quinta-feira, 18 de julho de 2013

Entre Relações Atômicas e Moleculares



Mais um quadrimeste acaba na UFABC. Entre muitos Ônus e Bônus da Greve do último ano, pela primeira vez me encontro em férias/recesso em meio de Julho, assim nos juntando a boa parte das universidades, ditas tradicionais, com seus cronogramas semestrais. Obviamente, férias é um jeito suave de falar de um período curto entre quadrimestres já tomado pela pressa em colocar a pesquisa em dia e preparar aulas das próximas disciplinas. 

Neste último quadrimestre lecionei a "inglória" Interações Atômicas e Moleculares (IAM). Uma disciplina que permeia entre a física e a química… Inicia-se com o átomo de Hidrogênio e segue compondo moléculas e outros aglomerados até os diferentes sólidos e as suas propriedades. Um curso recheado de física quântica e formalismo matemático ao gosto do professor. Confesso, que no "ensopado molecular" que ofereci aos estudantes havia porções generosas de física, algumas histórias e quando possível até um pouco de poesia (que sempre está em todo lugar, mesmo que nem sempre aceitemos isso) e, claro, uma dose respeitável de equações diferenciais, derivadas e integrais. Afinal, um Bacharel em Ciência e Tecnologia tem que saber cálculo, ainda mais se ele é pretendente a ser Engenheiro ou alguma carreira de Pesquisa ou Ensino em Exatas.

É interessante apresentar uma matéria considerada por muitos como avançada para um publico amplo, basicamente, qualquer aluno da UFABC (exceto alunos do BC&H) são obrigados a fazê-la. Também é uma disciplina que em seu primeiro oferecimento teve índice de reprovação superior a 70%. Atualmente, os números são mais brandos, algo entre 40% entre reprovação e abandono, o que leva a um número de demanda reprimida (alunos que já deveriam ter cursado a disciplina, mas não o fizeram) em torno de 3000 alunos. Coloco estes números apenas para dar uma ideia de que o desafio é grande para os que estudam, mas também não é tarefa fácil para os que ensinam. 

A primeira questão que surge é: quem é seu publico alvo. Ao perguntar aos alunos de que cursos eles são é comum ouvir: Gestão, Ambiental, Biologia, Biomedica, Materiais, Física, Química, etc.. raramente se ouve "BC&T". Como todos já escolheram o que serão e farão depois, IAM é a última disciplina obrigatória que é necessária para se finalizar o BCT e ter direito a reserva de vaga e matrícula no curso desejado. Para muitos, IAM é um largo muro a ser ultrapassado para chegar a terras mais agradáveis do curso tão almejado. Portanto, é preciso começar com a busca de um fator comum de interesse e mostrar que a quântica não é tão difícil assim. Além do conteúdo obrigatório do ementa, eu sempre buscava conexões inesperadas e, até mesmo, aparentemente esdrúxulas. Por vezes, um choque em um momento inesperado é exatamente o que é necessário para se dar um salto na compreensão e criar um impacto positivo no estudante. 

Creio que construi um curso satisfatório, porém acho que ainda estamos longe de ter um bloco de matérias obrigatórias do BC&T que realmente criem um profissional com um conteúdo harmonioso e coerente. Ainda não consigo imaginar bem como exatamente é este Bacharel em Ciência e Tecnologia que estamos colocando no mundo... Confesso, que sempre que penso no BC&T, o curso me soa como uma orquestra tocando com cada instrumento afinado de uma forma diferente. Que se produz um som, sem dúvida, não há falta de som (e bem alto), infelizmente, bastante ruído também. Entretanto, falta ainda a beleza que revelaria uma profunda fluidez e clareza do curso ser aquilo que ele deveria ser; algo que pudesse transparecer uma coerência própria da intenção que se manifesta em melodia. 

No fim do meu curso de Interações Atômicas e Moleculares, acredito que toquei um chorinho (talvez um pouco fora do tom), com seu jeito simples em primeiro momento, mas com acordes rebuscados no dedilhar dos mestres Schrodinger, Heinsenberg, Pauli, Pauling, Lewis e tantos outros. Uma música com aquela  beleza meio triste dos que não são completamente entendidos. Afinal, o som de IAM, por vezes, desagrada ouvidos desatentos e acostumado a sons mais Clássicos e que se intimidam diante do choque necessário.  Como diria Bohr "Se você não ficar chocado é porque não entendeu." ;-)

De qualquer modo, continuamos nota a nota tentando compor a melodia completa do BC&T, mesmo que cada grupo em seu eixo pense que deve tocar um estilo diferente de música. 

Um comentário:

  1. Ótimo texto, sua didática é muito boa professor! Uma pena não ter pego IAM com você também, mas fiz Quântica =)

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