Está
semana ocorreu um evento muito especial na UFABC: a colação de grau. Não foi a
primeira de nossa Universidade, mas todas sempre tem algo de especial. Nesta, tínhamos os
primeiros engenheiros formados; ainda um número tímido: apenas três (biomédica,
informação e materiais). Porém, um claro
sinal que a UFABC começa a mostrar para que veio e a produzir os tão esperados
engenheiros de uma nova estirpe: cultivados no ambiente interdisciplinar do
Bacharelado em Ciência e Tecnologia e refinados através das engenharias, como
curso pós-BC&T, com um especial foco em inovação e flexibilidade.
Além
disso, na semana passada tivemos a participação de nossos estudantes no
ENADE. Opiniões diversas sobre a
validade destas provas, mas definitivamente serão mais dados para as estatística de
olhos externos sobre que tipo de estudantes estamos formando. Antes de mais nada, devemos congratular os
estudantes formados (e os muito próximos disso) que, mesmo com tantas
atribulações e limitações da infra-estrutura ainda em consolidação, conseguiram obter
todos os créditos e conhecimentos para se formar na UFABC. Suas
responsabilidades são imensas, eles carregam o nome de uma nova Universidade
com um novo Projeto e, lá fora, se espera que sejam um Novo Profissional. De qual
tipo? Bem, essa é a parte realmente difícil: cabe a cada um deles descobrir enfrentando
os desafios que o mundo os apresentará. Nunca foi dito que ser a quebra de um
paradigma seria uma missão fácil. Crescer em um mundo como este, não é para os fracos.
A
Universidade também precisa se repensar, já que é atualmente bem diferente do
modelo com o qual começou. Os pioneiros de 2006 tiveram muitos problemas e
dilemas a solucionar para direcionar a Universidade através das premissas
estipuladas por seus fundadores. O seu sucesso nos trouxe ao que somos hoje:
dois câmpus de muita infra-estrutura e concreto, mais de quatrocentos docentes,
um número que não sei estimar de funcionários, pelo menos cinco mil alunos já
matriculados e mais dois mil para 2012 (e muitos mais para entrar nos próximos anos). Mesmo que resolvidos muitos dos problemas desde 2006, agora temos toda uma série de novos problemas. A nova evolução fez com que
fossemos imunes a alguns problemas que tínhamos no início. Porém, nossas
mutações também nos fizeram sofrer de outras mazelas, as quais não podemos sanar apenas seguindo o que foi feito antes. Novas resoluções, algumas
drásticas, precisam ser tomadas para se
evitar problemas ainda maiores.
Crescer
não é fácil para ninguém, envolve pele esticando, ossos rangendo, por vezes,
cascas rachadas. Em um organismo como a Universidade, este crescimento consegue
ser ainda pior e mais descontrolado. Pois cada parte cresce como considera mais
adequado e o todo tenta se manter coeso. Para evitar ainda mais dor é preciso racionalizar
e tentar fazer este crescimento ocorrer de forma planejada. Temos recursos
limitados e, portanto, é preciso usá-los com parcimônia. O modelo artesanal de
se formar estudantes que parecia tão propício no inicio da Universidade, agora
se mostra dispendioso. Devemos aprender a fazer as coisas de forma mais
eficiente para que possamos fazer mais com os recursos que temos. Precisamos
garantir que os quase dois mil alunos que entrarão todos os anos tenham direito
a mesma formação interdisciplinar. Aluno da turma A precisa receber os mesmos
conhecimentos da B ou C e ter a mesma avaliação. Isto parece bem simples ao se dizer, mas não é tão fácil de se garantir. Para tanto, talvez,
seja necessário um sacrifico de certo nível de Liberdade em prol de uma maior
Justiça.
De
fato, os próprios conceitos de liberdade e flexibilidade tão reverenciados na Universidade,
bem como o projeto pedagógico, precisam ser melhor discutidos e, principalmente,
definidos seus significados (e limites) na prática (não peço mudanças, mas afirmo que uma melhor interpretação oficial da instituição é necessária). Por vezes, as pessoas
acreditam que só porque deram o nome a algo, já o compreendem perfeitamente.
Isto é uma grande falácia, conceitos são muito mais do que o simples nome que lhes
são dados ou um significado idealizado, completamente ausente de sentido real,
que alguns usam para reforçar os interesses de seu próprio discurso.
Atualmente,
sinto uma divisão crescente entre aqueles que se apegam as palavras dos
idealizadores (que realmente são belas e inspiradoras) e os que buscam dar um
sentido prático a elas. É bom lembrar que ideias apenas ditas sem qualquer planejamento
para o nosso dia a dia, nada mais são que um discurso vazio. É muito bom
sonhar, mas para construir algo é preciso estar bem acordado e de mãos ativas.
Os sonhos podem ser uma boa inspiração, mas não são o suficiente para definir
metas. É preciso ser realista, considerar todas as limitações no caminho e
criar uma imagem viável do sonho. Na ausência deste pragmatismo, tudo que se
consegue é ficar preso no limbo entre a decepção do sonho não alcançado e de
uma realidade nem mesmo criada.
Nossa
Universidade cresce de forma vertiginosa e não podemos apenas assistir a isso
mantendo maneiras artesanais de fazer as coisas ou “apagando pequenos incêndios
a cada vez que aparecem”. Precisamos amadurecer a nossa maneira de gerir
deveres e direitos e encontrar o equilíbrio que utilize nossos recursos
(técnicos e humanos) da forma que favoreça o melhor possível a todos:
discentes, funcionários e docentes.
Na
colação de grau do dia 10 de Novembro, tivemos algo como uma centena de
formandos. O que por si é um ótimo começo. Contudo, isto ainda é muito pouco comparado aos quase dois mil alunos (ou mais) que
entraram todo ano, fica claro que temos muito para otimizar e crescer. Acima de
tudo, devemos honrar o nosso maior compromisso com a Sociedade e oferecer todos os anos um grande número de profissionais com excelente formação
interdisciplinar e específica que supra as deficiências existentes atualmente
nos mais diferentes setores. Além disso, dentre estes estudantes devem surgir as lideranças que devem conduzir o nosso país a novos patamares de desenvolvimento científico,
tecnológico e social.
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