Uma
das perguntas mais comuns dos ingressantes de qualquer Universidade é ‘Quanto
tempo realmente se leva para terminar o curso?’ Algo bem natural, uma vez que
cada curso tem uma duração bem definida nos manuais entregues aos estudantes, mas que nem sempre corresponde a realidade. O fato de ter conseguido ser aceito em uma Universidade não garante que
você a deixará no tempo sugerido com um diploma. A evasão é uma questão ainda
muito séria em qualquer Universidade e bem crítica para a nossa UFABC, que ainda é uma Universidade em consolidação.
Entretanto, mesmo para os alunos que não desistem, o ‘fim da graduação’
pode se mostrar muito mais distante do que se imaginaria no começo do curso.
A UFABC tem apresentados grandes avanços se considerarmos que ainda é uma Universidade tão jovem. Tivemos muitos alunos formados no BC&T e alguns em quase todos
os outros cursos pós-BC&T (bacharelados, licenciaturas e engenharias). Se
considerarmos que o curso de engenharia deveria durar 5 anos, e a universidade
tem apenas um pouco mais que isso, nem parece tão ruim. Contudo, os números
ainda são muito baixos comparados com a quantidade de alunos que ingressam
todos os anos. Considerando
uma matemática bem simplista, se ingressam 1500 alunos por ano no BC&T,
deveria ser esperado que uns 1000 alunos
concluíssem o curso todo ano (usei uma extrapolação simples de uma distribuição
gaussiana...). Não tenho os números exatos de quanto estamos formando, mas com
certeza deve ser algo bem mais baixo que isso.
Um número baixo de alunos formados no tempo ideal também afeta o
orçamento que é recebido pela Universidade, ou seja, até mesmo para uma
manutenção sadia e obter um montante justo de recursos devemos apresentar
números reais que nossos alunos possam cumprir. Existem diversas questões para se considerar sobre um tempo mais longo na formação dos estudantes da UFABC. Entretanto, uma primeira questão a ser
colocada é definimos as durações dos cursos em números factíveis, quero dizer,
será que dizer que um aluno deve se formar no BC&T em 3 anos é uma
expectativa viável? Do mesmo modo, será que uma aluno que só pode cursar suas
disciplinas no noturno pode realmente se formar em uma engenharia em 5 anos?
Da
maneira como as grades são montadas na UFABC, alunos do diurno e noturno não
possuem qualquer distinção em relação a demanda de créditos sugerida por quadrimestre. Alunos do diurno e noturno possuem habilidades similares, porém suas
vivencias da universidade costumam ser bem diferentes e, assim, também deveriam
ser as exigências em relação ao ritmo de seu curso. Considere um aluno do
noturno que trabalhe de segundas as sextas das 7:00hs às 17:00hs. Na UFABC, este aluno deverá estudar de
segunda a sexta das 19:00hs às 23:00hs e aos sábados. Se este estudante
conseguir fechar uma grade completa, ele poderia cursar 28 créditos em um
quadrimestre. Contudo, este aluno
estaria sobrecarregado e teria apenas o
domingo livre para estudar todas as matérias que estaria cursando e para
assuntos de sua vida pessoal, quem sabe algum descanso. Não se pode esperar que
os alunos tenham um bom desempenho com uma carga horária dessas. A maioria das outras universidades possuem grades distintas e tempos de formação mais longos para os estudantes do noturno, devido a sua óbvia limitação de tempo.
Creio
que a UFABC deve examinar com cuidado as grades de horários sugeridas, bem como
evitar otimismos não realistas. Não se
deve estipular missões inviáveis a maioria dos estudantes e esperar que eles se
desdobrem em soluções distorcidas para cumprir estas missões. Para os alunos é
bastante frustrante sentirem que estão atrasados em sua formação e, muitas vezes,
uma ação desesperada para ‘ficar em dia’ é um aumento ainda maior da carga
quadrimestral, que para muitos pode levar a fracassos e ainda maiores atrasos que podem chegar a um efeito avalanche nada bom para o estudante.
Além
dos problemas que qualquer Universidade enfrenta, a UFABC possui outros aspectos que afetam bastante esta conta para se pensar em
‘conclusão de curso’. Um deles é que um aluno da UFABC pode fazer até 4 cursos
ao mesmo tempo (um BI e mais 3 pós-BI) e cursar tantas matérias quanto queira
de quaisquer outros cursos. Isso complica bastante a 'contabilização' de quanto um aluno cumpriu de seus cursos e quão próximo está da conclusão. Além disso, existe a ausência de pré-requisito que, em um primeiro momento, parece ser um fator para acelerar a
formação dos estudantes. Afinal, ele não precisaria ter feito uma matéria X
para fazer uma Y. Contudo, em realidade, uma matéria Y realmente depende do
conhecimento da X e, assim, o aluno pode ser reprovado na matéria Y (por
ausência do conhecimento que já deveria dominar) ou, mesmo que passe, a
ausência daquele conhecimento pode afetar mais gravemente a formação do
estudante em disciplinas futuras e até mesmo atrapalhar fortemente o seu avanço
no curso. Por exemplo, um aluno que não
domine as ferramentas básicas do cálculo com certeza terá problemas recorrentes
ao realizar as diversas disciplinas de um curso em engenharia.
Não
acredito que toda essa Liberdade da UFABC precise ser podada de qualquer forma,
se for garantido ao estudante o conhecimento claro das opções das disciplinas (atenção
especial às sugestões apresentadas nas ementas) e exigida responsabilidade pelas escolhas
feitas. Acima de tudo, o aluno deve ter plena consciência das consequências de
cada decisão tomada. A UFABC oferece
liberdade de escolha, mas o estudante deve saber que ao usar essa liberdade, ele poderá tornar seu curso ainda mais longo. Quando
se diz que o BC&T tem duração de 3 anos, isso quer dizer apenas que um
aluno que seguir a grade como oferecida, sem desvios e reprovações, conseguirá cumprir todos os créditos neste período com alguma folga. Contudo, o aluno pode optar por
experimentar mais e tentar outros caminhos e tais desvios tomarão tempo. As decisões não são simples, um BC&T mais
longo não é necessariamente ruim, da mesma forma que, por vezes, caminhos mais
longos podem ser bem mais instrutivos e proveitosos que cortar por atalhos. Sartre cunhou a expressão “estamos todos
condenados a liberdade”, isto deveria
ser bem evidente aos alunos da UFABC, que se defrontam com as escolhas de que
formação terão quase todos os dias. Acima de tudo, adquirir a responsabilidade para
lidar com a própria liberdade pode ser bem difícil, mas não adquirir tal
responsabilidade pode levar a um resultado ainda pior: um desperdício muito maior de seu tão
valioso tempo.
Vou dar minhas sugestões para uma melhora da grade:
ResponderExcluir-Disciplinas de humanas como Estrutura e Dinamica Social e Ciencia, Tecnologia e Sociedade deveriam ser opcionais.
- Geometria Analitica deveria ter um credito a mais e ser no 1º Quadrimestre; foco em vetores, preparando pra Fenomenos Mecanicos; passaria então Origens da Vida pro 2º Quadrimestre.
- Usar a disciplina Bases Matemáticas para iniciar o calculo cobrindo pelo menos limites e derivadas; isto daria mais espaço para a disciplina de FUV. NÃO focar em formalismos matemáticos, provas e demonstrações.
- No 3º Quadrimestre no lugar de IEDO colocaria a disciplina calculo vetorial como disciplina obrigatoria pro BC&T e jogaria IEDO pra frente; preparação pra fenomenos eletromagneticos.
- Acrescentaria também a disciplina algebra linear como obrigatoria ao BC&T, pois ela é obrigatória de praticamente todos os cursos pós-BC&T - obrigatoria de todas as Engenharias, MAtematica, Fisica e Computação
Concordo em partes.
ExcluirPor exemplo: Matemática Discreta possui dentro de sua ementa: Probabilidade e Estatistica, Bases Matemáticas e Lógica Básica.
Então poderiamos PELO MENOS retirar a parte de provas e demonstrações de bases matemáticas e fazer um 'pré-calculo'.
Quanto a retirar EDS e CTS, caso você já tenha visto a grade de outras faculdades vai ver que sempre há matérias como administração e etc. Isso é coberto em EDS e CTS e é bastante importante pra Gestão. Mesmo que você não queira seguir o rumo de Gestão, você deve ter um conhecimento básico nessas disciplinas.
GA no primeiro quadrimestre realmente é uma boa idéia, pois geralmente o povo sai tranquilo do primeiro quad e entra no segundo se ferrando totalmente com femec, fuv + ga.
Algelin não pode ser obrigatória pois há outros cursos, como biologia e se eu estivesse no lugar deles, acharia sacanagem ter que estudar isso simplesmente porque estou numa universidade onde sua maioria faz Engenharia.
Caro professor, sou psicóloga na UFABC, trabalho na PROAP atendendo os alunos de graduação. Gostaria de lhe dar os parabéns pela coragem em discutir esse problema tão relevante.
ResponderExcluirAs questões que o senhor apontou são, de fato, as mesmas que muitos alunos trazem para os atendimentos: dificuldade de se formar no tempo previsto para o curso, muitas reprovações, sentimento de fracasso, diminuição da autoestima, muitas vezes resultando em ansiedade, pânico, depressão, dentre outros problemas.
Isso é ainda mais comum dentre os alunos que trabalham, que têm de se sustentar sozinhos ou até sustentar suas famílias. E também dentre os alunos de escolas públicas, que, devido à deficiência do ensino público, não têm o conhecimento básico que seria necessário para acompanhar as disciplinas de graduação. Tenho ouvido queixas do tipo: "Eu achei que seria capaz, porque só tirava A na escola, mas agora cheguei aqui e percebo que não sei nada, que sou burro(a)".
Sobre os números de formandos, chamou-me a atenção que o Relatório de Gestão de 2012 indica que, até o final de 2011, se formaram apenas 457 alunos no BC&T (p.49). Em seguida, indica que a evasão do BC&T até o final de 2011 foi de 1400 alunos (p.50). Será que a Universidade, em algum momento, vai se dispor a abrir uma discussão séria sobre esse assunto? Sempre que tento conversar sobre isso, sinto que os espaços se fecham.
Segue o link para o relatório de gestão: http://www.ufabc.edu.br/images/stories/pdfs/adm_prest_contas/relatorio-de-gestao-2011-ufabc.pdf
E segue também meu e-mail, caso o senhor queira entrar em contato: gabriela.silva@ufabc.edu.br