terça-feira, 29 de maio de 2012

Expectativas




Na semana passada, um post meu sobre a UFABC gerou certa polêmica. De fato, não meu post especificamente, minhas palavras não eram quase nada polêmicas: apenas minhas impressões sobre a Unificação das Disciplinas.  O centro da polêmica foi o comentário de um ex-estudante da UFABC. De certo modo, um depoimento bem escrito de alguém que não encontrou o que buscava na UFABC e uma declaração de ter ficado bem melhor ao desistir desta Universidade e ingressar em uma Particular, cujo nome não foi citado.  Pessoalmente, eu me sinto feliz por este ex-estudante, nem sempre é fácil se encontrar verdadeiramente ou se sentir satisfeito com aquilo que se possui. Contudo, não creio que se possa considerar que a UFABC seja a culpada de sua experiência não bem sucedida.

Este depoimento me fez refletir sobre Expectativas, ainda mais em uma semana de reinício de aulas e a recepção dos ingressantes.  A UFABC recebe mais de 1500 alunos em seus cursos de BC&T e BC&H, cada um desses carrega uma visão prévia do que espera ser a sua nova vida acadêmica, social e pessoal devido a sua entrada em nossa Universidade. O que será que buscam estes alunos: informação, conhecimento, sabedoria, camaradagem, festas, eventos sociais, diversão? Obter uma formação para segurança financeira ou realização pessoal ou, talvez, algo mais etéreo como Felicidade?

Apesar de não parecer ser um assunto correlato, R. Feynmam depois de refletir sobre o porquê de sentirmos que a Física Quântica é tão estranha diante de nossa percepção clássica (convencional) da realidade, cunhou uma frase que considero brilhante: “A ‘estranheza’ é apenas o conflito entre a realidade e nosso pensamento do que a realidade deveria ser.” Acredito que uma grande parte de nossas frustrações, em especial em relação a nossas vidas acadêmicas, está associada a essa persistência que temos em “exigir que a realidade seja da forma que desejamos”.

Assim, um bom exercício a ser feito é o de observar o que está a nossa volta e aproveitar a realidade em que estamos imersos, sem tanto anseio que seja exatamente como gostaríamos. Não deveríamos menosprezar o prazer que as surpresas da vida podem nos trazer. Sempre tentamos controlar a situação e forçar a “vida” a seguir designos que impomos por meio de nossas agendas e planos elaborados. Grande engano imaginar que “ela” aceitaria isso tão passivamente. Ao interagir com o que há a nossa volta, no mínimo, somos tão modificados quanto modificamos.  Talvez, esta seja mais uma das minhas Alusões Quânticas da Vida (A.Q.V.) que o “observador (controlador) é apenas ilusoriamente separado daquilo que observa (controla) – as interações são inevitáveis e quase sempre levam a resultados inesperados"; não porque sejam bizarros ou algo assim, mas apenas porque raramente refletimos sobre o que de fato a realidade é, costumamos preferir nos acomodar com a imagem de como gostaríamos que ela fosse.

Nesta semana, o segundo quadrimestre da UFABC se iniciou, mesmo sob o fantasma de uma possível parada iminente devido a uma provável greve. Entramos em sala de aula, alunos e professores, com grandes expectativas, talvez, alguns de nós tão frustrados como aquele aluno do comentário estava, antes de se impor uma mudança de realidade.  Sinceramente, espero e desejo que essa não seja a nossa verdade, que iniciemos um bom quadrimestre e possamos encarar a realidade que esta a nossa volta, em especial, que possamos aceitar as modificações que nossas realidades nos impõem e possibilitam. Afinal de contas, em geral, nós temos apenas aquilo que merecemos. 





domingo, 20 de maio de 2012

Ostras e Pérolas


Em memória da minha Vó  Tilia 


Conta-se que as pessoas de uma pequena ilha se especializaram na arte de produzir as mais belas pérolas que já se viu. Os homens e mulheres encarregados de tal tarefa eram conhecidos como os Cultivadores de Ostras. Tal atividade necessitava de uma grande disciplina e paciência, ainda mais sabendo que produzir pérolas dependia mais da boa vontade das ostras do que do serviço de homens ou mulheres.

Os cultivadores procuravam regiões de enseada de sua pequena ilha com o mar calmo e ondas mansas e colecionavam as ostras em longas fileiras presas em região rasa, na qual as ostras poderiam obter seu alimento facilmente. Contudo, o segredo das mais belas pérolas residia na arte de impor um ‘tormento’ que incomodasse muito a ostra, mas não causasse dano ao ponto de levá-la a morte. O cultivador separava pequenas pedras irregulares e, delicadamente, abria cada ostra e lá depositava o pequeno infortúnio sobre a carne macia. Após a ostra fechar, o cultivador esperava que esta resolvesse seu incomodo da maneira que elas costumam lidar com seus problemas: madrepérola.

Para livrar-se da dor e da irritabilidade daquela pedra ferindo seu âmago,  a ostra produzia madrepérola e devagar, mas constantemente, ia recobrindo a pedra que nela foi inserida. Camada a camada, a ostra torna aquele incomodo em uma esfera (quase sempre perfeita) que era o objetivo e ambição dos cultivadores. Enquanto o trabalho era feito pela ostra, cabia aos homens esperarem os tempos que a natureza impõe aos seus processos.

Aquela comunidade da pequena ilha não apenas vivia do trabalho com as ostras, mas também aprendia com elas. Assim, os sábios cultivadores ensinavam aos  mais afoitos e jovens que o cultivar está na arte de escolher as pedras na medida certa que a ostra possa suportar e resistir. Aqueles que cultivam a paciência e a superação diante dos mais persistentes incômodos (infortúnios), por fim, podem ser laureados com as mais belas pérolas. 

sábado, 19 de maio de 2012

Unir e Ficar




Depois de um longo período de ausência no meu blog devido às urgências de um quadrimestre atarefado e às boas surpresas da vida, estou de volta ao meu hábito de relatar e descrever minhas vivências.  Como não posso resistir, vou comentar de algumas impressões sobre minha adorável Universidade em Consolidação: UFABC.

Aqueles que acompanham meu blog, bem sabem que sou de um grupo de inquietos que tenta entender em termos práticos o que é ser UFABC e como fazer para que ela funcione.  No primeiro quadrimestre deste ano, eu tive a oportunidade de ser o coordenador de laboratório de Fenômenos Térmicos (eu havia sido o coordenador de F. Mecânicos no anterior). Aceitei esta responsabilidade pela oportunidade de auxiliar na Unificação  da Disciplina: Um grande número de professores cumprindo a mesma ementa e aplicando as mesmas provas (a parte teórica e a prática do curso compartilharam das mesmas avaliações , que eram corrigidas por um grupo de professores (um mesmo critério para todas as provas independente do professor da turma). Todo esse esforço em prol de obter uma maior homogeneidade e, segundo o que acreditamos, mais justiça para os 1400 alunos matriculados no curso.

Um dos primeiros sinais positivos da Unificação foi um baixo nível de trancamentos nas turmas, em especial, naquelas em que as aulas eram ministradas pelos professores considerados “difíceis” (no jargão UFABCeano: Cavaleiros do Apocalipse).  Outro fator, foi observar a anuência de muitos professores que também acreditaram na unificação e, até mesmo, a minoria que discordava (por suas questões pessoais) aceitou trabalhar neste esquema num belo exemplo de trabalho de equipe e senso de democracia.

Obviamente, nem tudo foi um mar de rosas, ou melhor, talvez até tenha sido, o problema é que sempre esquecemos que as rosas carregam além da beleza e aroma, muitos espinhos com os quais temos que lidar. Tivemos problemas durante o processo de Unificação. Sabemos que em alguns aspectos que não foi como esperado e fizemos o possível para que nossos erros não afetassem os alunos. Temos a humildade de admitir nossos erros, e a  perspicácia para aprender com eles: sabemos muito bem no que precisaremos sermos melhores e como faremos nos próximos quadrimestres. Obviamente, todo sistema em implementação sobre de algumas falhas operacionais. É muito difícil prever todas os possíveis problemas que podem acontecer, ainda mais em uma Universidade que o ser diferente é a norma do convencional .

Pessoalmente, acredito que a experiência foi boa e precisa ser repetida, o saldo final da unificação foi positivo e acho que este sistema foi apreciado por muitos. Contudo, ninguém precisa acreditar em minhas palavras,  geramos muitos dados, incluindo avaliações feitas pelos alunos e professores envolvidos, que estão sendo compilados e serão apresentados à comunidade da UFABC para que a decisão pela Unificação das Disciplinas seja tomada não motivada por “achismos” ou “ideologias pessoais” (como as minhas rsrs),  mas por uma reflexão conjunta de todos na busca de um sistema, que além de ser eficiente em termos práticos, esteja sempre fundamentado na busca pela Excelência na formação de nossos estudantes. 

domingo, 11 de março de 2012

Um Cordel da Física


Sempre gostei de Literatura de Cordel, seu ritmo, sua criatividade... Muitas histórias de homens espertos que desafiam e superam desafios. A algum tempo atrás, escrevi este aqui, que é uma certa homenagem a um grande cientista e pensador. Porém, não havia surgido uma oportunidade adequada para 'divulgar'. Não sei se ainda é atual, mas na falta de texto melhor para hoje, mando este e espero que os leitores deste blog apreciem. 

Einstein que a luz domou e a ele 
(quase provavelmente) ninguém superou.


Vou contar para vocês a história de um caboclo pensador
Uma criatura com cérebro de aço
Que até domou as curvas do espaço
Fez o tempo ser seu seguidor
Einstein era seu nome 
E confundiu os miolos de muito homem
Com suas ideias avançadas
Para além das ciências que eram, até então, domadas
Esse homem viu que tudo era relativo
E assombrou mesmo o cidadão mais altivo
Disse que luz é a coisa mais rápida
E nada mais rápido que luz pode correr
Nem os potros mais arredios
Nem os trens mais esbaforidos
Nem o saber da informação
Mais rápido que a luz  se vão.

Muitos tentaram a Einstein contradizer
Com seus aparatos experimentais incrementados
Cuspindo neutrinos endiabrados
Recusavam-se ao limite da velocidade da luz reconhecer
Muita discussões e complicados falatórios
Nos jornais, tvs, internet e laboratórios 
Mas um mal contato de um cabo foi o vilão
Da quase superluminal descoberta que se perdeu em vão.

Lá do céu, Einstein, juntinho de Deus
Ria daqueles que a Relatividade tentaram desafiar
Só uma tristeza em seu coração ardeu
Deus, brincalhão, toda a eternidade aos 'Dados jogar'
Desculpe-me, Sr. Einstein, mas sobre a Mecânica Quântica
Não deu para o senhor como sempre acertar
As probabilidades de tudo é com o que o Universo fica
Assim, o provável e o aleatório estão a nossa volta a reinar

Mesmo assim, lá vai o caboclo pensador, domando os céus montado num raio de luz,
Dobrando espaços e buscando a TEORIA DE TUDO que a muitos seduz.


domingo, 4 de março de 2012

Quanto dura um BC&T.



Uma das perguntas mais comuns dos ingressantes de qualquer Universidade é ‘Quanto tempo realmente se leva para terminar o curso?’ Algo bem natural, uma vez que cada curso tem uma duração bem definida nos manuais entregues aos estudantes, mas que nem sempre corresponde a realidade. O fato de ter conseguido ser aceito em uma Universidade não garante que você a deixará no tempo sugerido com um diploma. A evasão é uma questão ainda muito séria em qualquer Universidade e bem crítica para  a nossa UFABC, que ainda é uma Universidade em consolidação.  Entretanto, mesmo para os alunos que não desistem, o ‘fim da graduação’ pode se mostrar muito mais distante do que se imaginaria no começo do curso.

A UFABC tem apresentados grandes avanços se considerarmos que ainda é uma Universidade tão jovem. Tivemos muitos alunos formados no BC&T e alguns em quase todos os outros cursos pós-BC&T (bacharelados, licenciaturas e engenharias). Se considerarmos que o curso de engenharia deveria durar 5 anos, e a universidade tem apenas um pouco mais que isso, nem parece tão ruim. Contudo, os números ainda são muito baixos comparados com a quantidade de alunos que ingressam todos os anos. Considerando uma matemática bem simplista, se ingressam 1500 alunos por ano no BC&T, deveria  ser esperado que uns 1000 alunos concluíssem o curso todo ano (usei uma extrapolação simples de uma distribuição gaussiana...). Não tenho os números exatos de quanto estamos formando, mas com certeza deve ser algo bem mais baixo que isso.  Um número baixo de alunos formados no tempo ideal também afeta o orçamento que é recebido pela Universidade, ou seja, até mesmo para uma manutenção sadia e obter um montante justo de recursos devemos apresentar números reais que nossos alunos possam cumprir. Existem diversas questões para se considerar sobre um tempo mais longo na formação dos estudantes da UFABC. Entretanto, uma primeira questão a ser colocada é definimos as durações dos cursos em números factíveis, quero dizer, será que dizer que um aluno deve se formar no BC&T em 3 anos é uma expectativa viável? Do mesmo modo, será que uma aluno que só pode cursar suas disciplinas no noturno pode realmente se formar em uma engenharia em 5 anos? 

Da maneira como as grades são montadas na UFABC, alunos do diurno e noturno não possuem qualquer distinção em relação a demanda de créditos sugerida por quadrimestre. Alunos do diurno e noturno possuem habilidades similares, porém suas vivencias da universidade costumam ser bem diferentes e, assim, também deveriam ser as exigências em relação ao ritmo de seu curso. Considere um aluno do noturno que trabalhe de segundas as sextas das 7:00hs às 17:00hs.  Na UFABC, este aluno deverá estudar de segunda a sexta das 19:00hs às 23:00hs e aos sábados. Se este estudante conseguir fechar uma grade completa, ele poderia cursar 28 créditos em um quadrimestre. Contudo,  este aluno estaria sobrecarregado  e teria apenas o domingo livre para estudar todas as matérias que estaria cursando e para assuntos de sua vida pessoal, quem sabe algum descanso. Não se pode esperar que os alunos tenham um bom desempenho com uma carga horária dessas. A maioria das outras universidades possuem grades distintas e tempos de formação mais longos para  os estudantes do noturno, devido a sua óbvia limitação de tempo. 

Creio que a UFABC deve examinar com cuidado as grades de horários sugeridas, bem como evitar otimismos não realistas.  Não se deve estipular missões inviáveis a maioria dos estudantes e esperar que eles se desdobrem em soluções distorcidas para cumprir estas missões. Para os alunos é bastante frustrante sentirem que estão atrasados em sua formação e, muitas vezes, uma ação desesperada para ‘ficar em dia’ é um aumento ainda maior da carga quadrimestral, que para muitos pode levar a fracassos e ainda maiores atrasos que podem chegar a um efeito avalanche nada bom para o estudante. 

Além dos problemas que qualquer Universidade enfrenta, a UFABC possui outros aspectos que afetam bastante esta conta para se pensar em ‘conclusão de curso’. Um deles é que um aluno da UFABC pode fazer até 4 cursos ao mesmo tempo (um BI e mais 3 pós-BI) e cursar tantas matérias quanto queira de quaisquer outros cursos. Isso complica bastante a 'contabilização' de quanto um aluno cumpriu de seus cursos e quão próximo está da conclusão. Além disso, existe a ausência de pré-requisito que, em um primeiro momento,  parece ser um fator para acelerar a formação dos estudantes. Afinal, ele não precisaria ter feito uma matéria X para fazer uma Y. Contudo, em realidade, uma matéria Y realmente depende do conhecimento da X e, assim, o aluno pode ser reprovado na matéria Y (por ausência do conhecimento que já deveria dominar) ou, mesmo que passe, a ausência daquele conhecimento pode afetar mais gravemente a formação do estudante em disciplinas futuras e até mesmo atrapalhar fortemente o seu avanço no curso.  Por exemplo, um aluno que não domine as ferramentas básicas do cálculo com certeza terá problemas recorrentes ao realizar as diversas disciplinas de um curso em engenharia.

Não acredito que toda essa Liberdade da UFABC precise ser podada de qualquer forma, se for garantido  ao estudante o conhecimento claro das opções das disciplinas (atenção especial às sugestões apresentadas nas ementas) e exigida responsabilidade pelas escolhas feitas. Acima de tudo, o aluno deve ter plena consciência das consequências de cada decisão tomada.  A UFABC oferece liberdade de escolha, mas o  estudante deve saber que ao usar essa liberdade, ele poderá tornar seu curso ainda mais longo.  Quando se diz que o BC&T tem duração de 3 anos, isso quer dizer apenas que um aluno que seguir a grade como oferecida, sem desvios e reprovações, conseguirá cumprir todos os créditos neste período com alguma folga. Contudo, o aluno pode optar por experimentar mais e tentar outros caminhos e tais desvios tomarão tempo.  As decisões não são simples, um BC&T mais longo não é necessariamente ruim, da mesma forma que, por vezes, caminhos mais longos podem ser bem mais instrutivos e proveitosos que cortar por atalhos.  Sartre cunhou a expressão “estamos todos condenados a liberdade”,  isto deveria ser bem evidente aos alunos da UFABC, que se defrontam com as escolhas de que formação terão quase todos os dias. Acima de tudo, adquirir a responsabilidade para lidar com a própria liberdade pode ser bem difícil, mas não adquirir tal responsabilidade pode levar a um resultado ainda pior: um desperdício muito maior de seu tão valioso tempo.





domingo, 26 de fevereiro de 2012

Dr. Heisenberg nos conduzindo por caminhos incertos.




O jovem Heisenberg, na maturidade de seus vinte e poucos, sempre buscou encontrar as certezas por trás das leis da natureza. Doce ironia, um de seus maiores feitos foi enunciar o principio da incerteza, que consiste da afirmação que não se pode medir duas grandezas físicas não comutáveis, simultaneamente, com precisão absoluta. Tal conceito trouxe ainda mais estranheza àquela teoria que já deixava muitos cientistas perplexos e desconfortáveis. Imagino o jovem Dr. Heisenberg questionando se aquilo que surgia de sua compreensão da natureza do átomo poderia mesmo corresponder a realidade.  Quase sempre, temos receio de aceitar as mudanças bruscas e o fato de encontrarmos em um instante algo que, apesar de não sabermos bem como, irá modificar total e profundamente a forma de vermos o mundo a nossa volta.

Dr. Heisenberg permitiu-se confiar em sua intuição arraigada no trabalho duro de seus cálculo e propagou assim o conceito de seu princípio da incerteza.  Definitivamente, não deve ter sido fácil convencer uma comunidade receosa a aceitar  todas as implicações de sua simples equação. A importância de tal pedra fundamental no templo da Mecânica Quântica é difícil de mensurar e, mesmo hoje após 85 anos, ainda choca os jovens estudantes em seus cursos básicos de quântica e se incorpora de modo fundamental a todos os nossos avanços tecnológicos.

Pessoalmente, não considero o principio da incerteza tão contra-intuitivo.  Ele nos mostra que sempre há um preço a ser pago pelo conhecimento que se adquire.  Se você buscar saber absolutamente tudo sobre um certo ente físico, isso implicará na total ignorância sobre o “ente conjugado” ao primeiro.  Novamente, surge a questão da escolha (esta sim sempre me deixou confuso): cabe aquele que mede a decisão do que de fato ele extrairá da velada natureza do universo, pois ele tem o direito de desmascará-la apenas parcialmente, o que ele obtiver é tudo o que poderá chamar de sua realidade. O resto fica escondido no universo das inúmeras possibilidades: os domínios de todas as escolhas que não foram feitas.

Creio que este texto parecerá confuso e de linguagem meio frouxa, mas o próprio Dr. Heisenberg  concluiu que um dos nossos grandes problemas sobre a mecânica quântica (neste caso, física dos átomos) era que a linguagem era incapaz de alcançar os verdadeiros significados por trás dos conceitos. Palavras são rasas demais para conter toda a profundidade do que cada elemento da quântica possui; acabamos sempre nos expressando de modo tacanho e limitado. Problema com o qual ainda precisamos aprender a lidar. Talvez criar uma nova linguagem? Quem sabe... A quântica é a mais intima de todas as poesias da natureza; portanto, precisamos aprender a declamá-la corretamente para adquirirmos o direito de liberar toda a sua essência. 

Você pode me pergunta qual a moral dessa história. Sinceramente, não saberia dizer. Contudo, tudo que posso afirmar é que muitas histórias não tem realmente uma moral explicita a nos ser entregue. No mundo das verdades, tudo que estas histórias podem nos oferecer são realidades a serem reveladas. Assim, Dr. Heisenberg nos conduz por intricados caminhos que se não garantem certezas, ao menos, nos trazem a esperança de alcançar alguma verdade que mostre o que há de autêntico no que sabemos sobre a natureza.


domingo, 19 de fevereiro de 2012

A liberdade tem seu tempo.





Quando somos crianças, nossa liberdade é a mínima possível. Qualquer decisão sobre nossas vidas é feitas por nossos pais (ou responsáveis). A medida que crescemos e adquirimos consciência e responsabilidade sobre nossos atos, temos a nossa liberdade aumentada. Por este exemplo simples, fica claro que liberdade é um privilégio conquistado através do mérito de nossas ações e da responsabilidade que mostramos ao fazermos nossas escolhas.

Na UFABC, acredito que há uma grande distorção por todos, docentes e discentes, no que liberdade (pregada no projeto pedagógico) significa. Para muitos parece que liberdade significa “Faço e que quero, como quero e ninguém tem o direito de me dizer o contrário”.   Sinceramente, para mim a liberdade é algo como “Tenho o direito de fazer minhas escolhas e devo fazê-las com responsabilidade, pois eu e todos a minha volta terão de arcar com todas as consequências do que eu fizer”.

Nesta semana, passaram algumas resoluções polêmicas na Comissão de Graduação, uma resolução declara que apenas alunos com CR maior que 2,0 poderão se inscrever em monitoria acadêmica. Outra resolução cria uma fórmula [ C = 16+ 5*CR, se CR< 3,0 ] que limita o número máximo de créditos que um aluno pode se matricular. Não vou discutir se há justiça nestas normas, não ainda. Neste texto, quero apenas apresentar para que cenário de Universidade isto nos leva.

A cada dia fica mais claro que a UFABC institui um regime de ‘CRcracia’, ou seja, o CR do aluno que comanda quais são seus privilégios, direitos e deveres. Alunos com CR menor que 2 são cortados de basicamente qualquer processo para bolsas de estudos (de mérito acadêmico), requisitar netbooks, etc. Alunos com CR maior que 3 tem direitos plenos e não precisarão cumprir qualquer limite de créditos, ou seja, a universidade considera que estes alunos tem a responsabilidade necessária para exercer a liberdade sem limites. Quanto aos outros, restrições são feitas com uma promessa simples: se eles alcançarem CR > 3, também poderão ter acesso ilimitado a tal liberdade. Podemos dizer que "grandes CRs trazem maiores liberdades". 
   
O grande problema de um sistema tão fortemente baseado em CR é que distorções em seu cálculo causam graves erros de julgamento e, consequentemente, injustiças para com os alunos. Professores com sistemas de avaliação abusivos podem trazer um grande desequilíbrio, por isso a Universidade precisa ‘reeducar’ seus professores sobre os métodos de avaliação, incluindo o que consideramos adequados como conceitos. Afinal, nem mesmo o valor de um 'D' nós bem sabemos e cada um pratica sua própria tabela de valores.  Por outro lado, medidas mais severas quanto a praticas de plágio e ‘cola’ devem ser tomadas. Um aluno que age de forma ilícita pode ficar com uma nota melhor que um aluno que realmente se esforçou e isto é uma grande injustiça. É preciso um código de ética que puna severamente aqueles que agem de má fé. Acho que a Universidade é muito branda e até omissa em relação a isso: Um aluno que fosse pego colando em uma prova, deveria ser reprovado na disciplina. Caso o aluno fosse reincidente nesta prática, deveria ser instaurada uma comissão que julgaria medidas tais como ‘jubilação’ para tal aluno. Afinal, o projeto pedagógico também prega que o aluno seja responsável pela sua formação e a faça de forma correta, sem subterfúgios ou práticas ilegais. 

Nas próximas semanas, ainda se falará muito sobre todas estas resoluções. A grande maioria dos alunos simplesmente se sente injustiçado e justifica o erro de tal medida citando o caso de um ou outro. Desculpe-me, mas as regras são feitas para serem validas para mais de 5000 alunos. Um caso que é uma exceção não pode nortear como são criadas as regras.  De nada adianta vociferar que algo é ruim se você não é capaz de propor algo melhor. Se um aluno ou professor aparecesse com um norma que contemplasse a solução de nossos problemas de forma efetiva e prática, eu apoiaria tal proposta imediatamente.  Entretanto, tudo que tenho visto são queixas, propostas mal elaboradas ou afirmações demagógicas pouco pensadas em relação a universidade real que temos em nossas mãos. Muito fácil acusar os outros de destruir seus sonhos, mas por acaso você está construindo sua realidade condizente com eles ou só esperando que o façam por você? 

Meu pai costumava dizer que "liberdade a gente conquista e se você age como criança será tratado como criança". Sei que este texto fará muitos alunos (e alguns professores) se sentirem ofendidos. Contudo, se muitos não estivessem ‘abusando’ das regras, você acha que as pessoas se preocupariam em criar novas regras mais restritivas? Alunos com CR > 3 não tem restrições; fica aqui uma insinuação nada sutil do que se espera de um aluno da UFABC.  


A Universidade costuma agir como um organismo. Qualquer organismo, quando colocado em um desequilíbrio nocivo, aciona mecanismos para reestabelecer o que considera a sua situação ideal. O limite de créditos é apenas a primeira leva de anticorpos, creio que muitas outras levas ainda estão por vir.  A UFABC precisa encontrar um grupo de regras que esteja de acordo com o projeto pedagógico, mas que permita um gerenciamento racional e eficiente de seus recursos. O projeto pedagógico é belo porém igualmente vago; nele se desenham linhas gerais de um sonho, mas não as instruções para que este seja conduzido à realidade. Devemos trabalhar muito, sem falsas demagogias, para criar a verdadeira UFABC e conquistar a Liberdade de Ação da qual consideramos sermos merecedores.