terça-feira, 29 de maio de 2012

Expectativas




Na semana passada, um post meu sobre a UFABC gerou certa polêmica. De fato, não meu post especificamente, minhas palavras não eram quase nada polêmicas: apenas minhas impressões sobre a Unificação das Disciplinas.  O centro da polêmica foi o comentário de um ex-estudante da UFABC. De certo modo, um depoimento bem escrito de alguém que não encontrou o que buscava na UFABC e uma declaração de ter ficado bem melhor ao desistir desta Universidade e ingressar em uma Particular, cujo nome não foi citado.  Pessoalmente, eu me sinto feliz por este ex-estudante, nem sempre é fácil se encontrar verdadeiramente ou se sentir satisfeito com aquilo que se possui. Contudo, não creio que se possa considerar que a UFABC seja a culpada de sua experiência não bem sucedida.

Este depoimento me fez refletir sobre Expectativas, ainda mais em uma semana de reinício de aulas e a recepção dos ingressantes.  A UFABC recebe mais de 1500 alunos em seus cursos de BC&T e BC&H, cada um desses carrega uma visão prévia do que espera ser a sua nova vida acadêmica, social e pessoal devido a sua entrada em nossa Universidade. O que será que buscam estes alunos: informação, conhecimento, sabedoria, camaradagem, festas, eventos sociais, diversão? Obter uma formação para segurança financeira ou realização pessoal ou, talvez, algo mais etéreo como Felicidade?

Apesar de não parecer ser um assunto correlato, R. Feynmam depois de refletir sobre o porquê de sentirmos que a Física Quântica é tão estranha diante de nossa percepção clássica (convencional) da realidade, cunhou uma frase que considero brilhante: “A ‘estranheza’ é apenas o conflito entre a realidade e nosso pensamento do que a realidade deveria ser.” Acredito que uma grande parte de nossas frustrações, em especial em relação a nossas vidas acadêmicas, está associada a essa persistência que temos em “exigir que a realidade seja da forma que desejamos”.

Assim, um bom exercício a ser feito é o de observar o que está a nossa volta e aproveitar a realidade em que estamos imersos, sem tanto anseio que seja exatamente como gostaríamos. Não deveríamos menosprezar o prazer que as surpresas da vida podem nos trazer. Sempre tentamos controlar a situação e forçar a “vida” a seguir designos que impomos por meio de nossas agendas e planos elaborados. Grande engano imaginar que “ela” aceitaria isso tão passivamente. Ao interagir com o que há a nossa volta, no mínimo, somos tão modificados quanto modificamos.  Talvez, esta seja mais uma das minhas Alusões Quânticas da Vida (A.Q.V.) que o “observador (controlador) é apenas ilusoriamente separado daquilo que observa (controla) – as interações são inevitáveis e quase sempre levam a resultados inesperados"; não porque sejam bizarros ou algo assim, mas apenas porque raramente refletimos sobre o que de fato a realidade é, costumamos preferir nos acomodar com a imagem de como gostaríamos que ela fosse.

Nesta semana, o segundo quadrimestre da UFABC se iniciou, mesmo sob o fantasma de uma possível parada iminente devido a uma provável greve. Entramos em sala de aula, alunos e professores, com grandes expectativas, talvez, alguns de nós tão frustrados como aquele aluno do comentário estava, antes de se impor uma mudança de realidade.  Sinceramente, espero e desejo que essa não seja a nossa verdade, que iniciemos um bom quadrimestre e possamos encarar a realidade que esta a nossa volta, em especial, que possamos aceitar as modificações que nossas realidades nos impõem e possibilitam. Afinal de contas, em geral, nós temos apenas aquilo que merecemos. 





6 comentários:

  1. Boa reflexão, professor... Mas, em partes, tenho uma visão semelhante à que o aluno, aparentemente, compartilha: muitas vezes aquilo que procuramos é uma extensão do que o mundo ao nosso redor espera - a trindade estudo/emprego/status ainda impera - e, guardadas as devidas proporções, a UFABC ainda não provê essa visibilidade da mesma forma que as universidades já consolidadas. Imagine-se tendo de explicar para um entrevistador que sua formação é multi-disciplinar, passível de ser enquadrada em várias áreas, sendo que a empresa quer que o profissional seja focado? A visão multidisciplinar ainda não faz parte da cultura das empresas no Brasil: quanso isso mudar, a UFABc estará à frente; Até lá, muitos, mas muitos mesmo, pensarão nela como segunda ou terceira opção...

    Sad but true...

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    1. Hoje, posso dizer que passei em um estágio para Gestão Comercial na Syngenta (empresa internacional de enorme porte), tendo como concorrentes alunos de Contabilidade e Políticas Públicas da USP, Comex da IBMEC e da FGV entre outras. E foi minha vivência e este caráter interdisciplinar que penso ser transdisciplinar que me permitiram sobressair para conquistar a vaga. Esta empresa procura profissionais dinâmicos, "pau pra toda obra" mesmo, faço Políticas Públicas aqui e sim consegui minha vaga para trabalhar com Política Tecnológica numa forte empresa e espero aprender muito. O perfil empreendedor da UFABC está sim sendo reconhecido mercadologicamente.

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    2. Esta empresa como outras quer pessoas que entendam de diferentes assuntos e saibam executar bem sua atividade, eles buscam um perfil e não um nome de curso. Se algumas preferem um currículo tradicional outras apostam em um currículo inovador.

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  2. @cmmarcondes, ao contrário do que tantos alardeiam, nunca tive dificuldades para falar sobre o esquema multidisciplinar da UFABC em entrevistas de emprego e afins, as pessoas até ficam curiosas... e ainda não achei uma pessoa que não achasse a ideia no mínimo interessante!
    Puro alarde...

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  3. Adorei o texto. Provavelmente porque ele disse tudo o que eu estava precisando ouvir. Todas as vezes em que reclamei para os meus pais sobre a UFABC eles me responderam algo como "é o que você tem, aproveite". E eu julgava essa visão errada, encarava isso como conformismo, o que eu abomino. Mas com o seu texto eu finalmente entendi o que eles tentaram me dizer por tanto tempo.
    Hoje tenho certeza de que a culpada por toda a frustração da minha vida acadêmica e dos meus vários Ds acumulados nela não é a UFABC, a culpada sou eu.

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  4. Concordo com tudo o q disseram. Apenas faço uma ressalva: a universidade nao pode ser um espaço de "ame-a ou deixe-a". Ou seja, a universidade é essencialmente local de questionamentos, inclusive de seu próprio projeto pedagógico. Ou seja, sou contra aquela corriqueira frase de corredor:" mas esta tudo no projeto pedagógico, vc sabia q ia ser assim!". As universidades crescem através de mudanças e o projeto pedagógico nao é isento de falhas. O qve ocorre no entanto, é q essas pessoas q sentem q o projeto pedagógico nao esta dando certo pra ela e pra muitas outras nao sabe a quem recorrer para debater esse assunto e expor suas sugestoes de melhorias e aí ísso acaba virando uma frustaçao que a forç a abandonar o barco. Ainda falta esse dialogo na UFABC.

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