sábado, 23 de julho de 2011

Quanto vale um D?





Esta semana, um item do boletim de serviço da UFABC (Sim, eu leio o boletim... rsrs) me chamou bastante a atenção. Era uma discussão no CECS sobre o conceito D em cursos específicos.  Para maior clareza, vou reproduzir o trecho do  texto aqui:

Impacto do conceito "D" nas disciplinas específicas.

Professor Luiz Henrique Bonani posicionou-se contrário à forma pela qual o conceito "D" é aplicado na universidade. Segundo o professor, há incoerência entre o projeto pedagógico e a forma de avaliação adotada. Outro ponto destacado pelo docente é a questão da responsabilidade da UFABC, pois o aluno poderá deixar a universidade com alguma deficiência, que poderá ter impacto em sua vida profissional. O Conselho corroborou as idéias apresentadas pelo professor Bonani e apresentou algumas sugestões. Findo os comentários, professor Gilberto sugeriu o encaminhamento de uma Moção do Conselho à CG para tratar a questão.[Extraído do boletim de serviço- número 173 – ConCECS]

Eu compreendo bem a apreensão dos professores do CECS.  Imagine que você está num avião prestes a decolar e descobre que aquele que o projetou teve um conceito D em Aerodinâmica (ou outra disciplina crucial aos projetistas de aviões); não seria o suficiente para pedir para descer? Se considerarmos que os cursos específicos são o núcleo duro da formação de nossos profissionais, esperamos que eles realmente tenham sido aprovados nestas disciplinas.  Amplio ainda mais a reflexão: não foi mencionado o uso do conceito D nos bacharelados interdisciplinares, mas fica a pergunta: Não seria igualmente perigoso um D nestes cursos?  Afinal, projetar aviões sem compreender o mais básico das leis de Newton não seria igualmente problemático?

O ‘argumento’ para a existência do ‘D’ na UFABC (até onde entendo) é para atenuar o efeito do amplo espectro de ‘especialidades’ que exigimos de nossos estudantes.  Por vezes, um estudante poderia ter um deslize em uma matéria ou outra, que esteja muito longe das habilidades naturais dele e poderia ‘sobreviver’ a tal inconveniência com o conceito D; uma espécie de falha condicional de menor dano.

Contudo, o que fizemos do D? De fato, o que mais me impressiona não é a sua existência, mas uma total falta de coerência sobre seu significado e, ainda mais, sobre seu valor. Pergunta recorrente entre docentes: Quanto vale o seu D? Cada um cria uma tabela em que o D tem um valor médio e um intervalo de validade que pode ser de um pouco mais de um ponto até a largura de um Delta de Dirac rsrs (piadinha de físico, né?). Eu mesmo, escolhi uma tabela de conversão que apresento sempre no primeiro dia de aula aos meus alunos. Gosto de deixar claras todas as regras do jogo antes de iniciar a partida ;-) 

Alguns dizem que o uso da tabela de conversão não é correto e que deveríamos avaliar usando apenas os conceitos: A,B,C,D e F. Há quem diga que faz isso, mas, de fato, tenho certeza que tem uma tabela interna que ele usa, mas não a revela. Afinal, se você faz uma prova e diz:  se acertar todas é A, se errar uma é B... e assim por diante. Isso é uma contagem baseada em quantidades, não é? Portanto, poderia ser facilmente associada a uma escala numérica. Fica a minha pergunta: Como realizar uma avaliação de mérito baseada apenas em qualidade sem utilizar nenhuma validação auxiliar quantitativa de qualquer espécie?  (Aguardo a resposta).  

Mesmo assim, se permanecer a insistência de alguns que o conceito é mais adequado. Então, questiono o porquê da Universidade utiliza CRs e CAs para avaliar e ‘rankear’ os estudantes. Não é uma simples conversão numérica? Afinal, o que o CR tem de mais pedagógico que notas de 0 a 10? Pessoalmente, acho isso bastante incoerente e prejudicial ao aluno: ele obtém uma nota numérica que é convertida em conceito que por sua vez é convertido novamente em número. Só eu enxergo perda de muitos décimos nesta prática? É como receber o sálario em reais, comprar dólares para guardar em casa e vender para ter reais para fazer as compras... Isto não parece um bom negócio para mim.

Concordo que se o aluno não obteve o mínimo de aprendizado requisitado no curso, ele deve ser reprovado. Todavia, questiono o que consideramos ser “o mínimo requerido”.  Vejo muita discrepância nisso, muitos dizem que deve ser assim e docentes devem ter a liberdade de preparar e avaliar os estudantes como consideram mais adequado. Porém, quando se quer fazer 1500 alunos, com os mais variados preparos antecedentes e as mais diferentes expectativas, serem submetidos ao mesmo ensino, deveria dar a eles a chance de receber realmente à mesma ementa de curso e serem medidos pela mesma régua. 

Acho que é preciso uma certa dose de humildade e admitir que não sabemos tudo.  Não é simples concordar, nunca é fácil aceitar que talvez você não vai lecionar exatamente tudo o que gostaria ou vai avaliar exatamente como considera mais adequado, mas é preciso criar ‘uma só moeda e uma só medida’ quando se leciona nestas matérias do BC&T com tantas turmas.  Se você vai lecionar uma matéria de sua escolha, já sabe qual a ementa e deve sim cumprir o que está lá. Se a ementa é considera inadequada, então isto deve ser levado à coordenação do curso e ao CONSEPE e devidamente discutidas as modificações com todos os envolvidos e interessados. Do mesmo modo, se é definida uma forma de avaliar e dito qual o conteúdo médio que o aluno deve aprender (isso sempre deveria ser explicitamente discutido), então todos os professores deveriam aceitar e seguir isso.   Obviamente, isto tira muita gente de sua ‘região de conforto’, mas faz parte de estar construindo algo novo e trabalhando com uma proposta pedagógica como a da UFABC.

Na minha opinião, mais importante que discutir se deve ou não existir um ‘D’ é definir muito bem meios de garantir igualdade de avaliação... Não importa se você cria um sistema baseado em conceito, número, cor ou sabor (não ria: quarks tem sabor! Por que não um sistema quark de notas: top, botton, up, down, strange, charm rsrsrs). O importante é que cada aluno receba a nota justa pelo que aprendeu independente de quaisquer outros fatores. Caso, ele não tenha aprendido o suficiente, que refaça a disciplina até aprender. Acima de tudo, nossos primeiros estudantes irão para o mercado de trabalho com a difícil missão de definir o que é um aluno da UFABC para o mundo.   Precisamos preparar todos os alunos do mesmo modo para que mostrem seu próprio valor como profissionais competentes, independente do nome que damos aos conceitos de avaliação que usamos. 

Todos nós percebemos os ventos de grandes mudanças em um futuro próximo.  Os novos representantes que estão sendo eleitos para coordenações dos cursos, conselhos de centro e conselhos superiores irão apresentar e discutir muitas modificações na forma como as coisas tem sido feitas: ementas de disciplinas, conceitos de avaliação, trancamentos, número máximo de créditos e tantos outros assuntos estarão em pauta em breve. Isto é ótimo, o nosso modelo de Universidade necessita de continua transformação e as devidas correções para funcionar melhor. Devemos estar conscientes das discussões que estão ocorrendo e exigir que elas sempre sejam guiadas para nos levar a um modelo coerente e que priorize a excelência na formação de nossos alunos e, por que não, dos professores (sim, nós também estamos aprendendo neste processo).  A UFABC é uma Universidade em consolidação e como tal precisa de muita atenção para que não nos percamos em discussões infrutíferas ou decisões que lamentaremos no futuro. Trabalhamos duro para criar não apenas mais UMA universidade, mas sim A universidade que deverá ser um modelo de um novo modo de formar profissionais.  

domingo, 10 de julho de 2011

Um cubo de SETE faces




Na Universidade há diversas épocas críticas e tensas. Um dos períodos mais complicado é o da matrícula, que sempre trás mal-estar a todos. Os sintomas surgem nos docentes, discentes e funcionários (principalmente, os da PROGRAD tão ‘lembrados’ neste período): irritabilidade, preocupação com o futuro, tentativa de adequar novos horários a velhas rotinas, questionamento de regras e formas de atribuição. Poderíamos até mesmo nomear, com toda a razão, de Tensão Pré Matricula (TPM).  No caso da UFABC, isso é ainda mais crítico porque temos três períodos destes por ano, efeito natural de nosso sistema quadrimestral.


De certo modo, o problema é similar às enchentes do nosso caro Tamaduateí: todos nós sabemos que no verão haverá chuvas e, possivelmente, enchentes. A prefeitura deveria cuidar para que o aumento do nível do rio não trouxesse tantos problemas. Contudo, sempre há problemas... Nossa tendência é considerar que a incompetência do governo é a responsável, o que em parte é bem verdade. Mas quando você passeia perto as margens do rio e observa muito lixo, pneus e, até mesmo, um sofá inteiro?!?  Começa a questionar: Mas precisava mesmo jogar o sofá no rio?  De fato, a prefeitura é a responsável, mas não faz mal cada pessoa evitar tornar o problema ainda mais complicado, não acha?


O paragrafo anterior era apenas para construir o paralelo com o que acontece na UFABC durante a matrícula. O processo de matrícula envolve praticamente todas as pessoas da UFABC e não é nada simples...  Apenas para colocar alguns números, no quadrimestre passado foram oferecidas 813 turmas (apenas na graduação). O número de disciplinas e turmas por quadrimestre tem crescido assustadoramente e de forma muito mais acentuada do que a contratação de novos docentes!


Todo o processo de matrícula começa com PROGRAD e Coordenações dos cursos apresentando as matérias que serão oferecidas, que são decididas seguindo o projeto pedagógico de cada curso, demandas reprimidas de certas disciplinas e requisições dos estudantes. Nós docentes, recebemos uma lista prévia das disciplinas, da qual escolhemos 5 delas (3 do BI e 2 de cursos pós-BI) ainda sem definir horário, para que o coordenador do curso, depois a direção do centro e, por fim, a PROGRAD definam as disciplinas e número de créditos de cada professor. Em paralelo a isso, também é definido o horários de cada disciplina e, principalmente, sala ou laboratório em que será ministrada. Algo crucial porque ainda estamos em construção e o espaço para lecionar é limitado. Isto faz importante a possibilidade de ocupar todos os horários, inclusive sextas à noite e sábados durante o dia...  Em que ninguém gosta muito de lecionar ou estudar, mas não fecharíamos a atribuição de créditos (em especial, para cursos do noturno) sem essa opção.


Ouvi muitas vezes dos alunos da UFABC que fazer a grade do quadrimestre é como “brincar com um cubo mágico: quando você acerta um lado, acaba desarranjando o outro”. Saiba que a atribuição é um CUBO DE SETE FACES para todos nós!  Neste aspecto, os alunos recebem uma lista que consta de centenas de turmas das mais diversas disciplinas obrigatórias, opção limitada ou livres e que devem se acertar em sua semana. Lembro ainda que muitas vezes os alunos tentam seguir mais de um curso (pelas regras, um aluno pode se matricular em até três cursos pós-BI) que muito possivelmente tem conflitos de grade, uma vez que cada coordenação define seus horários independentemente e fica bem difícil prever exatamente que disciplinas não deveriam conflitar. A UFABC permite uma grande liberdade de escolha, mas não somos capazes de prever todos os anseios dos estudantes, mesmo porque alguns nem seguem um plano bem claro de disciplinas a cursar. 


Uma complicação ainda maior em questão aos alunos é o trancamento, muitos alunos tem consciência disso como percebi num texto que li no Facebook outro dia e que me inspirou a escrever este texto. Pelas regras um aluno pode trancar até duas matérias. Isso faz com que o aluno considere que ele deve se matricular em N+2 disciplinas, ou seja, ele inflaciona a demanda que chega a PROGRAD em 2 turmas... Parece pouco, mas se os  mais de 3000 alunos fazem isso, o que teremos são turmas que começam com 30 alunos e terminam com apenas 6 (eu já vi isso algumas vezes). Podemos considerar que a Universidade está tendo um prejuízo de 24 vagas abertas não utilizadas. Além disso, foi necessário atribuir um número muito maior de turmas para o docente lecionar.  Nem é preciso dizer que, com o aumento da quantidade é bem comum uma queda de qualidade. Outro ponto é o valor de N, que alguns alunos consideram que o importante é preencher o máximo possível sua grade. De fato, acredito que cada aluno deve avaliar seu ritmo e capacidade e se matricular num N que permita a ele cumprir bem com as disciplinas e ainda ter uma vida saudável. Antes fazer 4 matérias e obter As e Bs, que 8 matérias com Ds e Fs, o seu CR vai agradecer e você bem sabe como o CR é importante na dinâmica de ICs, monitorias e outros direitos UFABCianos.


Os professores também tem sua parcela de culpa. Obviamente, ninguém gosta de dar aulas aos sábados e muitos têm problemas com aulas noturnas. Porém ao ser contratados pela Universidade, aceitamos a dedicação exclusiva e com ela a possibilidade de lecionar de segunda a sábado em qualquer horário (e até mesmo mais de um câmpus). Mesmo que haja questões ligadas à vida pessoal, isso não deve interferir com o trabalho. Todos os professores tem a obrigação de cumprir com sua carga didática nos horários que são precisos, não naqueles que eles preferem. Afinal, os que não têm ‘tantos problemas pessoais’ não devem ser obrigados a se encarregarem sempre dos ‘horários ditos ruins’. Claro, que sempre que possível, os horários de aula devem ser ajustados de forma que não afetem tanto a pesquisa e assuntos de outras obrigações. Porém, nem sempre é possível fazer o melhor para todos... Acima de tudo, devemos assumir certas soluções de compromisso, algo que não seja tão ruim para alunos e professores.


As coordenações dos cursos também devem ter o cuidado de primeiramente oferecer as disciplinas designadas em seus quadrimestres ideais. Os alunos que seguem “religiosamente” a grade sugerida devem ser privilegiados. Além disso, ouvir o que os alunos querem fazer (principalmente, para disciplinas livres) é algo importante. Não faz sentido algum abrir uma disciplina que nenhum aluno está interessado em cursar.  As novas coordenações eleitas tem, em muitos casos, a presença de discentes, o que deve tornar o processo de ‘ouvir o estudante’ mais eficiente.  Mesmo naquelas que não há discentes, os alunos precisam apresentar suas necessidades específicas ao coordenador, desde que as reinvindicações sejam razoáveis e apoiadas por um bom número de estudantes, não há como o coordenador não ouví-las.


A PROGRAD tem o papel de ser JUÍZ e EXECUTOR, o que não é nada fácil. Acima de tudo, naquela mesa é que devem ser gerenciados os conflitos entre Direções dos três Centros, docentes e discentes. Acima de tudo, deve ser lembrado que a oferta de disciplinas não é uma disputa entre professores e estudantes. Não é uma batalha em que deverá haver um ganhador e um perdedor. Muito pelo contrário, é um acordo de parceria entre professores e alunos na busca de construir um ambiente de harmonia em que todos possam buscar sua excelência e alcançar seus objetivos de forma mais eficiente.


Para terminar, eu ainda aguardo para saber qual disciplina irei lecionar no próximo quadrimestre, também não faço ideia de quantos créditos terei ou quais serão meus horários de aula, sei que isso é desgastante e me deixa cheio de incertezas, principalmente, quando lembro que devo acertar o ‘cubo de horários’ com todas as minhas obrigações de pesquisa, extensão e as outras esferas de minha vida.  Contudo, devemos agir e decidir sempre com discernimento e maturidade. É claro, que a PROGRAD tem suas obrigações e muita responsabilidade no processo, mas nós, docentes, discentes e funcionários, podemos ajudar muito apenas evitando ‘jogar sofás no rio’ quando realizamos nossas escolhas.

domingo, 26 de junho de 2011

O que nos representa?

              


               A Universidade é um organismo vivo, bem mais do que muitos pensam.  Contudo, o que determina sua identidade não são as construções e muros que a delimitam, mas as pessoas que nela estudam e trabalham. A Universidade é um desses ‘organismos’ fantásticos nos quais a soma de todas as suas partes é muito mais que o Todo.  Entretanto, são vozes demais para se ouvir de uma só vez... Imaginem escutar todas as ideias, opiniões e queixas de todos ao mesmo tempo.  Assim, como qualquer ser vivo suficientemente complexo, criamos setores distintos (órgãos) para cuidar de assuntos determinados e funções necessárias.  Desenvolvemos uma hierarquia na esperança de que esta traga ordem e torne eficiente o gerir de tão complicado ser. Todavia, a analogia com um ser vivo termina neste ponto, pois no processo de decisões de uma Universidade se lida com questões mais complexas que apenas a sobrevivência, é preciso levar em conta um delicado equilíbrio entre objetivos, expectativas, obrigações e, até mesmo, egos.


                Cada ente que compõe, ou ao menos deveria compor a universidade, tem a liberdade de escolha e o DIREITO de sempre exercê-la.  Pessoalmente, acho que cada um deveria ter o DEVER de exercer conscientemente sua liberdade de escolha: votamos naqueles que nos representam e compomos assim todos os níveis da hierarquia que move a Universidade. Talvez, nem sejamos capazes de ver exatamente como todos estes conselhos, coordenações, comissões e colegiados se interligam. Porém, não podemos negar que a cada instante de nossa vida universitária as decisões nestes diferentes ‘órgãos’ estão nos afetando. Portanto, como podemos negligenciar o nosso DIREITO de decidir quem os compõe? Isso não é apenas uma irresponsabilidade, mas dar chance, no pior dos casos, a um ‘genocídio’ acadêmico.


                Alerto sobre isso porque estamos em meio a um belo processo Universitário: acabamos de eleger as primeiras coordenações dos bacharelados mais importantes (os carros-chefes de toda a filosofia universitária da UFABC): BC&T e BC&H. Em breve, teremos eleições para o aumento do número de membros do CONSUNI e, portanto, de nossa representatividade no conselho ‘mais elevado’ da Universidade. Bem como, foi iniciado o processo da eleição das coordenações dos cursos pós Bacharelados Interdisciplinares (BI) do CCNH e, muito em breve, também do CMCC e do CECS.  Logo, cada curso dessa universidade será gerido por um grupo que será escolhido ‘democraticamente’ por VOTO da plenária correspondente do curso. Será uma representação formada por docentes, discentes e funcionários e com papel fundamental na estruturação do ensino de cada curso nos próximos anos, bem como, em manter o ideal de seguirmos o nosso projeto pedagógico e as diretrizes que fazem da UFABC uma Universidade única que destoa em muito do modelos mais Tradicionais. 

Meu receio em relação a tudo que há por vir é que se repita a mesma baixa participação no processo de eleição das coordenações dos BIs por parte de todos (Sim, poucos votos de docentes, estudantes e funcionários!), que foi um simples reflexo do debate (que comentei em um post anterior), que aconteceu alguns dias antes das eleições.  De algum modo, as pessoas não se importam e, realmente, não entendo nem o como e nem o porquê disso ocorrer.  Se não nos interessamos por aqueles que nos representam e que guiarão a nossa UFABC por seus caminhos (e os nossos também), quase sempre, nada fáceis. Então, pelo que nos interessaremos?  Será que nosso desejo é sermos meros ‘Lemingues’ acompanhando o fluxo de nossos 'amigos' até o fiorde final e, então, em meio à queda desabafar: "Se eu soubesse que acabava assim, acho que teria opinado antes." Piadas a parte, o assunto é muito sério, e acho que cada um de nós deve assumir seu papel como parte ativa deste processo: divulgando, discutindo, votando e cobrando daqueles que elegemos por uma UFABC que seja um exemplo em EXCELÊNCIA como todos nós desejamos. Para terminar, lembro uma famosa frase de Arnold Toynbee “O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam”

terça-feira, 14 de junho de 2011

Em Nome do B, do C & do T




Hoje ocorreu o debate entre as duas chapas para a coordenação do Bacharelado em Ciência e Tecnologia (o nosso tão famoso BC&T). Ouvi o que as duas chapas concorrentes disseram e pareceu-me bem condizente. Todavia, confesso que o que me impressionou não foram as posições destas chapas, mas uma quase total apatia da comunidade UFABCiana para com o evento: Se muito, havia uns vinte professores e um ou dois alunos... Só para lembrar somos mais de 420 docentes e alguns milhares de discentes!  Portanto, numa analise bem superficial podemos dizer que: 1) todos estão muito bem informados e convictos de em quem votarão (hipótese da qual duvido muito); 2) Ninguém se importar!


Gostaria muito de acreditar que a segunda hipótese não é a verdadeira.  Contudo, nem sei como poderia negá-la.  Conversando com alguns amigos docentes: muitos estavam ocupados, tinham aulas para preparar ou lecionar, artigos científicos para ler e escrever, pesquisas para se dedicar.... Sempre há trabalho demais para fazer. Contudo, todos sempre têm trabalho demais para fazer, isso seria mesmo “JUSTIFICATIVA” para não estar presente no debate?


Acho curioso que todos sempre têm alguma critica em relação ao BC&T: de como é difícil, de como é trabalhoso, de como há tantas coisas erradas.  Então, chega o dia de ouvir aqueles que irão coordenar o BC&T pelos próximos anos, aqueles que poderão sanar ou, pelo menos, minimizar todas as mazelas desse tão ‘perverso’ sistema que antecede os cursos pós-BC&T. Porém, não havia quase ninguém lá para ouvir....


Sim, eu disse ‘perverso sistema que antecede os cursos pós-BC&T’ porque, afinal, todo aluno da UFABC é um aluno de Engenharia,  (outro) Bacharelado ou Licenciatura. O BC&T é apenas o ‘ciclo básico do mal’, a muralha que separa o ingênuo aluno do segundo grau de seu tão sonhado curso de verdade....  Sim, já ouvi alunos mencionarem desse jeito: Primeiro tem que fazer BC&T para depois poder fazer o curso de verdade! Então, concluímos: BC&T é um curso de mentira?!?


Faço criticas aqui, mas sou um hipócrita também. Hoje uma das chapas me abriu os olhos para isso. Se alguém me perguntasse: “Na UFABC, você é professor do quê?” Sem pensar duas vezes, eu responderia: “Sou professor da Física” Pobre BC&T que é o curso de Todos e, ao mesmo tempo, não pertence a Ninguém... Percebo isso agora e me entristeço com minhas atitudes.


O projeto pedagógico também é outro marginalizado. Na boca de todos, em qualquer discussão, a voz é erguida: “ISSO É CONTRA O PROJETO PEDAGÓGICO!” ou “ESTÃO TENTANDO MATAR O PROJETO PEDAGÓGICO!” Contudo, eu me pergunto: o projeto pedagógico já foi VIVO em alguém? Realmente, somos tão fiéis a ele ou o interpretamos tão bem como todos acham que o fazem... Muitos se vangloriam de colocá-lo em prática e são bastante perspicazes de apontar como ‘esse ou aquele’ não o segue... Contudo, sinceramente, quando foi a última vez que se discutiu abertamente aquele texto e tentou-se realmente reavivá-lo em nossas mentes? 


Somos uma Universidade em Consolidação e, diferente de muitas outras Universidades, temos um Projeto Pedagógico para nos direcionar. Porém, o que mais vejo é uma Universidade de rumo incerto lutando entre ser algo verdadeiramente novo e inovador ou apenas mais um pobre feudo, uma oligarquia mal copiada e executada do modelo rançoso de nossas tradicionalíssimas Universidades. Temo pelo que o futuro nos reserva, se quando devemos debater o futuro do que muitos chamam a mais preciosa “JÓIA” da UFABC, apenas a deixamos perder o seu brilho na poeira do esquecimento e descaso...


Não sei qual será o resultado das eleições que ocorrerão em dois dias, mas desejo que a chapa vencedora seja plena da Força de Vontade e Coragem para impor as mudanças necessárias que acabem com a apatia de muitos e coloque o BC&T no seu devido lugar com o seu devido valor.


Pelo menos, hoje, eu aprendi uma lição: Quando me perguntarem: “Na UFABC, do que você é professor?”. Eu tentarei com todo afinco responder: “Sou professor do BC&T!”.

domingo, 12 de junho de 2011

Busca entre Torres

-  Historieta UFABCiana para o dia dos namorados -


Era uma vez um Físico, que não satisfeito com tudo o que desconhecia do UNIVERSO, queria tentar a sorte também em um outro grande mistério: O AMOR. Assim, começou a buscar ao seu redor. Na Torre TRÊS, o Físico conheceu uma Bióloga, porém não sentiu a Química necessária; desistiu de explicar isso por qualquer Filosofia barata e resolveu tentar outra torre. 


Pensou consigo e correu para Torre UM. Pelo que ouvia, lá havia aquelas que trabalhavam com Ciências Sociais Aplicadas: sociabilidade poderia ser o caminho a seguir... Contudo, mesmo vagando por dois andares, percebeu que não possuía a Engenhosidade necessária para encontrar quem buscava. Refletiu e percebeu que precisava de uma estratégia melhor calculada e soube muito bem para onde ir. 


Na Torre DOIS, buscou com uma moça a solução, mas ela o desmotivou ao mencionar que ‘seu dilema era Computacionalmente inviável de ser resolvido’. As máquinas não sabem Pensar o Amor... Como último recurso, recorreu a uma amiga Matemática: ela afirmou que o problema dele tinha uma solução e que não era única. Contudo, para maiores informações seriam necessários teoremas ainda não provados e axiomas refutáveis. 


Não encontrando aquela que ele buscava, o Físico resolveu esperar a evolução natural dos eventos, sem se preocupar com predições do que há por vir. Porém, enquanto o físico espera, aplica seu conhecimento na busca da Fusão Eficiente. No dia que sua amada surgir em sua sala, ele a presenteará com um ‘buque de estrelas’ cultivado por suas próprias mãos. 

domingo, 22 de maio de 2011

Aviso aos Jovens Navegantes…

[ UFABC - uma Universidade em Construção ]

Este título seria ainda mais adequado se as aulas dos calouros iniciassem em fevereiro:  quando o Tamanduateí insiste em invadir nosso câmpus e conhecimentos náuticos não parecem tão supérfluos(rsrs).  Todavia, quero falar sobre a experiência de pertencer a UFABC e dar alguns avisos que considero importantes aos calouros.  Se possível, partilhar um pouco do que aprendi neste último ano em que estou docente nesta tão curiosa Universidade em consolidação. De certo modo sou novato também, eu fui contratado em Fevereiro de 2010.  Porém, na UFABC, tudo é acelerado, todos amadurecem muito rápido. Os seus docentes mais antigos estão na Universidade a apenas 5 anos... Temos uma escala muito peculiar de tempo e precisamos aprender eficientemente a nos tornar parte dessa máquina complexa chamada Universidade Federal do ABC.


Não quero enganar ninguém, ser da UFABC não é fácil para nenhuma das partes integrantes: seja docente, funcionário ou discente... Todos são cobrados de forma intensa e precisam responder com determinação a estas cobranças: ‘Na UFABC, nós tocamos o piano, ao mesmo tempo em que o carregamos e o afinamos’ Aqueles que já estão na UFABC a algum tempo sabem muito bem disso.  Os calouros logo descobriram também, provavelmente, não da maneira mais simples.  


Contudo, para os jovens que estarão começando amanhã algumas palavras precisão ser ditas. Meus caros, vocês estarão iniciando seu curso de Bacharel em Ciência e Tecnologia, você ainda não está fazendo Engenharia, Química, Biologia, Física, Matemática ou Filosofia. De fato, você primeiro precisa ser um Bacharel em Ciência e Tecnologia, antes de realmente ser qualquer uma dessas outras ‘profissões’. Entenda e se orgulhe o quanto antes disso.  Você terá aulas das mais diferentes matérias, que em um curso convencional você não teria... Aceite e aproveite. Caso isso não te agrade, meu conselho é que aplique para uma Universidade Tradicional (temos algumas muito boas em todo país) e faça um curso bem convencional.


A UFABC é lugar para mentes abertas, que aceitam o risco de seguir por caminhos nunca explorados. Sim, há perigos em seguir um curso tão ousado... Na UFABC, todos são ‘condenados a liberdade’, você tem muitas escolhas a fazer e ninguém as fará por você. Esqueça os tempos em que adultos te mandavam fazer isso ou aquilo e você deveria apenas seguir. Nós até iremos te sugerir opções, tentaremos te conquistar para um caminho ou outro, mas, no fim, quem escolhe e trilha o caminho será você, bem como quem colherá os frutos (sejam eles amargos ou doces).


Gostaria de deixar três conselhos, nem sei se são os melhores ou realmente o ajudarão na jornada. Contudo, afirmo que refletir sobre eles não te fará mal algum:


Aproveite tudo o que a UFABC te oferece: A Universidade tem infinitas oportunidades para aprendizado, estudo, pesquisa, esportes, diversões e festas. Tente aproveitar bem a estrutura da Universidade, ela não precisa ser apenas o lugar para te formar um profissional competente, mas pode ser o ambiente para te fazer um humano mais completo. Aprenda a viver a UFABC, você construirá muito mais dessa forma. Acima de tudo, estou certo, poderá fazer um melhor VOCÊ.


Aprecie a estrutura da UFABC que é mais familiar que institucional.  Na UFABC, você pode tomar um cafezinho com o vice-reitor numa das torres, você conversará com o coordenador do seu curso no RU, encontrará seus docentes em rodinha no meio dos corredores fazendo piadas e rindo. Seus professores podem interagir contigo no twitter, responder um tópico no Orkut ou bater papo pelo Facebook, etc. A média de idade dos docentes é 38 anos, dos funcionários deve ser menor ainda... Estamos mais para uma jovem família do que para uma instituição de cargos e tradições. Como em qualquer família, todos tentam encontrar qual o seu devido lugar e, muitas vezes, discordam e brigam. Fazemos as coisas de um jeito que talvez não seja o melhor, mas quase sempre é o mais apaixonado e que, cegamente, acreditámos ser o melhor.  Aprecie isso, você não encontrará tal intimidade em nenhuma outra Universidade (isto eu te garanto).  Também, releve pequenos erros, aprenda a criticar pelo construtivo. Se você está aprendendo a ser um aluno da UFABC e percebe que isso é tão difícil, imagine aprender a ser um professor da UFABC, aquele que te guiará a ser o aluno da UFABC (nossa tarefa também não é simples). Se coloque em ‘nosso lugar’ de vez em quando. Se achar preciso, lembre a nós (docentes) que já estivemos em seu lugar, já fomos alunos também, não faz tanto tempo assim, mas você não imagina como é fácil esquecer isso quando se é professor.

 
Seja aberto ao novo, mas tenha um foco. A UFABC te permite ser o que você quiser. Em principio, você tem direito a fazer qualquer disciplina, escolher qualquer carreira. Contudo, um alerta: Infelizmente, não se pode ser tudo e aprender tudo sobre tudo... Quanto antes, você compreender o que deseja ser, que tipo de profissão irá seguir, será mais fácil para você realmente tornar-se isso.  Provavelmente, não será tarefa fácil descobrir... Tenho amigos formados, que ainda estão em busca do que querem fazer pelo resto da vida (e olha que para alguns já não resta tanta vida assim... rsrs).  Pesquise, leia, converse, discuta... Explore o campus e procure a experiência de seus colegas veteranos e docentes. Adoro quando um estudante aparece em minha sala querendo saber melhor o que pesquiso, tenho certeza que com meus colegas não é diferente: Aproveite-se disso. Faça Iniciação Científica e tente diferentes caminhos, não pare enquanto não se sentir satisfeito. Acima de tudo, não escolha algo só porque alguém te disse que será financeiramente melhor ou porque seu pai queria tanto. Independente da área, os melhores profissionais costumam ter bons empregos e, em geral, estes profissionais são os melhores porque fazem o que realmente gostam e, por isso, costumam se dedicar muito ao que fazem.  


Este era um texto para os ingressantes... Contudo, não acho que muitos ingressantes leiam meu blog.  De qualquer modo, disse o que penso. Deixo estas palavras ao vento, e que as correntes de ar façam o trabalho de levar minhas palavras a quem quiser e puder ouvi-las.  Desejo a todos, calouros e veteranos, um excelente começo de segundo quadrimestre. Vamos todos trabalhar para realmente transformar a nossa UFABC em uma das melhores Federais.  Boa Sorte e Avante Homens de Verde!

domingo, 1 de maio de 2011

"What makes you a coward?"-- "It's a mystery,"


"It's a mystery," replied the Lion. "I suppose I was born that way. All the other animals in the forest naturally expect me to be brave, for the Lion is everywhere thought to be the King of Beasts. I learned that if I roared very loudly every living thing was frightened and got out of my way. Whenever I've met a man I've been awfully scared; but I just roared at him, and he has always run away as fast as he could go. If the elephants and the tigers and the bears had ever tried to fight me, I should have run myself--I'm such a coward; but just as soon as they hear me roar they all try to get away from me, and of course I let them go."

Em que lugar a coragem é guardada? Por que alguns de nós tem tanta e outros tão pouca.... O pobre Leão era um covarde e, a pior parte, era consciente disso. A maioria de nós tem sua covardia lá dentro, escondida no fundo e camuflada por uma atitude de ‘sensatez’; por vezes, "um rugir" para ludibriar os outros. Esconder o que, de fato, sentimos... Por vezes, nosso "rugir" é tão alto e soa tão autêntico que até nós mesmos acreditamos nele; coragem aparente.


Todos temos nossos medos, em suas mais diferentes formas, nas mais variadas escalas de intensidade. Todos nos sentimos fracos quando é preciso tomar uma decisão realmente importante ou encarar um caminho repleto de incerteza e escuridão. Todos nos acovardamos quando é preciso seguir através de uma barreira ou desistir de algo que consideramos vital (Aprenda que desistir nem sempre é sinal de covardia: algumas desistências precisam ser munidas da mais ferrenha coragem para serem bem sucedidas). Quando nos encontramos nestes impasses, quase sempre, descobrimos de algum modo como prosseguir. Então, dê onde obtemos essa coragem? Pessoalmente, acho que não obtemos... simplesmente fazemos o que é preciso ser feito.


Temer é normal; porém, voltar atrás ou parar é inaceitável, até mesmo, condenável. (Continuo com minhas alusões aos caminhos, todos eles bastante distintos). Assim, seguimos, fazendo escolhas e as repensando. Será que foi realmente boa?  Se a resposta é sim, você continua; se for não, você procura o modo para refazê-la ou corrigir o que for possível. Existe muito mais coragem em admitir o erro, que persistir cegamente na escolha errada; porém, quase nunca, é natural aceitar isso e mudar a atitude.

Sobre nosso amigo Leão, ainda não cheguei à parte do livro em que o mágico o presenteia com a "cura da covardia". Porém, se eu fosse o mágico de Oz, eu daria ao Leão este texto de Clarice Linspector; coragem (ou ausência de) é uma questão de ESCOLHA:

“Gosto dos venenos mais lentos, dos cafés mais amargos, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.

Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:- E daí? Eu adoro voar!

Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre."

Talvez, a coragem sempre seja apenas isso: uma ilusão (de escolhas). Talvez, a coragem seja apenas aquela loucura que vemos nos olhos dos outros quando experimentam a sensação de queda livre e apreciam isso até o derradeiro instante.  Invejamos essa insanidade alheia, pois só a loucura concede a liberdade necessária para que se tenha a coragem irrestrita, a ousadia de pensar o imponderável e a possibilidade de um coração pleno. Sem essa loucura, a vida torna-se apenas um caminhar vazio em uma irrisória estrada dourada levando a uma cidade de mentiras e falsas esperanças.