domingo, 26 de fevereiro de 2012

Dr. Heisenberg nos conduzindo por caminhos incertos.




O jovem Heisenberg, na maturidade de seus vinte e poucos, sempre buscou encontrar as certezas por trás das leis da natureza. Doce ironia, um de seus maiores feitos foi enunciar o principio da incerteza, que consiste da afirmação que não se pode medir duas grandezas físicas não comutáveis, simultaneamente, com precisão absoluta. Tal conceito trouxe ainda mais estranheza àquela teoria que já deixava muitos cientistas perplexos e desconfortáveis. Imagino o jovem Dr. Heisenberg questionando se aquilo que surgia de sua compreensão da natureza do átomo poderia mesmo corresponder a realidade.  Quase sempre, temos receio de aceitar as mudanças bruscas e o fato de encontrarmos em um instante algo que, apesar de não sabermos bem como, irá modificar total e profundamente a forma de vermos o mundo a nossa volta.

Dr. Heisenberg permitiu-se confiar em sua intuição arraigada no trabalho duro de seus cálculo e propagou assim o conceito de seu princípio da incerteza.  Definitivamente, não deve ter sido fácil convencer uma comunidade receosa a aceitar  todas as implicações de sua simples equação. A importância de tal pedra fundamental no templo da Mecânica Quântica é difícil de mensurar e, mesmo hoje após 85 anos, ainda choca os jovens estudantes em seus cursos básicos de quântica e se incorpora de modo fundamental a todos os nossos avanços tecnológicos.

Pessoalmente, não considero o principio da incerteza tão contra-intuitivo.  Ele nos mostra que sempre há um preço a ser pago pelo conhecimento que se adquire.  Se você buscar saber absolutamente tudo sobre um certo ente físico, isso implicará na total ignorância sobre o “ente conjugado” ao primeiro.  Novamente, surge a questão da escolha (esta sim sempre me deixou confuso): cabe aquele que mede a decisão do que de fato ele extrairá da velada natureza do universo, pois ele tem o direito de desmascará-la apenas parcialmente, o que ele obtiver é tudo o que poderá chamar de sua realidade. O resto fica escondido no universo das inúmeras possibilidades: os domínios de todas as escolhas que não foram feitas.

Creio que este texto parecerá confuso e de linguagem meio frouxa, mas o próprio Dr. Heisenberg  concluiu que um dos nossos grandes problemas sobre a mecânica quântica (neste caso, física dos átomos) era que a linguagem era incapaz de alcançar os verdadeiros significados por trás dos conceitos. Palavras são rasas demais para conter toda a profundidade do que cada elemento da quântica possui; acabamos sempre nos expressando de modo tacanho e limitado. Problema com o qual ainda precisamos aprender a lidar. Talvez criar uma nova linguagem? Quem sabe... A quântica é a mais intima de todas as poesias da natureza; portanto, precisamos aprender a declamá-la corretamente para adquirirmos o direito de liberar toda a sua essência. 

Você pode me pergunta qual a moral dessa história. Sinceramente, não saberia dizer. Contudo, tudo que posso afirmar é que muitas histórias não tem realmente uma moral explicita a nos ser entregue. No mundo das verdades, tudo que estas histórias podem nos oferecer são realidades a serem reveladas. Assim, Dr. Heisenberg nos conduz por intricados caminhos que se não garantem certezas, ao menos, nos trazem a esperança de alcançar alguma verdade que mostre o que há de autêntico no que sabemos sobre a natureza.


domingo, 19 de fevereiro de 2012

A liberdade tem seu tempo.





Quando somos crianças, nossa liberdade é a mínima possível. Qualquer decisão sobre nossas vidas é feitas por nossos pais (ou responsáveis). A medida que crescemos e adquirimos consciência e responsabilidade sobre nossos atos, temos a nossa liberdade aumentada. Por este exemplo simples, fica claro que liberdade é um privilégio conquistado através do mérito de nossas ações e da responsabilidade que mostramos ao fazermos nossas escolhas.

Na UFABC, acredito que há uma grande distorção por todos, docentes e discentes, no que liberdade (pregada no projeto pedagógico) significa. Para muitos parece que liberdade significa “Faço e que quero, como quero e ninguém tem o direito de me dizer o contrário”.   Sinceramente, para mim a liberdade é algo como “Tenho o direito de fazer minhas escolhas e devo fazê-las com responsabilidade, pois eu e todos a minha volta terão de arcar com todas as consequências do que eu fizer”.

Nesta semana, passaram algumas resoluções polêmicas na Comissão de Graduação, uma resolução declara que apenas alunos com CR maior que 2,0 poderão se inscrever em monitoria acadêmica. Outra resolução cria uma fórmula [ C = 16+ 5*CR, se CR< 3,0 ] que limita o número máximo de créditos que um aluno pode se matricular. Não vou discutir se há justiça nestas normas, não ainda. Neste texto, quero apenas apresentar para que cenário de Universidade isto nos leva.

A cada dia fica mais claro que a UFABC institui um regime de ‘CRcracia’, ou seja, o CR do aluno que comanda quais são seus privilégios, direitos e deveres. Alunos com CR menor que 2 são cortados de basicamente qualquer processo para bolsas de estudos (de mérito acadêmico), requisitar netbooks, etc. Alunos com CR maior que 3 tem direitos plenos e não precisarão cumprir qualquer limite de créditos, ou seja, a universidade considera que estes alunos tem a responsabilidade necessária para exercer a liberdade sem limites. Quanto aos outros, restrições são feitas com uma promessa simples: se eles alcançarem CR > 3, também poderão ter acesso ilimitado a tal liberdade. Podemos dizer que "grandes CRs trazem maiores liberdades". 
   
O grande problema de um sistema tão fortemente baseado em CR é que distorções em seu cálculo causam graves erros de julgamento e, consequentemente, injustiças para com os alunos. Professores com sistemas de avaliação abusivos podem trazer um grande desequilíbrio, por isso a Universidade precisa ‘reeducar’ seus professores sobre os métodos de avaliação, incluindo o que consideramos adequados como conceitos. Afinal, nem mesmo o valor de um 'D' nós bem sabemos e cada um pratica sua própria tabela de valores.  Por outro lado, medidas mais severas quanto a praticas de plágio e ‘cola’ devem ser tomadas. Um aluno que age de forma ilícita pode ficar com uma nota melhor que um aluno que realmente se esforçou e isto é uma grande injustiça. É preciso um código de ética que puna severamente aqueles que agem de má fé. Acho que a Universidade é muito branda e até omissa em relação a isso: Um aluno que fosse pego colando em uma prova, deveria ser reprovado na disciplina. Caso o aluno fosse reincidente nesta prática, deveria ser instaurada uma comissão que julgaria medidas tais como ‘jubilação’ para tal aluno. Afinal, o projeto pedagógico também prega que o aluno seja responsável pela sua formação e a faça de forma correta, sem subterfúgios ou práticas ilegais. 

Nas próximas semanas, ainda se falará muito sobre todas estas resoluções. A grande maioria dos alunos simplesmente se sente injustiçado e justifica o erro de tal medida citando o caso de um ou outro. Desculpe-me, mas as regras são feitas para serem validas para mais de 5000 alunos. Um caso que é uma exceção não pode nortear como são criadas as regras.  De nada adianta vociferar que algo é ruim se você não é capaz de propor algo melhor. Se um aluno ou professor aparecesse com um norma que contemplasse a solução de nossos problemas de forma efetiva e prática, eu apoiaria tal proposta imediatamente.  Entretanto, tudo que tenho visto são queixas, propostas mal elaboradas ou afirmações demagógicas pouco pensadas em relação a universidade real que temos em nossas mãos. Muito fácil acusar os outros de destruir seus sonhos, mas por acaso você está construindo sua realidade condizente com eles ou só esperando que o façam por você? 

Meu pai costumava dizer que "liberdade a gente conquista e se você age como criança será tratado como criança". Sei que este texto fará muitos alunos (e alguns professores) se sentirem ofendidos. Contudo, se muitos não estivessem ‘abusando’ das regras, você acha que as pessoas se preocupariam em criar novas regras mais restritivas? Alunos com CR > 3 não tem restrições; fica aqui uma insinuação nada sutil do que se espera de um aluno da UFABC.  


A Universidade costuma agir como um organismo. Qualquer organismo, quando colocado em um desequilíbrio nocivo, aciona mecanismos para reestabelecer o que considera a sua situação ideal. O limite de créditos é apenas a primeira leva de anticorpos, creio que muitas outras levas ainda estão por vir.  A UFABC precisa encontrar um grupo de regras que esteja de acordo com o projeto pedagógico, mas que permita um gerenciamento racional e eficiente de seus recursos. O projeto pedagógico é belo porém igualmente vago; nele se desenham linhas gerais de um sonho, mas não as instruções para que este seja conduzido à realidade. Devemos trabalhar muito, sem falsas demagogias, para criar a verdadeira UFABC e conquistar a Liberdade de Ação da qual consideramos sermos merecedores. 

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Uma Quântica para chamar de Nossa.

[ uma imagem extraída de um desses sites de 'coisas' quânticas (rs) ]

Um dos fatos curiosos de trabalhar em pesquisa com Óptica Quântica é que para as pessoas que você encontra por aí, sempre acabo recebendo a alcunha de Físico Quântico. Acho um titulo tão curioso quando o ‘físico nuclear’ dos anos sessenta ou o cientista de foguete dos setenta.  De certa modo, creio que as pessoas tentam colocar estas profissões mais exóticas em alguma classe conhecida, que permita a criação de um estereótipo apropriado.

A Física Quântica é famosa entre os cientistas por seus sucessos, mesmo que ainda possua tantas dificuldades em se obter uma interpretação mais ‘natural’ em paralelo a física dita clássica.  Já não vivemos mais nos primeiros anos da quântica com tantas críticas ferrenhas e crises de muitos sobre suas incompatibilidades.  Temos tantas provas e nosso mundo eletrônico apresenta tantas manifestações de suas consequências, que quase ninguém questiona que ela seja uma realidade. De fato, realidade é uma das questões centrais da Física Quântica, de um certo modo definida por um ente chamado observador, seja lá quem ‘ele’ seja.

Existe uma quantidade enorme de textos nos mais distintos níveis para aqueles que pretendem conhecer um pouco mais dos postulados, consequências e aplicabilidades da quântica como os físicos a veem.  Neste texto, gostaria apenas de fazer comentários rápidos sobre minhas impressões de outra consequência da teoria quântica: sua disseminação e hibridização com outras ‘formas de pensamento’ para os não cientista (e mesmo entre alguns pesquisadores).

O homem é sedento por um significado especial para tudo que está a sua volta. Quantos de nós não presenciamos em nossas aulas de Literatura, um professor avido por nos mostrar que por trás de frases como “A cortina era amarela”, que havia um autor ansioso por passar um profundo sentimento de esperança e ao mesmo tempo um temor pela brevidade humana quanto sua relação com o Universo e blá blá blá. Sinceramente,  acho que o autor queria apenas dar uma cor a cortina, branco é meio básico demais, não acha?  De qualquer modo, acredito que com esta analogia dou um boa ideia do que estou tentando dizer aqui.

Uma busca rápida na internet nós leva a um enorme número de sites falando sobre curas quânticas, médicos quânticos, consciências quânticas, empresas quânticas, gerenciamento quântico, tarô quântico, etc. Basicamente, qualquer palavra que você puder imaginar, basta colocar o sufixo quântico e vender em uma bela e atraente embalagem. Tenho uma amiga que adora brincar comigo dizendo que eu deveria deixar a carreira de pesquisador e abrir uma clínica de terapia quântica. Provavelmente, isto daria muito mais dinheiro e muito menos preocupações que a intricada carreira acadêmica em uma Universidade. De qualquer modo, permaneço em minha obstinada busca pela verdade por meio da ciência. Ainda acredito que isto me levará mais longe, mesmo que não seja tão lucrativo.

Muitos podem me questionar, mas como você pode ser tão limitado e dizer que tudo isso não é verdadeiro? Realmente, não quero ser limitado... Por exemplo, gosto muito da ideia de que existam Unicórnios e Dragões. Talvez, quem sabe? Há relato deles em muitos livros antigos e até algumas pessoas dizem que já os viram. Por que alegar que eles são apenas artefatos ficcionais. Afinal, ninguém pode provar definitivamente sua total não existência? Entende o que eu digo... Com certas argumentações, não há qualquer abordagem justa.  A não ser o: Então, traga-me aqui o maldito Unicórnio e você terá seu dinheiro! Estou esperando...

Não digo a ninguém que não deva acreditar nestas alegações de ‘poderes místicos’ da Física Quântica. Porém, alerto que cientificamente falando a Física Quântica se mostra efetiva apenas para explicar o Universo do muito pequeno composto por alguns átomos e moléculas e, mesmo nesta região, ainda temos muitas questões sem respostas totalmente satisfatórias. Qualquer extrapolação para a vida de um homem ou sua consciência é questão de Fé e Religião; temas que, do meu ponto de vista, a Ciência deve educadamente se recusar firmemente a dar qualquer contribuição. Em nossa sociedade: Ciência e Religião ainda são temas não miscíveis e, sinceramente, espero que permaneçam assim por muito tempo.

Por fim,  aconselho a você que se alguém surgir com uma ‘quantice’ para te vender,  questione e veja bem o que te oferecem.  Principalmente, se você tiver problemas reais, nestes casos, soluções imaginárias não irão te ajudar e só deixaram sua situação ainda mais complexa. A escolha sempre será sua pelo que você aceitará como “verdade” em sua vida, apenas esteja certo que faz suas escolhas pelas razões corretas.



domingo, 5 de fevereiro de 2012

Novos Fenômenos.




Estamos as vésperas do inicio das aulas para os veteranos. Quanto aos calouros, a nossa Universidade os presenteia com férias adicionais, mas eles estarão conosco em fins de Maio. Além de todas as coisas que sempre se repetem a cada quadrimestre, neste temos grandes novidades em relação às disciplinas de Fenômenos (térmicos e eletromagnéticos).

No meu texto anterior comentei da experiência de coordenar fenômenos mecânicos e de diversos problemas que havia. As mudanças que trazemos este ano buscam minimizar algumas destas questões. Creio que a mudança mais forte é a unificação das provas, ou seja, todos os alunos de um dado período (matutino, vespertino ou noturno) farão a mesma prova, independente da turma a qual pertençam ou quem seja o seu professor. A correção das provas será feita em “mutirão" por todos os professores do curso.  Tal mudança requer muito trabalho e comprometimento de toda a equipe, mas acreditamos (ao menos, a maioria) que este sistema trará muito mais ganhos que prejuízo.

Uma das maiores reclamações dos estudantes é a grande discrepância entre as avaliações de diferentes turmas em uma mesma disciplina. O sistema de avaliação de nossa Universidade é baseado em conceitos. Porém, se estes conceitos significam coisas completamente distintas entre os professores, quem mais perde é o estudante. Se pensarmos bem, a vida do estudante na UFABC é governada por dois números ‘CR’ (quão boas são suas notas) e o CP (o quanto já completou de seu curso).  A triste verdade é que este sistema da UFABC pode ser bem cruel.  É dito aos estudantes que eles podem cursar o que quiserem e se formar em até três cursos. Entretanto, ninguém menciona quanto tempo isto poderá levar. Na verdade, para alunos com bem altas notas tudo deverá funciona muito bem. Porém,  se um aluno tiver CR inferior a 2.0, ele está efetivamente excluído de uma série de editais e benefícios que a Universidade oferece.  Além disso, notas baixas podem impedir que ele faça as disciplinas que quer e precisa para se formar nos cursos que deseja. Não podendo fazer tais cursos, mais difícil fica subir CP e/ou CR...  Pode-se ver facilmente que isto levar a uma efeito em cadeia, que nos piores casos, finaliza com o aluno enfrentando o processo de jubilação.

Não questiono diretamente o sistema de mérito da UFABC, mas se ele está sendo realizado de forma justa e imparcial.  Quando temos um grande números de turmas em que professores realizam suas avaliações de maneiras diferentes e com pesos dispares,  estamos beneficiando mais a sorte de um estudante do que o seu talento para aprender. Sinceramente, isso não me parece nada justo.  Com provas unificadas, todos os alunos serão cobrados  e avaliados da mesma forma. No novo sistema, frase deste tipo não farão mais sentido “Tirar D com professor X é como tirar um A com professor Y”. O mesmo critério será aplicado a todos os estudantes da disciplina e um A será apenas o mesmo A independente de o professor do aluno ser X ou Y.  Um bônus da proposta é que os alunos não precisam temer este ou aquele professor, o que pode acarretar em uma diminuição imediata no número de trancamentos da disciplina. A mensagem seria: “Independente da sua turma, você é aluno desta disciplina e será avaliado pelos mesmo critérios.”

Outro ponto positivo da proposta é que será minimizada uma situação bem grave: quando o professor resolve não ensinar um dado conteúdo listado na ementa do curso. Será que professores deveriam ter o  direito a tal poder de distorcer a ementa de um curso como queiram? Isso tem um efeito desastroso a médio prazo para todos os cursos da UFABC. Afinal, quando um professor leciona um curso mais avançado confia que outros professores ensinaram o que deveriam nos cursos básicos.  Como garantir que um professor cumpra uma de suas obrigações mais básicas que é o simples ato de seguir a ementa da disciplina?  Mais uma vez, com as provas unificadas o professor é guiado a isso. A equipe como um todo estabelece, baseada na ementa, quais os conteúdos a serem seguidos. O professor sabendo que seu aluno será cobrado sobre dado conteúdo se sentirá compelido a cumprir a ementa; simples assim.  Talvez, alguns acusem-nos de ferir a famosa “Liberdade de Cátedra”. Entretanto, o professor não deve ter a liberdade de alterar (sozinho) ementas  ou “impor” o que queiram aos estudantes. Sinceramente, tal liberdade sem responsabilidade,  deforma as nossas expectativas das disciplinas e da formação dos estudantes.  

Acreditamos ainda que ao trazer esta nova sistemática, criaremos um nível de justiça e homogeneidade na formação básica dos alunos como nunca visto na UFABC.  Tal proposta poderia ser aplicada a todos os cursos obrigatórios do BC&T com resultados realmente benéficos. Obviamente, a individualidade na formação dos estudantes estaria garantida pelas disciplinas limitadas e livres, que definem a especificidade de cada curso da UFABC, bem como os anseios de nossos estudantes, que são garantidos pelo nosso projeto pedagógico. Nestas disciplinas, o professor tem o direito de exercer ao máximo sua liberdade aproveitando de forma real as suas capacidades e especialidades. Estas disciplinas  que, naturalmente,  dependem mais fortemente do professor e do conteúdo específico devem seguir um processo avaliativo também individual e adequado para tal disciplina.

Nossa universidade em cinco anos alcançou a marca de 7.900 alunos e pretende tornar-se maior ainda (http://migre.me/7O5ZC).  Para gerir tamanha demanda é preciso, no mínimo,  definir novas abordagem para muitos estudantes, como por exemplo, a proposta que descrevi aqui. Basicamente,  todas as grandes universidade do mundo usam métodos similares nos seus chamados ciclos básicos. Provavelmente, alguns da UFABC gritarão que isso fere a proposta de Universidade. Afinal, a UFABC veio para ser diferente, não é? Acho isso uma visão distorcida de nosso projeto pedagógico: A UFABC veio para ser INOVADORA, isso significa buscar sempre as melhores soluções. Se outros lugares descobriram a melhor forma de realizar uma tarefa, cabe a nós aproveitar o conhecimento já obtido, se não há uma solução estabelecida, então seremos os primeiros a encontrá-la. Para mim, isto é ‘espírito’ de inovação. Ser diferente apenas para destoar das universidades tradicionais é tão inovador quanto a rebeldia vazia de alguns adolescentes para hostilizar os seus pais.  A UFABC precisa ser muito mais que isso. Muitos anseiam que a “UFABC seja a universidade de ponta para o século XXI”. Sinceramente, considero que isso é querer pouco. As melhores universidades são milenares e se adaptam para confrontar a eternidade.  Portanto, cabe a UFABC aceitar o seu legado de grandeza e desenvolver sistemas eficientes para oferecer ensino de qualidade para muitos alunos, nossa ambição, como Universidade, deve mirar sermos uma Universidade de Milênios e não apenas de um século. 

domingo, 29 de janeiro de 2012

A mecânica de um fenômeno.



A UFABC, devido à sua estrutura em consolidação, oferece sempre oportunidades curiosas e desafios inesperados. No último quadrimestre, por razões complicadas e que não irei relatar aqui,  eu me tornei o Coordenador dos Laboratórios da Disciplina BC0208, denominada Fenômenos Mecânicos, a também chamada FEMEC. Além da surpresa em me ver coordenador de uma disciplina que nunca havia lecionado, também me senti apreensivo com toda a estrutura que eu deveria ‘domar’, digo coordenar.

Apenas para uma vaga ideia: FEMEC é uma disciplina com parte teórica e experimental interligadas,  mas com professores distintos para cada parte. Nas turmas de teoria temos por volta de 90 alunos, que são divididos em três turmas para aulas práticas. A divisão é necessária devido ao limite de 32 alunos por laboratório. A disciplina contava com uns 1800 alunos distribuídos em 60 turmas (entre teoria e prática). Para isto, precisávamos de 13 professores alocados para a parte teórica, 21 professores para a prática, ainda contávamos com 14 técnicos para nos auxiliar nos laboratórios e 23 monitores (alunos de graduação) que estavam tanto nas aulas práticas quanto nos plantões de dúvida.

Tínhamos aulas da disciplina em praticamente todos os horários disponíveis, por exemplo, só de laboratório, ocorriam aulas todas as manhã de segunda a sábado,  todas as noites de segunda a sexta e ainda aulas nas tardes de quarta. Isso sem mencionar os horários das aulas teóricas que conseguiam ser ainda mais estranhos. Como coordenar tamanha complicação de tantos horários, tantas pessoas, tanta infraestrutura requisitada? Sinceramente, fazíamos uso da intuição e torcíamos para que nada desse muito errado. Mais impressionante ainda, essa não é uma dificuldade apenas de FEMEC, mas de todas as disciplinas obrigatórias do BC&T.  O número enorme de alunos por curso, faz qualquer problema ou dificuldade aumentar proporcionalmente. Além disso, ainda devemos dar conta de todas as outras disciplinas do BC&T e pós-BC&T (nem menciono o BC&H, que possui suas próprias necessidades e números).  Portanto, sem um planejamento adequado, o acréscimo contínuo de alunos e novos cursos nos aprisionará a um sistema de demanda caótica que jamais seríamos  capazes de cumprir adequadamente...  

Ao fim do quadrimestre, descobrimos se a coordenação ocorreu satisfatoriamente por meio de poucos tímidos elogios e o silêncio da ausência de criticas severas. Além disso, por coordenar tantas turmas, o professor recebe uma pontuação que é utilizada para a progressão de carreira [Professores também evoluem, algo similar aos pokémons, mas em nosso caso temos os níveis Adjunto e Associado, além de  números dos 1 ao 4 que os acompanham, e por fim, Titular – o nível máximo]. Pela  tarefa de coordenar um professor recebe 2 pontos, para situar quanto isso vale: Ao publicar um trabalho em revista científica (qualquer uma), o professor recebe 30 pontos.

Desse modo, alguém pode entender que se o coordenador não gastasse todo aquele tempo com reuniões, organizando pessoas, preparando material didático e tudo mais, mas permanecesse em sua sala (ou laboratório) sozinho fazendo sua pesquisa: a pontuação recebida poderia ser, pelo menos, 15 vezes maior. Portanto, mesmo nas boas instituições de ensino, podemos ler regras de forma distorcida e tirar uma ‘moral da história’ que não faz sentido: “Ensinar não compensa.” Obviamente, não é esta mensagem que as regras querem passar. Um professor tem um compromisso com Pesquisa, Ensino e Extensão e deve saber equilibrar tudo isso. Entretanto, se você encontrar um professor que se recuse a dedicar um tempo maior que o mínimo requisitado ao ensino e use tal tempo extra para obter bons números, pense bem antes de recriminá-lo. Afinal de contas, ele apenas está se guiando por certas diretrizes para conseguir os melhores números.  Como podemos argumentar contra a verdade dos números? Aparentemente, uma carreira bem sucedida está muito mais associada aos grandes números que alguém pode acumular em seu currículo do que ao que ele aprende ou ensina aos outros no caminho. Algo sobre o qual deveríamos refletir, não acha?

Sinceramente, considero minha experiência como coordenador muito válida e, de fato, recompensadora de muitos modos.  Também pude ver que se tentarmos manter o sistema como está, avançaremos rapidamente para um grande colapso: a Universidade cresce rapidamente e urge por mudanças. É preciso um grande trabalho para gerir nossos recursos com sabedoria e, se preciso, fazer alguns sacrifícios para que as mudanças sejam bem sucedidas.  Esse quadrimestre, serei coordenador de Fen. Térmicos (acho que não aprendo minha lição tão fácil rsrsrs), principalmente pela oportunidade de participar de uma mudança de paradigma na organização de tal curso. Acredito na nova proposta e espero ser parte relevante neste processo. Em um próximo texto, eu explico melhor sobre este ‘novo fenômeno’. 

A UFABC é uma universidade de necessidades quase únicas e, por isso, precisamos ser criativos nas soluções que implementamos. Estaremos sempre nos equilibrando na tênue linha entre o tradicional e o inovador. Aos poucos,  aprendemos que algo não é bom apenas porque é novo, do mesmo modo, que  só por que não se tentou antes, não quer dizer que não funcionará. Escolhas são sempre difíceis e as possibilidades infinitas, mas só podemos trilhar um caminho, portanto, devemos escolher cada passo com discernimento e guiados pelo aprimoramento da almejada excelência, da qual tanto nos orgulhamos. 


domingo, 27 de novembro de 2011

Multicâmpus não há uma só opção


Três câmpus para a UFABC fundar e construir,
Nas Sete cidades que formam as terras em que deve inovar,
Cada câmpus com seu bacharelado interdisciplinar,
E algumas áreas de afinidade que ainda se deve decidir,
Pelos Centros responsáveis pelos conhecimentos a ensinar
E o Um Reitor que a todos deve governar.  
Contudo, ainda muita discussão para modelo multicâmpus se definir...

Há algum tempo atrás dei algumas opiniões sobre a questão multicâmpus na UFABC (http://migre.me/6fYEj).  Contudo, obviamente, este é um tema para muitos textos. Algumas vezes,  acho que já foram usadas palavras demais sobre o assunto. De qualquer modo, houve uma reunião conjunta de CONSUNI e CONSEPE (nossos conselhos superiores), no dia 22/11, para mais uma vez se abordar o assunto.

A Universidade é uma organização bastante complexa e na tentativa de se ter uma visão mais racional sobre os temas a se decidir, a reitoria tem usado a tática de Grupos de Trabalho (GTs): os conselhos escolhem representantes docentes e funcionários para estudar e produzir um relatório sobre o tema requisitado. Com base nisto, espera-se que os conselhos possam tomar decisões mais solidamente embasadas para tais questões. Tal abordagem parece ainda mais razoável ao se considerar questões de grande influência e, consequentemente, polêmicas.

Como reaprendi naquela reunião conjunta, a UFABC já nasceu multicâmpus nos documentos de sua criação. Contudo, convenhamos que era muito fácil ser uma Universidade Multicâmpus, quando só havia UM câmpus (de Santo André) a se construir e cuidar. A partir da criação do câmpus de São Bernardo do Campo e o inicio dos trabalhos no Bloco Sigma (o antigo Colégio Salete reformado), juntamente com a criação do segundo bacharelado interdisciplinar: Bacharelado em Ciências e Humanidades (BC&H), percebeu-se que a dinâmica era bem mais complicada e, portanto, era urgente que se decidisse como seria a forma da Universidade ser Multicâmpus de verdade e não apenas em promessas documentais feita ao governo Federal.

Antes de tomar decisões é preciso saber sobre o que se deve decidir, o que nos leva ao proposto Grupo de Trabalho Multicâmpus que resultou em um relatório elencando algumas possibilidades e sugestões (http://migre.me/6fVNw) no inicio do ano de 2011. Apesar de tal texto já estar entre nós a algum tempo e ter ocorrido algumas apresentações sobre os resultados (com os vertiginosos números de participação de 9 e 13 pessoas em cada uma delas), a discussão chega a um momento critico e acalorado no qual os Conselhos Superiores devem tomar uma decisão clara (e, talvez, definitiva) sobre que tipo de Multi-câmpus a UFABC deve ser.

No relatório são criados alguns cenários. Pessoalmente, não os vejo como alternativas numa questão multi-escolha (como alguns comentaram):  Não bastar dizer que se quer algo entre A e F; tudo é bem mais difícil que isso... De fato, os cenários são mais análogos a casos limites imaginados, similar ao que fazemos ao  obter uma solução geral de uma equação muito complicada, nós paramos para analisar alguns casos particulares na esperança disto nos dar a intuição necessária para uma compreensão mais profunda da solução encontrada. Neste relatório, em especial, observe o cenário F, que na verdade é apenas a descrição do que vivenciamos atualmente e do cenário B, que é aquele que reitoria considera mais adequado a perseguirmos e que estabeleceríamos algo assim por volta de 2020. Neste cenário final, haveria todos os BIs em todos os câmpus e os cursos pós-BI divididos entre os diferentes três campus por afinidade.

Na reunião que presenciei,  as posições são as mais conflituosas. Percebe-se, que o CECS (Centro de Engenharias, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas) apoia a posição multicâmpus da Reitoria e já faz as primeiras medidas para isto com o envio de três engenharias para São Bernardo do Campo: Biomédica, Gestão e Aeroespacial. Eles são pragmáticos: não há espaço suficiente para todas as engenharias em Santo André, portanto, é preciso expandir e instalar engenharias em outros câmpus. Do outro lado da questão, o CMCC (Centro de Matemática e Ciências Cognitivas) se posiciona por permanecer em Santo André. De fato, propõe que cada câmpus tenha um único BI (BC&T para SA, BC&H para SBC e um novo BI para Mauá) e os pós-BIs nos câmpus adequados por afinidade.  Creio que muitos no CCNH (Centro de Ciências Naturais e Humanas), centro ao qual pertenço, estão alinhados à proposta do CMCC. Contudo, não foi tomada uma decisão oficial como CCNH ainda... Cada Centro com sua posição tem argumentos bastante validos. De fato, em todas as equações manter os BIs é o mais custoso a universidade e demandaria uma grande mobilidade de Docentes e TAs, que poderia acarretar em um grande prejuízo ao tempo efetivo de trabalho de todos e, consequentemente, tempo para dedicar a pesquisa. Isto entre tantas outras implicações que nem menciono aqui na esperança de ser 'um pouco menos' prolixo.  

Ao fim da reunião, foi decidido que ainda era preciso se discutir bem mais antes de decidir algo. E, portanto, novas reuniões virão... Independente, de qual seja a posição que a Universidade tome em relação a sua natureza multicâmpus, esta necessariamente precisará estar explicita em nosso PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional) que descreverá nossos planos de 2012 a 2020. Creio que é obrigação de todos os estudantes, funcionários e professores se envolverem em tais discussões e levar uma opinião clara aos seus representantes. O modelo multicâmpus da UFABC é um tema que afeta a todos nós e o pior pecado que poderia se cometer neste momento seria a omissão. 

A cada dia que passa, sinto que mesmo a Universidade sendo construída de concreto é, na verdade, moldada pelas vontades daqueles que a governam. Isto faz com que vivamos em Torres feitas de paredes fluidas e propensas a continua modificação.  Nada mais justo para uma instituição que tem seus centros criados sobre as palavras de ordem: Descoberta, Sistematização e Invenção. 


domingo, 20 de novembro de 2011

Entre caminhos indistinguíveis ou coisa que o valha...



Sempre que leio algo sobre Feynman, lembro-me que ele considerava o fenômeno de interferência como o misterioso coração da Mecânica Quântica. A interferência fala sobre o que acontece quando uma partícula e/ou onda tem dois ou mais caminhos indistinguíveis para seguir. Sob tal situação, algo inusitado acontece: é como se tal ente físico percorresse ambos os caminhos ao mesmo tempo, dede que não haja realmente como distinguir entre eles. Estas partículas abusam de sua ‘liberdade de escolha’ e não optam por nenhum caminho em específico, apenas seguem por todos os possíveis e pronto.  Como Feynman afirmaria: um grande mistério!

Na vida moderna, nossas escolhas se reduzem ao clássico (no sentido de não quântico),  também temos muitos caminhos a escolher. Porém, eles nos parecem quase sempre bem traçados, mas nem por isso chegamos onde acreditávamos que deveríamos. Em geral, ir de A até B sempre é mais complicado do que imaginávamos... De certo modo, isso deve ser o coração misterioso de ser Humano. Diferente das partículas, temos uma consciência para sempre nos questionar: "Realmente por aqui que eu gostaria de ir?" , "Era mesmo essa paisagem que queria a minha volta?" ou "Se quisesse deixar este caminho, por onde seguiria?" Muitas perguntas, quase nenhuma com uma resposta satisfatória. Para nosso infortúnio (ou não), somos bem diferentes dos entes quânticos: A nós só é dado o direito de trilhar um caminho (de cada vez). Dito SIM para um caminho, você automaticamente diz NÃO para todos os outros. Apenas UM pode ser seguido. Então, está com inveja das partículas quânticas? Não fique, nem contei a história toda: a interferência sempre acaba entre algo destrutivo e construtivo (quase uma loteria). Sem falar de tantas outras implicações. Como você pode perceber, não necessariamente é uma boa coisa ser quântico.  

Pessoalmente, há dias que estou me sentindo confiante e caminho de cabeça erguida, olhos focados a minha frente, porque é o que acredito que eu quero. Outros dias, já não tão certo, olho para os lados e vejo se existe alguma trilha alternativa ou um retorno. Porém, continuo (quase sempre) no mesmo caminho, mais por medo de me perder por completo do que por não enxergar outros destinos possíveis. Também, há dias loucos em que não me importo com qual direção eu vou. Nestes dias, posso andar para qualquer lado, pois um caminho parece tão bom quanto qualquer outro. No fim, percebo que não fui a lugar algum... Apenas andando em círculos, pelo menos, nestes dias aprecio a vista a minha volta ;-)

Hoje foi um dia desses de não ir a lugar algum.  Cansei, sentei-me e, por fim, resolvi escrever no blog, esperando que a minha bússola inspiradora indique para onde devo ir. Infelizmente, para você que me lê, eu estava tão vazio de direção que não pude pensar em nenhum tema para o blog além dessa falta de caminho. Amanhã, sei que volto a minha marcha, pois sempre estamos nos movendo no tempo e espaço, mesmo que nem percebamos bem isso. Isso me lembra que, talvez, a única certeza na vida seja essa grande Dúvida. Porém, isso é tema para outro dia, outra conversa neste blog sobre o senhor Heisenberg e minhas Alusões Quânticas da Vida.