domingo, 12 de fevereiro de 2012

Uma Quântica para chamar de Nossa.

[ uma imagem extraída de um desses sites de 'coisas' quânticas (rs) ]

Um dos fatos curiosos de trabalhar em pesquisa com Óptica Quântica é que para as pessoas que você encontra por aí, sempre acabo recebendo a alcunha de Físico Quântico. Acho um titulo tão curioso quando o ‘físico nuclear’ dos anos sessenta ou o cientista de foguete dos setenta.  De certa modo, creio que as pessoas tentam colocar estas profissões mais exóticas em alguma classe conhecida, que permita a criação de um estereótipo apropriado.

A Física Quântica é famosa entre os cientistas por seus sucessos, mesmo que ainda possua tantas dificuldades em se obter uma interpretação mais ‘natural’ em paralelo a física dita clássica.  Já não vivemos mais nos primeiros anos da quântica com tantas críticas ferrenhas e crises de muitos sobre suas incompatibilidades.  Temos tantas provas e nosso mundo eletrônico apresenta tantas manifestações de suas consequências, que quase ninguém questiona que ela seja uma realidade. De fato, realidade é uma das questões centrais da Física Quântica, de um certo modo definida por um ente chamado observador, seja lá quem ‘ele’ seja.

Existe uma quantidade enorme de textos nos mais distintos níveis para aqueles que pretendem conhecer um pouco mais dos postulados, consequências e aplicabilidades da quântica como os físicos a veem.  Neste texto, gostaria apenas de fazer comentários rápidos sobre minhas impressões de outra consequência da teoria quântica: sua disseminação e hibridização com outras ‘formas de pensamento’ para os não cientista (e mesmo entre alguns pesquisadores).

O homem é sedento por um significado especial para tudo que está a sua volta. Quantos de nós não presenciamos em nossas aulas de Literatura, um professor avido por nos mostrar que por trás de frases como “A cortina era amarela”, que havia um autor ansioso por passar um profundo sentimento de esperança e ao mesmo tempo um temor pela brevidade humana quanto sua relação com o Universo e blá blá blá. Sinceramente,  acho que o autor queria apenas dar uma cor a cortina, branco é meio básico demais, não acha?  De qualquer modo, acredito que com esta analogia dou um boa ideia do que estou tentando dizer aqui.

Uma busca rápida na internet nós leva a um enorme número de sites falando sobre curas quânticas, médicos quânticos, consciências quânticas, empresas quânticas, gerenciamento quântico, tarô quântico, etc. Basicamente, qualquer palavra que você puder imaginar, basta colocar o sufixo quântico e vender em uma bela e atraente embalagem. Tenho uma amiga que adora brincar comigo dizendo que eu deveria deixar a carreira de pesquisador e abrir uma clínica de terapia quântica. Provavelmente, isto daria muito mais dinheiro e muito menos preocupações que a intricada carreira acadêmica em uma Universidade. De qualquer modo, permaneço em minha obstinada busca pela verdade por meio da ciência. Ainda acredito que isto me levará mais longe, mesmo que não seja tão lucrativo.

Muitos podem me questionar, mas como você pode ser tão limitado e dizer que tudo isso não é verdadeiro? Realmente, não quero ser limitado... Por exemplo, gosto muito da ideia de que existam Unicórnios e Dragões. Talvez, quem sabe? Há relato deles em muitos livros antigos e até algumas pessoas dizem que já os viram. Por que alegar que eles são apenas artefatos ficcionais. Afinal, ninguém pode provar definitivamente sua total não existência? Entende o que eu digo... Com certas argumentações, não há qualquer abordagem justa.  A não ser o: Então, traga-me aqui o maldito Unicórnio e você terá seu dinheiro! Estou esperando...

Não digo a ninguém que não deva acreditar nestas alegações de ‘poderes místicos’ da Física Quântica. Porém, alerto que cientificamente falando a Física Quântica se mostra efetiva apenas para explicar o Universo do muito pequeno composto por alguns átomos e moléculas e, mesmo nesta região, ainda temos muitas questões sem respostas totalmente satisfatórias. Qualquer extrapolação para a vida de um homem ou sua consciência é questão de Fé e Religião; temas que, do meu ponto de vista, a Ciência deve educadamente se recusar firmemente a dar qualquer contribuição. Em nossa sociedade: Ciência e Religião ainda são temas não miscíveis e, sinceramente, espero que permaneçam assim por muito tempo.

Por fim,  aconselho a você que se alguém surgir com uma ‘quantice’ para te vender,  questione e veja bem o que te oferecem.  Principalmente, se você tiver problemas reais, nestes casos, soluções imaginárias não irão te ajudar e só deixaram sua situação ainda mais complexa. A escolha sempre será sua pelo que você aceitará como “verdade” em sua vida, apenas esteja certo que faz suas escolhas pelas razões corretas.



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