domingo, 26 de junho de 2011

O que nos representa?

              


               A Universidade é um organismo vivo, bem mais do que muitos pensam.  Contudo, o que determina sua identidade não são as construções e muros que a delimitam, mas as pessoas que nela estudam e trabalham. A Universidade é um desses ‘organismos’ fantásticos nos quais a soma de todas as suas partes é muito mais que o Todo.  Entretanto, são vozes demais para se ouvir de uma só vez... Imaginem escutar todas as ideias, opiniões e queixas de todos ao mesmo tempo.  Assim, como qualquer ser vivo suficientemente complexo, criamos setores distintos (órgãos) para cuidar de assuntos determinados e funções necessárias.  Desenvolvemos uma hierarquia na esperança de que esta traga ordem e torne eficiente o gerir de tão complicado ser. Todavia, a analogia com um ser vivo termina neste ponto, pois no processo de decisões de uma Universidade se lida com questões mais complexas que apenas a sobrevivência, é preciso levar em conta um delicado equilíbrio entre objetivos, expectativas, obrigações e, até mesmo, egos.


                Cada ente que compõe, ou ao menos deveria compor a universidade, tem a liberdade de escolha e o DIREITO de sempre exercê-la.  Pessoalmente, acho que cada um deveria ter o DEVER de exercer conscientemente sua liberdade de escolha: votamos naqueles que nos representam e compomos assim todos os níveis da hierarquia que move a Universidade. Talvez, nem sejamos capazes de ver exatamente como todos estes conselhos, coordenações, comissões e colegiados se interligam. Porém, não podemos negar que a cada instante de nossa vida universitária as decisões nestes diferentes ‘órgãos’ estão nos afetando. Portanto, como podemos negligenciar o nosso DIREITO de decidir quem os compõe? Isso não é apenas uma irresponsabilidade, mas dar chance, no pior dos casos, a um ‘genocídio’ acadêmico.


                Alerto sobre isso porque estamos em meio a um belo processo Universitário: acabamos de eleger as primeiras coordenações dos bacharelados mais importantes (os carros-chefes de toda a filosofia universitária da UFABC): BC&T e BC&H. Em breve, teremos eleições para o aumento do número de membros do CONSUNI e, portanto, de nossa representatividade no conselho ‘mais elevado’ da Universidade. Bem como, foi iniciado o processo da eleição das coordenações dos cursos pós Bacharelados Interdisciplinares (BI) do CCNH e, muito em breve, também do CMCC e do CECS.  Logo, cada curso dessa universidade será gerido por um grupo que será escolhido ‘democraticamente’ por VOTO da plenária correspondente do curso. Será uma representação formada por docentes, discentes e funcionários e com papel fundamental na estruturação do ensino de cada curso nos próximos anos, bem como, em manter o ideal de seguirmos o nosso projeto pedagógico e as diretrizes que fazem da UFABC uma Universidade única que destoa em muito do modelos mais Tradicionais. 

Meu receio em relação a tudo que há por vir é que se repita a mesma baixa participação no processo de eleição das coordenações dos BIs por parte de todos (Sim, poucos votos de docentes, estudantes e funcionários!), que foi um simples reflexo do debate (que comentei em um post anterior), que aconteceu alguns dias antes das eleições.  De algum modo, as pessoas não se importam e, realmente, não entendo nem o como e nem o porquê disso ocorrer.  Se não nos interessamos por aqueles que nos representam e que guiarão a nossa UFABC por seus caminhos (e os nossos também), quase sempre, nada fáceis. Então, pelo que nos interessaremos?  Será que nosso desejo é sermos meros ‘Lemingues’ acompanhando o fluxo de nossos 'amigos' até o fiorde final e, então, em meio à queda desabafar: "Se eu soubesse que acabava assim, acho que teria opinado antes." Piadas a parte, o assunto é muito sério, e acho que cada um de nós deve assumir seu papel como parte ativa deste processo: divulgando, discutindo, votando e cobrando daqueles que elegemos por uma UFABC que seja um exemplo em EXCELÊNCIA como todos nós desejamos. Para terminar, lembro uma famosa frase de Arnold Toynbee “O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam”

terça-feira, 14 de junho de 2011

Em Nome do B, do C & do T




Hoje ocorreu o debate entre as duas chapas para a coordenação do Bacharelado em Ciência e Tecnologia (o nosso tão famoso BC&T). Ouvi o que as duas chapas concorrentes disseram e pareceu-me bem condizente. Todavia, confesso que o que me impressionou não foram as posições destas chapas, mas uma quase total apatia da comunidade UFABCiana para com o evento: Se muito, havia uns vinte professores e um ou dois alunos... Só para lembrar somos mais de 420 docentes e alguns milhares de discentes!  Portanto, numa analise bem superficial podemos dizer que: 1) todos estão muito bem informados e convictos de em quem votarão (hipótese da qual duvido muito); 2) Ninguém se importar!


Gostaria muito de acreditar que a segunda hipótese não é a verdadeira.  Contudo, nem sei como poderia negá-la.  Conversando com alguns amigos docentes: muitos estavam ocupados, tinham aulas para preparar ou lecionar, artigos científicos para ler e escrever, pesquisas para se dedicar.... Sempre há trabalho demais para fazer. Contudo, todos sempre têm trabalho demais para fazer, isso seria mesmo “JUSTIFICATIVA” para não estar presente no debate?


Acho curioso que todos sempre têm alguma critica em relação ao BC&T: de como é difícil, de como é trabalhoso, de como há tantas coisas erradas.  Então, chega o dia de ouvir aqueles que irão coordenar o BC&T pelos próximos anos, aqueles que poderão sanar ou, pelo menos, minimizar todas as mazelas desse tão ‘perverso’ sistema que antecede os cursos pós-BC&T. Porém, não havia quase ninguém lá para ouvir....


Sim, eu disse ‘perverso sistema que antecede os cursos pós-BC&T’ porque, afinal, todo aluno da UFABC é um aluno de Engenharia,  (outro) Bacharelado ou Licenciatura. O BC&T é apenas o ‘ciclo básico do mal’, a muralha que separa o ingênuo aluno do segundo grau de seu tão sonhado curso de verdade....  Sim, já ouvi alunos mencionarem desse jeito: Primeiro tem que fazer BC&T para depois poder fazer o curso de verdade! Então, concluímos: BC&T é um curso de mentira?!?


Faço criticas aqui, mas sou um hipócrita também. Hoje uma das chapas me abriu os olhos para isso. Se alguém me perguntasse: “Na UFABC, você é professor do quê?” Sem pensar duas vezes, eu responderia: “Sou professor da Física” Pobre BC&T que é o curso de Todos e, ao mesmo tempo, não pertence a Ninguém... Percebo isso agora e me entristeço com minhas atitudes.


O projeto pedagógico também é outro marginalizado. Na boca de todos, em qualquer discussão, a voz é erguida: “ISSO É CONTRA O PROJETO PEDAGÓGICO!” ou “ESTÃO TENTANDO MATAR O PROJETO PEDAGÓGICO!” Contudo, eu me pergunto: o projeto pedagógico já foi VIVO em alguém? Realmente, somos tão fiéis a ele ou o interpretamos tão bem como todos acham que o fazem... Muitos se vangloriam de colocá-lo em prática e são bastante perspicazes de apontar como ‘esse ou aquele’ não o segue... Contudo, sinceramente, quando foi a última vez que se discutiu abertamente aquele texto e tentou-se realmente reavivá-lo em nossas mentes? 


Somos uma Universidade em Consolidação e, diferente de muitas outras Universidades, temos um Projeto Pedagógico para nos direcionar. Porém, o que mais vejo é uma Universidade de rumo incerto lutando entre ser algo verdadeiramente novo e inovador ou apenas mais um pobre feudo, uma oligarquia mal copiada e executada do modelo rançoso de nossas tradicionalíssimas Universidades. Temo pelo que o futuro nos reserva, se quando devemos debater o futuro do que muitos chamam a mais preciosa “JÓIA” da UFABC, apenas a deixamos perder o seu brilho na poeira do esquecimento e descaso...


Não sei qual será o resultado das eleições que ocorrerão em dois dias, mas desejo que a chapa vencedora seja plena da Força de Vontade e Coragem para impor as mudanças necessárias que acabem com a apatia de muitos e coloque o BC&T no seu devido lugar com o seu devido valor.


Pelo menos, hoje, eu aprendi uma lição: Quando me perguntarem: “Na UFABC, do que você é professor?”. Eu tentarei com todo afinco responder: “Sou professor do BC&T!”.

domingo, 12 de junho de 2011

Busca entre Torres

-  Historieta UFABCiana para o dia dos namorados -


Era uma vez um Físico, que não satisfeito com tudo o que desconhecia do UNIVERSO, queria tentar a sorte também em um outro grande mistério: O AMOR. Assim, começou a buscar ao seu redor. Na Torre TRÊS, o Físico conheceu uma Bióloga, porém não sentiu a Química necessária; desistiu de explicar isso por qualquer Filosofia barata e resolveu tentar outra torre. 


Pensou consigo e correu para Torre UM. Pelo que ouvia, lá havia aquelas que trabalhavam com Ciências Sociais Aplicadas: sociabilidade poderia ser o caminho a seguir... Contudo, mesmo vagando por dois andares, percebeu que não possuía a Engenhosidade necessária para encontrar quem buscava. Refletiu e percebeu que precisava de uma estratégia melhor calculada e soube muito bem para onde ir. 


Na Torre DOIS, buscou com uma moça a solução, mas ela o desmotivou ao mencionar que ‘seu dilema era Computacionalmente inviável de ser resolvido’. As máquinas não sabem Pensar o Amor... Como último recurso, recorreu a uma amiga Matemática: ela afirmou que o problema dele tinha uma solução e que não era única. Contudo, para maiores informações seriam necessários teoremas ainda não provados e axiomas refutáveis. 


Não encontrando aquela que ele buscava, o Físico resolveu esperar a evolução natural dos eventos, sem se preocupar com predições do que há por vir. Porém, enquanto o físico espera, aplica seu conhecimento na busca da Fusão Eficiente. No dia que sua amada surgir em sua sala, ele a presenteará com um ‘buque de estrelas’ cultivado por suas próprias mãos. 

domingo, 22 de maio de 2011

Aviso aos Jovens Navegantes…

[ UFABC - uma Universidade em Construção ]

Este título seria ainda mais adequado se as aulas dos calouros iniciassem em fevereiro:  quando o Tamanduateí insiste em invadir nosso câmpus e conhecimentos náuticos não parecem tão supérfluos(rsrs).  Todavia, quero falar sobre a experiência de pertencer a UFABC e dar alguns avisos que considero importantes aos calouros.  Se possível, partilhar um pouco do que aprendi neste último ano em que estou docente nesta tão curiosa Universidade em consolidação. De certo modo sou novato também, eu fui contratado em Fevereiro de 2010.  Porém, na UFABC, tudo é acelerado, todos amadurecem muito rápido. Os seus docentes mais antigos estão na Universidade a apenas 5 anos... Temos uma escala muito peculiar de tempo e precisamos aprender eficientemente a nos tornar parte dessa máquina complexa chamada Universidade Federal do ABC.


Não quero enganar ninguém, ser da UFABC não é fácil para nenhuma das partes integrantes: seja docente, funcionário ou discente... Todos são cobrados de forma intensa e precisam responder com determinação a estas cobranças: ‘Na UFABC, nós tocamos o piano, ao mesmo tempo em que o carregamos e o afinamos’ Aqueles que já estão na UFABC a algum tempo sabem muito bem disso.  Os calouros logo descobriram também, provavelmente, não da maneira mais simples.  


Contudo, para os jovens que estarão começando amanhã algumas palavras precisão ser ditas. Meus caros, vocês estarão iniciando seu curso de Bacharel em Ciência e Tecnologia, você ainda não está fazendo Engenharia, Química, Biologia, Física, Matemática ou Filosofia. De fato, você primeiro precisa ser um Bacharel em Ciência e Tecnologia, antes de realmente ser qualquer uma dessas outras ‘profissões’. Entenda e se orgulhe o quanto antes disso.  Você terá aulas das mais diferentes matérias, que em um curso convencional você não teria... Aceite e aproveite. Caso isso não te agrade, meu conselho é que aplique para uma Universidade Tradicional (temos algumas muito boas em todo país) e faça um curso bem convencional.


A UFABC é lugar para mentes abertas, que aceitam o risco de seguir por caminhos nunca explorados. Sim, há perigos em seguir um curso tão ousado... Na UFABC, todos são ‘condenados a liberdade’, você tem muitas escolhas a fazer e ninguém as fará por você. Esqueça os tempos em que adultos te mandavam fazer isso ou aquilo e você deveria apenas seguir. Nós até iremos te sugerir opções, tentaremos te conquistar para um caminho ou outro, mas, no fim, quem escolhe e trilha o caminho será você, bem como quem colherá os frutos (sejam eles amargos ou doces).


Gostaria de deixar três conselhos, nem sei se são os melhores ou realmente o ajudarão na jornada. Contudo, afirmo que refletir sobre eles não te fará mal algum:


Aproveite tudo o que a UFABC te oferece: A Universidade tem infinitas oportunidades para aprendizado, estudo, pesquisa, esportes, diversões e festas. Tente aproveitar bem a estrutura da Universidade, ela não precisa ser apenas o lugar para te formar um profissional competente, mas pode ser o ambiente para te fazer um humano mais completo. Aprenda a viver a UFABC, você construirá muito mais dessa forma. Acima de tudo, estou certo, poderá fazer um melhor VOCÊ.


Aprecie a estrutura da UFABC que é mais familiar que institucional.  Na UFABC, você pode tomar um cafezinho com o vice-reitor numa das torres, você conversará com o coordenador do seu curso no RU, encontrará seus docentes em rodinha no meio dos corredores fazendo piadas e rindo. Seus professores podem interagir contigo no twitter, responder um tópico no Orkut ou bater papo pelo Facebook, etc. A média de idade dos docentes é 38 anos, dos funcionários deve ser menor ainda... Estamos mais para uma jovem família do que para uma instituição de cargos e tradições. Como em qualquer família, todos tentam encontrar qual o seu devido lugar e, muitas vezes, discordam e brigam. Fazemos as coisas de um jeito que talvez não seja o melhor, mas quase sempre é o mais apaixonado e que, cegamente, acreditámos ser o melhor.  Aprecie isso, você não encontrará tal intimidade em nenhuma outra Universidade (isto eu te garanto).  Também, releve pequenos erros, aprenda a criticar pelo construtivo. Se você está aprendendo a ser um aluno da UFABC e percebe que isso é tão difícil, imagine aprender a ser um professor da UFABC, aquele que te guiará a ser o aluno da UFABC (nossa tarefa também não é simples). Se coloque em ‘nosso lugar’ de vez em quando. Se achar preciso, lembre a nós (docentes) que já estivemos em seu lugar, já fomos alunos também, não faz tanto tempo assim, mas você não imagina como é fácil esquecer isso quando se é professor.

 
Seja aberto ao novo, mas tenha um foco. A UFABC te permite ser o que você quiser. Em principio, você tem direito a fazer qualquer disciplina, escolher qualquer carreira. Contudo, um alerta: Infelizmente, não se pode ser tudo e aprender tudo sobre tudo... Quanto antes, você compreender o que deseja ser, que tipo de profissão irá seguir, será mais fácil para você realmente tornar-se isso.  Provavelmente, não será tarefa fácil descobrir... Tenho amigos formados, que ainda estão em busca do que querem fazer pelo resto da vida (e olha que para alguns já não resta tanta vida assim... rsrs).  Pesquise, leia, converse, discuta... Explore o campus e procure a experiência de seus colegas veteranos e docentes. Adoro quando um estudante aparece em minha sala querendo saber melhor o que pesquiso, tenho certeza que com meus colegas não é diferente: Aproveite-se disso. Faça Iniciação Científica e tente diferentes caminhos, não pare enquanto não se sentir satisfeito. Acima de tudo, não escolha algo só porque alguém te disse que será financeiramente melhor ou porque seu pai queria tanto. Independente da área, os melhores profissionais costumam ter bons empregos e, em geral, estes profissionais são os melhores porque fazem o que realmente gostam e, por isso, costumam se dedicar muito ao que fazem.  


Este era um texto para os ingressantes... Contudo, não acho que muitos ingressantes leiam meu blog.  De qualquer modo, disse o que penso. Deixo estas palavras ao vento, e que as correntes de ar façam o trabalho de levar minhas palavras a quem quiser e puder ouvi-las.  Desejo a todos, calouros e veteranos, um excelente começo de segundo quadrimestre. Vamos todos trabalhar para realmente transformar a nossa UFABC em uma das melhores Federais.  Boa Sorte e Avante Homens de Verde!

domingo, 1 de maio de 2011

"What makes you a coward?"-- "It's a mystery,"


"It's a mystery," replied the Lion. "I suppose I was born that way. All the other animals in the forest naturally expect me to be brave, for the Lion is everywhere thought to be the King of Beasts. I learned that if I roared very loudly every living thing was frightened and got out of my way. Whenever I've met a man I've been awfully scared; but I just roared at him, and he has always run away as fast as he could go. If the elephants and the tigers and the bears had ever tried to fight me, I should have run myself--I'm such a coward; but just as soon as they hear me roar they all try to get away from me, and of course I let them go."

Em que lugar a coragem é guardada? Por que alguns de nós tem tanta e outros tão pouca.... O pobre Leão era um covarde e, a pior parte, era consciente disso. A maioria de nós tem sua covardia lá dentro, escondida no fundo e camuflada por uma atitude de ‘sensatez’; por vezes, "um rugir" para ludibriar os outros. Esconder o que, de fato, sentimos... Por vezes, nosso "rugir" é tão alto e soa tão autêntico que até nós mesmos acreditamos nele; coragem aparente.


Todos temos nossos medos, em suas mais diferentes formas, nas mais variadas escalas de intensidade. Todos nos sentimos fracos quando é preciso tomar uma decisão realmente importante ou encarar um caminho repleto de incerteza e escuridão. Todos nos acovardamos quando é preciso seguir através de uma barreira ou desistir de algo que consideramos vital (Aprenda que desistir nem sempre é sinal de covardia: algumas desistências precisam ser munidas da mais ferrenha coragem para serem bem sucedidas). Quando nos encontramos nestes impasses, quase sempre, descobrimos de algum modo como prosseguir. Então, dê onde obtemos essa coragem? Pessoalmente, acho que não obtemos... simplesmente fazemos o que é preciso ser feito.


Temer é normal; porém, voltar atrás ou parar é inaceitável, até mesmo, condenável. (Continuo com minhas alusões aos caminhos, todos eles bastante distintos). Assim, seguimos, fazendo escolhas e as repensando. Será que foi realmente boa?  Se a resposta é sim, você continua; se for não, você procura o modo para refazê-la ou corrigir o que for possível. Existe muito mais coragem em admitir o erro, que persistir cegamente na escolha errada; porém, quase nunca, é natural aceitar isso e mudar a atitude.

Sobre nosso amigo Leão, ainda não cheguei à parte do livro em que o mágico o presenteia com a "cura da covardia". Porém, se eu fosse o mágico de Oz, eu daria ao Leão este texto de Clarice Linspector; coragem (ou ausência de) é uma questão de ESCOLHA:

“Gosto dos venenos mais lentos, dos cafés mais amargos, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.

Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:- E daí? Eu adoro voar!

Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre."

Talvez, a coragem sempre seja apenas isso: uma ilusão (de escolhas). Talvez, a coragem seja apenas aquela loucura que vemos nos olhos dos outros quando experimentam a sensação de queda livre e apreciam isso até o derradeiro instante.  Invejamos essa insanidade alheia, pois só a loucura concede a liberdade necessária para que se tenha a coragem irrestrita, a ousadia de pensar o imponderável e a possibilidade de um coração pleno. Sem essa loucura, a vida torna-se apenas um caminhar vazio em uma irrisória estrada dourada levando a uma cidade de mentiras e falsas esperanças. 

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Metal por toda parte, coração em lugar algum.




"Do you suppose Oz could give me a heart?", asked Tin Man. "Why, I guess so," Dorothy answered. "It would be as easy as to give the Scarecrow brains."

Hum.... Ter um coração é tão fácil quanto ter um cérebro?!? I'm not so sure. Lembro-me, muito pequeno, de ouvir de meu pai: "Homem não chora"; que, basicamente, significa homem NÃO SENTE! Não culpo meu pai pelas suas palavras, ele apenas me ensinava o que aprendeu de seu pai, que aprendeu de seu pai, que aprendeu de seu pai, que aprendeu de seu pai... e está linha vai longe até, provavelmente, o primeiro homem. 

É difícil sentir, melhor é pensar que não se sente. Transformar todo desejo, vontade, anseio em objetivo claro e bem argumentado... Não fazemos porque sentimos que devemos fazer, mas porque é o mais lógico a ser feito; RACIONAL! Algumas mulheres podem dizer "os homens de hoje em dia estão mudando; são mais conectados com seus sentimentos". Isto é pura balela! Alguém deve ter contanto para eles que isto era uma ótima "jogada" para "pegar" mulher... rsrsrs No fundo, somos todos homens de lata! Mas isso não é um atributo exclusivo ao gênero masculino, há inúmeras mulheres de latas também (Bem como qualquer outro gênero que considere mais politicamente correto mencionar... A 'Latidade' independe de gênero.). Vivemos tempos de cidades de Concreto e pessoas de Lata. As poucas sensações que nos permitimos também são as enlatadas; aquelas de fácil consumo: compra, troca e venda. 

O personagem de hoje é o Tin Man (o Homem de Lata). De todos os personagens, é o meu favorito, me identifico muito com ele e seus dilemas e anseios. Ao menos, eu me identificava antes; agora, preciso pensar mais sobre isso. De qualquer modo, nosso Tin Man não possui CORAÇÃO e esta ausência o faz SOFRER...  Hum, sinto uma certa incoerência aqui!?! 

De qualquer modo, se a insana idéia do Scarecrow de conseguir um cérebro fazia algum sentido; por que não desejar um coração? Provavelmente, o Tin Man teria ficado cheio de esperança, se tivesse um lugar para colocá-la. Ele seguiu adiante porque possuia um sonho e uma dica de qual direção tomar para alcançá-lo; passos largos para Emerald City!

Pense bem, quando não se tem um deles (cérebro ou coração) é fácil tentar conseguí-lo. O difícil é quando se tem AMBOS, mas é necessário deixar UM deles para trás. Isto sim, doí. Quase todos nós precisamos fazer este tipo de escolha em algum momento (Os mais azarados, o tempo todo =/). Olhar de frente, EMOCIONAL e RACIONAL, e optar por um deles, pois quase sempre eles levam a direções diferentes, frequentemente, opostas. Escolhemos porque é preciso! Na vida nos tornamos Scarecrow ou Tin Man; vagando pelo mundo e deixando parte de nós para trás. Todo sonho tem seu preço, o que é preciso saber é se você está disposto a arcar com as despezas.

Voltei a ler "The Wonderful Wizard of Oz", quero lembrar qual o destino de cada um deles. Quanto ao meu... ainda é uma história sendo escrita e estou tentanto manter todas as minhas partes juntas rsrsrs. Porém, independente do que for necessário deixar para trás, ainda é imprescindível seguir adiante. Isto é uma VERDADE para todos nós.



quarta-feira, 27 de abril de 2011

"If I go to the Emerald City with you, that Oz would give me some brains?"



Pelo título, podemos perceber que hoje é dia de falar do Scarecrow (Espantalho) e a sua busca por sabedoria, ou melhor, algum cérebro (Claramente, duas coisas bem distintas!). 
O ingênuo Scarecrow busca saber um pouco mais do que ele sabe. Ele considera que não tem cérebro. Uma dedução obtida ao observar o próprio trabalho: permanecer estático a espantar corvos. Qualquer um pensaria que não seria necesário muito cérebro para isso e, provavelmente, não precisa mesmo. Muitas vezes, quando alguém nos pergunta: Quem é você? - A resposta, quase automatica, é: "Eu faço (...)" ou "Eu trabalho com (...)". Na maior parte do tempo não somos Pessoas, mas Funções... Que somos aquilo que fazemos (afirmação bem Existencialista) até posso aceitar, mas que sejamos somente aquilo pelo que nos pagam para fazer... Hum, não sei não. Parece que é tudo igual para você? Se assim for, isso sim é falta de inteligência, ao menos, do meu ponto de vista rsrsrs. 
Minha mensagem é simples: O Scarecrow não precisava pedir inteligência para o Wizard of Oz, bastava um pouco de auto-confiança e isto ninguém poderia dar a ele, nem mesmo com magia. Também não há nenhuma tecnologia milagrosa que poderia dar a ele o que desejava, mesmo colocando a palavra ‘Quantum’ na frente ou por intermédio de rebuscados livros de ‘10 simples passos para...’. 
Contudo, até entendo a ingenuidade e as conclusões do Scarecrow .... Muitas vezes, eu sou "espantalho" também. Ainda mais neste(a) Universo(idade) em “consolidação” com o qual lido todos os meus dias. Tantas opiniões divergentes, tantos jeitos errados de justificar que se esta fazendo o certo. Pessoas que pressentem muita Ciência, onde algumas vezes só encontro confusão e números vazios: excelência expressa do A ao F.  Ainda pior do que ser só o que você faz, é ser apenas os números que quantificam o quão ‘bom’ você é no que faz... Nada mais triste do que o Homem deixar de ser a Obra, para ser apenas os números na planilha que refletem distorcidamente a importância da Obra. 
Para ser sincero, não acredito que a inteligência resida apenas em resolver uma equação muito complicada, manipular Hamiltonianos elaborados ou construir máquinas inusitadas. Inteligência maior é compreender a importância de fazer tudo isso. Quando era um jovem estudante, em tempos de graduação na USP, lembro-me de uma frase de um grande professor: "Bons cientistas sempre encontram as respostas certas, mas os Excelentes sabem quais são as perguntas que valem a pena responder!" 
Inteligência é NÃO menosprezar a si mesmo; NÃO deixar a auto-estima em baixa. Inteligência é saber tudo o que você é capaz de fazer e alcançar este limite. Ser o melhor que você pode ser é mais que uma obrigação (Acho que parece livro de auto ajuda, mas eu precisava escrever isso). Eu não CULPO o Scarecrow pelo que ele pensava de si mesmo, mas eu também não o DESCULPARIA se ele não fosse a Emerald City buscar o que ele ansiava conseguir; ir pelo caminho que acreditava que o tornaria tudo que poderia ser. Para algumas ausências, reconhecê-las já representa o seu preenchimento, pois dar-lhes um nome e um propósito é o requerido para transformá-las em presenças.