domingo, 20 de novembro de 2011

Entre caminhos indistinguíveis ou coisa que o valha...



Sempre que leio algo sobre Feynman, lembro-me que ele considerava o fenômeno de interferência como o misterioso coração da Mecânica Quântica. A interferência fala sobre o que acontece quando uma partícula e/ou onda tem dois ou mais caminhos indistinguíveis para seguir. Sob tal situação, algo inusitado acontece: é como se tal ente físico percorresse ambos os caminhos ao mesmo tempo, dede que não haja realmente como distinguir entre eles. Estas partículas abusam de sua ‘liberdade de escolha’ e não optam por nenhum caminho em específico, apenas seguem por todos os possíveis e pronto.  Como Feynman afirmaria: um grande mistério!

Na vida moderna, nossas escolhas se reduzem ao clássico (no sentido de não quântico),  também temos muitos caminhos a escolher. Porém, eles nos parecem quase sempre bem traçados, mas nem por isso chegamos onde acreditávamos que deveríamos. Em geral, ir de A até B sempre é mais complicado do que imaginávamos... De certo modo, isso deve ser o coração misterioso de ser Humano. Diferente das partículas, temos uma consciência para sempre nos questionar: "Realmente por aqui que eu gostaria de ir?" , "Era mesmo essa paisagem que queria a minha volta?" ou "Se quisesse deixar este caminho, por onde seguiria?" Muitas perguntas, quase nenhuma com uma resposta satisfatória. Para nosso infortúnio (ou não), somos bem diferentes dos entes quânticos: A nós só é dado o direito de trilhar um caminho (de cada vez). Dito SIM para um caminho, você automaticamente diz NÃO para todos os outros. Apenas UM pode ser seguido. Então, está com inveja das partículas quânticas? Não fique, nem contei a história toda: a interferência sempre acaba entre algo destrutivo e construtivo (quase uma loteria). Sem falar de tantas outras implicações. Como você pode perceber, não necessariamente é uma boa coisa ser quântico.  

Pessoalmente, há dias que estou me sentindo confiante e caminho de cabeça erguida, olhos focados a minha frente, porque é o que acredito que eu quero. Outros dias, já não tão certo, olho para os lados e vejo se existe alguma trilha alternativa ou um retorno. Porém, continuo (quase sempre) no mesmo caminho, mais por medo de me perder por completo do que por não enxergar outros destinos possíveis. Também, há dias loucos em que não me importo com qual direção eu vou. Nestes dias, posso andar para qualquer lado, pois um caminho parece tão bom quanto qualquer outro. No fim, percebo que não fui a lugar algum... Apenas andando em círculos, pelo menos, nestes dias aprecio a vista a minha volta ;-)

Hoje foi um dia desses de não ir a lugar algum.  Cansei, sentei-me e, por fim, resolvi escrever no blog, esperando que a minha bússola inspiradora indique para onde devo ir. Infelizmente, para você que me lê, eu estava tão vazio de direção que não pude pensar em nenhum tema para o blog além dessa falta de caminho. Amanhã, sei que volto a minha marcha, pois sempre estamos nos movendo no tempo e espaço, mesmo que nem percebamos bem isso. Isso me lembra que, talvez, a única certeza na vida seja essa grande Dúvida. Porém, isso é tema para outro dia, outra conversa neste blog sobre o senhor Heisenberg e minhas Alusões Quânticas da Vida. 

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Crescer não é para fracos




Está semana ocorreu um evento muito especial na UFABC: a colação de grau. Não foi a primeira de nossa Universidade, mas todas sempre tem algo de especial. Nesta, tínhamos os primeiros engenheiros formados; ainda um número tímido: apenas três (biomédica, informação e materiais).  Porém, um claro sinal que a UFABC começa a mostrar para que veio e a produzir os tão esperados engenheiros de uma nova estirpe: cultivados no ambiente interdisciplinar do Bacharelado em Ciência e Tecnologia e refinados através das engenharias, como curso pós-BC&T, com um especial foco em inovação e flexibilidade.

Além disso, na semana passada tivemos a participação de nossos estudantes no ENADE.  Opiniões diversas sobre a validade destas provas, mas definitivamente serão mais dados para as estatística de olhos externos sobre que tipo de estudantes estamos formando.  Antes de mais nada, devemos congratular os estudantes formados (e os muito próximos disso) que, mesmo com tantas atribulações e limitações da infra-estrutura ainda em consolidação, conseguiram obter todos os créditos e conhecimentos para se formar na UFABC. Suas responsabilidades são imensas, eles carregam o nome de uma nova Universidade com um novo Projeto e, lá fora, se espera que sejam um Novo Profissional. De qual tipo? Bem, essa é a parte realmente difícil: cabe a cada um deles descobrir enfrentando os desafios que o mundo os apresentará. Nunca foi dito que ser a quebra de um paradigma seria uma missão fácil. Crescer em um mundo como este, não é para os fracos.

A Universidade também precisa se repensar, já que é atualmente bem diferente do modelo com o qual começou. Os pioneiros de 2006 tiveram muitos problemas e dilemas a solucionar para direcionar a Universidade através das premissas estipuladas por seus fundadores. O seu sucesso nos trouxe ao que somos hoje: dois câmpus de muita infra-estrutura e concreto, mais de quatrocentos docentes, um número que não sei estimar de funcionários, pelo menos cinco mil alunos já matriculados e mais dois mil para 2012 (e muitos mais para entrar nos próximos anos).  Mesmo que resolvidos muitos dos problemas desde 2006, agora temos toda uma série de novos problemas. A nova evolução fez com que fossemos imunes a alguns problemas que tínhamos no início. Porém, nossas mutações também nos fizeram sofrer de outras mazelas, as quais não podemos sanar apenas seguindo o que foi feito antes. Novas resoluções, algumas drásticas,  precisam ser tomadas para se evitar problemas ainda maiores.

Crescer não é fácil para ninguém, envolve pele esticando, ossos rangendo, por vezes, cascas rachadas. Em um organismo como a Universidade, este crescimento consegue ser ainda pior e mais descontrolado. Pois cada parte cresce como considera mais adequado e o todo tenta se manter coeso. Para evitar ainda mais dor é preciso racionalizar e tentar fazer este crescimento ocorrer de forma planejada. Temos recursos limitados e, portanto, é preciso usá-los com parcimônia. O modelo artesanal de se formar estudantes que parecia tão propício no inicio da Universidade, agora se mostra dispendioso. Devemos aprender a fazer as coisas de forma mais eficiente para que possamos fazer mais com os recursos que temos. Precisamos garantir que os quase dois mil alunos que entrarão todos os anos tenham direito a mesma formação interdisciplinar. Aluno da turma A precisa receber os mesmos conhecimentos da B ou C e ter a mesma avaliação. Isto parece bem simples ao se dizer, mas não é tão fácil de se garantir.  Para tanto, talvez, seja necessário um sacrifico de certo nível de Liberdade em prol de uma maior Justiça.

De fato, os próprios conceitos de liberdade e flexibilidade tão reverenciados na Universidade, bem como o projeto pedagógico, precisam ser melhor discutidos e, principalmente, definidos seus significados (e limites) na prática (não peço mudanças, mas afirmo que uma melhor interpretação oficial da instituição é necessária). Por vezes, as pessoas acreditam que só porque deram o nome a algo, já o compreendem perfeitamente. Isto é uma grande falácia, conceitos são muito mais do que o simples nome que lhes são dados ou um significado idealizado, completamente ausente de sentido real, que alguns usam para reforçar os interesses de seu próprio discurso.

Atualmente, sinto uma divisão crescente entre aqueles que se apegam as palavras dos idealizadores (que realmente são belas e inspiradoras) e os que buscam dar um sentido prático a elas. É bom lembrar que ideias apenas ditas sem qualquer planejamento para o nosso dia a dia, nada mais são que um discurso vazio. É muito bom sonhar, mas para construir algo é preciso estar bem acordado e de mãos ativas. Os sonhos podem ser uma boa inspiração, mas não são o suficiente para definir metas. É preciso ser realista, considerar todas as limitações no caminho e criar uma imagem viável do sonho. Na ausência deste pragmatismo, tudo que se consegue é ficar preso no limbo entre a decepção do sonho não alcançado e de uma realidade nem mesmo criada.  

Nossa Universidade cresce de forma vertiginosa e não podemos apenas assistir a isso mantendo maneiras artesanais de fazer as coisas ou “apagando pequenos incêndios a cada vez que aparecem”. Precisamos amadurecer a nossa maneira de gerir deveres e direitos e encontrar o equilíbrio que utilize nossos recursos (técnicos e humanos) da forma que favoreça o melhor possível a todos: discentes, funcionários e docentes.

Na colação de grau do dia 10 de Novembro, tivemos algo como uma centena de formandos. O que por si é um ótimo começo. Contudo, isto ainda é muito pouco comparado aos quase dois mil alunos (ou mais) que entraram todo ano, fica claro que temos muito para otimizar e crescer. Acima de tudo, devemos honrar o nosso maior compromisso com a Sociedade e  oferecer todos os anos um grande número de profissionais com excelente formação interdisciplinar e específica que supra as deficiências existentes atualmente nos mais diferentes setores. Além disso, dentre estes estudantes devem surgir as lideranças que devem conduzir o nosso país a novos patamares de desenvolvimento científico, tecnológico e social. 

domingo, 6 de novembro de 2011

Avaliar é descobrir onde estamos



Para saber por onde ir são necessárias duas informações básicas: onde se quer chegar e onde se está no momento.  Isso é muito simples, quando você pensa no seu trajeto de sua casa para o trabalho ou mesmo em busca de alguma diversão.  Contudo, a questão não é tão simples quando se pretende pensar os caminhos de uma grande instituição como a UFABC.

O ‘para onde ir’ comentei aqui antes está fortemente associado ao Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), quanto ao ‘onde estamos’ é sempre uma questão muito complicada que depende fortemente de a quem se pergunta.  A resposta deve surgir dos diversos órgãos e pró-reitorias que formam a UFABC, bem como dos docentes, funcionários e discentes. Obviamente, é difícil ouvir tantas vozes assim, principalmente quando muitas delas são tão contraditórias.  

Costumamos acreditar que estatísticas nos ajudam a ter uma melhor visão de qual o cenário de nossa Universidade. Por isso, o processo de avaliação, que ocorrerá de 7 a 21  de Novembro, é de suma importância ( http://migre.me/651x7 ). Desta vez, serão avaliadas as disciplinas do segundo quadrimestre de 2011 (assim os calouros tem a oportunidade de comentar o início de suas experiências universitárias) e também diversos aspectos dos Bacharelados Interdisciplinares (BI) e dos pós-BIs.  Momento oportuno para opinarmos sobre os caminhos que os diversos cursos estão seguindo e apontar algumas das falhas que, como instituição,  talvez nem tenhamos notado ainda. 

A avaliação, para muitos também pode soar como um momento de desforra, ainda mais com o ‘anonimato’ que o processo costuma requerer.  As pessoas se sentem mais livres e corajosas quando consideram que não podem ser repreendidas. Contudo, não devemos nos ausentar de nossa responsabilidade: escrever algo apenas por que não se gosta de fulano ou beltrano, em nada nos ajudará a corrigir nossos erros. Deve-se fazer uma analise crítica do papel de cada um e apresentar um panorama claro da situação da UFABC. De preferência, apresentar opiniões que possibilitem correções práticas para um aprimoramento de nossa Universidade.

O que quero dizer é que o anonimato pode ter suas características boas para apresentar uma opinião franca em uma avaliação conduzida pela Comissão Própria de Avaliação (CPA). Contudo, também tem um lado bastante negativo em muitas outras situações. Por exemplo, propagar informações e acusações através de e-mails anônimos nunca parece algo correto, independente da veracidade do que for relatado. Se, realmente, é verdade o que foi escrito por que se esconder atrás de algum codinome? Não vivemos em um mundo de heróis dos quadrinhos: em nosso mundo, quando heróis surgem, eles tem um rosto e um nome. Esconder-se atrás de uma máscara, mesmo que seja uma virtual, para dizer algo sempre deixará um ar de intriga e covardia que atenua em boa parte a validade do que for dito.  Afinal, quando se ouve da floresta alguém gritando ‘É o lobo, é o lobo’ com uma voz disfarça, quantos iriam ao seu socorro?

Por isso,  ao realizar este tipo de avaliação, é sempre bom avaliar também o grau de comprometimento de suas respostas: o que é respondido é algo para satisfazer a si mesmo (deixar um sentimento de ‘alma lavada’) ou realmente são fatos observados por você que possam ser utilizados para desenhar uma imagem clara de nossa Universidade. A avaliação é fundamental para nos apontar o que estamos fazendo de certo e de errado e, principalmente, onde é que devemos nos corrigir. Nem é preciso dizer que a participação de todos, discentes e docentes,  é imprescindível para que tenhamos estatísticas sólidas e bem fundamentadas. Acima de tudo, devemos ter em mente a busca em tornar a nossa UFABC mais próxima do que acreditamos que ela deveria ser.

domingo, 30 de outubro de 2011

Quantos Doutores são necessários para fazer um BC&T funcionar?

Uma sincera homenagem a piada da lâmpada



O terceiro quadrimestre deste ano já está bem encaminhado, o que nos dá tempo para pensar sobre o que virá para o próximo ano.  Na busca de uma melhor consolidação da UFABC,  há um esforço para definir a alocação da carga didática não apenas para o primeiro quadrimestre, mas para todo o próximo ano (e com sorte, definições que serão um padrão de 2012 em diante).  Pessoalmente, já considero isso um grande progresso que traz muitos benefícios, acima de tudo, se houver o comprometimento sincero por parte de todos. Obviamente, para tais definições fica evidente a pergunta: Quantos créditos um professor da UFABC deve lecionar por ano?

Poderia se pensar que isso é uma matemática simples: Número total de créditos divido pelo de docentes e temos o valor mágico. Nem é tão simples assim, é preciso levar em conta especializações dos professores, responsabilidades de cada centro, cargas dos Bacharelados Interdisciplinares, Cursos Pós-BIs, Programas de Pós-Graduação, trabalhos burocráticos, etc. Além disso tudo, que ainda sobre algum tempo para dedicar à pesquisa; afinal, se pretendemos ser uma entre as 100 melhores, não será através do recorde de maior número de créditos por professor que o conseguiremos.

A situação é complexa ao ponto de ter sido o foco de um Grupo de Trabalho (GT) [ Se quiser ver o relatório: http://migre.me/61E9m ].  Esperamos que a sugestões deste grupo nos leve a uma distribuição de créditos mais racional e compatível com uma Universidade que realmente deseja ser um novo paradigma em Ensino, Pesquisa e Extensão.  Por enquanto, tudo isso ainda são conversas em diversas esferas 'burocráticas' que em algum momento eclodirão como novas normas no boletim de serviço.

Atualmente, ouvimos pelos corredores números que vão de 16 a 28 créditos por ano. Pois é, uma barra de incerteza que parece mais um grande erro grosseiro. Obviamente, professores, nada felizes sobre isso, vociferam discussões por listas de e-mails e afins. Os pontos de vistas são os mais distintos possíveis, acho que a única coisa que todos concordam é que ninguém pode dar tantas aulas... Não pense que isto é a lei do menor esforço, mas sim o instinto de sobrevivência de pesquisador gritando: se não tivermos tempo de qualidade para a pesquisa, haverá um fracasso muito grande da proposta da UFABC e uma generalizada frustação dos professores. Nada pior do que pessoas frustradas fazendo algo que não queriam fazer, não acha?

As causas para tantos créditos são muitas: o crescente número de estudantes a cada ano (por pressões políticas) sem o crescimento proporcional de número de professores e infraestrutura adequada; o gigantesco número de matérias a serem oferecidas (muitas delas que sobrepõe conteúdo desnecessariamente, repetindo temas já abordados em outras disciplinas similares); oferecimento exagerado de vagas em diversas disciplinas que não refletem as reais necessidades da instituição para o dado quadrimestre; uma politica irresponsável de trancamentos por parte dos discentes que gera, ao fim de cada quadrimestre, um grande número de turmas quase vazias. Por fim, chegamos ao cenário de professores sobrecarregados e alunos desanimados. Se nenhuma atitude mais séria for tomada, a situação apenas seguirá por um vertiginoso caminho em direção ao caos.

Por isso, medidas de todos os lados estão sendo realizadas. Estudos sobre a real demanda de créditos por professor, novas regras sobre trancamentos e limite de créditos por discente, uma reestruturação dos horários de oferecimento das disciplinas.  Ainda precisamos de um estudo mais profundo das ementas e disciplinas na busca de um oferecimento mais racional e extinção daquelas que foram erroneamente criadas e já possuem equivalentes no catálogo da UFABC. Definitivamente, existe muito trabalho a ser realizado, mas é um esforço valido se trouxer uma estrutura mais coesa e coerente à nossa Universidade.

Uma questão curiosa sobre as discussões é que independente do assunto com o qual se começa, elas sempre passam pelo dilema “semestre versus quadrimestre”. Muitos acreditam que a mudança de regime de oferecimento para o semestral resolveria muitos de nossos problemas. Pessoalmente,  não vejo desta forma: Apenas me parece uma discussão sobre dividir a pizza em 4 ou 8 pedaços e com qual divisão nossa fome seria melhor saciada. Não entrarei no mérito dessa questão, principalmente porque sou razoavelmente indiferente e, talvez, alienado sobre ela. Não considero forte o argumento que deve ser semestral porque é assim que as outras são, do mesmo modo que acho fraco dizer que deve ser quadrimestral porque é assim que está no projeto pedagógico.

Porém, o que acho fundamental em todas as questões seja sobre número de créditos, ou quadrimestres, ou quaisquer outros assuntos que envolvem o futuro de nossa Universidade é uma ampla discussão envolvendo docentes, funcionários e discentes e que suas opiniões sejam realmente ouvidas.  Dos inúmeros e-mails que vi na discussão, alguns me pareceram bastante pertinentes, mas um em especial me chamou a atenção por ser um apelo num tom confessional e até, de certo modo, poético.  Estou tomando a liberdade de reproduzir um trecho aqui:

“Quando aqui entrei (...), pensava estar numa Universidade, mas creio que me enganei, acho que ingressei numa igreja em que dogmas são invioláveis e inquestionáveis. É triste constatar que estamos vivendo o ciclo dialético dos 3 Ds (Deslumbre, Desilusão e Desespero). Eu pessoalmente já vivo o segundo D, e pelo jeito no próximo ano, se nada mudar atinjo o terceiro.” 

Prefiro não citar nomes, mas considero uma lástima que estejamos criando um sistema na UFABC que gera este tipo de sentimento em um professor-pesquisador, que se esforçou para entrar em um concurso e depositou todas as esperanças de sua carreira em uma instituição que aparenta não levar em conta todos os seus esforços. Não podemos deixar que UFABCianos percam o que é mais importante neste trabalho: o COMPROMETIMENTO com a instituição. Não se pode permitir que esmaeça a busca em realizar um trabalho de excelência devido ao amargor de se sentir esquecido e/ou menosprezado pela instituição pela qual se dedica tanto.  

Eu sei que muitas medidas estão sendo tomadas, mas muitas outras são necessárias. É  preciso uma grande dose de bom senso e humildade para que façamos da UFABC a melhor Universidade que pudermos, mas sem exigir em troca o sacrifício e a morte de nossos espíritos inquietos de pesquisadores. Enquanto isso não acontece, nós vamos nos equilibrando como podemos a cada dia com criatividade e muito esforço (quase sempre mais do que seria necessário) para dar uma luz de esperança de que num futuro (espero que próximo) teremos a Universidade com a qual sonhamos no dia em que fomos aprovados em nossos concursos.

domingo, 23 de outubro de 2011

Questão de escolha



Para todos é vendida uma imagem dominante de que o essencial é fazer a diferença. Estamos aqui por algum motivo, não? É esperado que cada pessoa tenha seu talento, algo que o torne único (mesmo sendo um em sete bilhões...). Passamos nossa vida seguindo caminhos e decidindo sobre escolhas que fazem (ou deveriam fazer) de cada um de nós uma história única em cada nuance. Mesmo assim, sentimos que compartilhamos algo em comum com qualquer outro humano, chamamos isso de valores universais. Afinal, o que um homem sente, pensa ou valoriza é o seu universo, não?  Entretanto, eu imagino, com o receio que os "valores universais" nos tornem iguais demais definimos nossa fé: numa religião, numa posição politica, numa pátria, numa língua, numa escolha sexual, numa insígnia de alguma equipe de algum esporte. Defendemos, amamos e algumas vezes matamos (uns aos outros ou a nós mesmos) por essas coisas. Uma definitiva reafirmação de nossa individualidade! (Com boa dose de intolerância e estupidez generalizada, que também devem ser valores universais; ao menos, parece ser algo espalhado por toda parte...).
A cada nova escolha nos tornamos um pouco mais diferentes ou, talvez, nos tornamos mais e mais iguais ao que realmente somos. Complicado.... Sim, eu também acho complicado.... E, olha, que nem entrei na questão de livre arbitrio e/ou determinismo que tornaria isso tudo longo demais rsrs. Outro dia, ouvi que a liberdade é formada por dois fatores: escolha e controle. Precisamos acreditar que possuímos ambas para nos sentimos livres. Pense um pouco, isso até que faz sentido.
Acima de tudo, precisamos acreditar que temos o controle sobre nossas escolhas e também a esperança em ter algum controle sobre as consequências daquilo que decidimos. A grande angústia do processo de escolha é que elas nos limitam a enxergar apenas o mundo constituído por aquelas que foram feitas. Todas os outros caminhos que seriam possíveis são perdidos em algum lugar que nos parece inacessível. Engraçado, que este dilema também aparece, de certo modo, em ciência: mais especificamente em física quântica e a questão do colapso na medida... Não entrarei em detalhes técnicos sobre isso, mas tal questão impressionou tanto os cientistas que Hugh Everett surgiu com uma ideia curiosa que, se não teve tanto impacto na ciência em si, incitou muito a imaginação da ficção científica e da indústria dos filmes: a interpretação de muitos mundos (ou multiversos, se preferir).  Nesta interpretação não ocorreria o colapso da função de onda para estado medido, mas para cada uma das possibilidades surgiria um universo para cada um dos possíveis resultados. 
Ainda há físicos ‘simpatizantes’ da interpretação de muitos mundos e eles até a usam com algum sucesso para explicar fenômenos quânticos, até mesmo, a viabilidade de viagem no tempo. Para o dia-a-dia e o homem comum resta o fascínio por imaginar que todos os possíveis caminhos ocorrerem em sequencias infinitas de universos paralelos. Contudo, isto não possibilitaria o acesso a nenhum destes outros mundos ou o seu conhecimento; aparentemente, estamos fadados apenas ao nosso Universo e a contemplarmos apenas o mundo específico que criarmos com as escolhas que fazemos. O que, pessoalmente, já considero bastante responsabilidade e muito o que entender. E a cada escolha que fazemos vamos nos distanciando daqueles que éramos antes da escolha ser feita e nos fazemos únicos entre sete bilhões ou algo assim. 

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Sem tempo.


from: http://freelanceswitch.com/freelance-freedom/freelance-freedom-13

Em nossos dias, um dos fins apocalípticos mais populares dos filmes é o ataque de um vírus terrível (ou algo assim) que dissemine a praga Zombie por toda parte. Criaturas sedentas vagando com um único propósito: saciar sua fome. Tal mal se espalharia sem precedentes até levar a vida como conhecida ao derradeiro FIM. Todos concordam que estamos bem longe deste mundo comentado. Contudo, temos sinais claros de criaturas sem vida entre nós. Vagam também ativadas unicamente pelos sua fome extrema: quase sempre o trabalho. 

Os nossos dias passam em uma sequência aborrecida e preenchida por todo tipo de  atividades (poucas que realmente nos agradem). Vivemos num mundo de tarefas a cumprir, reuniões a comparecer e prazos, sempre muitos prazos a satisfazer…

Independente de quanta dedicação tenhamos a tudo o que façamos: sempre estamos em falta. Sentimos culpa por não dedicar o tempo necessário a nossa família, aos estudos, às nossas paixões. Nem mesmo para nós mesmos permitimos a reserva de algum tempo. Temos prioridades e urgências. Tudo urge a nossa volta e acanhados de falhar em nossas tarefas acolhemos passivos a nossa sagrada agenda. Temos tantas obrigações com tantas pessoas e tudo a nossa volta, que é impossível não estar em falta com algum deles. Simplesmente, não há tempo suficiente.

Da criança que fomos, apenas a lembrança de que o dia era a oportunidade para nos deliciarmos com o que havia para descobrir. Além disso, só ficou mesmo o rastro do Coelho de Alice e seu mantra obsessivo: ‘Estou atrasado, estou atrasado, estou atrasado'.

Em todos as áreas da vida a pressa torna-se a regra básica. Por exemplo, no trânsito (templo supremo da impaciência) até as cores do semáforo ganham novos tons: Verde: ‘Ainda bem, não posso parar’; Vermelho: ‘por que não anda logo?’ e o Amarelo: ‘Acelera, acelera antes que fique encarnado’.  Dos hábitos alimentares, um tipo de comida daquelas famosas lanchonetes torna-se o nosso guia espiritual. Agora, Tudo é FAST! Que seja o FastFood, o FastSleep, o FastFun, o FastLove… Só nos resta um FastLive!

Uma grande pena, me disseram que há um lindo mundo aí fora para se ver, se você tiver tempo para apreciá-lo. Talvez, ainda não estejamos cercados pelos Walking Deads. Todavia, amargamos um fim ainda mais melancólico e lacônico: estamos todos nos tornando Running Liveless.

domingo, 9 de outubro de 2011

Para Iluminar novos caminhos




“All Science is either physics or stamp collecting.”  Estas foram palavras do grande cientista do século passado, Ernest Rutheford, que demonstravam graciosamente sua típica arrogância de Físico e também uma mente, que apesar de visionária, ainda se fazia fortemente arraigada em seu tempo. Ironicamente, o descobridor do núcleo atômico foi agraciado com o prêmio Nobel de Química. Ele mesmo sorriu com a piada de ser transmutado em Químico pelas suas contribuições em Física (ou melhor, o que ele queria entender como Física). Talvez, essa tenha sido uma nada sutil demonstração, ao nobre laureado, que a Natureza não gosta de ser fragmentada e colocada nestes compartimentos que insistimos tanto: Ciências Naturais e Não-Naturais (aquelas que ainda não conseguimos domar e eternizar em nossos livros textos).

Quando se fala de ciências, o velho provérbio romano: ‘Dividir para conquistar’ não traz tanta força ao conquistador, mas o cega na busca de compreender a Natureza. Quando se fala de Universo, o Todo é muito mais do que a simples soma de suas partes. Em nosso tempo, vivemos uma nova pretensão de valorizar a interface e a interação das diferentes ciências mais que as ciências ditas ‘tradicionais' em si.  De fato, vivemos um tempo ainda indeciso de muitas versões (algumas até distorcidas) das multi-, inter-, trans- e outros prefixos para as disciplinaridades. Muito se diz sobre um jeito novo de fazer ciência com menos preconceito e mais diálogo entre as suas diferentes ‘abordagens’. Contudo, fica o alerta de que é preciso mais que um discurso bonito para agradar agências de formento e fazer políticos vencerem eleições. Precisamos de uma atitude coerente e ações eficazes para nos levar a uma real implementação desse modo de executar ciência.

Obviamente, este é apenas um preâmbulo para falar de meu local de trabalho, a UFABC, uma  universidade do século XXI, que desde seus momentos iniciais foi moldada para ser diferente e interdisciplinar (ou um outro daqueles prefixos acima citados que mais te agrade). Todos que entram na UFABC são convidados a apreciar este jeito ainda não comum (mas tão exaustivamente panfletado por nós) de fazer o ensino, a pesquisa e a extensão. Para nos manter fiéis a esta proposta ousada, nós temos o nosso Projeto Pedagógico (PP), que imbuído do ‘espírito de uma nova ciência’ tenta nos nortear. Este texto de vital importância e sempre tão citado quando se considera que alguém quer ‘Matar o Projeto Pedagógico’ possui inúmeras interpretações e cisões internas de como deveria ser seguido. Gosto de pensar em nosso PP como um daqueles Faróis, cuja função primordial é permitir que se tenha uma melhor visão dos caminhos e perigos das turbulentas águas em que se navega. Todavia, o caminho exato que o navio traça será sempre decisão daqueles que estão a bordo e não do que os ilumina.

Neste ponto, vivemos um momento de suma importância: a definição de nosso Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), que não apresenta apenas o ‘espirito’ da Universidade, mas define o plano, linha a linha, a ser executado para alcançar o que desejamos ser daqui a 10 anos. Se o projeto pedagógico é um Farol, o nosso PDI é a Carta de Navegação que explicita exatamente a rota a se seguir. Participar da elaboração de tal documento é um grande privilégio e, ao mesmo tempo, uma grande responsabilidade. 


Por meio do PDI é que garantiremos que não seremos desviados e atraídos para uma inexorável ‘tradicionalização’ de nossos Centros, mas permaneceremos na trilha por uma Nova Universidade que alcançará este estilo único de formar bons profissionais e, quem sabe, também melhores humanos. Ainda dentro de nossas analogias luminosas, comparo o PDI aos faróis de um carro quando se dirige a noite: com certeza, não nos mostra todo o caminho que precisamos seguir; porém, com o pouco que vemos da  estrada, já temos o suficiente para nos levar em segurança, mesmo nos trechos mais obscuros, ao nosso desejado destino: a Excelência Universitária consolidada no trabalho duro e visão de muitos.