[ uma imagem extraída de um desses sites de 'coisas' quânticas (rs) ]
Um
dos fatos curiosos de trabalhar em pesquisa com Óptica Quântica é que para as
pessoas que você encontra por aí, sempre acabo recebendo a alcunha de Físico Quântico.
Acho um titulo tão curioso quando o ‘físico nuclear’ dos anos sessenta ou o
cientista de foguete dos setenta. De
certa modo, creio que as pessoas tentam colocar estas profissões mais exóticas
em alguma classe conhecida, que permita a criação de um estereótipo apropriado.
A
Física Quântica é famosa entre os cientistas por seus sucessos, mesmo que ainda
possua tantas dificuldades em se obter uma interpretação mais ‘natural’ em
paralelo a física dita clássica. Já não
vivemos mais nos primeiros anos da quântica com tantas críticas ferrenhas e
crises de muitos sobre suas incompatibilidades.
Temos tantas provas e nosso mundo eletrônico apresenta tantas
manifestações de suas consequências, que quase ninguém questiona que ela seja
uma realidade. De fato, realidade é uma das questões centrais da Física
Quântica, de um certo modo definida por um ente chamado observador, seja lá
quem ‘ele’ seja.
Existe
uma quantidade enorme de textos nos mais distintos níveis para aqueles que
pretendem conhecer um pouco mais dos postulados, consequências e
aplicabilidades da quântica como os físicos a veem. Neste texto, gostaria apenas de fazer comentários
rápidos sobre minhas impressões de outra consequência da teoria quântica: sua
disseminação e hibridização com outras ‘formas de pensamento’ para os não
cientista (e mesmo entre alguns pesquisadores).
O
homem é sedento por um significado especial para tudo que está a sua volta.
Quantos de nós não presenciamos em nossas aulas de Literatura, um professor avido
por nos mostrar que por trás de frases como “A cortina era amarela”, que havia
um autor ansioso por passar um profundo sentimento de esperança e ao mesmo
tempo um temor pela brevidade humana quanto sua relação com o Universo e blá
blá blá. Sinceramente, acho que o autor
queria apenas dar uma cor a cortina, branco é meio básico demais, não
acha? De qualquer modo, acredito que com
esta analogia dou um boa ideia do que estou tentando dizer aqui.
Uma
busca rápida na internet nós leva a um enorme número de sites falando sobre
curas quânticas, médicos quânticos, consciências quânticas, empresas quânticas,
gerenciamento quântico, tarô quântico, etc. Basicamente, qualquer palavra que
você puder imaginar, basta colocar o sufixo quântico e vender em uma bela e
atraente embalagem. Tenho uma amiga que adora brincar comigo dizendo que eu
deveria deixar a carreira de pesquisador e abrir uma clínica de terapia
quântica. Provavelmente, isto daria muito mais dinheiro e muito menos
preocupações que a intricada carreira acadêmica em uma Universidade. De
qualquer modo, permaneço em minha obstinada busca pela verdade por meio da
ciência. Ainda acredito que isto me levará mais longe, mesmo que não seja tão
lucrativo.
Muitos
podem me questionar, mas como você pode ser tão limitado e dizer que tudo isso
não é verdadeiro? Realmente, não quero ser limitado... Por exemplo, gosto muito
da ideia de que existam Unicórnios e Dragões. Talvez, quem sabe? Há relato
deles em muitos livros antigos e até algumas pessoas dizem que já os viram. Por
que alegar que eles são apenas artefatos ficcionais. Afinal, ninguém pode
provar definitivamente sua total não existência? Entende o que eu digo... Com
certas argumentações, não há qualquer abordagem justa. A não ser o: Então, traga-me aqui o maldito
Unicórnio e você terá seu dinheiro! Estou esperando...
Não
digo a ninguém que não deva acreditar nestas alegações de ‘poderes
místicos’ da Física Quântica. Porém,
alerto que cientificamente falando a Física Quântica se mostra efetiva apenas para
explicar o Universo do muito pequeno composto por alguns átomos e moléculas e,
mesmo nesta região, ainda temos muitas questões sem respostas totalmente
satisfatórias. Qualquer extrapolação para a vida de um homem ou sua consciência
é questão de Fé e Religião; temas que, do meu ponto de vista, a Ciência deve
educadamente se recusar firmemente a dar qualquer contribuição. Em nossa
sociedade: Ciência e Religião ainda são temas não miscíveis e, sinceramente,
espero que permaneçam assim por muito tempo.
Por
fim, aconselho a você que se alguém
surgir com uma ‘quantice’ para te vender,
questione e veja bem o que te oferecem.
Principalmente, se você tiver problemas reais, nestes casos, soluções
imaginárias não irão te ajudar e só deixaram sua situação ainda mais complexa.
A escolha sempre será sua pelo que você aceitará como “verdade” em sua vida,
apenas esteja certo que faz suas escolhas pelas razões corretas.
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