domingo, 1 de maio de 2011

"What makes you a coward?"-- "It's a mystery,"


"It's a mystery," replied the Lion. "I suppose I was born that way. All the other animals in the forest naturally expect me to be brave, for the Lion is everywhere thought to be the King of Beasts. I learned that if I roared very loudly every living thing was frightened and got out of my way. Whenever I've met a man I've been awfully scared; but I just roared at him, and he has always run away as fast as he could go. If the elephants and the tigers and the bears had ever tried to fight me, I should have run myself--I'm such a coward; but just as soon as they hear me roar they all try to get away from me, and of course I let them go."

Em que lugar a coragem é guardada? Por que alguns de nós tem tanta e outros tão pouca.... O pobre Leão era um covarde e, a pior parte, era consciente disso. A maioria de nós tem sua covardia lá dentro, escondida no fundo e camuflada por uma atitude de ‘sensatez’; por vezes, "um rugir" para ludibriar os outros. Esconder o que, de fato, sentimos... Por vezes, nosso "rugir" é tão alto e soa tão autêntico que até nós mesmos acreditamos nele; coragem aparente.


Todos temos nossos medos, em suas mais diferentes formas, nas mais variadas escalas de intensidade. Todos nos sentimos fracos quando é preciso tomar uma decisão realmente importante ou encarar um caminho repleto de incerteza e escuridão. Todos nos acovardamos quando é preciso seguir através de uma barreira ou desistir de algo que consideramos vital (Aprenda que desistir nem sempre é sinal de covardia: algumas desistências precisam ser munidas da mais ferrenha coragem para serem bem sucedidas). Quando nos encontramos nestes impasses, quase sempre, descobrimos de algum modo como prosseguir. Então, dê onde obtemos essa coragem? Pessoalmente, acho que não obtemos... simplesmente fazemos o que é preciso ser feito.


Temer é normal; porém, voltar atrás ou parar é inaceitável, até mesmo, condenável. (Continuo com minhas alusões aos caminhos, todos eles bastante distintos). Assim, seguimos, fazendo escolhas e as repensando. Será que foi realmente boa?  Se a resposta é sim, você continua; se for não, você procura o modo para refazê-la ou corrigir o que for possível. Existe muito mais coragem em admitir o erro, que persistir cegamente na escolha errada; porém, quase nunca, é natural aceitar isso e mudar a atitude.

Sobre nosso amigo Leão, ainda não cheguei à parte do livro em que o mágico o presenteia com a "cura da covardia". Porém, se eu fosse o mágico de Oz, eu daria ao Leão este texto de Clarice Linspector; coragem (ou ausência de) é uma questão de ESCOLHA:

“Gosto dos venenos mais lentos, dos cafés mais amargos, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.

Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:- E daí? Eu adoro voar!

Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre."

Talvez, a coragem sempre seja apenas isso: uma ilusão (de escolhas). Talvez, a coragem seja apenas aquela loucura que vemos nos olhos dos outros quando experimentam a sensação de queda livre e apreciam isso até o derradeiro instante.  Invejamos essa insanidade alheia, pois só a loucura concede a liberdade necessária para que se tenha a coragem irrestrita, a ousadia de pensar o imponderável e a possibilidade de um coração pleno. Sem essa loucura, a vida torna-se apenas um caminhar vazio em uma irrisória estrada dourada levando a uma cidade de mentiras e falsas esperanças. 

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Metal por toda parte, coração em lugar algum.




"Do you suppose Oz could give me a heart?", asked Tin Man. "Why, I guess so," Dorothy answered. "It would be as easy as to give the Scarecrow brains."

Hum.... Ter um coração é tão fácil quanto ter um cérebro?!? I'm not so sure. Lembro-me, muito pequeno, de ouvir de meu pai: "Homem não chora"; que, basicamente, significa homem NÃO SENTE! Não culpo meu pai pelas suas palavras, ele apenas me ensinava o que aprendeu de seu pai, que aprendeu de seu pai, que aprendeu de seu pai, que aprendeu de seu pai... e está linha vai longe até, provavelmente, o primeiro homem. 

É difícil sentir, melhor é pensar que não se sente. Transformar todo desejo, vontade, anseio em objetivo claro e bem argumentado... Não fazemos porque sentimos que devemos fazer, mas porque é o mais lógico a ser feito; RACIONAL! Algumas mulheres podem dizer "os homens de hoje em dia estão mudando; são mais conectados com seus sentimentos". Isto é pura balela! Alguém deve ter contanto para eles que isto era uma ótima "jogada" para "pegar" mulher... rsrsrs No fundo, somos todos homens de lata! Mas isso não é um atributo exclusivo ao gênero masculino, há inúmeras mulheres de latas também (Bem como qualquer outro gênero que considere mais politicamente correto mencionar... A 'Latidade' independe de gênero.). Vivemos tempos de cidades de Concreto e pessoas de Lata. As poucas sensações que nos permitimos também são as enlatadas; aquelas de fácil consumo: compra, troca e venda. 

O personagem de hoje é o Tin Man (o Homem de Lata). De todos os personagens, é o meu favorito, me identifico muito com ele e seus dilemas e anseios. Ao menos, eu me identificava antes; agora, preciso pensar mais sobre isso. De qualquer modo, nosso Tin Man não possui CORAÇÃO e esta ausência o faz SOFRER...  Hum, sinto uma certa incoerência aqui!?! 

De qualquer modo, se a insana idéia do Scarecrow de conseguir um cérebro fazia algum sentido; por que não desejar um coração? Provavelmente, o Tin Man teria ficado cheio de esperança, se tivesse um lugar para colocá-la. Ele seguiu adiante porque possuia um sonho e uma dica de qual direção tomar para alcançá-lo; passos largos para Emerald City!

Pense bem, quando não se tem um deles (cérebro ou coração) é fácil tentar conseguí-lo. O difícil é quando se tem AMBOS, mas é necessário deixar UM deles para trás. Isto sim, doí. Quase todos nós precisamos fazer este tipo de escolha em algum momento (Os mais azarados, o tempo todo =/). Olhar de frente, EMOCIONAL e RACIONAL, e optar por um deles, pois quase sempre eles levam a direções diferentes, frequentemente, opostas. Escolhemos porque é preciso! Na vida nos tornamos Scarecrow ou Tin Man; vagando pelo mundo e deixando parte de nós para trás. Todo sonho tem seu preço, o que é preciso saber é se você está disposto a arcar com as despezas.

Voltei a ler "The Wonderful Wizard of Oz", quero lembrar qual o destino de cada um deles. Quanto ao meu... ainda é uma história sendo escrita e estou tentanto manter todas as minhas partes juntas rsrsrs. Porém, independente do que for necessário deixar para trás, ainda é imprescindível seguir adiante. Isto é uma VERDADE para todos nós.



quarta-feira, 27 de abril de 2011

"If I go to the Emerald City with you, that Oz would give me some brains?"



Pelo título, podemos perceber que hoje é dia de falar do Scarecrow (Espantalho) e a sua busca por sabedoria, ou melhor, algum cérebro (Claramente, duas coisas bem distintas!). 
O ingênuo Scarecrow busca saber um pouco mais do que ele sabe. Ele considera que não tem cérebro. Uma dedução obtida ao observar o próprio trabalho: permanecer estático a espantar corvos. Qualquer um pensaria que não seria necesário muito cérebro para isso e, provavelmente, não precisa mesmo. Muitas vezes, quando alguém nos pergunta: Quem é você? - A resposta, quase automatica, é: "Eu faço (...)" ou "Eu trabalho com (...)". Na maior parte do tempo não somos Pessoas, mas Funções... Que somos aquilo que fazemos (afirmação bem Existencialista) até posso aceitar, mas que sejamos somente aquilo pelo que nos pagam para fazer... Hum, não sei não. Parece que é tudo igual para você? Se assim for, isso sim é falta de inteligência, ao menos, do meu ponto de vista rsrsrs. 
Minha mensagem é simples: O Scarecrow não precisava pedir inteligência para o Wizard of Oz, bastava um pouco de auto-confiança e isto ninguém poderia dar a ele, nem mesmo com magia. Também não há nenhuma tecnologia milagrosa que poderia dar a ele o que desejava, mesmo colocando a palavra ‘Quantum’ na frente ou por intermédio de rebuscados livros de ‘10 simples passos para...’. 
Contudo, até entendo a ingenuidade e as conclusões do Scarecrow .... Muitas vezes, eu sou "espantalho" também. Ainda mais neste(a) Universo(idade) em “consolidação” com o qual lido todos os meus dias. Tantas opiniões divergentes, tantos jeitos errados de justificar que se esta fazendo o certo. Pessoas que pressentem muita Ciência, onde algumas vezes só encontro confusão e números vazios: excelência expressa do A ao F.  Ainda pior do que ser só o que você faz, é ser apenas os números que quantificam o quão ‘bom’ você é no que faz... Nada mais triste do que o Homem deixar de ser a Obra, para ser apenas os números na planilha que refletem distorcidamente a importância da Obra. 
Para ser sincero, não acredito que a inteligência resida apenas em resolver uma equação muito complicada, manipular Hamiltonianos elaborados ou construir máquinas inusitadas. Inteligência maior é compreender a importância de fazer tudo isso. Quando era um jovem estudante, em tempos de graduação na USP, lembro-me de uma frase de um grande professor: "Bons cientistas sempre encontram as respostas certas, mas os Excelentes sabem quais são as perguntas que valem a pena responder!" 
Inteligência é NÃO menosprezar a si mesmo; NÃO deixar a auto-estima em baixa. Inteligência é saber tudo o que você é capaz de fazer e alcançar este limite. Ser o melhor que você pode ser é mais que uma obrigação (Acho que parece livro de auto ajuda, mas eu precisava escrever isso). Eu não CULPO o Scarecrow pelo que ele pensava de si mesmo, mas eu também não o DESCULPARIA se ele não fosse a Emerald City buscar o que ele ansiava conseguir; ir pelo caminho que acreditava que o tornaria tudo que poderia ser. Para algumas ausências, reconhecê-las já representa o seu preenchimento, pois dar-lhes um nome e um propósito é o requerido para transformá-las em presenças. 

"I don't think this is Kansas ..."


Sempre gostei de certas histórias que povoavam minha infância. De certo modo, sempre vi filosofia e sabedoria nestes contos infantis. Quem me conhece um pouco melhor, sabe que sempre apareço com alguma referência ao "Alice's Adventures in Wonderlands"; de longe, Alice é a minha favorita... 

Entretanto, não é a única lembraça  dos tempos de criança que aprecio para minhas alusões sobre ‘a Vida, o Universo e Tudo Mais...’ (rsrsrs).  Outra história que também me fascina é "The Wonderful Wizard of Oz" com seus carismáticos personagens. A estranheza da vida em relação aos nossos desafios  e consequentes dilemas que surgem, por vezes, são muito  similares aos destes personagens.

Pense bem nas linhas gerais da história: Um homem de lata que busca um coração; Um espantalho que busca um cérebro; Um leão que busca coragem e uma jovem garota (Dorothy) que busca um caminho (para retornar a sua casa). Uma representação clara da vida - sempre uma BUSCA; constantemente, mais do que um simples seguir adiante. 

No mundo de Oz, cada um destes personagens encontrou algo, que se não era o que queriam ou esperavam, ao menos era o que necessitavam naquele momento, mesmo que a conscientização disso só surgisse muito depois; misteriosos desígnios da vida (ou  provavelmente, apenas capricho do autor). Os personagens de Oz têm características tão interessantes que é preciso um post para comentar cada um deles. Assim, essa será a semana  de Oz e começo pela jovem Dorothy e sua famosa frase: "I don't think this is Kansas..."

A jovem Dorothy, de repente, se viu jogada num outro mundo: lugares, pessoas, comportamentos absurdamente distintos do seu confortável e bem conhecido "Kansas" (mesmo que não tão feliz). [Nada diferente de nós, quando nos percebemos em um ‘novo estado civil’, ou em um completo ‘novo ambiente de trabalho’]. Um misto de espanto, horror e excitação acompanhou essa menina durante a nova situação.  Porém, desde o momento que ela chegou àquela estranha terra, tudo que desejava era retornar a sua casa. Assim, começou sua caminhada pela estrada de tijolos amarelos, mas com a obsessão de se manter a mais conectada possível ao seu mundo e retornar a ele (Mas havia, de fato, o porquê de voltar?). Encontrar o caminho para o que  era o 'seu' bem conhecido, amado e, portanto, seguro mundo! 

Eu, realmente, não lembro se Dorothy encontra sua casa, mas lembro de que Dorothy pouco a pouco tornar-se parte de Oz. Todavia, não é fácil admitir a mudança e aprender a viver com ela. Seguir o caminho nunca é fácil, mas é preciso! Perceber que o diferente não é necessariamente ruim, aceitar que possivelmente é o mais adequado e natural para o que há por vir. Em “The Wonderful Wizard of Oz”, acredito que a maior lição sobre a menina que vemos foi que Dorothy aprendeu a ser Dorothy, onde Dorothy estivesse... Qualquer semelhança nunca é mera coincidência! 

segunda-feira, 21 de março de 2011

A derradeira queda de Ícaro



Ícaro era filho de Cronos (o próprio tempo) e de uma escrava de Perséfone (aquela que ficara indecisa entre mundos). Como qualquer filho, Ícaro era avesso aos modos dos pais; portanto, um jovem afoito, apressado e ansioso por deixar o que era o seu bem conhecido mundo. Ele tinha sonhos de grandeza e conquista: alcançar o inalcançável.

Para realizar os sonhos de Ícaro, seu pai criou, em penas e cera de abelhas, um grande par de asas. Contudo, advertiu ao jovem que fosse comedido: que evitasse a arrogância de encarar o grande Astro Rei olhos nos olhos e que evitasse fitar de perto os grandes mares com sua fria e discreta profundidade. História ainda mais antiga que a dos gregos é a de filhos que pouco caso fazem das palavras do pai. Tão sábios e perspicazes se imaginam estes jovem...

Ícaro se denominou Senhor dos Céus, causando inveja até ao próprio Zeus, tamanha a naturalidade e elegância com que o jovem rasgava o leve azul e fluía entre as nuvens.  Contudo, nenhuma liberdade em demasia é mantida impune, nenhum privilégio prevalece sem um preço.  Zeus mandou que seu filho Apolo conduzisse a carruagem dos céus e levasse o jovem imprudente ao acerto de contas. Ícaro, em sua teimosia, mal percebeu que arriscava as asas e a vida. O inevitável ocorreu e, gota a gota, a cera das asas caia ao mar: lágrimas de um sonho que se desfez.  Quando o jovem se conscientizou do fato, já era tarde para qualquer prudência. Ícaro, pateticamente, batia desesperadamente os braços, que já não possuía uma única pena para apaziguar a voraz gravidade. O jovem era atraído para seu destino com o inverso do quadrado da distância do fim.

Pela última vez, Ícaro rasgou, rodopiou e sinalizou no céu, mas agora sem a graça de outrora. Ele aprendeu que para todo aquele que alcança o seu Apogeu, nada mais resta que conformar-se da proporcional e vertiginosa queda. Contudo, os poucos que testemunhavam os últimos instantes de Ícaro, acreditavam ter visto claramente um sorriso no rosto do azarado rapaz e de alguma forma ele emanava paz.  Fato que era completamente incompreensível para aqueles que o observavam. Afinal, eles sempre foram  apenas homens que jamais ousaram tirar os pés do chão daquela poeirenta vida rotineira e, portanto, não podiam conceber o engrandecimento de alcançar todo o seu potencial, mesmo que para isso fosse inevitável a derradeira queda.

terça-feira, 8 de março de 2011

O Equilíbrio de Penélope

A  uma  mocinha.



Quase toda aventura se inicia ao deixar a casa. Enfrentar o grande mundo a nossa frente, buscar aquilo que muitas vezes nem sabemos muito bem o que é, mas é exatamente o que nos inspira a partida. Quase toda aventura é sobre conquistar algo que nos aguarda e, quase sempre, não se sabe ao certo se pode ser encontrado e, até mesmo,  obtido.  Contudo, uma das mais épicas aventuras já relatadas trata exatamente do trajeto inverso: uma busca pelo retorno ao lar! Eu falo da grande Odisseia de Ulisses. Nesta triunfal história, o protagonista Ulisses enfrenta diversos desafios, monstros e Deuses para voltar a sua sonhada Ítaca; ilha na qual era o rei por direito.

Pessoalmente, admiro as proezas de Ulisses, mas não o considero a figura mais interessante de Odisseia. De fato, a personagem mais carismática é Penélope. Muitas vezes, ela é retratada como uma figura passiva: apenas a esposa que aguarda pacientemente o retorno do marido. Todavia, Penélope é muito mais...  Ela é o pilar que mantem a ilha de Ítaca como o lugar para o retorno de Ulisses.  Ela é a inspiração que sempre faz Ulisses vasculhar mais fundo por forças para superar todos os desafios de seu percurso amaldiçoado.  

Penélope é o Principio e o Fim: Ela é o grande motivo pelo qual Ulisses inicia sua viagem de retorno a casa e também o “prêmio” pelo qual ele luta a todo instante. A aventura de Ulisses não termina nos braços de sua amada em um implícito ‘felizes para sempre’?

Penélope não é uma mulher passiva, muito pelo contrário, é a mulher de atitude que equilibra a ilha e permanece no controle, mesmo com tantos abutres tentando se aproveitar e assumir o posto de seu ausente Ulisses.  Penélope não precisava de nenhum substituto impostor, pois ela se mantém fiel à esperança do retorno do marido; firme em suas convicções. Com este objetivo, ela usou de todo a sua inteligência e, até mesmo, a sua malícia para enfrentar a oposição ao seu esposo. Pobres homens que tão pouca defesa tem contra a malícia feminina: caímos, pateticamente, em seus caprichos e nos submetemos a sua vontade...  Assim, Penélope continuou senhora de Ítaca e lutou ativamente, ao seu modo, pelo retorno de seu amado Ulisses.

Penélope foi o farol, que sempre aceso, trouxe os Argonautas através dos terríveis mares e permitiu que Ulisses aportasse em sua desejada ilha. Penélope foi a agulha da bússola que, mantida no coração de Ulisses, sempre mostrou qual deveria ser o seu caminho: o retorno triunfante aos braços de sua amada.

Bem aventuradas sejam todas as modernas ‘Penélopes’ que tornam nossas vidas interessantes, nos inspiram e nos dão o incentivo de vermos o mais brilhante Sol, mesmo quando existem tantas nuvens escuras no céu.  Louvores às ‘Penélopes’ que conseguem desenterrar sorrisos de nossos corações, mesmo quando a vida nos afunda nas tristezas das  pequenas ingratidões do cotidiano.  Benditas as ‘Penélopes’ que sempre nos recordam que acima de qualquer conquista solitária que possamos ter,  a maior de todas as conquistas sempre será aquela ‘Penélope’ de nossa vida a tecer o nosso futuro e nos amparar em sua rede de compreensão, otimismo e força. 

quarta-feira, 2 de março de 2011

A escolha de Pigmaleão.




Pigmaleão, poderoso rei do Chipre, tinha domínio sobre toda a sua terra e assim podia controlar o destino de cada ser que nela vivia. Contudo, o rei bem observou que a vontade humana estava acima de qualquer controle. Nenhum Rei jamais ousou dizer-se dono do livre arbítrio, não é?

Não é conhecido quem feriu o rei e a que dor foi submetido. Porém, o traumatizou de tal modo que apagou dele a esperança nas mulheres... Seu repudio ao gênero feminino foi tamanho que criou o seu próprio reino de solidão.  Tal como Chipre era uma ilha isolada do mundo pelo mar Mediterrâneo, também o rei se fez ilha  e se isolou protegido pelo marfim; matéria prima para suas criações.

Em seus sonhos na busca pela mulher perfeita, resolveu moldá-la com suas próprias mãos. Foi um escultor tão zeloso que realizou um trabalho melhor que qualquer deus jamais havia conseguido.  Pigmaleão extraiu do marfim a imagem da mulher mais perfeita que superava qualquer outra já vista ou imaginada. Talvez a resposta sobre o sucesso de Pigmaleão, não esteja no entender bem de perfeição (matéria da qual são feitos os deuses), mas em vivenciar o imperfeito e recusar veementemente tudo aquilo que viveu.

Pigmaleão que havia se tornado prisioneiro de sua obsessão na arte de moldar marfim, encontrou cárcere ainda mais letal: escravo da paixão desenfreada pela estátua! Amou de todo corpo e alma aquela que moldou com suas próprias mãos. Amar a estátua, de fato, era tarefa fácil e até compreensível... Ter tal amor correspondido, isto apenas em devaneios insanos. Pigmaleão orou e implorou que alguém entre os deuses pudesse permitir que tal amor se concretizasse.

Afrodite, que não é a deusa da sabedoria, mas conhece bem a loucura humana oriunda da paixão e também sabe que razão nenhuma prevalece quando o coração pulsa.  Apiedou-se daquele homem que não encontrando no mundo a sua volta quem o satisfizesse, distorceu de próprio punho a realidade para criar algo que ia além do que poderia qualquer outro sonhar.  A bondosa deusa concedeu que o frio e rijo marfim fosse convertido em flexível e quente carne de uma mulher espelhada no sonho do habilidoso artesão.

Para a imensa alegria de Pigmaleão, a estátua tornou-se tão real e cheia de vida quanto ele.  Galatea foi o nome dado a tal mulher, que não surgiu de encantos e de uma costela dele, mas de seu árduo trabalho sobre o marfim. Com Galatea, o rei Pigmaleão casou-se, teve filho e viveu ‘feliz’, pois assim que deve ser toda história que vira lenda.

Quem pode recriminar Pigmaleão por preferir a perfeita realidade que criou com o olhar de seus sonhos à crua  trivialidade que a imperfeição nos joga todos os dias?