Pigmaleão, poderoso rei do Chipre, tinha domínio sobre toda a sua terra e assim podia controlar o destino de cada ser que nela vivia. Contudo, o rei bem observou que a vontade humana estava acima de qualquer controle. Nenhum Rei jamais ousou dizer-se dono do livre arbítrio, não é?
Não é conhecido quem feriu o rei e a que dor foi submetido. Porém, o traumatizou de tal modo que apagou dele a esperança nas mulheres... Seu repudio ao gênero feminino foi tamanho que criou o seu próprio reino de solidão. Tal como Chipre era uma ilha isolada do mundo pelo mar Mediterrâneo, também o rei se fez ilha e se isolou protegido pelo marfim; matéria prima para suas criações.
Em seus sonhos na busca pela mulher perfeita, resolveu moldá-la com suas próprias mãos. Foi um escultor tão zeloso que realizou um trabalho melhor que qualquer deus jamais havia conseguido. Pigmaleão extraiu do marfim a imagem da mulher mais perfeita que superava qualquer outra já vista ou imaginada. Talvez a resposta sobre o sucesso de Pigmaleão, não esteja no entender bem de perfeição (matéria da qual são feitos os deuses), mas em vivenciar o imperfeito e recusar veementemente tudo aquilo que viveu.
Pigmaleão que havia se tornado prisioneiro de sua obsessão na arte de moldar marfim, encontrou cárcere ainda mais letal: escravo da paixão desenfreada pela estátua! Amou de todo corpo e alma aquela que moldou com suas próprias mãos. Amar a estátua, de fato, era tarefa fácil e até compreensível... Ter tal amor correspondido, isto apenas em devaneios insanos. Pigmaleão orou e implorou que alguém entre os deuses pudesse permitir que tal amor se concretizasse.
Afrodite, que não é a deusa da sabedoria, mas conhece bem a loucura humana oriunda da paixão e também sabe que razão nenhuma prevalece quando o coração pulsa. Apiedou-se daquele homem que não encontrando no mundo a sua volta quem o satisfizesse, distorceu de próprio punho a realidade para criar algo que ia além do que poderia qualquer outro sonhar. A bondosa deusa concedeu que o frio e rijo marfim fosse convertido em flexível e quente carne de uma mulher espelhada no sonho do habilidoso artesão.
Para a imensa alegria de Pigmaleão, a estátua tornou-se tão real e cheia de vida quanto ele. Galatea foi o nome dado a tal mulher, que não surgiu de encantos e de uma costela dele, mas de seu árduo trabalho sobre o marfim. Com Galatea, o rei Pigmaleão casou-se, teve filho e viveu ‘feliz’, pois assim que deve ser toda história que vira lenda.
Quem pode recriminar Pigmaleão por preferir a perfeita realidade que criou com o olhar de seus sonhos à crua trivialidade que a imperfeição nos joga todos os dias?
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