terça-feira, 8 de março de 2011

O Equilíbrio de Penélope

A  uma  mocinha.



Quase toda aventura se inicia ao deixar a casa. Enfrentar o grande mundo a nossa frente, buscar aquilo que muitas vezes nem sabemos muito bem o que é, mas é exatamente o que nos inspira a partida. Quase toda aventura é sobre conquistar algo que nos aguarda e, quase sempre, não se sabe ao certo se pode ser encontrado e, até mesmo,  obtido.  Contudo, uma das mais épicas aventuras já relatadas trata exatamente do trajeto inverso: uma busca pelo retorno ao lar! Eu falo da grande Odisseia de Ulisses. Nesta triunfal história, o protagonista Ulisses enfrenta diversos desafios, monstros e Deuses para voltar a sua sonhada Ítaca; ilha na qual era o rei por direito.

Pessoalmente, admiro as proezas de Ulisses, mas não o considero a figura mais interessante de Odisseia. De fato, a personagem mais carismática é Penélope. Muitas vezes, ela é retratada como uma figura passiva: apenas a esposa que aguarda pacientemente o retorno do marido. Todavia, Penélope é muito mais...  Ela é o pilar que mantem a ilha de Ítaca como o lugar para o retorno de Ulisses.  Ela é a inspiração que sempre faz Ulisses vasculhar mais fundo por forças para superar todos os desafios de seu percurso amaldiçoado.  

Penélope é o Principio e o Fim: Ela é o grande motivo pelo qual Ulisses inicia sua viagem de retorno a casa e também o “prêmio” pelo qual ele luta a todo instante. A aventura de Ulisses não termina nos braços de sua amada em um implícito ‘felizes para sempre’?

Penélope não é uma mulher passiva, muito pelo contrário, é a mulher de atitude que equilibra a ilha e permanece no controle, mesmo com tantos abutres tentando se aproveitar e assumir o posto de seu ausente Ulisses.  Penélope não precisava de nenhum substituto impostor, pois ela se mantém fiel à esperança do retorno do marido; firme em suas convicções. Com este objetivo, ela usou de todo a sua inteligência e, até mesmo, a sua malícia para enfrentar a oposição ao seu esposo. Pobres homens que tão pouca defesa tem contra a malícia feminina: caímos, pateticamente, em seus caprichos e nos submetemos a sua vontade...  Assim, Penélope continuou senhora de Ítaca e lutou ativamente, ao seu modo, pelo retorno de seu amado Ulisses.

Penélope foi o farol, que sempre aceso, trouxe os Argonautas através dos terríveis mares e permitiu que Ulisses aportasse em sua desejada ilha. Penélope foi a agulha da bússola que, mantida no coração de Ulisses, sempre mostrou qual deveria ser o seu caminho: o retorno triunfante aos braços de sua amada.

Bem aventuradas sejam todas as modernas ‘Penélopes’ que tornam nossas vidas interessantes, nos inspiram e nos dão o incentivo de vermos o mais brilhante Sol, mesmo quando existem tantas nuvens escuras no céu.  Louvores às ‘Penélopes’ que conseguem desenterrar sorrisos de nossos corações, mesmo quando a vida nos afunda nas tristezas das  pequenas ingratidões do cotidiano.  Benditas as ‘Penélopes’ que sempre nos recordam que acima de qualquer conquista solitária que possamos ter,  a maior de todas as conquistas sempre será aquela ‘Penélope’ de nossa vida a tecer o nosso futuro e nos amparar em sua rede de compreensão, otimismo e força. 

quarta-feira, 2 de março de 2011

A escolha de Pigmaleão.




Pigmaleão, poderoso rei do Chipre, tinha domínio sobre toda a sua terra e assim podia controlar o destino de cada ser que nela vivia. Contudo, o rei bem observou que a vontade humana estava acima de qualquer controle. Nenhum Rei jamais ousou dizer-se dono do livre arbítrio, não é?

Não é conhecido quem feriu o rei e a que dor foi submetido. Porém, o traumatizou de tal modo que apagou dele a esperança nas mulheres... Seu repudio ao gênero feminino foi tamanho que criou o seu próprio reino de solidão.  Tal como Chipre era uma ilha isolada do mundo pelo mar Mediterrâneo, também o rei se fez ilha  e se isolou protegido pelo marfim; matéria prima para suas criações.

Em seus sonhos na busca pela mulher perfeita, resolveu moldá-la com suas próprias mãos. Foi um escultor tão zeloso que realizou um trabalho melhor que qualquer deus jamais havia conseguido.  Pigmaleão extraiu do marfim a imagem da mulher mais perfeita que superava qualquer outra já vista ou imaginada. Talvez a resposta sobre o sucesso de Pigmaleão, não esteja no entender bem de perfeição (matéria da qual são feitos os deuses), mas em vivenciar o imperfeito e recusar veementemente tudo aquilo que viveu.

Pigmaleão que havia se tornado prisioneiro de sua obsessão na arte de moldar marfim, encontrou cárcere ainda mais letal: escravo da paixão desenfreada pela estátua! Amou de todo corpo e alma aquela que moldou com suas próprias mãos. Amar a estátua, de fato, era tarefa fácil e até compreensível... Ter tal amor correspondido, isto apenas em devaneios insanos. Pigmaleão orou e implorou que alguém entre os deuses pudesse permitir que tal amor se concretizasse.

Afrodite, que não é a deusa da sabedoria, mas conhece bem a loucura humana oriunda da paixão e também sabe que razão nenhuma prevalece quando o coração pulsa.  Apiedou-se daquele homem que não encontrando no mundo a sua volta quem o satisfizesse, distorceu de próprio punho a realidade para criar algo que ia além do que poderia qualquer outro sonhar.  A bondosa deusa concedeu que o frio e rijo marfim fosse convertido em flexível e quente carne de uma mulher espelhada no sonho do habilidoso artesão.

Para a imensa alegria de Pigmaleão, a estátua tornou-se tão real e cheia de vida quanto ele.  Galatea foi o nome dado a tal mulher, que não surgiu de encantos e de uma costela dele, mas de seu árduo trabalho sobre o marfim. Com Galatea, o rei Pigmaleão casou-se, teve filho e viveu ‘feliz’, pois assim que deve ser toda história que vira lenda.

Quem pode recriminar Pigmaleão por preferir a perfeita realidade que criou com o olhar de seus sonhos à crua  trivialidade que a imperfeição nos joga todos os dias?

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Podres antes de Maduros?



Uma anedota UFABCiana: Um dia, eu estava no elevador e entrou nosso vice-reitor.  Ele me olhou com aquele jeito de “acho que conheço esse cara” (eu ainda era professor novo na UFABC). Então, me cumprimentou e disse: “Como você está? Já se formou com a gente?” Meio sem graça, eu respondi: “Bem... sou professor aqui” (rsrsrs). Não sou um cara de aparência super jovial, mas também não estou acabado. Sou um cara de 35, mas com corpinho de 34 kkkkkkkk Piadas a parte, eu estou mais para regra, que exceção: todos na UFABC são muito jovens.  O próprio vice-reitor (personagem desta história) não deve ter mais que 40! Quantas Universidades tem vice-reitores tão jovens?

Não sei se há qualquer estatística sobre isso, mas provavelmente a UFABC seja a Universidade com o corpo docente mais jovem e, como tal: ambicioso, ousado, sonhador, meio rebelde e até inconsequente.  Como todos são jovens, então,  mesmo a cúpula Universitária (que a tudo controla)  tem esse ar de “molecada”.

Por um lado, isso parece bom.  Não estamos tão apegados à tradição e, assim, podemos abraçar a ousadia do nosso projeto pedagógico como se fosse a nossa própria.  Damos liberdade a nossa imaginação: criamos cursos e alimentamos sonhos.  De certo modo, somos responsáveis por aquele orgulho de nossos alunos, que se denominam (eufóricos) “homens de verde” e carregam com mais animo ainda a bandeira de nossa universidade.  E coitado daquele que desacreditar de nossa UFABC e suas possibilidades, pois sofrerá a ira de um Tamanduá bem marrento e pronto para acertar as diferenças  ;-)

Porém, há o outro lado; não tão belo assim. Somos responsáveis e, muito responsabilizados, por toda a cadeia de comando, pelo acerto das burocracias e por fazer a Universidade funcionar. Como um amigo me disse uma vez: “Na UFABC, nós carregamos, afinamos e tocamos o piano ao mesmo tempo”; outra imagem bem usada: “Nós vamos construindo o avião em pleno voo”.  Temos muitas atribuições burocráticas; tantas que, por vezes, nos afastam da pesquisa e ensino, que deveriam ser nossas atribuições prioritárias.

Há quem diga que isto é bom: todo o trabalho extra  e as posições de autoridade precoces. Isto nos trará a maturidade mais cedo. Tornar-nos-á [ adoro usar mesóclise =) ] jovens senhores de si e de nossa Universidade.  Sinceramente, assim eu espero; porém, receio que isso possa nos envelhecer rápido, esmorecer nossa vontade.  Meu medo é que nos tornemos rabugentos burocratas antes de alcançarmos o ápice de nosso brilhantismo científico e nossa habilidade didática. Acima de tudo, me horroriza pensar que possamos apodrecer antes de amadurecer.

Certamente, tenho fé que nos tornaremos grandes. Além de nossos méritos próprios alcançados por cada professor da instituição, nós encontraremos uma amplificação ainda maior de nossas carreiras através das jornadas que serão traçadas por cada um de nossos estudantes: Quem sabe do que um Bacharel em Ciência e Tecnologia é capaz? Nós descobriremos!

Espero que o mundo reconheça nossos esforços e a legitimidade daqueles que não se intimidam com o novo e inexplorado. Espero que a sociedade aceite que, não necessariamente, a sabedoria precise vir com cabelos brancos, mas que é encontrada na atitude daqueles que não temem negar a tradição em busca de uma nova resposta, uma nova forma de fazer ciência ao estilo “tudo ao mesmo tempo agora”.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Palavras ao vento, significados a contento.



"Vigorous writing is consice. A sentence should contain no unnecessary words, a paragraph no unnecessary sentences, for the same reason that a drawing should have no unnecessary lines and a machine no unnecessary parts. This requires not that the writer make all sentences short or avoid all detail and treat subjects only in outline, but every word tell."

Este é um trecho do livro "The elements of style" -- Strunk and White, que sempre deixo por perto para recordar-me o que é importante no escrever. Ainda, de forma mais ampla, no meu expressar como um todo. Além de considerar uma grande lição, ainda tenho a audácia de fazer isso “descer garganta abaixo” de meus estudantes quando digo o que espero de um bom relatório em minhas aulas de laboratório.

O livro (que obviamente recomendo a leitura) sempre me impressionou muito, mais ainda por ter sido escrito no começo do século XIX e permanecer tão atual. Considero que este não é apenas um bom conselho para os escritores, mas poderia ser tomado com uma instrução para a vida: Busque apenas o essencial! Isto me lembra algumas discussões com amigos budistas e o desenho da Disney "Mogli - o livro das selvas". Alguém se lembra da musiquinha do urso Baloo?? ;-)


Imagine uma vida onde você sofreria apenas o necessário para crescer. Que a saudade seria apenas o suficiente para perceber quem lhe é importante. Que as brigas fossem apenas um leve tempero para apimentar os longos períodos de paz. Que o ciúme fosse apenas a medida da apreciação, mas jamais a ruína pelo desejo de posse. Que o amor fosse apenas o sentimento na medida certa para nos trazer um propósito, mas que jamais levasse a desilusão que faz a vida perder o sentido.


Porém, estas são divagações tolas em busca de uma retórica perfeita. Pensamento de alguém que já passou tantas horas sem dormir pensando: “Mas, afinal, o que deu tão errado? Não era um plano simples” Contudo, a VIDA nunca é simples e, desconfio fortemente, jamais se resume ao essencial... Restringir ao essencial é o desejo mais profundo de minha profissão, que em seu amago arrogante anseia mostrar que qualquer sistema (independente de quão complexo seja) pode ser muito bem explicado por um modelo simples e, obviamente, que evidência a sua essência rsrsrsrsrs


Nossa, de discussões sobre bem escrever, já comecei a arranhar a reputação do Método Científico... Ahhh, esses Físicos, que nunca deixam de caminhar pelo terreno que se sentem mais a vontade: as lamas da Ciência que moldam o Universo.


Falando sério, sempre fui um grande fã de literatura e este livro sempre me inspira a querer escrever para valer. Quem sabe neste novo período, eu consiga me dedicar de forma mais regrada a isso. Começarei por tentar sempre ter uma postagem nova em meu blog, ao menos, uma por semana.... Também, tem o meu livro pela metade. Acho que já passou a hora de tentar terminá-lo.  O difícil sempre é arranjar tempo para tudo (que deve ser o tema do próximo post).


Apenas para finalizar, neste pequeno post quebrei diversas regras descritas por Strunk, mas em minha defesa uso palavras do próprio Strunk: "that the best writers sometimes disregard the rules of rhetoric. When they do so, however, the reader will usually find in the sentence some compensating merit, attained at the cost of violation. Unless he is certain of doing as well, he will probably do best to follow the rules". Isto me justifica exceto por dois detalhes: Não sou um bom escritor, nem criei algo recompensador com minhas violações as regras literárias e gramaticais. Foram apenas violações sem mérito mesmo (rsrsrsr). Paciência, quem sabe um dia aprendo a escrever bem. Até lá vocês vão ter que suportar este ‘estilinho’ tacanho que uso. É para isso que servem os amigos (e novos leitores), não? 

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

História de Perséfone

Detail of Bernini's Pluto and Persephone [John Heseltine (c) Dorling Kindersley, 
Courtesy of the Museo e Galleria Borghese, Rome]


Hades era um deus solitário e absoluto em seus reinos... Um dia caminhava pela superfície tentando respirar novos ares e viu a bela Perséfone a colher flores. O senhor dos mundos inferiores não pensou duas vezes, mandou as regras ao inferno, e raptou a jovem e pura moça.

Os reinos inferiores tomaram um novo tom com a presença de tão delicada garota e até os Tártaros eram mais Elísios... Contudo, a triste Deméter jogou a Terra em calamidade; tamanha a saudade de sua filha. Zeus, que era um administrador consciente, obrigou Hades a devolver a moça; já não tão pura, pois das romãs de Hades ela havia comido.

Agora a garota pertencia parte à Terra e parte aos mundos inferiores; quanto a isso nem Deméter poderia se opor. Era a nova lei: Perséfone dividiria seu tempo entre os dois mundos. Seis meses com sua mãe a desfrutar o amor familiar, nestes tempos Deméter feliz e de bom humor fazia do clima Primavera e Verão. Nos outros meses, no mundo inferior vivia a jovem Perséfone junto de Hades, aquele que ela aprendeu a amar. Neste período, Deméter compartilhava sua tristeza com o mundo, assim surgia Outono e Inverno.

Porém, no coração de Hades as estações eram trocadas: Aguardava durante toda a estação quente com o frio no coração da incerteza sobre a volta de sua amada. Quando a Terra se tornava toda gelo, Hades ardia em felicidade.... Incompatibilidade dos opostos que se complementam, tal qual luz e escuridão.

Feliz era Hades, que tinha uma amada em seus braços, ao menos, SEIS MESES por ano...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Lembre de seus Mortos

Dia de Finados torna inevitável falar de Morte. Não falo apenas da morte casual que aparece todos os dias no jornal engordando estatísticas e arrancando de nós aqueles comentários  “Nossa, onde este mundo vai parar” entre o “Acho que chove amanhã” e o “Mas você viu o que aconteceu no BBB (ou qualquer reality show da moda) ontem”. Também falo da Morte, aquela que respeitosamente representa o fim de tudo; pior, o fim daquelas pessoas que convivem conosco e com as quais realmente nos importamos profundamente.
Quando alguém próximo de nós morre é levado pela Morte com M maiúsculo, aquela que não pode ser de todo entendida e nos deixa em revolta, aquela que não aceitamos que seja apenas acrescentada às estatísticas. Quando a Morte vem (seja natural, por acidente ou incidente, isso pouco importa) a alguém que você ama, não leva apenas o conviver com essa pessoa, mas também traz a realidade que evitamos considerar: A Morte nos espreita e cancela quaisquer planos, idéias, desejos e esperanças; bilhete azul final para o qual não há apelação e quase nunca dá aviso prévio.
Falar de Morte é, quase sempre, falar de perder; não como em um jogo ou algo assim. Perder no sentido de deixar de ter da forma mais dramática possível. Basicamente, podemos perder tudo. O único pré-requisito é ter tido o objeto, a pessoa, o sentimento, a (o) "qualquer coisa" antes. Clara exceção é o "juízo", é muito fácil perder o juízo, mesmo para aqueles que nunca, de fato, o tiveram (mas isso é tópico para outro post).
Infelizmente, ao envelhecer vamos somando nossas perdas sempre num desesperador crescente. Contudo, acho que entre todas as perdas que já tive, a do meu pai é a que ainda ecoa mais forte em minha vida. Falo de uma dor realmente grande, tão grande que quase sempre não falo sobre ela, uma ausência tão profunda que quase sempre olho para o outro lado para tentar não ver. Porém, certas datas, como a de hoje, são um gatilho natural para a lembrança e, então, é preciso falar (ou escrever)...
Oito anos atrás, mais ou menos nesta época, meu pai que não estava muito bem de saúde, piorou bastante e faleceu. Falência múltipla de orgãos, ou algo assim; um desses muitos nomes técnicos que os médicos dão para a morte. Fui forte, cuidei dos detalhes do enterro, flores, caixão, cerimônia, minha família. Contive as minhas lágrimas até o último minuto... Então, quando vi a lápide sendo colocada, essa foi a "última gota do copo" e a minha primeira lágrima, de muitas.

Uma coisa que ficou marcada profundamente em minha mente é que em algum canto (alguma casa ao redor do cemitério) alguém ouvia a música "Viver e não ter vergonha de ser feliz" (Gonzaguinha). Enquanto ficava claro para mim que eu perdia meu pai para a Morte, tocava baixinho uma música dizendo para celebrarmos a vida... Naquele momento achei isso triste e irônico, parecia uma piada de mau gosto. Até hoje, choro quando ouço essa música, o que é mais estranho ainda: agora eu a associo a morte. Momentos quase cômicos já surgiram por causa desta música entre amigos e em barzinhos.
Não posso dizer que tive uma relação modelo com meu pai, tínhamos muitos desentendimentos. Minha mãe sempre disse que tínhamos essas diferenças porque meu pai e eu éramos muito iguais; talvez fosse verdade. O fato é que eu o amava e sei que ele me amou muito. Não esse amor besta de dia dos pais em busca de um presente a contento. Digo aquele amor que desafia e supera; que implica e faz querermos provar o que é possível ir além. Eu cresci muito em cada desafio que ele me fez, eu sempre tentava me superar e mostrar que eu estava fazendo o meu melhor.

Voltando àquela música, eu disse que achei uma piada ruim naquela época. Hoje, considero um bom conselho. Diante da MORTE ou qualquer outra coisa, tudo que podemos fazer é VIVER e, de preferência, nos felicitarmos por estarmos vivos. Bem, meu pai está morto e o presente que posso dar a ele é continuar vivendo e fazer o melhor que posso de minha vida (o que venho tentando arduamente). Acredito que este é o presente que qualquer pai deseja: que seu filho faça o melhor e seja feliz. Isso é o máximo que chegarei de um pensamento profundo e talvez útil a você. De resto, este é um
post choroso e confessional; nada mais.
Eu disse que sofro muito com a perda de meu pai e muitas vezes tento não pensar sobre o assunto. Entretanto, sempre vejo algo de meu pai em mim. Quando olho no espelho vejo um pouco de seus traços, um pouco de seus olhos e em minhas atitudes também. Minha mãe vive dizendo: "Você está agindo igual ao seu pai...". Obviamente não em tudo, somos pessoas diferentes que seguem diferentes destinos no tempo e espaço. Como um pintor que a cada obra traz algo novo, mas se observamos bem o traço percebemos que há sua assinatura, mesmo que apenas sutilmente assinalada. Há uma suave assinatura de meu pai em quem eu sou; este foi o grande presente que ele me deixou e que me acompanhará por toda minha vida. Enquanto sigo adiante. Enquanto faço de minha vida um presente a memória de meu Pai; algo para que ele se orgulhe, esteja onde estiver.
Por isso, minha mensagem final para este dois de Novembro é celebre e honre seus mortos: VIVA E NÃO TENHA VERGONHA DE SER FELIZ!