terça-feira, 15 de novembro de 2011

Crescer não é para fracos




Está semana ocorreu um evento muito especial na UFABC: a colação de grau. Não foi a primeira de nossa Universidade, mas todas sempre tem algo de especial. Nesta, tínhamos os primeiros engenheiros formados; ainda um número tímido: apenas três (biomédica, informação e materiais).  Porém, um claro sinal que a UFABC começa a mostrar para que veio e a produzir os tão esperados engenheiros de uma nova estirpe: cultivados no ambiente interdisciplinar do Bacharelado em Ciência e Tecnologia e refinados através das engenharias, como curso pós-BC&T, com um especial foco em inovação e flexibilidade.

Além disso, na semana passada tivemos a participação de nossos estudantes no ENADE.  Opiniões diversas sobre a validade destas provas, mas definitivamente serão mais dados para as estatística de olhos externos sobre que tipo de estudantes estamos formando.  Antes de mais nada, devemos congratular os estudantes formados (e os muito próximos disso) que, mesmo com tantas atribulações e limitações da infra-estrutura ainda em consolidação, conseguiram obter todos os créditos e conhecimentos para se formar na UFABC. Suas responsabilidades são imensas, eles carregam o nome de uma nova Universidade com um novo Projeto e, lá fora, se espera que sejam um Novo Profissional. De qual tipo? Bem, essa é a parte realmente difícil: cabe a cada um deles descobrir enfrentando os desafios que o mundo os apresentará. Nunca foi dito que ser a quebra de um paradigma seria uma missão fácil. Crescer em um mundo como este, não é para os fracos.

A Universidade também precisa se repensar, já que é atualmente bem diferente do modelo com o qual começou. Os pioneiros de 2006 tiveram muitos problemas e dilemas a solucionar para direcionar a Universidade através das premissas estipuladas por seus fundadores. O seu sucesso nos trouxe ao que somos hoje: dois câmpus de muita infra-estrutura e concreto, mais de quatrocentos docentes, um número que não sei estimar de funcionários, pelo menos cinco mil alunos já matriculados e mais dois mil para 2012 (e muitos mais para entrar nos próximos anos).  Mesmo que resolvidos muitos dos problemas desde 2006, agora temos toda uma série de novos problemas. A nova evolução fez com que fossemos imunes a alguns problemas que tínhamos no início. Porém, nossas mutações também nos fizeram sofrer de outras mazelas, as quais não podemos sanar apenas seguindo o que foi feito antes. Novas resoluções, algumas drásticas,  precisam ser tomadas para se evitar problemas ainda maiores.

Crescer não é fácil para ninguém, envolve pele esticando, ossos rangendo, por vezes, cascas rachadas. Em um organismo como a Universidade, este crescimento consegue ser ainda pior e mais descontrolado. Pois cada parte cresce como considera mais adequado e o todo tenta se manter coeso. Para evitar ainda mais dor é preciso racionalizar e tentar fazer este crescimento ocorrer de forma planejada. Temos recursos limitados e, portanto, é preciso usá-los com parcimônia. O modelo artesanal de se formar estudantes que parecia tão propício no inicio da Universidade, agora se mostra dispendioso. Devemos aprender a fazer as coisas de forma mais eficiente para que possamos fazer mais com os recursos que temos. Precisamos garantir que os quase dois mil alunos que entrarão todos os anos tenham direito a mesma formação interdisciplinar. Aluno da turma A precisa receber os mesmos conhecimentos da B ou C e ter a mesma avaliação. Isto parece bem simples ao se dizer, mas não é tão fácil de se garantir.  Para tanto, talvez, seja necessário um sacrifico de certo nível de Liberdade em prol de uma maior Justiça.

De fato, os próprios conceitos de liberdade e flexibilidade tão reverenciados na Universidade, bem como o projeto pedagógico, precisam ser melhor discutidos e, principalmente, definidos seus significados (e limites) na prática (não peço mudanças, mas afirmo que uma melhor interpretação oficial da instituição é necessária). Por vezes, as pessoas acreditam que só porque deram o nome a algo, já o compreendem perfeitamente. Isto é uma grande falácia, conceitos são muito mais do que o simples nome que lhes são dados ou um significado idealizado, completamente ausente de sentido real, que alguns usam para reforçar os interesses de seu próprio discurso.

Atualmente, sinto uma divisão crescente entre aqueles que se apegam as palavras dos idealizadores (que realmente são belas e inspiradoras) e os que buscam dar um sentido prático a elas. É bom lembrar que ideias apenas ditas sem qualquer planejamento para o nosso dia a dia, nada mais são que um discurso vazio. É muito bom sonhar, mas para construir algo é preciso estar bem acordado e de mãos ativas. Os sonhos podem ser uma boa inspiração, mas não são o suficiente para definir metas. É preciso ser realista, considerar todas as limitações no caminho e criar uma imagem viável do sonho. Na ausência deste pragmatismo, tudo que se consegue é ficar preso no limbo entre a decepção do sonho não alcançado e de uma realidade nem mesmo criada.  

Nossa Universidade cresce de forma vertiginosa e não podemos apenas assistir a isso mantendo maneiras artesanais de fazer as coisas ou “apagando pequenos incêndios a cada vez que aparecem”. Precisamos amadurecer a nossa maneira de gerir deveres e direitos e encontrar o equilíbrio que utilize nossos recursos (técnicos e humanos) da forma que favoreça o melhor possível a todos: discentes, funcionários e docentes.

Na colação de grau do dia 10 de Novembro, tivemos algo como uma centena de formandos. O que por si é um ótimo começo. Contudo, isto ainda é muito pouco comparado aos quase dois mil alunos (ou mais) que entraram todo ano, fica claro que temos muito para otimizar e crescer. Acima de tudo, devemos honrar o nosso maior compromisso com a Sociedade e  oferecer todos os anos um grande número de profissionais com excelente formação interdisciplinar e específica que supra as deficiências existentes atualmente nos mais diferentes setores. Além disso, dentre estes estudantes devem surgir as lideranças que devem conduzir o nosso país a novos patamares de desenvolvimento científico, tecnológico e social. 

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