A
complicação inicia-se pela expectativa dos ‘convidados’ ao banquete em relação
a lista com quase 1000 ‘pratos’ que podem ser oferecidos. A escolha que não é nada fácil, ainda pode
ser mais intricada se pensarmos que é necessário agregar um certo valor
nutricional bem definido para o convidado poder deixar este estranho
restaurante devidamente credenciado pelos nossos cozinheiros.
O
número de cozinheiros para preparar as refeições é bem inferior ao que seria necessário e, além disso, há diferentes opiniões de como as refeições deveriam
ser oferecidas: uns acreditam que deveriam deixar todos os pratos a disposição
o tempo todo... Outros acham isso uma loucura e consideram que o adequado é
oferecer um menu sugerido com garantia do convidado conseguir este prato e mais
outras opções em menor número que serão dadas a um número menor de convidados com
mérito para apreciar esse complemento da refeição. Isto é um ponto em que os
cozinheiros debatem bastante e, provavelmente, este ano deve-se discutir ainda
mais, uma vez que logo haverá escolha de um novo TOP CHEF de nosso restaurante, bem a equipe de todos os SUB-CHEFs.
Os
pratos mais básicos e obrigatórios no menu de nossos convidados precisam ser
feitos em um número gigantesco (mais de 2000 refeições por ano), pois sempre tem aqueles
convidados que não conseguindo terminar a refeição na primeira tentativa, a cancelam para que possam tentar futuramente comê-la quando não for tão pesada ou indigesta. Há uma grande demanda de
cozinheiros para estes pratos e aqui muitos acham que deveriam se seguir uma
receita bem estabelecida por todos, assim garantindo o mesmo ‘valor
nutricional’ de todas as porções destes pratos obrigatórios. Outros cozinheiros
não gostam dessa opção, pois dizem que isso retira a sua liberdade criativa de
colocar seu toque pessoal no prato.
Mesmo assim, a Unificação das Receitas foi feita e os convidados ficaram
divididos entre os que apreciam e os que preferiam a moda antiga.
Além
destes pratos obrigatórios, existem aqueles de demanda reduzida com valores
nutricionais e sabores bem específicos para certo tipos de convidados. Para
estes pratos, muitas vezes há poucos cozinheiros, ou até mesmo, apenas um que é especialista em
seu preparo. Fazendo que alguns cozinheiros precisem fazer muitos tipos
diferentes de pratos ao mesmo tempo. Ainda há cozinheiros
ociosos que tentam evitar de cozinhar o que deveriam ou produzem refeições de baixo valor nutritivo. Outros apuram demais seus pratos e os
tornam picantes e indigestos para a grande maioria dos convidados, mesmo sendo produzidos com alimentos de
excelente qualidade e valor nutritivo. Haveria muitos outros casos sobre os cozinheiros para descrever,
mas o espaço aqui é curto para falar de todas estas coisas.
Por
outro lado, os convidados também nem sempre ajudam. Pois na sua opção de Self Service, muitas vezes, fazem escolhas esdrúxulas combinando refeições, misturando alimentos estranhos
e depois reclamando quando a digestão é difícil ou, até mesmo, impossível.
Eles requisitam uma verdadeira sopa de cactos, achando que será algum manjar dos deuses... Os cozinheiros insistem em dizer que certos pratos tem precedência sobre outros e que os alimentos deveriam ser consumidos em uma ordem natural
que foi estabelecida no menu sugerido. Nem todos os convidados entendem a importancia das sugestões
e esquecem que a liberdade de poder apontar o prato que desejam no menu vem
sempre acompanhada da responsabilidade de arcar com as consequências da (in)digestão das refeições requisitadas. Quando
os convidados não estão satisfeitos com o alimento recebido, costumam dizer que aquilo não é justo e que tudo é um “mero capricho dos
desmandos da elite gastronômica dos cozinheiros”...
Para quem olha de fora deste restaurante, tudo se parece como uma porção de garçons desesperados requisitando todo tipo de prato e jogando pedidos sobre os atarantados cozinheiros, que debatem fervorosamente entre si enquanto cozinham sobre a importância do que fazem, valor nutritivo entre outras tantas questões que consideram de suma importancia para o perfeito funcionamento do restaurante. Enquanto, os convidados reclamam impacientes dos pratos recebidos e afirmam como poderiam eles mesmos oferecer pratos muitos melhores que aqueles que ocupam os cargos de cozinheiros só por ter um diploma para isso.
Entretanto, uma coisa que me fascina neste pandemônio que é nosso restaurante é que, mesmo com todas as confusões, os convidados que deixam o restaurante estão muito bem alimentados
e com tamanha vitalidade que nosso restaurante se destacou em relação aos demais restaurantes (muitos destes já tradicionais e prestigiados) perante os severos críticos governamentais. De alguma
forma, mesmo que passando por algumas angustias e provações, parece que a
comida que produzimos ainda tem o mais importante em sua essência: a 'sustância',
como diriam nossos amigos do Nordeste. =)
Mas como poderíamos colocar alguma ordem nesta cozinha em baderna? Bem, isso é um prato
cheio para os próximos textos que poderão vir em breve . ;-)
Parabens pelos texto, traz analogias relavantes sobre o sistema de matricula.
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