico Ícaro, que encantado com o seu voo, não percebeu que o sol derretia suas asas e a queda foi o seu destino inevitável. Você não deve esquecer que sempre há um preço em ser livre: Você é responsável por todas as escolhas feitas e consequências decorrentes delas.  Tenha a intenção e o objetivo claro para cada decisão que tomar, disciplina que cursar, grupo a que se associar.  Tente se ver no futuro, pense o que isso fará por você daqui uns 5 anos...  Pode soar muito pragmático,  mas é melhor que ser apenas impulsivo.
   
Acredite em seu potencial, mas não menospreze suas limitações: É importante acreditar em si mesmo e usar os talentos que já possui ao seu favor. Ir um pouco além, sempre pode ser útil. Porém, você não é invulnerável, é preciso saber qual o seu limite. O quanto antes você souber qual o peso do “fardo” que é capaz de carregar, melhor será sua vivencia universitária. A vida é melhor quando vivida em equilíbrio: você precisa estudar, dormir, se alimentar adequadamente, se divertir e se relacionar com as pessoas. A universidade oferece infinitas opções para diversas destas atividades.  Não esqueça de se cuidar em todos os sentidos, muitos alunos se esquecem disso e adoecem ou desanimam... Depois tem grande dificuldade para se "curar" de suas mazelas e se acertar  em seu caminho. Lembre-se: “Aprenda com o erros dos outros, para que os seus erros não se tornem um exemplo para os outros”.

Por fim, a Universidade tem muito a oferecer e não se esqueça das boas razões pelas quais você decidiu estar na UFABC. Por vezes, esta é a única luz para te guiar nos momentos mais escuros da vida UFABCiana.  Um grande inicio de primeiro quadrimestre e ano letivo de 2013 para todos nós. Que possamos tornar a Universidade sempre melhor e melhor, enquanto também nos melhoramos. 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Era/Foi apenas um gato...





Era uma vez um gato em uma caixa. Não se pode dizer muito sobre como o gato existia ali; isolado do resto do Universo e tudo mais... Nem ele mesmo sabia se estava vivo e/ou morto e o que quer que significaria estar vivo ou morto para um gato que sempre existiu dentro de uma caixa.

Um dia, num instante, o seu mundo (como ele conhecia) colapsou: Naquele breve instante, o gato percebeu o repentino abrir da tampa da caixa. Tudo virou luz... E o fim desta história só é conhecido por aquele que se atreveu a abrir a caixa e olhar para dentro dela. Quanto ao gato, independente do seu estado atual, provavelmente está bem mais feliz que antes. Afinal, ninguém merece ser condenado a uma superposição (indefinição) de estados por todo o sempre.  ;-)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Uma analogia nutritiva: Universidade-Restaurante.





Quando eu fui contratado na UFABC em 2010, eu vi uma palestra ministrada pelo professor Sandro Costa e Silva, que comentava aos alunos ingressantes sobre as analogias de series de TV e a UFABC.  Das muitas coisas ditas nesta ótima palestra,  uma que me chamou bastante a atenção era sobre a oferta de disciplinas na UFABC:  Dizia ele que as Universidades Tradicionais ofereciam sempre a refeição à “La Carte" com o prato principal e acompanhamentos muito bem definidos e poucas possibilidades de variação.  Enquanto que na UFABC, tínhamos um "Self Service" em que os alunos poderiam escolher o que bem quisessem dentre o que lhes era oferecido. Tal imagem, além de interessante,  pode aludir bem a uma questão que hoje é um dos problemas mais complexos e arraigados da UFABC: a oferta e a matrícula em disciplinas.

A complicação inicia-se pela expectativa dos ‘convidados’ ao banquete em relação a lista com quase 1000 ‘pratos’ que podem ser oferecidos.  A escolha que não é nada fácil, ainda pode ser mais intricada se pensarmos que é necessário agregar um certo valor nutricional bem definido para o convidado poder deixar este estranho restaurante devidamente credenciado pelos nossos cozinheiros.

O número de cozinheiros para preparar as refeições é bem inferior ao que seria necessário e, além disso, há diferentes opiniões de como as refeições deveriam ser oferecidas: uns acreditam que deveriam deixar todos os pratos a disposição o tempo todo... Outros acham isso uma loucura e consideram que o adequado é oferecer um menu sugerido com garantia do convidado conseguir este prato e mais outras opções em menor número que serão dadas a um número menor de convidados com mérito para apreciar esse complemento da refeição. Isto é um ponto em que os cozinheiros debatem bastante e, provavelmente, este ano deve-se discutir ainda mais, uma vez que logo haverá escolha de um novo TOP CHEF de nosso restaurante, bem a equipe de todos os SUB-CHEFs.

Os pratos mais básicos e obrigatórios no menu de nossos convidados precisam ser feitos em um número gigantesco (mais de 2000 refeições por ano), pois sempre tem aqueles convidados que não conseguindo terminar a refeição na primeira tentativa, a cancelam para que possam tentar futuramente comê-la quando não for tão pesada ou indigesta. Há uma grande demanda de cozinheiros para estes pratos e aqui muitos acham que deveriam se seguir uma receita bem estabelecida por todos, assim garantindo o mesmo ‘valor nutricional’ de todas as porções destes pratos obrigatórios. Outros cozinheiros não gostam dessa opção, pois dizem que isso retira a sua liberdade criativa de colocar seu toque pessoal no prato.  Mesmo assim, a Unificação das Receitas foi feita e os convidados ficaram divididos entre os que apreciam e os que preferiam a moda antiga.

Além destes pratos obrigatórios, existem aqueles de demanda reduzida com valores nutricionais e sabores bem específicos para certo tipos de convidados. Para estes pratos, muitas vezes há poucos cozinheiros, ou até mesmo,  apenas um que é especialista em seu preparo. Fazendo que alguns cozinheiros precisem fazer muitos tipos diferentes de pratos ao mesmo tempo. Ainda há cozinheiros ociosos que  tentam evitar de cozinhar o que deveriam ou produzem refeições de baixo valor nutritivo. Outros apuram demais seus pratos e os tornam picantes e indigestos para a grande maioria dos convidados, mesmo sendo produzidos com alimentos de excelente qualidade e valor nutritivo. Haveria muitos outros casos sobre os cozinheiros para descrever, mas o espaço aqui é curto para falar de todas estas coisas. 

Por outro lado, os convidados também nem sempre ajudam. Pois na sua opção de Self Service, muitas vezes, fazem escolhas esdrúxulas combinando refeições, misturando alimentos estranhos e depois reclamando quando a digestão é difícil ou, até mesmo, impossível. Eles requisitam uma verdadeira sopa de cactos, achando que será algum manjar dos deuses... Os cozinheiros insistem em dizer que certos  pratos tem precedência sobre outros e que os alimentos deveriam ser consumidos em uma ordem natural que foi estabelecida no menu sugerido. Nem todos os convidados entendem a importancia das sugestões e esquecem que a liberdade de poder apontar o prato que desejam no menu vem sempre acompanhada da responsabilidade de arcar com as consequências da (in)digestão das refeições requisitadas.  Quando os convidados não estão satisfeitos com o alimento recebido,  costumam dizer que aquilo não é justo e que  tudo é um “mero capricho dos desmandos da elite gastronômica dos cozinheiros”... 

Para quem olha de fora deste restaurante, tudo se parece como uma porção de garçons desesperados requisitando todo tipo de prato e jogando pedidos sobre os atarantados cozinheiros, que debatem fervorosamente entre si enquanto cozinham sobre a importância do que fazem, valor nutritivo entre outras tantas questões que consideram de suma importancia para o perfeito funcionamento do restaurante. Enquanto, os convidados reclamam impacientes dos pratos recebidos e afirmam como poderiam eles mesmos oferecer pratos muitos melhores que aqueles que ocupam os cargos de cozinheiros só por ter um diploma para isso. 

Entretanto, uma coisa que me fascina neste pandemônio que é nosso restaurante é que, mesmo com todas as confusões, os convidados que deixam o restaurante estão muito bem alimentados e com tamanha vitalidade que nosso restaurante se destacou em relação aos demais restaurantes (muitos destes já tradicionais e prestigiados) perante os severos críticos governamentais. De alguma forma, mesmo que passando por algumas angustias e provações, parece que a comida que produzimos ainda tem o mais importante em sua essência: a 'sustância', como diriam nossos amigos do Nordeste. =)

Mas como poderíamos colocar alguma ordem nesta cozinha em baderna? Bem, isso é um prato cheio para os próximos textos que poderão vir em breve . ;-) 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Um texto antigo: Fenômenos: não os tema, mas os respeite.



Na típica limpeza de começo de ano do HD de meu computador , me deparei com este texto que havia escrito para uma edição da revista eletrônico "Contraste", que era editada por um grupo de alunos da UFABC e na qual eu escrevia uma seção chamada "Do Covil do Cavaleiro". Infelizmente, ela foi descontinua com um período curto de vida. Assim, meu segundo texto acabou nunca sendo publicado.  Por diversos motivos, entre eles mencionar um colega professor da UFABC que nos deixa para seguir para a Unicamp, eu deixo o texto aqui. Afinal, mesmo palavras fora do seu tempo podem trazer uma mensagem atual para alguns. =) [para ver o primeiro texto que foi publicado: http://migre.me/d4mSx]

Seção: Do covil do Cavaleiro.
Título: Fenômenos: não os tema, mas os respeite.  

O excesso de trabalho sobre os ombros de todos resultaram nesta edição surgindo um pouco depois do início do quadrimestre. Mesmo assim, vou manter a promessa de comentar sobre um grupo de disciplinas que, por vezes, causa certo horror aos jovens ingressantes: os Fenômenos.

Transcorridas mais de duas semanas deste terceiro quadrimestre, não há mais grandes surpresas: Professores bem definidos em suas disciplinas e nas outras atividades de pesquisa e extensão.  Afinal, a UFABC não poderá ser uma das 100 melhores só com o charme de nossos olhos.

Do outro lado, os alunos já sabem razoavelmente o que os aguarda no típico ritmo acelerado dos cursos que precisam ser concluídos em 12 semanas.  Conhecidos os professores, ficam claras as regras do jogo e se esse período será  traçado por ‘caminhos suaves’ ou tortuosas trilhas desconhecidas na busca por conhecimento e aprovação.

Os ingressantes, já não tão calouros como antes, iniciam todas as disciplinas que não são mais ‘bases’, mas ainda fundamentos.  Eu os alerto que agora a Universidade começa para valer: As bases sugerem que vocês não são mais crianças de colegial, mas são as FUVs, GAs e FEMECs que iniciam o processo de fazê-los homens (e mulheres) universitários de verdade.

Como Físico, preciso falar dos fenômenos, que obrigatórios, temos três: Mecânicos, Térmicos e Eletromagnéticos.  O primeiro reverencia ao grande Newton, o segundo faz jus aos muitos senhores do calor (Boyle, Carnot, Boltzmann, etc) e o terceiro glorifica ao esplêndido cientista-poeta-e-muito-mais Maxwell. Os fenômenos não são apenas a compartimentação do ‘núcleo duro’ da física clássica no BC&T, mas o tecido básico da natureza que se apresenta aos nossos olhos.

A palavra fenômeno costuma se associar ao extraordinário ou incomum. Não é à toa que a usamos aqui. Por vezes, dependendo da forma que olhamos, a natureza é vista como uma sucessão de milagres ou apenas a manutenção das leis básicas da física. A maneira como você interpreta é discutível, mas para entendê-la não há fuga: é preciso compreender o fundamental.

Os Fenômenos se apropriam de palavras comuns e expressões coloquiais para se definir e constituir: trabalho, momento, energia, coerência, discórdia... Em Física, tudo beira o incrível até se aceitar que é apenas o natural. Talvez seja essa apropriação peculiar de palavras e conceitos, juntamente com muita matemática laboriosa, que faz dessas disciplinas um material de tão difícil digestão.

Apenas para dar o ar de seriedade (e, talvez, dos problemas) das disciplinas de Fenômenos: Nos eletromagnéticos, a reprovação é de 49%, ou seja, efetivamente é como se, ao se matricular, você lançasse uma moeda e a face que surge aos seus olhos ditasse se seria aprovado ou não. Assustado? Eu espero que não. Porém, a UFABC em sua ânsia de formar os melhores, por vezes, usa a “técnica do rio para criar bons nadadores”: Você joga a criança no meio do rio, se ela sair: então, aprendeu a nadar.

Isso abre caminho para o aparecimento de alguns cavaleiros também (essa é a coluna do covil; portanto, a menção aos cavaleiros é quase obrigatória): Este tipo de cavaleiro não nasce do anseio de fazer o mal, mas da urgência de ensinar com rigor os fundamentos da ciência. Ao menos, essa é uma das classes de cavaleiros.  Portanto, a busca por excelência da UFABC é o que nutre o comportamento ‘cavaleriano’ de alguns.

Por fim, deixo meu conselho:  trabalhe com afinco e perseverança e os fenômenos serão fonte rica de conhecimento e, quem sabe, diversão. Tenha confiança, você verá que depois da Tempestade surge a Bonança (e isso nem foi um trocadilho rs). 


Dada a menção do 'trocadilho', aproveito este texto para falar do professor Marcus Bonança, que deixa a UFABC e continua a sua jornada agora na Unicamp. O Bonança é um professor bem conhecido de muitos alunos, funcionários e professores. Confesso que é um amigo que fará falta na UFABC por inúmeras razões, mas desejo que conquiste tudo o que necessita nesta nova etapa de sua carreira.