sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Greve ainda...





A greve da UFABC já completa seus 87 dias... Já passamos a muito tempo do sentimento de “contentamento” em fazer o certo.  Nos corredores, o peso de inúmeras opiniões conflitantes tornam a atmosfera de nossas torres densa.  Mesmo nos momentos mais descontraídos de conversas em torno da máquina de café, sempre retornamos as mesmas questões:  um possível retorno a negociação com o governo, o possível fim da greve ou a quase (im)possível reposição das aulas perdidas... 

Semana a semana, a esperança sempre esteve presente. Mesmo após a primeira e difícil “oferta” do governo (http://migre.me/awc4d), ainda se esperava que pessoas sensatas sentariam juntas para chegar a um consenso... Entretanto, esperar bom senso a cada dia parece um sonho mais inverossímil.  Como disse Descartes: "O bom senso é a coisa mais bem distribuída do mundo: todos pensamos tê-lo em tal medida que até os mais difíceis de se contentar nas outras coisas não costumam desejar mais bom senso do que têm."  Assim, aguardamos de governantes, que insistem em não nos ouvir, uma resposta para as exigências sindicais, que nem sempre representavam as nossas vozes.  Algo como um show de mímicos para uma platéia cega...  Além de tudo, lidamos com uma população estarrecida pela impertinência de não pararmos a greve mesmo com aumentos de até 45%... Peripécias numéricas governamentais para iludir aqueles que não leem as letras pequenas. 

O cansaço é generalizado e muito difícil de evitar. Por um lado, sabemos que a luta é justa, mas por outro vemos o tempo passar e o anseio da volta a normalidade, aulas e tudo mais soa muito forte.  A greve nunca foi uma unanimidade, porém era consenso de muitos que ela era necessária.  Entretanto, a cada semana que ela se estende, mais difícil é mantê-la.  Mesmo a mais forte das convicções acaba enfraquecida ao esperar tanto daqueles que parecem não se importar com o que esperamos.

Independente de quando a greve acabar, houve conquistas... Não falo dos parcos “ganhos” oferecidos pelo Governo. A primeira greve da UFABC trouxe um aprendizado em ser mais consciente das entrelinhas das conversas governamentais e mesmo discursos aclamados de colegas.... Talvez, não tenhamos sido ouvidos como gostaríamos, mas aprendemos a ouvir e ver bem além do que o mero acreditar em boas intenções e promessas. Aprendemos a nos colocar em posição firme para exigir o que queremos, aprendemos a nos organizar e discutir o que for preciso... Alguns mais, outros menos, mas todos aprendemos alguma coisa de algum modo com esta greve. 

Também sabemos que a greve traz seu ônus, que nos será devidamente cobrado e não iremos nos recusar a pagá-lo, isso faz parte do processo.  Enquanto escrevo este post, começa mais uma assembléia dos professores em nosso emblemático piso vermelho. Provavelmente, teremos muitos professores avidos em colocar em evidência suas opiniões. Talvez, uma assembléia tão cheia quanto aquela na qual a greve foi deflagrada.  Contudo, agora as mãos estarão mais divididas, algo que também faz parte desse processo. Não sei qual será o resultado no fim dessa manhã, se nós iremos aceitar o fatídico dia 31 de Agosto ou a greve prosseguirá um pouco mais (quanto mais, quem poderá saber? Pergunta que não se cala...).  Entretanto, não tenho dúvida que nesta greve foi “combatido o bom combate” e o vitorioso nem sempre é aquele que subjuga o inimigo,  mas quem termina com o rosto erguido e orgulhoso de seus atos.

****  - EDITADO -  ****

Terminada a assembléia, a votação foi de 80 docentes a favor da continuidade da greve, 61 docentes contra  e 6 abstenções... Desse modo, prevalece a UFABC em greve, pelo menos, até a próxima assembléia que será dia 6/9.  Assim, empurramos um pouco mais o retorno a normalidade... E a faixa UFABC em GREVE permanece no bloco B. Contudo, a cada semana menor é a parcela daqueles que apoiam essa decisão.  Os quase 500 professores da UFABC permanecem ainda parados, devido a uma decisão democrática com uma diferença de 19 votos. Como sempre, as decisões são tomadas por aqueles que comparecem e se importam... O que será que os quase 350 professores restantes acham de tudo isso? 


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